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A PERSPECTIVA DA LUTA DE CLASSES NA ANÁLISE CRÍTICA DO TERRITÓRIO

1.1. Luta de Classes e Território: elementos para o debate

1.1.1. Território, territorialidades e luta de classes no campo

A fim de contribuir com a leitura sobre as disputas territoriais e as conflitualidades inerentes a esse processo numa sociedade de classes, faremos uma digressão em torno das distintas e às vezes complementares, concepções de território, buscando situar o leitor sobre os diferentes sentidos e significados atribuídos ao termo. O caminho a ser percorrido intenciona apresentar uma proposição para a análise do território, que expressa uma posição teórica e política, em que sua produção se manifesta por meio das relações sociais, promovidas pelas classes em permanente conflitualidade na disputa por modelos de desenvolvimento e de sociedade. Nessa perspectiva de análise, a relação entre classe-território é indissociável e imprescindível.

Passada a fase em que estudos apontavam para o fim dos territórios, devido à intensificação da “globalização” neoliberal, vivemos agora um período em que, cada vez mais, o território é utilizado como um importante instrumento de análise e compreensão da realidade (HAESBAERT, 2004). Tanto na Geografia – área onde o conceito de território primeiramente como categoria analítica – como em outras ciências, uma série de estudos tem utilizado o território como principal conceito de análise. Essa tendência também é percebida na elaboração de políticas públicas que trazem os territórios como importantes focos de investimentos governamentais.2

Vários autores já se debruçaram sobre esse conceito: Lefebvre (2006); Raffestin (1993); Souza (1995); Santos (1996 e 2000); Moraes (1990, 2000); Haesbaert (2004); Oliveira (1986, 1991, 2002, 2010); Fernandes (1996, 2008, 2011), entre outros. É intenção neste capítulo tomá-los como referência, apresentando as distintas concepções de território existentes e, assim, estabelecer as condições para uma leitura crítica do

2Ao longo deste trabalho dedicaremos um capítulo especial aos programas de desenvolvimento territorial voltados para o meio rural, que utilizam o território como elemento definidor do locus de aplicação de políticas públicas e recursos diversos. Nele procurara-se evidenciar a concepção utilitarista pragmática que permeia a utilização do conceito de território nas políticas; despolitizando-o de seu caráter imanente de conflituosidade e de luta de classes.

conceito de território, compreendendo-o como estrutura de produção espacial por meio de relações sociais, promovidas por classes em permanente conflitualidade na disputa por modelos de desenvolvimento e de sociedade.

Uma diversidade de compreensões e significações tem sido imputada ao conceito de território, de acordo com as distintas intencionalidades dos sujeitos. Seu uso intensificou-se, ainda que grande parte desses trabalhos lhe atribuam o sentido único de superfície, base ou “palco” das relações sociais, como se verá mais a frente.

De forma geral, os trabalhos que utilizam o território como categoria de análise referem-se especialmente às perspectivas, desenvolvimentos, enfoques, abordagens territoriais, entre outras denominações, e estão relacionados a propostas de políticas ou análises de projetos em implantação ou implantados, que envolvem diferentes instituições: governos nacionais, estaduais e municipais, movimentos sociais, sindicatos e igrejas, entre outras.

Todavia, acreditamos que, para entender os interesses, as ações, as relações e os conflitos entre as instituições e os diferentes territórios, a ideia desse conceito apenas como “espaço de governança”, seja bastante limitada e insuficiente. Daí a necessidade de compreender como se vêm processando as transformações e/ou evolução desse conceito, a fim de que seja possível definir, a partir dessa leitura, a concepção que possibilita analisar de maneira crítica as transformações territoriais no campo, bem como a sua utilização atual como demarcador da atuação do Estado, através de diferentes políticas públicas, entre elas a dos Territórios da Cidadania e as políticas públicas para a educação no campo.

É consenso na Geografia ter sido o alemão Frederic Ratzel quem primeiramente fez uso do conceito de território, compreendendo-o como uma “determinada porção terrestre apropriada por um grupo humano” (MORAES, 1990, p. 23). Essa concepção sofreu forte influência das ciências naturais, especialmente das teorias desenvolvidas por Darwin e Lamarck.

