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2. Paternidade, dinâmicas parentais e funcionamento familiar

2.2. Dinâmicas de interacção parental e familiar: eixos e dimensões

2.2.1. Tipos de interacções familiares

Na obra de Kellerhals e equipa encontramos quer o desenvolvimento de uma tipologia dos diferentes estilos de dinâmicas de interacção familiares, quer o seu relacionamento com diferentes estratégias educativas e parcerias parentais na família (Kellerhals et al., 1982; 1987; Kellerhals e Montandon 1991; Kellerhals, Widmer e Levy 2004). A sua importância

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reside no facto de os autores desenvolverem uma abordagem das interacções familiares articulada com a classe social e as posições diferenciadas dos cônjuges no casal em função do sexo. Deste modo, vão ao encontro de perspectivas que frisam que as famílias têm posições de classe (Bertaux 1978)12 e que nas interacções do casal se jogam também os lugares que cada um ocupa na estrutura social (Bourdieu 1997; 1999; Giddens 1984). Ao mesmo tempo, postulam a autonomia relativa das interacções familiares, como modo de entrever a capacidade de que o casal é dotado para definir e negociar as suas normas e os seus valores de troca e de organização da vida familiar. Em resposta às teses de privatização e de sentimentalização das relações familiares, defendem que a tese do primado dos afectos nos deve levar a interrogar a diversidade quer de relações expressivas, quer das diferenças de género que têm lugar na família (Kellerhals e Montandon 1991; Widmer, Kellerhals e Levy 2003). Adicionalmente, defendem que os casais não estão libertos de constrangimentos sociais nas formas como constroem as normas e as práticas nas interacções, uma vez que a vida quotidiana está repleta não só de tarefas instrumentais e de troca de serviços, como também os códigos sociais, os lugares de classe e as desigualdades de género estão presentes e delimitam as interacções (Kellerhals et al., 1982).

A tipologia das interacções familiares proposta por Kellerhals e equipa é construída pela articulação de três eixos: a coesão interna, a integração externa e a regulação. O primeiro define a forma como os membros do grupo familiar se ligam entre si e gerem os seus laços: dando uma maior ênfase à autonomia individual, valorizando a manutenção de espaços e especificidades individuais distintas e a troca das diferenças; ou acentuando a fusão e, através desta, valorizando a semelhança entre os seus membros, o consenso e a partilha de tempos e actividades. As diferentes formas de coesão interna estabelecem diferentes hierarquias de pertença entre o “eu”, o “nós casal” e o “nós família”. Estas exprimem as formas como os indivíduos, face a um contexto de individualização institucional e afectiva, resolvem os dilemas sociais e morais de como estar junto sem negar a construção de um “eu” individual, como ser único e autêntico, ou seja, como os indivíduos, ao construírem uma identidade individual e social, doseiam a autonomia e os laços significativos na família. Trata- se de definir as fronteiras internas do grupo: «determinar a extensão da partilha a que aspiram ou a que dão o seu consentimento.» (Kellerhals, Widmer e Levy 2004, 56); ou seja, perceber o que os actores estabelecem como territórios e práticas individuais e comuns ao casal

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Daniel Bertaux (1978) constrói uma tipologia em função da posição específica dos grupos domésticos na estrutura de classes, identificando: a família proprietária de capitais; a família camponesa; a família artesã; a família operária, a família diplomada; a família de funcionários; e a família de quadros.

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(actividades de lazer e amigos, tarefas domésticas, rendimentos, projectos e visões do mundo, estratégias de negociação do consenso e do conflito) e que pode variar em função dos recursos de cada membro do casal e das normas de interacção específicas da família. Outra dimensão do eixo de coesão é a hierarquização dos objectivos que dão significado à vida em comum: podem ser finalidades instrumentais, quando colocam a relação conjugal ao serviço de objectivos externos (profissão, património, educação dos filhos), ou expressivas, quando estão centradas na relação e, portanto, em objectivos internos (comunicação, reconforto, intimidade, gratificação afectiva e sexual). Os autores frisam que estas finalidades podem surgir combinadas e, portanto, as famílias mais tradicionais, porque mais ligadas às normas da instituição, não são necessariamente apenas orientadas por finalidades instrumentais.

