• Nenhum resultado encontrado

4 SBE como Estruturação

5 SBE como Experiência

5.2 Trajetos observados

5.2.3 Terceira Semana

Mapa 11(5) - Usuário 11 (U11)

Fonte: Elaborado pela autora.

U11 utiliza-se do VEM Trabalhador, que recebe para deslocar-se até a empresa em que atua como auxiliar administrativo, situada no bairro do IPSEP, em Recife. Possui 33 anos, é chefe de família e mora no bairro do Engenho do Meio, que também fica em Recife. Assim como a grande maioria, U11 realizou movimentos pendulares casa-trabalho-casa, para os quais utilizou o VEM trabalhador. Como trabalha em uma faculdade particular, na área de confecção de diplomas, costuma levar estes documentos até a Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, para colher assinaturas e outros registros. Depois disso, os diplomas são levados de volta à faculdade para finalização de procedimentos. Por medida de segurança,

estes trajetos com diplomas são feitos de táxi, a fim de que a integridade dos mesmos seja garantida. Com exceção destes trechos, todos os demais, assim como os trajetos ida e volta entre casa e trabalho, são feitos com o VEM Trabalhador.

Não ocorreram muitas variações na semana em que U11 teve seus trajetos registrados, exceto uma ida à farmácia próxima do trabalho, constituindo um movimento rizomático. Além desse, um movimento circular rotineiro, uma ida e volta à igreja, com a família, no fim de semana. Sobre esta última, é interessante ressaltar a utilização do pagamento em dinheiro, sob a justificativa de economizar os créditos do VEM Trabalhador. Isso porque, aos domingos, o validador desconta o valor inteiro da passagem do VEM, enquanto que, em dinheiro, o usuário tem o benefício de pagar metade da passagem.

Sempre que precisa se locomover, U11 faz uso do VEM Trabalhador, optando pela rota na qual utiliza um menor número de ônibus, a fim de diminuir o gasto dos créditos, para que estes não faltem no final do mês. Quando a atividade assim o exige, como vimos no caso dos diplomas, ou quando é possível ir a pé, o VEM Trabalhador não é utilizado.

Mapa 12(5) - Usuário 12 (U12)

Fonte: Elaborado pela autora.

U12 utiliza o VEM Trabalhador que recebe por atuar como funcionário de uma indústria situada na Região Metropolitana de Recife. Possui 23 anos, é solteiro, mora sozinho em Piedade, mas, além desse, considera a casa da sua mãe em Boa Viagem um segundo domicílio. Ao contrario da maior parte dos entrevistados, na semana em que foi observado, U12 apresentou movimentos pouco padronizados, sendo a maior parte deles rizomáticos, além disso, também em desconformidade com os outros, U12 utilizou o VEM Trabalhador em apenas quatro trechos durante a semana toda. Em seus deslocamentos, aproveitou caronas com frequência, além de se utilizar de carro próprio. O uso deste último, no movimento pendular, foi determinada pela quantidade de atividades concentradas num mesmo dia, já que considera que o acúmulo delas requer a utilização de carro para que sejam viabilizadas. Quando isso não ocorria, a preferência recaia sobre a carona ou em último caso o ônibus.

A maioria dos movimentos rizomáticos teve como motivação atividades sociais e de lazer, tais como visita a amigos, à mãe que estava hospitalizada, ida a festas, bares/lanchonetes ou shoppings. Como exceção, em uma das vezes, foi à oficina para fazer uma manutenção rápida no carro. Nestes deslocamentos utilizou diversos modais, cujas escolhas parecem ter variado de acordo com o que o usuário considerou ser a melhor opção disponível para cada momento. Observamos o critério de não utilizar o ônibus como modal nos programas noturnos, pois estes, segundo o usuário, a partir de certos horários, tornam-se escassos e vulneráveis a assaltos, e também o critério de evitar usar carro próprio quando a atividade envolvia consumo de álcool ou para grandes distâncias.