Nessa perspectiva, território vinculava-se à ideia de apropriação do espaço como uma maneira de luta pela sobrevivência, evidenciando a necessidade de utilização da natureza pelos homens. Assim, justificava-se a necessidade de a sociedade organizar-se para manter seu território, a fim de garantir os seus recursos naturais. Essa organização, por sua vez, justificaria a criação do Estado (MORAES, 2000), que deveria assegurar as

condições de existência da sociedade, mantendo ou mesmo ampliando o seu território, podendo representar a decadência ou o progresso de uma nação.

Acerca do conceito de território, destaca-se ainda a contribuição dos estudos desenvolvidos por Raffestin, ao retomar os estudos de Ratzel, no que tange à relação território e Estado. Para esse autor, o espaço é uma noção e o território um conceito. Dessa maneira, o território seria “um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia ou informação e, que por consequência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a ‘prisão original’, o território é a prisão que os homens constroem para si”. (RAFFESTIN, 1993, p. 143-144).

Em sua obra, prevalece o caráter político do território, pois esse é um espaço onde se projetou um trabalho, mas não de qualquer tipo, um trabalho que está marcado por relações de poder. Segundo ele “[...] o território se apoia no espaço, mas não é o espaço, é uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolvem, se inscreve num campo de poder” (RAFFESTIN, 1993, p.144).

O que tem de essencial nessa análise é a necessária compreensão de que o território é composto por ação e poder que se manifestam por pessoas ou grupos. Dessa forma, poder e território, são enfocados conjuntamente, pois são intrínsecos em todas as relações sociais.

Partindo dessa compreensão, o espaço seria anterior ao território, que se configuraria a partir deste. Daí decorre o caráter político atribuído por Raffestin ao conceito de território. Destaca ainda o autor que a imagem territorial projetada pelos homens não corresponderia ao território real, uma vez que esta seria a conjunção de diferentes projetos em disputa, o que significa dizer, de sujeitos com interesses diferenciados em disputa pelo mesmo território.

A partir da reflexão feita por Raffestin, se considerarmos a realidade de campo brasileiro, poderíamos afirmar que os interesses do Capital ao disputar a terra, por exemplo, não são os mesmos interesses da classe trabalhadora no campo. Daí a disputa e os conflitos permanentes pelo território, entre essas classes antagônicas. Assim, quanto mais o capital avança no campo, novas disputas e conflitos emergem pelo território por meio da organização da classe trabalhadora historicamente expropriada do direito à terra.

O autor atribui novas dimensões ao conceito de território de Raffestin. Para Souza (1995), tal conceito tem um papel de substrato das relações sociais, enquanto para ele o território poderia ser delimitado como campo de forças, teias ou redes de relações sociais que definem um limite e uma alteridade que contraporia os inseridos e os estranhos naquele espaço. Assim, o território seria “fundamentalmente definido e delimitado por e a partir das relações de poder”. Para Souza (1995), ainda que o território seja comumente associado à ideia de Estado Nacional, há a necessidade de analisá-lo em suas várias escalas, uma vez que vários poderes poderiam atuar sobre um mesmo território.

Heidrich (2004), também fala da formação desse território, com características essencialmente voltadas ao campo do poder mas, para ele, o território completo que envolve apropriação, domínio, identidade, pertencimento, demarcação, separação, é somente o desenvolvimento de territorialidades, onde apenas partes dessas características do território estão presentes.

Segundo esse autor, o princípio da territorialidade consiste na manifestação de ocupação do espaço que pode ser absoluto ou relativo; absoluto no sentido do espaço concreto, e relativo como espaço de relações entre objetos.

Da mesma forma, merece destaque o trabalho de Rogério Haesbaert, cuja concepção acerca do território também distingue as duas abordagens citadas por Heidrich, identificando, em relação ao território, leituras que relatam o seu “caráter ‘absoluto’, como algo ou como coisa (substrato concreto), ou ‘relacional’, como fruto de relações sociais ou, de modo mais específico para alguns autores, de relações de poder” (HAESBAERT, 2004, p.25).