O eixo de integração externa designa a forma como o grupo se abre ou fecha ao exterior, estabelecendo fronteiras entre público e privado: num pólo, estão as famílias

fechadas, que evitam os contactos relacionais e informacionais com o exterior e consideram

que abertura coloca em risco o consenso e a harmonia familiar; noutro pólo, estão as famílias

abertas em que o laço familiar é enriquecido pelas trocas dos recursos encontrados no exterior

e em que a abertura é a condição do equilíbrio familiar (1982; Kellerhals 1987; Kellerhals, Widmer e Levy 2004).

O terceiro eixo, a regulação, refere-se às formas como a cooperação é garantida na organização da produção da vida familiar. Exprime diferentes níveis de privatização da vida familiar, ao mostrar se esta segue normas construídas e negociadas na sua dinâmica interna ou expectativas de papéis definidas exteriormente. Desta forma, conjuntamente com as práticas de coesão é, igualmente, uma dimensão fundamental para identificar lógicas de parceria na divisão familiar do trabalho mais organizadas pela igualdade ou pela diferenciação de género. Na proposta destes autores, este eixo abrange três subdimensões inter-relacionadas: a

definição de papéis, a hierarquia no grupo e a rotinização. Os papéis são, então,

conceptualizados como um conjunto de competências e comportamentos esperados do ocupante de uma dada posição no grupo (Widmer, Kellerhals e Levy 2003, 82). A definição

de papéis refere-se, assim, à negociação de papéis produtivos e de papéis relacionais. Os

primeiros dizem respeito à divisão de tarefas e de responsabilidades, que pode estar inscrita num sistema de normas e de valores de igualdade ou de diferenciação de género: no primeiro caso, é valorizada a indiferenciação de papéis, pelo que ambos os cônjuges investem na vida profissional e partilham as tarefas e as responsabilidades domésticas, sendo que cada um tem autonomia para se realizar nas diferentes esferas da vida; no segundo, há uma especialização de papéis, pois cada um tem atribuições e competências específicas, o que resulta numa

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dependência entre os cônjuges na divisão de tarefas e responsabilidades domésticas. Os

papéis relacionais referem-se à gestão da relação, ou seja, a inserções específicas no sistema

de relações familiares e são compostos por três subdimensões de especialização: a orientação (contribuição com informações pertinentes, peso de cada um na negociação quotidiana); a

mediação (gestão de conflitos e redução de tensões nas relações quotidianas) e o apoio emocional (consolar, encorajar, cuidar do clima emocional). Na acepção dos autores, trata-se

de distinguir a atribuição da gestão instrumental (orientação) e expressiva (mediação e apoio) no casal. A hierarquização diz respeito ao exercício do poder no grupo: o poder decisional quanto à alocação dos recursos e à definição das normas da vida em comum, tomadas apenas por um dos cônjuges ou tomadas por um ou pelo outro consoante as diferentes esferas (financeira, educativa, doméstica), ou partilhadas; ou o poder de influência sobre o quotidiano (na forma de ideias, recursos, atitudes e humores), e que pode ser material, colocando um cônjuge na dependência do outro para ter acesso a recursos (dinheiro, estatuto social, tarefas domésticas e educativas, saberes quotidianos); mas também simbólico, referente a normas e a valores (equilíbrio afectivo, ideias e opiniões). A rotinização refere-se ao modo como os tempos e os espaços conjugais são organizados por fronteiras e atribuições rígidas e constantes, ou, ao contrário, pela improvisação de ritmos e polivalência de espaços. Os modos de regulação podem estar assentes na normatividade ou na comunicação. No primeiro caso, os papéis são definidos claramente e pouco negociados, o poder é dividido ou hierarquizado e as rotinas são valorizadas; no segundo, os papéis são negociados consoante as situações, negligenciando-se estatutos e jurisprudências. O poder é partilhado e valoriza-se a espontaneidade e a improvisação (Kellerhals 1987; Kellerhals, Widmer e Levy 2004; Widmer, Kellerhals e Levy 2003).

