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Parte II – Análise Empírica

CAPÍTULO 7 – ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS

7.2. Tipo e lógica de Microcrédito cedido pelas ONG observadas

Simultaneamente IMF, já que todas concedem Microcrédito a quem dele necessita, cada uma das três ONG estudadas apresentam características de funcionamento próprias, relativamente distintas entre si, como ficou registado nas respetivas apresentações, o que, por sua vez, influencia as especificidades do Microcrédito que disponibilizam aos seus beneficiários. A informação recolhida, por via dos inquéritos por questionário, permitiu perceber que o número de Microcréditos que os beneficiários contraíram em cada uma das ONG, até ao momento da sua aplicação, é bastante diverso, havendo alguns que pediram Microcrédito apenas uma ou duas vezes e outros que já beneficiaram deste tipo de financiamento mais de cinco vezes (cf. Tabelas D.2.2.1.1., D.2.2.1.2. e D.2.2.1.3. em anexo). Similarmente, o intervalo de tempo desde que os beneficiários pediram o seu primeiro Microcrédito até ao momento da aplicação do inquérito, também é variável. Como o Quadro 7.1. permite constatar, a FAMI-Picos é a organização com os beneficiários mais antigos já que, em média, são membros ativos há, aproximadamente, sete anos, destacando-se o mais antigo cuja pertença ronda os 19 anos (cf. Tabela D.2.2.2.1. em anexo). Em contrapartida, os beneficiários do CITI-Habitat e da Morabi são mais recentes (cf. Tabela D.2.2.2.2. e Tabela D.2.2.2.3. em anexo), sendo utilizadores do Microcrédito, em média, há apenas três anos, embora a Morabi detenha, tal como a FAMI-Picos, um caso de grande longevidade, próximo dos 13 anos.

Apesar de ser a maior das IMF analisadas, sobretudo, pela sua enorme abrangência territorial e tudo aquilo que isso traz consigo, e, consequentemente, a organização com mais dinheiro emprestado até ao momento da sua observação, a Morabi apresenta os montantes de Microcrédito emprestados mais baixos.

A confirmar pelos dados que o Quadro 7.1. reúne, tanto para os Microcréditos mais recentes como para a média da totalidade dos Microcréditos já concedidos, a Morabi é, das três ONG, aquela que apresenta valores mais baixos. Por oposição, o CITI-Habitat é a ONG que concede os Microcréditos com valores mais altos, tanto para a variável relativa aos montantes de Microcréditos concedidos mais recentemente, como para a variável respeitante à média dos montantes de Microcréditos concedidos até ao momento da aplicação do inquérito, seguida da FAMI-Picos.

No que aos montantes de Microcrédito mais recentes diz respeito, a julgar pelos valores descritos no Quadro 7.1., o valor de Microcrédito mais baixo concedido pelo CITI-Habitat é, quase tão baixo como o valor mais alto de Microcrédito atribuído pela Morabi. Estas

manifestas disparidades, entre os montantes de Microcrédito que o CITI-Habitat e a Morabi concedem, refletem-se numa proporção de um para quatro entre os valores máximos de Microcrédito atribuído, tanto para a variável de montantes de Microcrédito mais recentes, como para a variável da média de montantes de Microcrédito já concedido, que ambas as organizações atribuem.

Em termos numéricos, esta proporção de um para quatro confirma-se pelo valor máximo de 150.000,00CVE emprestados pela Morabi face ao valor máximo de 580.000,00CVE emprestados pelo CITI-Habitat, para os montantes de Microcrédito mais recente. E, para a média dos montantes já concedidos, pelo valor máximo de 100.000,00CVE da Morabi e, respetivamente, de 432.500,00CVE do CITI-Habitat.