Haesbaert (2004), ainda organiza o conceito de território diferenciando as posições materialistas e idealistas. Os materialistas partem da visão de que o território é constituído predominantemente por características físico-materiais; por sua vez, os idealistas definem o território, principalmente, pelo “valor territorial”, no sentido simbólico.

O autor propõe uma perspectiva integradora, no que se refere à oposição entre as perspectivas materialistas e idealistas de território, buscando, assim, a superação da dicotomia material/ideal, considerando que o território envolve, ao mesmo tempo, a

dimensão espacial material das relações sociais e o conjunto das representações sobre o espaço.

Na busca para propor uma leitura para a análise do território em contrapartida aos teóricos que defendem a desterritorialização, Haesbaert desenvolve, então, uma nova noção, na qual o conceito de território se define a partir da multiterritorialidade. Para ele, somente partindo da visão integradora, que enfatize os aspectos político, econômico e simbólico, é possível compreender o que hoje vem a ser a complexidade do território. Esses três aspectos do estudo do território são a base para a discussão deste autor.

As três vertentes estão, para ele, assim definidas: 1) política, na qual o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce determinado poder, por exemplo, o território demarcado pelo Estado-nação; 2) simbólica, em que o espaço passa a ser concebido pelos aspectos culturais, o território é produto da apropriação subjetiva do imaginário; 3) econômica, enfatizando as relações econômicas, o território é visto como fonte de recursos no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho como produto da divisão territorial do trabalho.

Somente com a visão híbrida do espaço se torna possível a compreensão do território, a partir da leitura integradora. Haesbaert define como espaço híbrido a fusão entre sociedade e natureza, entre política, economia e cultura, e entre materialidade e idealidade, que acontecem numa complexa interação espaço-tempo (2004, p.79).

Na atual sociedade – que tem como principal característica no desenvolvimento do modo de produção capitalista o fluxo e a interdependência do capital – a integração e as dinamizações das sociedades nacionais, que ficaram difundidas como “sociedade globalizada”, além de reproduzirem desigualdades, apresentam uma nova interdependência ao conectar econômica e culturalmente as regiões mais longínquas. Dessa forma, não só os indivíduos vivenciam experiências novas, como novas categorias são criadas ou transformadas no seu interior.

Ainda nessa perspectiva, outro autor que contribuiu consideravelmente para a utilização do território como uma categoria analítica, foi o geógrafo Milton Santos (1996), para quem o que o território tem de permanente “é ser o nosso quadro de vida”.

Ao buscar compreender o conceito de território, Milton Santos destaca a função desempenhada pelo Estado-Nação e as novas funções no processo de globalização. Para

ele, a interdependência dos espaços, é resgatada e o território passa a ser a base do Estado-Nação. De acordo com Santos (1996, p.15),

Hoje, quando vivemos uma dialética do mundo concreto, evoluímos da noção [...] de Estado Territorial para a noção pós-moderna de transnacionalização do território. [...] Mas, assim, como antes tudo não era digamos assim, território ‘estatizado’, hoje tudo não é estritamente ‘transnacionalizado’. Mesmo nos lugares onde os vetores da mundialização são mais operantes e eficazes, o território habitado cria novas sinergias e acaba por impor, ao mundo uma revanche.

A ideia defendida pelo autor torna-se fundamental para a compreensão das diversas configurações territoriais e de como o modo de produção capitalista influencia na postura assumida pelo Estado, não raro servindo aos interesses do capital e, noutras vezes, possibilitando que outros setores da sociedade participem ou mesmo questionem as novas configurações.

Para além da transnacionalização do espaço, Santos (1996, p. 16), considera que esse possui ainda uma organização interna, dos homens e mulheres que o habitam, em que um não exclui o outro, já que o espaço das redes e o espaço banal do cotidiano, organizado internamente pelos homens, pode ocorrer nos mesmos lugares, “contendo funcionalidades diferentes, divergentes ou opostas”. A partir desta consideração, Santos aponta para a possibilidade de criação de novas solidariedades entre pessoas e lugares.