Ora, através do cruzamento destes eixos, dimensões e subdimensões são identificados quatro tipos de interacções familiares: as de tipo paralelo, em que a coesão é inscrita numa autonomia tecida pela separação de esferas de acção no casal, no fechamento ao exterior e na regulação normativa e hierarquizada pelas diferenças de género; as de tipo bastião, com uma coesão fusional, que insiste mais na unidade e no consenso do que na singularidade e na autonomia dos seus membros no relativo fechamento ao exterior e numa regulação normativa dos rimos organizada pela diferenciação de género; as de tipo companheirista, com uma coesão fusional, em que o bem comum se sobrepõe aos indivíduos; uma abertura ao exterior e uma regulação comunicacional e igualitária; e as de tipo associativo, com uma coesão baseada na autonomia dos interesses individuais de cada membro do grupo e na negociação, com uma aberta ao exterior individualizada e com uma regulação comunicacional e

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igualitária. Por outro lado, a importância do “nós família” sobre os comportamentos individuais é apenas parcial (Kellerhals et al., 1982). Na obra Mesure et démesure du couple, publicada em 2004, os autores identificam um outro estilo de interacções conjugais: o cocon. Trata-se de um estilo fusional e fechado ao exterior, que resulta de modificações no estilo

bastião e que se demarca deste por lógicas intimistas e de finalidades expressivas, assim como

de uma regulação menos assente na diferenciação de género.

Uma outra forma de olhar para as dinâmicas familiares é a proposta por Roussel, (1989; 1991) que é, aliás, em parte incorporada na tipologia de Kellerhals e equipa. O autor propõe uma explicação da diversidade de estilos de funcionamento familiar companheiristas, através da identificação das relações entre os valores dominantes num dado contexto social e as orientações normativas produzidas no quotidiano das interacções familiares. Dá, assim, primazia explicativa às interpretações que os indivíduos fazem das normas sociais e às finalidades que orientam os seus projectos familiares, para averiguar por que é que os indivíduos adoptam um dado modelo de funcionamento familiar em detrimento de outro. Sugere que esta questão só pode ser elucidada se a análise do funcionamento familiar abandonar a construção de tipos, que apenas constatam a especificidade de um funcionamento interno observável, e optar por dar conta de modelos que, ao contrário dos tipos, não separem a instância familiar dos quadros culturais que a rodeiam e tenham que demonstrar a sua correspondência. Para este autor, é este procedimento metodológico, mais aproximado do ideal-tipo weberiano, que torna inteligível o pluralismo das famílias porque indaga as relações entre a unidade das intenções que se desenvolvem na família – ou seja, os sentidos que os actores dão aos seus comportamentos – e as normas e os valores que orientam as escolhas a nível societal (Roussel 1991). Afirma que as mutações da família que podem ser lidas nas tendências demográficas - como o aumento do divórcio, da coabitação e de famílias monoparentais e recompostas e na baixa da nupcialidade, e da fecundidade - mas também nas mudanças nos papéis masculinos e femininos resultantes da actividade feminina - traduzem um movimento em direcção à privatização das relações familiares: «este termo significa que os cônjuges de hoje consideram que a formação do casal, a sua gestão quotidiana e a sua eventual dissolução só depende deles. A instituição está ao serviço do indivíduo e não o contrário. Recusam que a lei venha ditar o papel de cada um ou ‘a ortodoxia relacional’, como recusam que as Igrejas tenham o direito de calendarizar a fecundidade do casal.» (Roussel 1989, 11). Indo ao encontro das teorias da individualização, acrescenta que a privatização não deve ser interpretada como o enfraquecimento dos valores de perenidade, fidelidade e fecundidade na família, mas, sim, de modelos preconcebidos. Neste contexto, os casais são

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levados a negociar entre si os termos das trocas familiares: «a família torna-se nómada do ponto de vista da abordagem cultural das suas normas de funcionamento.» (ibid., 12).

Roussel (1989) apresenta, assim, quatro modelos de família distintos que são classificados em função das finalidades (expressivas ou instrumentais), da sua orientação (individualista, conjugalista ou familialista) e da oposição entre endo-regulação e exo- regulação, ou seja, entre uma regulação mais assente na negociação interna de papéis, normas e valores, ou mais inscrita em orientações normativas externas. Estes modelos expressam os sucessivos movimentos de transformação histórica das relações familiares e desenham uma complexificação da passagem da família instituição à companheirista: a família instituição,

aliança, fusão e associação. Cada um desenvolve uma relação com a criança particular e esta

