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Modelo ecológico para compreender a violência

CAPÍTULO 5 A PESQUISA: ATORES ESCOLARES NA GESTÃO DE CONFLITOS E VIOLÊNCIA EM MEIO ESCOLAR

5.1.2. TIPOS DE PESQUISA

Tendo em atenção os princípios epistemológicos da dialética da realidade e os argumentos sobre a investigação em educação, recorreu-se, para a construção deste trabalho, aos seguintes tipos de pesquisa: bibliográfica, qualitativa-quantitativa, documental e de análise de conteúdo.

A pesquisa bibliográfica foi utilizada para fundamentar e apresentar um quadro teórico dos principais contributos no âmbito da temática investigada. Procurou-se, assim, compreendê- la no seu caráter plural e multifacetado e proceder à construção coletiva de uma “carta náutica” que se vai reconfigurando, a partir de informações anteriormente dispersas, criando contornos e redefinindo, enquanto Gestalt rica de significados.

Para a elaboração dessa carta de navegação que procura desdobrar e dispor, num plano simplificado e legível, todo um emaranhado de informações recolhidas, seguiu-se um critério de inclusão e exclusão de bibliografias, fazendo com que o que antes era confuso, incerto e

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desarticulado, pudesse emergir, agora, na sua totalidade, como Gestalt, como uma espécie de mapa coerente, que indica aos navegantes o rumo a seguir e lhes abre caminhos repletos de significados que os conduzirão a novas descobertas.

Com base nos princípios da totalidade, complexidade, praxidade e dialeticidade procedeu-se à análise da temática, situando-a, em primeiro lugar, no momento histórico da educação brasileira, na relação entre globalização, neoliberalismo e educação, com o intuito de compreender e explicitar a visão daqueles que defendem a consolidação dos mecanismos neoliberais e, em contrapartida, dos que lutam pela descontinuidade, pela rutura do processo, e pela emancipação.

Num segundo momento, procurou-se entender de que modo as várias conceções, abordagens e vertentes das teorias da administração e gestão transitam para o contexto educativo e escolar e ganham corpo em duas visões - lócus de reprodução e lócus de produção – subjacentes ao plano das orientações para a ação e ao plano da ação, nos seus diferentes níveis.

O terceiro momento permitiu procurar fundamentação nos estudos dos vários educadores que polemizam a relação conflito-violência e que aceitam o desafio de gerir as situações em que um e outra se manifestam. Neste sentido, procurou-se, igualmente, explicitar o termo violência e compreender os diversos rostos que esta pode assumir, no contexto escolar.

O passo seguinte foi compreender a escola como espaço de aprendizagem e de participação efetiva, determinar a importância da sala de aula, da relação entre prática docente e interatividade, da participação efetiva através do acolhimento da comunidade e da dinâmica das relações interpessoais e de convivência entre os atores escolares, e entender as formas como se pode gerir eficazmente conflitos e manifestações de violência, transformando as diversas situações de conflito, que sempre ocorrem no seio de uma escola, em oportunidades de aprendizagem, crescimento e transformação da realidade local.

A pesquisa qualitativa-quantitativa foi utilizada na perspetiva de que o investigador se deve centrar num problema específico, e que o mesmo determinará o procedimento mais adequado para chegar à sua compreensão, como referem Laville & Dionne (2007). Assim, quando o objeto de estudo tem a ver com pessoas, é necessário conhecer as suas motivações, as suas representações, deixar falar e ouvir o real, mesmo se dificilmente quantificáveis. O procedimento poderá ser, então, quantitativo ou qualitativo, ou uma combinação de ambos, já

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que o que importa é que a escolha da abordagem esteja sempre ao serviço do objeto de pesquisa e não o contrário.

Em consonância com este princípio, optou-se pela investigação qualitativa-quantitativa, tendo-se recorrido ao questionário (Apêndice A) como instrumento de recolha de dados entre os alunos, o que permitiu recolher informações gerais objetivas sobre os sujeitos, os fatores de insegurança na escola e nas suas imediações, o significado de conflito escolar, as relações interpessoais entre alunos e outros atores escolares, os fatores internos e externos que provocam manifestações de violência na escola, o modo como a escola administra os conflitos existentes e previne as manifestações de violência no seu âmbito, e o apoio do poder central às iniciativas escolares de combate aos problemas identificados.

Relativamente aos professores e às equipas gestoras, a opção foi pela entrevista estruturada (Apêndices B e C, respetivamente), com questões sobre: conceção de conflito escolar, relação entre conflito e violência escolar, fatores geradores de violência e as suas manifestações em âmbito escolar, administração e gestão de conflitos, e papel do poder central às ações de combate ao problema estudado, levadas a cabo pela escola e, finalmente, propostas relativas a como cultivar uma escola cidadã. À entrevista dos professores, juntou-se três quadros, adaptados de Ceccon et al. (2009), que tratavam, respetivamente, de como antecipar potenciais problemas de comportamento, do que fazer perante pequenos problemas para evitar que degenerassem em grandes problemas, e de como lidar prontamente com os incidentes menores; os professores respondentes deveriam indicar as alternativas de ação, nos quadros, através do uso dos advérbios e locuções adverbiais de tempo: sempre, de vez em quando, nunca.

A pesquisa documental serviu de complemento às entrevistas (professores e equipas gestoras) e ao questionário (alunos), utilizados na análise dos projetos políticos pedagógicos e nos relatórios das escolas, constantes dos arquivos das mesmas. Os relatórios, o Projeto Pedagógico-Político e as fotografias possibilitaram a compreensão da realidade investigada para além do seu nível objetivo, em direção ao seu sentido expressivo, e atingindo o nível documental, na procura pelo seu significado mais profundo. Contudo, cabe ao investigador demonstrar subtileza, um olhar atento e competência para se apropriar do que não está instituído, da linguagem não verbal, de aspetos do inconsciente coletivo, para que possa compreender a realidade problematizada, na sua totalidade histórica e cultural

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Foram analisadas mais de 200 fotografias com a finalidade de compreender a relação entre as informações manifestadas e os conteúdos ocultos não verbais dos sujeitos pesquisados, na certeza que as fotografias são retratos fiéis de expressões culturais singulares e coletivas e, dependendo da ótica trabalhada, desvendam verdades e oferecem novos caminhos.

Os relatórios, o PPP e as fotografias permitiram compreender a realidade investigada para lá do seu nível objetivo, avançando em direção ao seu sentido expressivo e chegando ao seu nível documental, na presunção, quiçá ilusória, de que se pode, como acreditam Laville & Dionne (2007), transcender o seu significado imediato.

A análise de conteúdos das informações fornecidas pelos professores e equipas gestoras foi feita de forma objetiva, procurando-se as respostas adequadas e válidas, homogéneas e fidedignas, mas, também, os conteúdos subjacentes, inscritos nas entrelinhas do discurso dos entrevistados, em documentos e fotografias, revelando múltiplas significações e intencionalidades, expressas nas representações dos atores pesquisados. Esses momentos foram cruciais para o emergir das categorias de análise, ao longo da elaboração teórica, da construção e aplicação dos questionários e das entrevistas e, ainda, no decorrer de toda a investigação.

A análise de conteúdo não é um método rígido que basta transpor em uma ordem determinada para ver surgirem belas conclusões. Constitui um conjunto de vias possíveis nem sempre claramente balizadas para a revelação. Assim pode-se no máximo descrever certos momentos dele, fases que, na prática, virão às vezes entremear-se um pouco, etapas no interior dos quais o pesquisador deve fazer prova de imaginação, de julgamento, de prudência crítica (Laville & Dionne, 2007, p. 46).