Podemos considerar que o caráter rizomático dos trajetos pode estar associado às possibilidades que o observado possui ao seu dispor, o que junto com a necessidade ou oportunidade que surge no momento, o impele na direção de mudar o sentido de seus movimentos mais comuns, como retornar imediatamente a uma de suas casas após alguma atividade. Com emprego fixo, solteiro, e com várias possibilidades de locomoção, U12 apresenta uma dependência muito menor do VEM Trabalhador, o qual utilizou apenas nos trajetos pendulares e, ainda assim, frequentemente, em uma única parte do trajeto, na ida ou na volta. Além disso, utilizou também uma vez – e em parte do trajeto – quando fez uma visita à sua mãe no hospital.

Mapa 13(5) – Usuário 13 (U13)

Fonte: Elaborado pela autora.

A observada U13 utiliza o VEM Trabalhador, benefício que recebe por trabalhar como analista fiscal em uma indústria situada no município de Abreu e Lima, na RMR. U13 possui 38 anos, é mãe de família, mora em Olinda, também na RMR. Na semana observada, U13 se

deslocou diariamente em movimento pendular característico casa-trabalho-casa, para o qual fez uso do seu cartão VEM. Em sua rotina, tomou como de costume dois ônibus no trajeto de ida e dois no trajeto de volta. A exceção ocorreu na sexta-feira, dia em que U13 prefere ir ao trabalho de carro para melhor aproveitar o tempo livre disponível. Isso porque o expediente se encerra mais cedo às sextas-feiras na empresa onde trabalha.

Além deste movimento pendular principal, U13 realizou movimentos circulares rotineiros, especialmente no final de semana, compostos por trajetos de ida e volta ao supermercado e também à igreja, trajetos que fez a pé, uma vez que os locais de destino eram próximos à sua casa. Além desses, fez visita à uma parente idosa com o carro, por ser em local distante.

O movimento circular ocasional, observado em U13, foi um deslocamento de seu trabalho para levar a filha no hospital, no meio do expediente. Neste dia seu marido foi levá- la, juntamente com a filha, e a deixou de volta no trabalho, a fim de ela pudesse completar a jornada. A escolha do carro aqui se deu devido à necessidade de ganhar tempo, uma vez que teria de retornar ao trabalho e também pelo conforto. Esta necessidade, isto é, de utilizar transporte particular – ou outro tipo de transporte, como ir a pé – a fim de ganhar tempo foi bastante recorrente entre os observados.

Uma situação que merece destaque ocorre quando U13 decide tomar uma rota diferente para ir ao trabalho de ônibus, utilizando o VEM Trabalhador. Na ocasião, ela tomou dois ônibus, sendo que o segundo foi gratuito, pois utilizou o SEI, Sistema Estrutural Integrado da Região Metropolitana de Recife. Apesar do tempo gasto ter sido o mesmo, o que desencoraja U13 a optar por esta rota é a irregularidade do horário de uma das linhas que toma normalmente para o trabalho.

O movimento rizomático apresentado foi motivado por preparativos relacionados ao casamento do irmão, o que a fez deslocar-se de sua casa, à cabeleireira, depois à casa de um tio, depois à padaria e, por fim, à casa de um amigo antes de retornar para sua casa. O trajeto foi todo feito de carro e o único trecho que não foi motivado pelo casamento foi a ida à padaria. Os demais foram compostos por cuidados estéticos seguidos da necessidade de entregar os convites para o casamento a amigos e membros da família.

A observada apresentou movimentos pendulares característicos durante os dias úteis, com exceção de suas idas à igreja e movimentos ocasionais como o acompanhamento da filha no hospital. A maior variedade de movimentos se deu nos fins de semana quando, além de ter

mais tempo livre, já que não trabalha, alegou ter mais comodidade nos trajetos devido à utilização de automóvel particular.

Mapa 14(5) – Usuário 14 (U14)

Fonte: Elaborado pela autora.

A usuária U14 utiliza o VEM Trabalhador, que recebe da empresa situada no Centro de Recife, na qual exerce função de faxineira. U14 tem 58 anos, é dona de casa, reside em Olinda. Na semana pesquisada U14 realizou deslocamentos padronizados pelos movimentos pendulares casa-trabalho-casa, únicos trajetos na maioria dos dias úteis. Alterações observadas nesta rotina foram linhas de ônibus diferentes utilizadas, devido à greve de ônibus que ocorreu em alguns dias da nossa pesquisa. Além disso, realizou um movimento rotineiro ao supermercado, o que fez a pé devido à proximidade do mesmo e sua residência.