tem significados e funções diferenciadas no seu seio. Assim, a «família instituição», é caracterizada por uma exo-regulação, finalidades de sobrevivência económica, estatutos rígidos e subordinação à instituição matrimonial. Nesta, a parentalidade é um requisito de integração na comunidade, a criança não é valorizada por si mesma, mas como garantia de continuidade do grupo familiar, devendo mostrar-se digna desse papel – é a criança herdeira. A «família aliança» é caracterizada pela confrontação entre os sentimentos (amor romântico) e a instituição. A ideia de felicidade e bem-estar torna-se central e a criança é rodeada de afeição, sendo uma fonte de gratificação para os pais. É a fonte de investimentos no futuro e de sacrifícios no presente, porque é através dela que os pais realizarão os seus sonhos e alcançarão a sua identidade definitiva. Assim, os pais aplicam uma moral rigorosa na educação dos filhos, pois esta permitirá a sua mobilidade social no futuro. Nas «famílias fusionais» reina o amor romântico, a norma da gratificação individual na relação, da igualdade entre os cônjuges e a desvalorização da instituição. Nestas famílias, onde a criança é vista como a expressão do amor que une os cônjuges, a tónica nos afectos como laço de coesão quer na relação conjugal quer na parental, faz da criança um ser singular, insubstituível e raro, a quem Kellerhals (1984) chama de criança-espelho. A sua educação é pouco disciplinadora e consiste no apoio do desenvolvimento do “eu” único da criança e dos seus talentos, a que Singly (2000) chama de revelação identitária. A família «clube» ou «associação» é caracterizada pela tónica na autonomia individual de cada cônjuge, sobre o “nós conjugal”. A criança é também desejada e fonte de gratificações, mas é uma criança-

parceira, da qual se espera independência e espontaneidade. Deste modo, na sua educação

insiste-se na autonomia e na negociação.

Em Portugal, num estudo extensivo efectuado em 1999 a mulheres a viver em conjugalidade e com filhos em idade escolar, Aboim (2005a; 2006) identifica cinco perfis de

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orientações normativas da conjugalidade: instituição forte, instituição, aliança,

companheirismo e companheirismo forte. O primeiro, próximo da família instituição de

Roussel, abrange 13% das famílias pesquisadas e caracteriza-se pelos seguintes traços: a influência da pressão social exterior para casar; o respeito, enquanto sentimento conjugal privilegiado; a importância dada à perenidade do casamento e a recusa do divórcio; a fraca comunicação entre os cônjuges; e a norma de desigualdade. O segundo partilha os mesmos traços, mas de forma atenuada e abrange 18% da amostra. Estes dois perfis, ao formarem no seu conjunto cerca de um terço das orientações, indicam o peso que as visões mais institucionalistas da conjugalidade têm nos universos valorativos femininos na sociedade portuguesa de então (idem, 218). De referir que estes perfis institucionais estão ancorados em baixas escolaridades (analfabetismo ou ensino primário) e associam-se aos meios camponeses e operários. O perfil aliança abrange 27% das mulheres e situa-se entre a instituição e o

companheirismo, pois alguns dos seus traços são semelhantes ao primeiro (o sentimento de

respeito, a recusa do divórcio, a pressão social para casar) e outros vão de encontro ao segundo (intensidade da comunicação, adesão à norma de igualdade ideal de género quanto ao trabalho profissional e doméstico). É um perfil sobrerepresentado no ensino primário e básico, nos casais em que um ou ambos os cônjuges são operários. Os perfis companheirismo (27%) e companheirismo forte (15%) diferenciam-se por uma orientação mais ou menos vincada para a relação, a comunicação intensa e a igualdade conjugal como norma tanto desejada como procurada. O primeiro está associado ao ensino básico, secundário e licenciatura incompleta ou bacharelato e surge nas profissões técnicas e de enquadramento intermédio e nos empregados executantes; o segundo, a níveis de escolaridade de licenciatura ou maiores e ao bacharelato ou à licenciatura incompleta. Por outro lado, vincula-se aos empresários dirigentes, aos profissionais intelectuais e científicos e aos profissionais técnicos e de enquadramento intermédio. Estes resultados mostram que o companheirismo tende a ter uma maior expressão nos contextos com maiores capitais e a instituição nos com menores. Adicionalmente, o estudo mostra que se a matriz institucionalista era à época bastante expressiva, assistia-se na sociedade portuguesa a um movimento da instituição para o companheirismo conjugal, constituindo a igualdade de género o motor deste movimento (ibid. 227-229). No âmbito do mesmo estudo são igualmente observadas as dinâmicas internas das famílias portuguesas e encontrados diversos tipos de conjugalidade (Aboim 2005b). Estes são identificados através dos conceitos de coesão interna e de integração externa.13 A autora

