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1° CAPÍTULO

1. ARTE PÚBLICA DE NOVO GÊNERO

1.5. Exemplos de trabalhos em arte pública de novo gênero

1.5.3. The Land – Plataforma de colaboração

The Land106 foi criado a partir da união de idéias de diferentes artistas, entre eles, Rirkrit Tiravanija, para a aplicação de propostas com alto engajamento social em uma comunidade específica. O projeto colaborativo foi iniciado em 1998 e situa- se próximo a Chang Mai, na Tailândia, localizado nas proximidades da aldeia de Sanpatong, combinando intervenções de arte contemporânea e agrícola aos valores tradicionais locais.

Soluções criativas reinventaram uma realidade que estava condenada pela degradação ambiental e social, assim como pelo esgotamento de soluções tradicionais que não resolviam os problemas da comunidade tailandesa. A tecnologia

71 em processos colaborativos se fez presente através de ações em permacultura e espaços bioconstruídos como iniciativas para manutenção e recuperação para os espaços coletivos.

Como alguns produtores locais de arroz estavam tendo dificuldades no plantio devido aos altos níveis de água que as cheias provocaram, estes abriram mão de suas terras para projetos que pudessem restaurá-la. Devido a isso, alguns campos de arroz na região haviam sido oferecidos para novas propostas de desenvolvimento. Inicialmente, a ação para utilização dos campos de arroz foi introduzida por dois artistas tailandeses que preservaram o anonimato, para que o conceito de propriedade coletiva fosse preservado. The Land foi criada para ser um espaço aberto, com intenção de servir à comunidade, assim como ser um espaço para discussões e para a experimentação em diferentes campos do conhecimento. Seu ambiente topográfico foi cultivado através da filosofia e da técnica agrícola de um fazendeiro da Tailândia chamado Chaloui Kaewkong. As idéias em torno do cultivo da região tinham como fundamento proporcionar 1 / 4 de terra (massa) para 3 / 4 de água (líquido), baseado na composição do corpo humano. Como não há água por perto, um projeto de irrigação montou um sistema de água que vai de um lado ao outro, formando uma série de lagoas e piscinas entre a zona cultivada [figura 31]. No meio da terra, cultiva-se duas porções de campos de arroz - um projeto de um grupo de estudantes da Universidade de Chiang Mai e da aldeia local. O cultivo do arroz foi ampliado e colhido anualmente, ao invés de vez de sazonalmente. A colheita passou a produzir aproximadamente 1000-1500kg de arroz que são compartilhadas por todos os participantes envolvidos, assim como por algumas famílias do local que são portadoras de AIDS. Atualmente, esses dois campos têm sido a parte mais ativa do uso da terra. Árvores frutíferas e plantas comestíveis são dispersas na paisagem. Legumes e ervas também são plantados.

72 Figura 31 The Land

The Land é um exemplo de projeto colaborativo que reuniu diferentes iniciativas de coletivos artísticos, entre eles o Coletivo Superflex107, responsável pelo projeto de produção de biogás. Projetos em horta comunitária, geradores de energia e espaços bioconstruídos também foram desenvolvidos pelo coletivo. Todos os projetos visam compartilhar propostas que gerem autonomia, como ter o seu próprio abastecimento de energia, tornando-se um produtor independente, tendo o seu próprio ponto de luz. Em The Land não havia eletricidade ou água potável, gerando um grande problema para o desenvolvimento da comunidade local. As ações colaborativas desenvolvidas no local remeteram a uma discussão política e econômica de resistência aos modos hegemônicos de produção.

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73 Figura 32 The Land – Supergás - Coletivo Superflex

O coletivo dinamarquês Superflex desenvolveu o projeto chamado Supergás - um sistema biogestor [figura 32] que utiliza fezes humanas para produzir gás natural. O gás produzido foi inicialmente usado para os fogões da cozinha [figura 33], bem como para acender lâmpadas de luz. Arthur Meyer, um artista americano de Chicago, EUA, desenvolveu um sistema para a utilização de energia solar como outra fonte de energia para ser armazenada e utilizada. Estes projetos foram exemplos de mobilizações de artistas junto à comunidade local, bem como da mobilização dos alunos das escolas e universidades da região.

74 A água tornava-se um problema devido aos agrotóxicos e outros produtos tóxicos que eram jogados nos campos de arroz, que por sua vez, alimentavam a água para o abastecimento das cisternas. No centro das terras os artistas construíram uma piscina isolada, remetendo as águas para solo subterrâneo. A piscina, feita de matéria natural, filtra o solo, necessitando, porém, que testes sejam feitos periodicamente para evitar qualquer tipo de contaminação. As piscinas e lagoas são utilizadas para o cultivo de peixes -projeto de uma jovem artista tailandesa chamada Prachya Phintong. Casas foram construídas pelo artista tailandês Kamin Lerdchaiprasert em uma proposta de praticidade. The Land tornou- se um laboratório para propostas de um espaço auto-sustentável em sintonia com a terra.

A cozinha de The Land foi montada em duas partes, primeiramente projetada para uma galeria em Lisboa. Uma parte foi desenvolvida pelo coletivo Superflex, que desenvolveu uma cisterna para a produção de biogás e seu armazenamento, a outra parte foi desenvolvida pelos artistas Rehberger e Tiravanija. Rehberger projetou uma plataforma que ativa o biogás para produção de energia elétrica capaz de acender uma lâmpada. A cozinha foi projetada para ser usada por R. Tiravanija na elaboração das refeições coletivas. Após a exposição em Lisboa, o sistema desenvolvido para a exibição foi então transferido para The Land e conseqüentemente instalado em uma estrutura projetada e construída por Kamin Lerdchaiprasert. Atilier Van Leishoup desenvolveu o sistema de banheiro ecológico que alimentava a produção de biogás.

75 Figura 34 Orgânicos produzidos em The Land

O artista e arquiteto Philippe Perreno Francios Roch, desenvolveu um projeto para uma sala central de atividades e oficinas. Os espaços da cozinha, banheiros, casas de banho e hall central ficam ao redor dos campos de arroz. Com base nas tendas para meditação, comumente encontrados em monastérios budistas, o artista tailandês Mit Jai In fez uma horta para o cultivo de orgânicos [figura 34] em forma de um círculo, assim como um viveiro de plantas. O artista acredita que com o tempo, esta estrutura vai crescer e ele pretende morar ali dentro. Tobias Rehberger tem o projeto em construção de uma estrutura inspirada por um prato de comida de sua gastronomia nativa. Tiravanija também contribui para The Land alguns modelos de habitação que foram baseadas em três níveis, conforme as necessidades básicas de cada um. O piso inferior serve de base, é aquecido com lareira e foi planejado com a idéia de acomodar as pessoas durante seus encontros e trocas. O segundo andar serve para leitura e meditação e reflexão destas trocas. O segundo piso serve também de acesso para o piso superior, que é o lugar de dormir.

Não há prazo final para as obras em The Land - uma plataforma permanente de colaborações.

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