Neste trabalho, consideramos que a concepção de território que melhor sintetiza as contribuições dos diferentes autores aqui abordados e que possibilita uma leitura crítica da atual configuração territorial do campo brasileiro é a dos geógrafos Ariovaldo Umbelino Oliveira e Bernardo Mançano Fernandes, para os quais o território pode ser concebido como o resultado concreto da luta de classes travada pela sociedade no processo de produção da sua existência.

Para Oliveira (2010, p. 74), numa perspectiva materialista dialética, território constitui uma categoria analítica, que pode ser compreendida como “uma síntese, uma totalidade concreta expressa no modo de produção, distribuição, circulação e consumo”, onde o Estado assume mediações ideológicas, simbólicas e políticas de regulação.

A utilização do território, enquanto categoria analítica, permite visualizar os processos em curso que refletem a luta de classes atual no campo brasileiro, ou seja, as

classes sociais em disputa no espaço, apropriando-se deste, transformando-o em territórios, permitindo-nos analisar as contradições no processo de produção espacial de existência.

Nessa direção, o território não é uma técnica, muito menos uma noção fechada, acabada, determinada. Não pode ser naturalizado, instrumentalizado, aparelhado. O sentido do uso do conceito de território é o político, que tem como essência a liberdade. (FERNANDES, 2008, p. 290).

Consideramos ainda relevante neste trabalho destacar as “as tipologias de território” em Fernandes (2008a, p.09 - 16) como fator crucial para a compreensão do caráter multidimensional do território para além do econômico. Para Fernandes, primeiramente o território aparece como “espaço de governança”, sendo o território da nação que se desdobra em muitos outros; o segundo território “[...] são frações do primeiro, porque as relações sociais que os produzem são diferentes e um território propriedade – privada, não pode ser confundido com um território espaço de governança”. Portanto, o terceiro território “[...] é o espaço relacional considerado a partir de suas conflitualidades e reúne todos os tipos de território.” E por fim, o “território imaterial” “[...] que pertence ao mundo das ideias, das intencionalidades”.

Para este autor a forma de uso vai determinar o território. Assim, no espaço estão destacadas as relações e no território essas relações são demarcadas pelo poder. Desta maneira, ninguém vive sem o território, ele está presente nas mais variadas escalas, e como resultado de tais relações tem-se a espacialidade, a territorialidade. A territorialidade pode ser expressa pelos signos, símbolos coisas que os sujeitos se nutrem, se identificam; cria, portanto, identidade. Essa territorialidade pode ser segundo Fernandes (2008) material e imaterial.

Ainda segundo Fernandes (2008), a territorialidade se desdobra em três variantes: territorialização, desterritorialização e reterritorialização. A territorialização acontece pela expansão contínua e descontínua ou ainda a multiplicação do território. A desterritorialização se dá pela subordinação/destruição. Observando o território como algo intrínseco ao ser humano, os sujeitos ao serem impactados pela desterritorialização se reterritorializam embora em base diferentes ou diferentes condições.

Referindo-se à atual configuração do campo brasileiro, Fernandes (2008), afirma que temos em curso uma disputa territorial entre capital e campesinato. Para ele, as

propriedades camponesas e as capitalistas são territórios distintos e divergentes em que se reproduzem relações sociais diferentes, que promovem modos divergentes de desenvolvimento. As conflitualidades entre os modelos de desenvolvimento que disputam territórios podem ser entendidas pela polarização: de um lado, o agronegócio, que se caracteriza pela produção da monocultura em grande escala, com trabalho assalariado intensamente mecanizado e com utilização de agrotóxicos e sementes transgênicas, e de outro, o campesinato que se caracteriza pela produção de policulturas, em pequena escala, com predominância do trabalho familiar, com baixa mecanização e, em sua maior parte, sem utilização de agrotóxicos.

