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Teorias e conceitualizações sobre a informalidade

PARTE II I DEOLOGIA , S IGNIFICADO E I NFORMALIDADEIDEOLOGIA,SIGNIFICADO E INFORMALIDADE

M UDANÇAS NO MUNDO DO TRABALHO E A INFORMALIDADE

7.1. Teorias e conceitualizações sobre a informalidade

Para reconstruir os principais posicionamentos sobre esse tema, recorreu-se a bibliografias que analisaram o percurso de construção do conceito de informalidade – e suas variantes –, especificamente, Costa (2010), Durães (2013), Filgueira, Druck e Amaral (2004), Ramos (2007) Hirata e Machado (2007), Krein e Proni (2010) e Soares (2009), além de algumas bibliografias complementares.

Nessa direção, o que se pode observar, inicialmente, é a possibilidade de organização dessas teorizações e conceitualizações de acordo com a década na qual elas

foram produzidas – sendo o modo como será exposto a seguir –, todavia, ressalta-se de partida, que isso não significa que tais conceitualizações estão restritas àquelas décadas: na atualidade, o que se observa, é a convivência da pluralidade teórico-conceitual que logo será detalhada.

7.1.1. Teorias e conceitualizações da década de 1970

Como já pontuado, os primeiros trabalhos direcionados a compreensão do, na época, nomeado setor informal foram produzidos por pesquisadores e consultores ligados à Organização Internacional do Trabalho, mais especificamente, por meio do Programa Mundial do emprego, durante 1970. Na época, chamava a atenção a prevalência de formas de gerar renda que, principalmente, os migrantes do interior realizavam que tangencia va os empregos existentes nas empresas, caracterizado pela baixa remuneração.

Essa primeira aproximação realizada por Hart (1973) tinha claros contornos de um conceito descritivo e, como Durães (2013) e Ramos (2007), não possuía ares pretenciosos de generalização ou explicação. Contudo, o conjunto de investigações realizados no escopo desse projeto tomaram como base para definição de informalidade a organização da unidade produtiva, devendo essa conter os seguintes critérios: a) ser uma propriedade familiar, b) o recurso ter origem da própria unidade produtiva, c) ter uma escala de produção reduzida, d) haver facilidade de ingresso, e) utilizar-se intensivame nte o trabalho, f) ter tecnologia adaptada, g) adquirir qualificação para o trabalho a margem do sistema formal de ensino, h) participar em mercados competitivos e não regulados.

Analisando os estudos derivados dessa conceitualização, Cacciamali (2000) aponta que se desenvolveram duas correntes que divergem em alguns aspectos. Uma, microeconômica, toma as unidades produtivas informais como aquelas com escassez de capital, que utilizam tecnologia obsoleta e tem como objetivo o lucro, adotando como

estratégia de competição a subremuneração dos trabalhadores e proprietários do empreendimento. Contrariamente, a segunda, macroeconômica, entende que as unidades produtivas informais objetivam menos o lucro do que a sobrevivência dos envolvidos. Também compreende o setor informal dentro do espectro da reestruturação produtiva e da dinâmica de acumulação do capital124.

Em paralelo ao desenvolvimento dessa conceitualização, duas teorias econônomicas passaram a disputar a hegemonia na mesma época, acabando por incorporar as discussões sobre a informalidade – ou, na época, setor informal – em suas problematizações.

Esse foi o caso da infiltração das teorias desenvolvimentistas no debate acerca da informalidade, junto à OIT (Soares, 2008). Ainda que não alterassem a tipologia do setor informal (mantendo os principais critérios levantados até então), elas propuseram- se a explicar tal fenômeno. Essas teorias convergiam na compreensão acerca da organização geral da economia – existência de uma dualidade entre o setor formal e informal nos países desenvolvidos – e divergiam quanto aos prognósticos para o desenvolvimento da informalidade.