Como trajetos rizomáticos, observamos a ida a uma farmácia do Centro do Recife, a fim de comprar um remédio que lhe havia sido receitado. Tal trajeto foi feito de ônibus, primeiro do trabalho o Centro e depois do centro para casa, todos com a utilização do VEM Trabalhador. O segundo tratou-se da visita a uma feira de artesanato com a filha, evento este que ocorre apenas em certo período do ano. A U14 utilizou o VEM apenas na ida, na volta utilizou transporte complementar que não aceita o cartão.

Durante a semana em que fizemos as observações, tendo um dia-a-dia voltado para o trabalho, U14 não apresentou muitas variações nos movimentos pendulares, tendo uma rotina quase diária casa-trabalho-casa, trajetos que realizou com o VEM Trabalhador.

Mapa 15(5) – Usuário 15 (U15)

Fonte: Elaborado pela autora.

A U15 se utiliza do VEM Trabalhador, que recebe do órgão público onde trabalha como recepcionista, no Recife Antigo. Possui 38 anos, é chefe de família e mora no município de Olinda. Na semana em questão, observamos que U15 teve uma rotina voltada para o trabalho e para atividades religiosas, praticadas tanto em dias úteis quanto nos fins de semana. O VEM Trabalhador predominou em seus movimentos pendulares. Entrelaçados com os pendulares, observamos alguns movimentos rotineiros, tais como idas e vindas a igrejas perto do trabalho, nos horários de intervalo para o almoço, além de idas e vindas ao supermercado, o primeiro, pela proximidade, foi realizado a pé e o segundo, pela conveniência, foi realizado de carro, já que torna-se mais fácil transportar as compras na volta para casa.

Um dos movimentos rizomáticos ocorreu quando a usuária saiu de casa para a igreja utilizando o VEM, e depois dirigiu-se ao trabalho, a pé. Outro movimento rizomático foi sua

ida a um supermercado perto da casa. Neste dia, U15 saiu do trabalho para o supermercado, em vez de voltar para casa direto, como de costume. Isso se deu devido ao pagamento de seu salário mensal, que foi disponibilizado em sua conta no banco. Sua ida ao supermercado teve como objetivo a retirada de dinheiro num caixa eletrônico e posterior pagamento de contas. De lá se dirigiu para casa, tendo feito todas as partes do trajeto com o VEM.

Verificamos que U15 não utiliza o carro com mais frequência devido ao preço do combustível, motivo que influencia na decisão de utilizar o transporte público através do VEM Trabalhador como transporte principal em seis movimentos casa-trabalho-casa. Com uma rotina voltada para as atividades religiosas e para o trabalho, seu dia-a-dia consiste em suas atividades comuns (trabalhar, fazer compras), e suas idas à igreja que ocorreram quase diariamente.

O quadro abaixo sumariza os padrões de movimentos encontrados na terceira semana, relacionando-se à escolha de modais e ao uso do cartão VEM:

Quadro 13(5) – Síntese terceira semana Movimentos/Uso do VEM

Pendular

Semana com movimentos pendulares regulares, sendo o VEM Trabalhador utilizado na maioria das vezes pelos observados, com algumas exceções quando, dispondo de carro no domicílio, o usuário considerou mais conveniente seu uso.

Ao contrário do que vem senso registrado, um dos usuários apresentou a maior parte dos trajetos com traços rizomáticos, o que atribuímos ao seu perfil demográfico relacionado às múltiplas opções de que dispõe.

Circular Rotineiro/Ocasional

Principalmente atividades religiosas e compras em supermercado. VEM pouquíssimo presente, grande maioria dos trajetos é feita a pé ou de carro (inclusive com carona), ou ainda, ocorrência de uso do táxi devido à greve no período.

Rizomático

Os movimentos rizomáticos ocorreram motivados por compras de rotina e atividades sociais/lazer. O VEM esteve presente em parte desses trajetos para os usuários que não dispõem de carro. Observamos seu uso associado a outros modais, como o automóvel e o deslocamento a pé, que

complementavam os trajetos.