Para Fernandes (2008), a distinção da organização dos territórios do campesinato e dos territórios do agronegócio se expressa na paisagem. Isso porque, enquanto o agronegócio organiza seu território para produção de mercadorias em sua forma homogênea, ou seja, composição uniforme e geométrica da monocultura, com pouca presença de pessoas, os camponeses organizam seu território primeiro para sua existência. Por isso, a paisagem é heterogênea, com uma rica diversidade dos elementos que compõem o território, com grande presença de pessoas, homens, mulheres, jovens, meninos e meninas produzindo alimentos, com a produção de mercadorias, culturas e infraestrutura social, entre outros.

Os empreendimentos de realização do capital no campo acontecem, sobretudo, em parceria com o Estado que, por meio de políticas neoliberais tem intensificado o processo de desterritorialização dos territórios não capitalistas das comunidades camponesas e indígenas ou subordinação dos territórios desses ao monopólio do capital. No primeiro caso, as empresas nacionais/transnacionais do agronegócio se territorializam por meio da monocultura para exportação. No segundo caso, mantêm o controle pelas tecnologias e pelo mercado enquanto fatores de subordinação. (FERNANDES, 2008, p. 293-294).

No entanto, conforme identifica Oliveira (2010), o processo geral de expansão das relações de trabalho assalariado pelo país é, antes de tudo, contraditório. Simultaneamente, há a dominação do trabalho assalariado nas médias e grandes propriedades e o predomínio do trabalho familiar camponês nas pequenas propriedades. Para o autor, a luta pelo acesso à terra tem aumentado em nosso país, contrariando a teoria geral da expropriação/proletarização inevitável dos camponeses.

A esse respeito, Martins (1993) diz que, embora o quadro clássico do capitalismo nos mostre que o capital se expande à custa da expropriação e da proletarização dos trabalhadores do campo, no Brasil esse processo ganha outro contorno. A expansão do capital no campo não proletariza, necessariamente, o trabalhador, já que parte dos expropriados ocupam novos territórios, reconquistam a autonomia do trabalho, praticando uma traição às leis do capital.

Também nessa direção, Conceição (1991) pontua que a expansão do capital se faz de forma desigual e contraditória, pois se os camponeses são expropriados por causa dessa expansão estabelecendo relações de trabalho assalariadas, sua permanência na terra também é necessária à expansão, haja vista desenvolverem relações de trabalho não capitalistas.

Isso acontece porque, quando o capital subordina o camponês, recebe parte do fruto do trabalho daquele, convertendo-a em mercadoria e transformando-a em capital; sendo assim, as formas não capitalistas de produção (como a camponesa) ao serem criadas e recriadas fazem com que o capital se expanda.

A expansão capitalista no campo significa a garantia da acumulação capitalista monopolista mundial sob o controle do Banco Mundial. A implementação de políticas e de programas direcionados para o desenvolvimento regional, voltados para as áreas rurais, tem como objetivo a instalação e expansão da agroindústria.

O discurso da modernização do campo, ao mesmo tempo em que reforça o processo da monopolização e da territorialização do capital, acentua a expulsão dos camponeses da unidade de produção familiar, ao permitir o processo de subsunção do trabalho ao capital. Desprovidos de possibilidades da terra como condição de vida, o Estado, pela coação, impõe um discurso velado da submissão ao capital, à medida que favorece a crescente mobilidade do trabalho (CONCEIÇÃO, 2007, p. 79).

Oliveira (2010) diz que a luta para continuar existindo acompanha a luta pelo direito à terra livre e ao trabalho liberto através de acampamentos e assentamentos no aspecto das ocupações da terra que permite aos trabalhadores, donos do tempo que o capital roubou e construtores do território coletivo, reproduzirem-se no seio do território da reprodução geral capitalista.

Nesse sentido, podemos dizer que as palavras – camponês e latifundiário – são palavras políticas, que procuram expressar a unidade das respectivas situações de classe

e, sobretudo, que procuram dar unidade às lutas dos camponeses. Não são, portanto, meras palavras. Estão enraizadas numa concepção da história, das lutas políticas e dos