Por conseguinte, para os valores médios do Microcrédito mais recente, enquanto a Morabi apresenta uma média de, apenas, 50.000,00CVE (cf. Tabela D.2.1.3.3. em anexo), o CITI- Habitat tem uma média de 216.000,00CVE (cf. Tabela D.2.1.3.2. em anexo) e a FAMI-Picos

de 195.000,00CVE (cf. D.2.1.3.1. em anexo). De igual modo, a média mais baixa dos

montantes da totalidade de Microcrédito já concedido pertence à Morabi, 68.500,00CVE

emprestados (cf. Tabela D.2.2.3.3. em anexo), e a mais alta ao CITI-Habitat, 179.250,00CVE

(cf. Tabela D.2.2.3.2. em anexo), seguida da FAMI-Picos, 120.250,00CVE (cf. Tabela D.2.2.3.1. em anexo).

Quadro 7.1. – Tabela síntese de valores relativos ao Microcrédito das ONG observadas

FAMI-Picos CITI-Habitat Morabi

Anos desde o primeiro crédito pedido Valor mínimo 2 0,5 0,5 Valor médio 6,8 2,9 3,3 Valor máximo 19 7 13 Montantes de créditos mais recentes (CVE) Valor mínimo 15.000,00 100.000,00 50.000,00 Valor médio 195.000,00 216.000,00 93.000,00 Valor máximo 500.000,00 580.000,00 150.000,00 Montantes de créditos cedidos (CVE) Valor mínimo 12.500,00 75.000,00 50.000,00 Valor médio 120.250,00 179.250,00 68.500,00 Valor máximo 375.000,00 432.500,00 100.000,00 Total já emprestado (CVE) 155.493.636,00 105.305.404,00 1.775.345.000,00 Taxa de juro 3% 1,5% 2% 2,5% 3% 2%

Mantendo a distinção descrita até ao momento, também a taxa de juro aplicada aos montantes emprestados é díspar entre as três ONG, já que, a confirmar pela informação recolhida junto

dos seus representantes, a FAMI-Picos aplica uma taxa de juro de 3% (cf. Tabela D.2.2.4.1.

em anexo), o CITI-Habitat, dependendo do destino dado ao dinheiro emprestado, emprega

taxas de juro desde os 1,5% até aos 3%, embora a maioria aplicada seja de 2,5% (cf. Tabela

D.2.2.4.2. em anexo), e a Morabi taxas de juro de 2% (cf. Tabela D.2.2.4.3. em anexo). Todavia, o destino dado à maioria destes créditos é homóloga, independentemente da instituição a que os beneficiários pertencem. Como referido na apresentação de cada uma das ONG, enquanto o CITI-Habitat e a Morabi financiam, apenas, atividades geradoras de rendimentos, a FAMI-Picos não tem restrições no fim dado aos seus empréstimos, o que reparte as opiniões, entre os representantes desta e os representantes das outras duas organizações, relativamente às razões que sustentam os pedido de Microcrédito. Especificamente, o contacto com os representantes do CITI-Habitat e da Morabi deixou patente que a busca pelo autoemprego é, considerada por eles, a principal motivação para os pedidos de microfinanciamento que recebem. Por seu turno, os entrevistados da FAMI-Picos elegem, como mote dos seus pedidos de crédito, a simplicidade burocrática no acesso ao crédito e o sentido de pertença que os membros da FAMI-Picos sentem em relação à sua organização. Ainda assim, os dados recolhidos tornam unânime que o principal destino do Microcrédito destas IMF é o reforço da atividade dos seus beneficiários, entendendo-se por reforço da atividade todo o investimento feito para a sua melhoria, como o aumento ou reforma do espaço onde se desenvolve a atividade, a compra de produtos para revenda ou o aumento da oferta de produtos.

Todos os beneficiários da Morabi referem ter dado este uso aos empréstimos que pediram à

sua instituição (cf. Tabela D.2.2.5.3. em anexo), tal como a maioria do beneficiários do CITI-

Habitat que, para além deste, também usaram os seus créditos para iniciar um negócio (cf.

