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Capítulo II – Enquadramento Teórico

2.2. Competências de comunicação em Inglês com TIC

2.2.2. TIC e competências de comunicação

Duas correntes teóricas parecem imperar na literatura, quanto ao modo de aprendizagem das línguas: uma de teor mais cognitivo, outra que enfatiza as capacidades comunicacionais. A aprendizagem de cariz comunicacional pressupõe o domínio das quatro competências de comunicação, designadamente a compreensão oral (ouvir), a expressão oral (falar), a

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compreensão escrita (ler) e a expressão escrita (escrever), às quais normalmente se associam a gramática, o vocabulário e, eventualmente, a pronúncia.

Damos conta, agora, da explicitação do conceito de ‘competência’ no que concerne ao domínio da linguagem e, especificamente, das quatro competências comunicativas que são foco de estudo deste trabalho, pelo que aludimos a algumas definições do conceito de competência, conforme apresentadas em vários manuais de referência de linguística e outros relativos ao ensino das línguas. De acordo com Richards e Schmidt (2010), ela é “(in language teaching) the mode or manner in which language is used. Listening, speaking, reading and writing are

generally called the four language skills. Sometimes speaking and writing are called the active/productive skills and reading and listening, the passive/receptive skills (…)” (p. 322). Já de acordo com o SurveyLang, um documento que apresenta os resultados de um inquérito sobre competências linguísticas (Comissão Europeia, 2012), há poucas diferenças na ênfase que os docentes colocam nas quatro competências de comunicação em relação às três competências linguísticas (vocabulário, gramática, pronúncia) e aos elementos ‘cultura’ e ‘literatura’. Em todos os sistemas educativos, é atribuída menor importância a estes dois aspetos, em detrimento dos restantes. Quanto às quatro ‘skills’, regra geral são promovidas com igual grau de

importância, conforme se pode concluir a partir deste documento. Neste estudo, decidimos abordar apenas as quatro principais competências em detrimento de outras ‘microskills’, em virtude de o estudo do Inglês no ensino superior ser geralmente de nível avançado, o que pressupõe o domínio das componentes lexical e gramatical.

Um documento oficial respeitante à iniciativa KeyCoNet (Key Competence Network on School Education), uma rede europeia sob alçada do Programa para a ALV, da Comissão Europeia, que inclui mais de 100 organizações parceiras, de 30 países europeus, e que procura contribuir para a melhoria e implementação das competências-chave no sistema educativo, apresenta o conceito de competência da seguinte forma: “a competence refers to a complex combination of knowledge, skills, understanding, values, attitudes and desire which lead to effective, embodied human action in the world in a particular domain” (Arjomand et al., p. 4).

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Por outro lado, o documento respeitante às Key Competences for Lifelong Learning trouxe, igualmente, um importante contributo na definição deste conceito, que os autores descrevem como “a combination of knowledge, skills and attitudes appropriate to the context” (Comissão Europeia, 2007, p. 3). Aludem, ainda, ao conceito de competências-chave: “those which all individuals need for personal fulfillment and development, active citizenship, social inclusion and employment” (p. 3). Finalmente, no QECR (Conselho da Europa, 2001), documento de referência para o ensino, aprendizagem e avaliação de línguas, através da pressuposição de uma abordagem orientada para a ação, o conceito de competência é entendido como “the sum of knowledge, skills and characteristics that allow a person to perform actions” (p. 9). Por outro lado, considera-se que as competências linguísticas de comunicação são aquelas “which empower a person to act using specifically linguistic means” (p. 9).

A ideia subjacente às várias definições de ‘competência’ que incluímos assenta,

essencialmente, nos conceitos de conhecimento e capacidade, pelo que, quando nos referimos à competência linguística em língua estrangeira, ao longo deste trabalho, pressupomos sempre essa base que sustenta a aptidão para a comunicação ou competência comunicativa, conforme a definição que incluímos agora: “the ability not only to apply the grammatical rules of a

language in order to form grammatically correct sentences but also to know when and where to use these sentences and to whom (Richards, Platt & Weber, 1985, p. 49). De acordo com os autores, a competência comunicativa inclui o conhecimento de gramática e vocabulário da língua, além das regras de expressão oral (que pressupõem a adequação do discurso aos vários contextos). Já de acordo com o QECR (Conselho da Europa, 2001), a competência

comunicativa em língua compreende as componentes linguística (que remete para os

conhecimentos lexicais, fonológicos e sintáticos), sociolinguística (que se reporta às condições socioculturais do ensino da língua) e pragmática (que tem a ver com o domínio do discurso, coesão e coerência).