A primeira posição emergente foi a do dualismo transitório – ou teoria da modernização, para Costa (2010) –, a qual inspirada no modelo de Lewis, afirmava que existiam dois setores na produção material das sociedades, um tradicional, com baixa produtividade, habitado por empreendimentos familiares de pequeno porte, com tecnologia defasada, rural e com pouco dinamismo; outro, seria um setor moderno, industrializado, urbano, com alta produtividade e, portanto, que viabilizava a acumulação de capital. A relação entre esses dois setores seria muito clara: ao passo que as unidades

124 Essas considerações não estão necessariamente presentes nos primeiros momentos do conceito de setor informal, da década de 1970. Contudo, como há uma imbricação direta com o desenvolvimento desse conceito, optou-se por trata-los conjuntamente.

produtivas do setor moderno expandir-se-iam, demandariam cada vez mais força de trabalho humana, indo buscar nas unidades produtivas do setor tradicional esses novos trabalhadores. Portanto, o mercado informal seria composto por trabalhadores que ainda não foram absorvidos pelo mercado formal, sendo uma questão de tempo – mais precisamente, do curso normal do desenvolvimento – a passagem deles da primeira para a segunda situação. Nesse sentido, essa teoria projetava que as economias latino - americanas precisavam desenvolver-se no sentido de se igualar às economias europeias, ou seja, haveria um caminho único e linear de desenvolvimento para todas as economias no mundo.

Contrapondo essa previsão, teóricos, principalmente ligados à Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) assumiram posições mais pessimistas. Para eles, os países subdesenvolvidos não necessariamente alcançariam um desenvolvimento semelhante aos países europeus, com a extinção da economia tradicional / informal, mantendo seus traços de heterogeneidade. Com isso, seria estrutural para os países subdesenvolvidos o excedente de força de trabalho que, inevitavelmente, deslocar-se-iam para as atividades informais, a fim de sobrevivere m. Segundo essa teoria, conforme comentado por Costa (2010) e Ramos (2007), ainda que não houvesse empregos formais para todos, seria objetivo dos trabalhadores informa is ocuparem esses primeiros postos.

Ainda que retrate muito do processo histórico percebido já naquela década, essa teoria seria limitada por assumir que todo o trabalhador não formalizado integraria a informalidade, haja vista a facilidade de ingresso nesse último setor. Dessa forma, o desemprego aberto – também um fenômeno típico dos contextos latino-americanos –, seria justificado apenas pela via do desemprego voluntário, isto é, o trabalhador escolheria não realizar alguma atividade remunerada.

A segunda corrente de teorizações econômicas mais ampla que teve impacto nas discussões em torno da informalidade foi a teoria da dependência125. De acordo com

Costa (2010), esse corpo teórico contradizia as postulações dos seus concorrentes ao afirmar que o padrão de desenvolvimento caracterizado como “subdesenvolvido” não se explicava unicamente pelo histórico particular desses países – herança pré-capitalista. Apoiando-se nas categorias marxistas, os teóricos dessa corrente evidenciaram que a situação socioeconômica dos países nomeados como subdesenvolvidos (com maior tônica para os latino-americanos) era creditada à conformação global do capitalismo, o qual dividia os países entre centrais – com altos fluxos informacionais, avanço científico - tecnológico e produção com alto dinamismo – e periféricos – produtores de material de subsistência com tecnologia defasada e baixa produtividade. O avanço analítico operava- se no plano da relação entre esses países, já que condiciona, em via de mão dupla, o desenvolvimento desses dois conjuntos de países: os primeiros, precisam que os países periféricos forneçam as matérias primas e bens de sobrevivência, ao passo em que exportam para esses tecnologia e mercadorias com alta elaboração; já os periféricos, por condicionarem a sua produção material a bens primários, acabam por não avançar na produção de tecnologias e ciência própria.

No tocante a informalidade, consideram que esta é matizada dentro de um padrão de acumulação capitalista duplamente: primeiro, por ser o resultado das ações dos trabalhadores que compõe o exército de reserva industrial para sobreviverem – algo previsto dentro da dinâmica do modo de produção capitalista –; segundo, por possibilitar o disciplinamento e barateamento da força de trabalho consumida nos setores formais.

125 Assim como ocorreu com a teoria do desenvolvimento, a da dependência teve a sua sistematização datada do final da década de 1960. Ao localizarmos ela na década de 1970 é com relação à quando começa a tratar do conceito de informalidade.