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encontra seis tipos de dinâmicas de interacção conjugal: paralelo, paralelo familiar, bastião,

fusão aberta, confluente e associativo, complexificando, deste modo, os tipos de interacção

encontrados nas famílias suíças por Kellerhals e equipa. O tipo paralelo, que engloba 15% dos casais, caracteriza-se por práticas de coesão em que predomina a separação conjugal (rotinas domésticas, lazer e diálogo), o que também acontece ao nível da autonomia (actividades individuais masculinas e maternais no feminino). Ambas são produzidas no âmbito da diferenciação de género no trabalho e na divisão de actividades e lazeres, assim como do fechamento ou abertura fraca ao exterior. É um tipo de interacções próximo ao das famílias paralelas de Kellerhals e equipa. Um segundo tipo, o paralelo familiar, abrange 22% das mulheres e caracteriza-se pela combinação de práticas de separação atenuadas e intenções de fusão. As diferenças de género estão também presentes na divisão do trabalho e das actividades: algumas mulheres são domésticas (30%) ou trabalham e acumulam a quase totalidade das tarefas familiares (47%). A autonomia é muito mais masculina do que feminina, mas há alguma abertura ao exterior nas actividades e nos convívios. O tipo bastião abarca 20% das famílias e assemelha-se ao de Kellerhals e equipa, pois é caracterizado pela fusão e pelo fechamento, sendo que nas práticas rotineiras predomina uma fusão expressiva (64%), não há espaço para actividades e lazeres separados no casal e em 93% das famílias as sociabilidades exteriores e as saídas são escassas. Por outro lado, é igualmente um tipo de interacção produzida no seio da diferenciação de género do casal. Outro tipo de dinâmica fusional encontrada é a fusão aberta que engloba 16% dos casos. É pautada pelo cruzamento entre uma dinâmica fusional de coesão e uma dinâmica de abertura quanto à integração externa. As práticas de coesão fusionais incluem quer o lado expressivo (lazeres e conversas) quer o instrumental (trabalho doméstico). No plano da divisão de género, destaca-se pela partilha das tarefas domésticas: em 40% dos casais, ambos trabalham e há uma partilha de tarefas; e em 13% dos casos, o homem participa nas tarefas domésticas, mesmo que a mulher não tenha uma profissão remunerada. A autonomia pessoal não é valorizada, pelo que a abertura ao exterior ocorre em casal. O tipo confluente é representado por 12% e caracteriza- se por práticas polivalentes, expressivas e instrumentais, indicando que práticas autónomas e fusionais podem coexistir tanto relativamente à partilha conjugal das tarefas domésticas, como dos lazeres e das conversas. Nestes casais, em 63% dos casos a dupla profissão é acompanhada pela partilha conjugal na esfera doméstica e pela abertura forte ao exterior

família, papéis de género no casal na divisão do trabalho doméstico e profissional, tipo de autonomia individual e regra de coesão conjugal; o de integração externa pela diversidade das actividades/ lazeres da família e pela diversidade das sociabilidades da família.

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(46%). A autora sublinha que é um tipo de interacção conjugal em que confluem características diversas, usualmente separadas nos estudos clássicos das interacções: a autonomia e a fusão nas práticas; a procura de fusão nas intenções; o instrumental e o expressivo; a igualdade na divisão do trabalho e a diversidade de formas de construir a autonomia pessoal, tanto no feminino, como no masculino. O último tipo de interacções é o

associativo (15% dos casais), dinâmica também semelhante à encontrada por Kellerhals e

equipa nas famílias suíças. Nas práticas quotidianas predomina a coesão polivalente

expressiva (45%) e a regra de coesão conjugal combina intenções de autonomia (27%) com as

de autonomia relativa (71%). Realça a autora que é um perfil onde se combinam características singulares, uma vez que nele é valorizado o nós-casal nas práticas de lazer e simultaneamente a preservação de espaços de autonomia individual. Adicionalmente revela alguma paridade em matéria de autonomia pessoal, comparativamente com o perfil

confluente, acentuando-se a forte autonomia feminina e as estratégias de delegação do

trabalho doméstico associadas ao duplo emprego dos cônjuges. A abertura é intensa ao nível da integração externa (2005b).

2.2.2. Paternidade e dinâmicas parentais: coesão, regulação e relações de