Tabela D.2.2.5.2. em anexo). O reforço da atividade, com uma expressão significativa também na FAMI-Picos, a melhoria das casas dos seus associados e o consumo foram

apontados como os principais destinos dados aos Microcréditos obtidos (cf. Tabela D.2.2.5.1.

em anexo).

De acordo com os dados recolhidos, a maior parte destes Microcréditos têm uma durabilidade

próxima dos 12 meses (cf. Tabelas D.2.2.6.1., D.2.2.6.2. e D.2.2.6.3. em anexo), notando-se

uma duração inferior para os créditos da Morabi (cf. Tabela D.2.2.6.3. em anexo),

possivelmente, sustentada pela inferioridade dos montantes que empresta face às restantes IMF em causa.

De um modo geral, parecem não existir problemas, de maior, relativamente ao reembolso dos Microcréditos por parte dos beneficiários das três ONG observadas, já que, a Morabi não apresenta situações de incumprimento (cf. Tabela D.2.2.7.3. em anexo), a FAMI-Picos tem apenas um beneficiário associado que ainda não conseguiu saldar a sua dívida (cf. Tabela D.2.2.7.1. em anexo) e o CITI-Habitat dois (cf. Tabela D.2.2.7.2. em anexo). Estes dados, corroboram as taxas de reembolso bastante favoráveis apresentadas pelos responsáveis das ONG observadas, veja-se no caso do CITI-Habitat uma taxa superior a 80% (cf. Tabela D.10. em anexo), a taxa de reembolso superior a 90% apresentada pela FAMI-Picos e a taxa superior a 95% da Morabi (cf. Tabela D.5. em anexo), segundo a informação recolhida junto da administradora delegada do programa de microfinanças (cf. Tabela D.13. em anexo). Contudo, apesar do manifesto sucesso no pagamento da totalidade das mensalidades, é reconhecido por todos os colaboradores e responsáveis, à exceção dos pertencentes à Morabi, que grande parte dos beneficiários sentem dificuldades em cumprir os encargos monetários que os seus Microcréditos acarretam. Metade dos inquiridos da Morabi revela ter tido

dificuldades para cumprir todos os pagamentos (cf. Tabela D.2.2.8.3. em anexo) e, que, para

cumprir com as suas obrigações tiveram que pedir dinheiro emprestado aos seus amigos,

familiares ou na totocaixa a que pertencem (cf. Tabela D.2.2.9.3. em anexo). Paralelamente,

também alguns dos associados da FAMI-Picos, cerca de 60%, admitem ter sentido

dificuldades para pagar algumas das suas mensalidades (cf. Tabela D.2.2.8.1. em anexo),

tendo conseguido ultrapassar essas dificuldades graças à flexibilidade da ONG e ao retorno do

aumento do seu trabalho (cf. Tabela D.2.2.9.1. em anexo). Apenas dois, dos quatro

beneficiários do CITI-Habitat que admitiram ter sentido dificuldades para pagar as suas

mensalidades (cf. Tabela D.2.2.8.2. em anexo), conseguiram honrar os seus compromissos,

através do aumento do seu trabalho, por oposição aos outros dois beneficiários que continuavam em incumprimento, até ao momento da aplicação do inquérito por questionário (cf. Tabela D.2.2.9.2. em anexo).

Não sendo os beneficiários da Morabi os únicos a pertencerem a um sistema de ajuda mútua, em paralelo com o Microcrédito, também os inquiridos das restantes ONG os integram e em

proporções semelhantes. Mais concretamente, quatro dos dez elementos analisados da FAMI-

Picos pertencem a uma mutualidade de saúde e/ou a uma mutualidade funerária, também conhecida como mitim (cf. Tabela D.2.3.1.1. em anexo). O mesmo se verifica para os beneficiários do CITI-Habitat, pois 40% fazem parte deste mesmo tipo de mutualidade a par com o sistema da totocaixa (cf. Tabela D.2.3.1.2. em anexo), enquanto na Morabi três, dos dez clientes analisados, fazem parte da totocaixa (cf. Tabela D.2.3.1.3. em anexo).