7.1.2. Teorias e conceitualizações da década de 1980 e 1990

Se na década de 1970 o trabalho principal das teorias sobre a informalidade foi o de apresentar explicações para a sua origem e oferecer prognósticos, as duas décadas seguintes foram o teste empírico, principalmente, para os desenvolvimentistas. Durante esse período ficou evidente os problemas de predição desse modelo: percebia-se que em momentos de crise era verdadeira a expansão do setor informal, conforme previsto pelas teorias existentes, contudo o seu inverso – com a retomada do crescimento econômico esse setor iria retrair-se – é falseado na realidade, parecendo que a expansão da informalidade era algo progressivo e condicionado apenas por uma via ao crescimento econômico global (Cacciamali, 2000; Ramos, 2007, Soares, 2009)

É importante ressaltar que a vaga aberta, principalmente, pela teoria desenvolvimentista, foi ocupada por conceitualizações que guardavam forte alinhame nto com o receituário neoliberal que ganhava espaço no cenário político dessas duas décadas. Exemplo disso foi o trabalho de De Soto (1989). Nele está a base para passagem da consideração da informalidade como um problema a ser resolvido para a expressão de um novo movimento na produção e mercado de trabalho.

Segundo os escritos desse autor a solução para a crise no mundo do trabalho126

se localizava exatamente no setor informal – haja vista que foi por conta da informalidade que as sequelas sociais desse período foram amenizadas. O que estaria em pauta era uma crise de institucionalidade de regulação dos mercados, sendo o grande centro do Estado e suas leis sobre a dinâmica desses espaços. A informalidade representaria uma saída por apresentar instituições novas que possibilitavam fazer-se frente às dinâmicas de produção

126 A “crise do mundo do trabalho”, “crise de 1970”, “crise do petróleo” e “crise do emprego” refere -se a um importante momento de transformação das relações sociais e produtivas operados na década de 1970 e que resultaram na reestruturação produtiva – processo histórico que será melhor tratado no tópico seguinte.

daquela década, tendo como característica principal a ausência do Estado de suas relações.

Os debates em torno do conceito de informalidade se atualizaram frente as sequelas da crise de 1970. A partir desse período, um fenômeno que até então era caracterizado como marcadamente oriundo de países periféricos (com maior tonalidade para os latino-americanos), passa a ser verificado nos herdeiros do Welfare State. Na mesma direção, nos próprios países de origem dessa discussão, constatam- se modificações na estruturação desse fenômeno.

Sendo assim, duas novas nomenclaturas ganham espaço, seguindo as mesmas características dos conceitos primários da OIT: são eminentemente descritivos. Assim, conforme indica, ao se tratar da ampliação da informalidade nos países centrais, fala-se da “economia subterrânea” ou da “criptoeconomia”, caracterizada pelo desenvolvime nto de atividades econômicas que escapam aos marcos legal promovido pelo Estado (Durães, 2013; Filgueira, Druck e Amaral, 2004). O surgimento dessa “economia subterrânea” seria o resultado da falência da capacidade do Estado e das empresas garantirem a política de pleno emprego, forçando os trabalhadores a procurarem alternativas viáveis de sobrevivência.

No bojo do mesmo período histórico, na América Latina, a informalidade começou a assumir novos delineamentos, quando da redução das vagas formalizadas , impulsionando trabalhadores, antes assalariados, para os espaços informais. Dessa forma, um ambiente que era marcado por trabalhadores que se inseriam exclusivamente nesse setor, passou a ser habitado por aqueles que um dia já estiveram em um trabalho formalizado e a permeabilidade entre esses dois setores se tornou mais intensa. Como ressaltam os autores, é marcante a diversificação de serviços e produtos que passam a ser elaborados no seio dessa “nova informalidade”. Além da marca de serem derivações da

crise de 1970, Ramos (2007) aponta que essa categorização assume a díade legal/ile ga l para caracterizar o que formal ou informal.

Seguindo as constatações que a informalidade não é um fenômeno exclusivo dos países periféricos, em 1990 surgiu a discussão de que ela não seria a consequência do movimento das economias nacionais (ou do capitalismo de maneira geral), mas como um segmento distinto da economia, ao qual os trabalhadores adeririam por escolha própria.