Após a explicitação dos vários conceitos de competência e, especificamente, das ideias- chave que sustentam a nossa perspetiva neste trabalho, importa aludir aos principais referenciais

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que norteiam o ensino das línguas a nível europeu, designadamente (i) o referido QECR (Conselho da Europa, 2001), documento através do qual se pretende uniformizar o ensino, aprendizagem e avaliação de língua estrangeira na Europa, sendo o único com base para certificação; (ii) o FESLC (First European Survey on Language Competences), desenvolvido pela Comissão Europeia (2012), elaborado pelos parceiros do chamado SurveyLang, que já referimos, e que aparece em associação com o anterior; e (iii) o documento referente às competências-chave para a ALV. Procedemos a uma síntese do que nestes referenciais é dito sobretudo acerca das competências de comunicação, mas também da integração da tecnologia, por constituir esse o foco deste trabalho.

O QECR (Conselho da Europa, 2001), apesar do seu caráter orientador, assume-se como um documento não prescritivo, através do qual se tenciona contribuir para a uniformização de uma diversidade de elementos no campo das línguas modernas, através de três qualidades principais: abrangência, transparência e coerência. O documento preconiza a utilização da tecnologia, mesmo como uma das capacidades heurísticas recomendadas, sublinhando-se “importância do desenvolvimento de mais laços educativos e de intercâmbio e da exploração do enorme potencial das novas tecnologias da informação e da comunicação” (p. 23).

Quanto ao FESLC (Comissão Europeia, 2012), teve como objetivo obter resultados sobre a proficiência dos estudantes de ensino secundário a nível das duas línguas que mais

predominam no ensino de vários países europeus. Em Portugal, foram analisados o Inglês e o Francês. Com o intuito de se inquirir os vários países acerca da competência em língua estrangeira e de boas práticas na aprendizagem da língua, obtiveram-se dados com vista a promover a melhoria da aprendizagem de língua estrangeira. No documento, apesar de serem referidas as diretrizes da Comissão Europeia que enfatizam uma política que integre a

tecnologia no ensino de língua estrangeira, os resultados do inquérito indicam um baixo índice de utilização de dispositivos e ferramentas tecnológicas por parte dos docentes, em todos os países. Curiosamente, apesar das vantagens associadas ao uso das TIC para aprendizagem de

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língua estrangeira, o índice relativo à utilização da tecnologia em casa, por parte dos alunos, obteve um score negativo neste inquérito.

Por fim, o documento respeitante às competências-chave para a ALV (Comissão Europeia, 2007) refere, no enquadramento da competência de comunicação em língua

estrangeira, que é essencial dotar os cidadãos do conhecimento dos tipos de interação verbal e dos registos de língua, que permitam compreender mensagens faladas, iniciar, manter e concluir conversas, além de ler e produzir textos adequados às necessidades do indivíduo. É, ainda, dada ênfase ao uso das quatro competências de comunicação para os vários contextos culturais (de educação, trabalho e lazer) e à aprendizagem informal de línguas.

No contexto das diretivas enunciadas nos referenciais supramencionados, é essencial dar conta de exemplos específicos das potencialidades associadas ao desenvolvimento das quatro competências de comunicação a partir da integração da tecnologia. No que respeita às competências de oralidade (compreensão e expressão oral), Walker e White (2013) referem a vantagem de os estudantes poderem criar os seus próprios materiais e tirar partido de todo o material áudio disponível online: “technology provides exciting opportunities for students to interact with spoken language in ways which allow them to replay, rehearse and repeat oral language in non-threatening and supportive contexts” (p. 42). Estas vantagens revestem-se de particular importância, tendo em conta o facto de a expressão oral ser considerada, por vezes, como a competência mais fraca nos contextos de língua estrangeira (Bueno Alastuey, 2011). Quanto à compreensão escrita, as autoras assinalam as diferenças trazidas pela tecnologia na forma como lemos, sendo que uma das principais consequências terá sido a democratização da leitura, que advém da possibilidade de qualquer pessoa poder publicar os seus textos a partir de blogues, por exemplo. Outros tipos de texto digital incluem jornais online, revistas ou e-books e salienta-se o potencial da tecnologia para a leitura colaborativa ou interativa, em contextos em que os próprios estudantes podem definir tarefas para os seus pares. No que concerne às competências de escrita, Walker e White (2013) sinalizam, ainda, a importância da tecnologia na possibilidade de publicação dos textos dos estudantes, que deixam de estar apenas

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confinados ao contexto de sala de aula e ao escrutínio do professor, mas passam a estar acessíveis a uma audiência mais vasta, o que faz com que os estudantes obtenham maior feedback relativamente aos seus produtos escritos. No subcapítulo 2.3.3.1, alusivo à Web 2.0, serão dados exemplos de ferramentas que se poderão utilizar para desenvolver competências de comunicação em língua estrangeira, tanto em contextos de lecionação totalmente presencial como ‘blended’ ou a distância.