Essa tese, defendida pelo Banco Mundial, tem como pano de fundo a crença na segmentação do mercado do trabalho e aponta que de acordo com as características dos trabalhadores – observáveis (experiência e escolaridade) e não observáveis (cognição, qualidade da formação, iniciativa etc) – seria mais adequado inserir-se em um ou outro mercado. Consequentemente, exemplificam que para um trabalhador pobre e com pouca qualificação é aconselhável escolher a inserção na informalidade, onde alcançaria rendimentos superior a adesão a vagas formais. Contudo, o calcanhar de Aquiles dessa teoria é a homogeneização das oportunidades do mercado de trabalho, acreditando que todas as vagas estão disponíveis para trabalhadores. Em outras palavras, que os trabalhadores pobres e com baixa qualificação poderiam ter a mesma chance de se inserir no mercado formal, como teriam no informal e, portanto, escolher entre um ou outro (Soares, 2008; Costa, 2010; Ramos, 2007).

7.1.3. Teorias e conceitualizações da década de 2000

Na virada do século XX outras conceitualizações passaram a compor o quadro mais amplo da compreensão da informalidade, continuando algumas tendências do século passado, sendo destacada aqui três frentes específicas: trabalho não fordista, formas heterodoxas de trabalho e economia informal.

Com relação ao primeiro conceito, são exemplares os trabalhos da CUT/DESEP (1999) e Jakobsen, Dombrowski e Martins (2000). Esses estudos, se referiam a levantamentos da situação da informalidade, principalmente, na cidade de São Paulo e a sua marca era a equivalência do informal ao precário. Nessa direção a denominação trabalho não fordista remetia às formas de trabalho que não congregavam o conjunto de direitos conquistados pelos trabalhadores entre a década de 1940 e 1970 que garantia m boas condições de trabalho e proteção social materializados, na realidade brasileira, na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Como consequência, esse conceito parte de uma dupla negativa para definir o que a informalidade: não são trabalhos tipicame nte capitalistas (agregando as críticas realizadas aos primeiros conceitos de setor informal difundido pela OIT) e não possuem regulamentação legal (integrando a perspectiva da economia subterrânea e “nova informalidade”).

A segunda conceitualização – formas de heterodoxas de trabalho – encontra base nas discussões de Castels (2001). Segundo esse autor conforme avança a era da sociedade informacional, mais se adensa a individualização do trabalho. O desenvolvimento dos mecanismos de comunicação e informática viabiliza a descentralização das tarefas e produção de novos arranjos de trabalho: subcontratação, consultoria, prestação de serviço, trabalho temporário, parcealizado, bem como a redução do quadro de trabalhadores. Essas novas formas heterodoxas de trabalho obscurecem ainda mais a definição precisa do que seria ou não informal, ao passo em que impacta negativame nte na ação coletiva dos trabalhadores e na sua barganha econômica, organização social e participação política.

Uma terceira conceitualização fomentada no início do século XXI foi a da economia informal. Durante a década de 2000, com o acúmulo de discussões em torno do termo setor informal, a OIT, na 17ª Conferência Internacional de Estatísticas do

Trabalho (2003), passa a trabalhar com a categoria economia informal, mais abrangente que sua antecessora e que distingue entre a informalidade presente nos setores menos estruturados (seja urbano, seja rural) e nos mais estruturados.

Também avançou em contemplar a categorização não apenas pela unidade produtiva, mas incluindo também a ocupação em si. Dessa forma passou-se a incluir seis categorias de trabalho:

a) trabalhadores independentes típicos (microempresa familiar, trabalhador em cooperativa, trabalhador autônomo em domicílio); b) “falsos” autônomos (trabalhador terceirizado subcontratado, trabalho em domicílio, trabalhador em falsa

cooperativa, falsos voluntários do terceiro setor); c)

trabalhadores dependentes “flexíveis” e/ou “atípicos”

(assalariados de microempresas, trabalhador em tempo parcial, emprego temporário ou por tempo determinado, trabalhador doméstico, “teletrabalhadores”); d) microempregadores; e) produtores para o autoconsumo; e f) trabalhadores voluntários do “terceiro setor” e da economia solidária. (Krein & Proni, 2010, p. 12).

Analisando essa conceitualização, Cunha (2006), condensa em três as principa is características do conceito de economia informal: a) a ausência de regulamentação das relações por parte do Estado ou de garantias contratuais; b) redução da distância entre o pensamento das relações sociais e econômicas e c) atrelamento semântico com pobreza, subemprego e marginalidade. A autora ainda comenta que atualmente, passa-se de uma demonização da informalidade para a defesa por ela, a partir de um ponto de vista neoliberal (desregulamentação do Estado e dos contratos de trabalho). As obrigações políticas, principalmente com relação aos aposentados, passam a ser encaradas como obrigações morais (solidariedade), havendo uma sobrevalorização do “capital social”. A informalidade passa de objeto de estudo a projeto societário.

7.1.4. Uma avaliação sobre o percurso teórico-conceitual acerca da informalidade Após a exposição das diversas tradições que pensam a questão da informalidade é possível construir algumas considerações.

A primeira delas é quanto a intensa pulverização conceitual existente a partir da década de 1980, havendo tanto trabalhos que procuravam uma tipificação desse fenômeno, como aqueles que se esforçavam para explicar a sua origem. Dois possíveis determinantes podem ser resgatados para compreender esse quadro. Uma possibilidade é de que o desprestígio da teoria desenvolvimentista e da dependência (explicada por processos distintos) tenha aberto o campo para a elaboração de teorias – e aproximações empíricas – diversas, a fim de ocupar a vaga dessas grandes teorizações. Outra é que a pulverização pode ter acompanhada a vertiginosa heterogeneização das formas de trabalho visualizadas a partir dessa década, movimento que vem se estendendo até os dias atuais. Dessa forma, a multiplicação de conceitos é reflexo da tentativa da academia e de organismos internacionais de abarcarem a complexidade e hiperdinamismo que o mundo do trabalho vem apresentando.

Em que pese tal pluralização, é possível agrupá-las em torno de duas tradições específicas. Uma, de corte eminentemente econômico, se propõe a refletir sobre alternativas de como integrar o trabalho informal no desenvolvimento econômico capitalista. Nesse sentido, as propostas variaram abruptamente: desde as teorizações desenvolvimentistas oiteanas e cepalistas que propõe o combate à informalidade, até a proposta de De Solto de assumir a informalidade com formato de trabalho a ser incentivado como modo de combater a crise do emprego. Não obstante, as suas propostas, ainda que a primeira vista se contradigam, tem como pano de fundo a preocupação em garantir a reprodução maximazada do capital. Elas diferem em compreensão e

prognóstico quanto ao lugar da informalidade no bojo do avanço do modo de produção capitalista, mas não quanto ao projeto societário de pano de fundo dessas discussões.

Por outro lado, já na década de 1970, emergiu uma tradição, fortemente ligada a teoria social marxiana/marxista, que tinha por objetivo, a partir da informalidade, denunciar a desigualdade, injustiça e limitações das relações sociais e de produção capitalistas. Assim como na primeira vertente analítica, nessa, reúnem-se teorias e conceitualizações que em muitos momentos colidem entre si, contudo, elas reúnem os esforços de posicionar a informalidade como uma forma de trabalho que, ao mesmo tempo, é produto e é funcional ao sociometabolismo capitalista, negando outras interpretações que o colocam como excrecências desse sistema. Muito além, tais esforços reflexivos assumem um projeto societário distinto do primeiro, defendendo a transformação social rumo à emancipação humana, denunciando as agruras do sociais e econômicas do trabalho sob a égide do capitalismo.

De um modo geral, essa segunda tradição tem obtido algumas vantagens analíticas, por compromissar-se historicamente em abarcar uma análise sobre a informalidade que tendia a compreensão da totalidade a qual esse fenômeno participa, incluindo análises sobre as suas dimensões não apenas econômicas, mas também políticas, sociais e culturais. Nessa direção, as discussões mais recentes nessa linha têm se dedicado a analisar a informalidade como o resultado da reestruturação produtiva de 1970 e tendo um lugar necessário na reprodução do capital na sua etapa tardia.

Desse modo, estando essa tese afiliada a essa segunda tradição, será debatido em linhas gerais, na sequência, a crise de 1970 e a consequente reestruturação produtiva, bem como a forma como a informalidade institui-se como um modo de trabalho funcional e necessário ao capitalismo atual.