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No universo do motion design, encontram-se as title sequences, que consistem nas aberturas e encerramentos de programas de TV, filmes, videogames, dentre outros. Não existe uma defi- nição específica das áreas em que as title sequences podem ser aplicadas, porém sabe-se que elas são responsáveis por trazer o nome da obra que está sendo introduzida (podendo, tam- bém, trazer informações extras sobre a obra, caso hajam) e por introduzir o espectador à atmosfera e à história que eles estão prestes a testemunhar (INCEER, 2007).

Conforme Inceer (2007), as primeiras title sequences surgiram por volta da década de 1920. Os filmes mudos traziam, em sua abertura, as informações concernentes à obra escritas em um papel, que era fotografado ou filmado e incorporados ao filme. Na Figura 09, tem-se um exemplo retirado do filme Intolerance (1916), de D.W. Griffith.

Na década seguinte, com a introdução do som e do uso de cores nos filmes, as aberturas evoluíram, porém permaneceram bastante instáveis. Por vezes, nem eram mostradas nas salas de cinema. Geralmente, utilizava-se uma tipografia que fosse con- dizente ao gênero do filme e, algumas vezes, essas informações passavam enquanto filmava-se, em um ponto fixo, uma pai- sagem ou objeto (INCEER, 2007). O filme Modern Times (1936), de Charles Chaplin, apresenta o nome do filme enquanto, ao fundo, são mostrados os ponteiros de um relógio (Figura 10). Figura 09 – Abertura do filme Intolerance, de

D.W. Griffith (1916). Fonte: site Christian Annyas.

Figura 10 - Abertura do filme Modern Times, de Charles Chaplin (1936). Fonte: site Max

A grande revolução das title sequences se deu com Saul Bass, que foi uma das grandes figuras do design e cinema do século XX; sua car- reira se estendeu de 1936 até 1996. Ao final da década de 1950, ele, além do trabalho como designer gráfico, passou a trabalhar criando aberturas para filmes. Ele, juntamente com sua esposa Elaine, tam- bém fez curtametragens, alguns nominados, e até vencedores, do Oscar. Saul foi vastamente premiado, tanto como designer, quanto como cineasta. Sua área de atuação foi muito diversificada, incluin- do comerciais, aberturas de programas de televisão, embalagens, capas de álbuns, anúncios, capas de livros, brinquedos, exibições, dentre outras tantas coisas (BASS; KIRKHAM, 2011).

Seu trabalho com title sequences começou na década de 1950, com Carmen Jones (1954, dir. de Otto Preminger). Um de seus tra- balhos mais conhecidos se deu no ano seguinte, que foi a abertura de The Man with the Golden Arm (dir. de Otto Preminger), como mostrado na Figura 11. Já na Figura 12, tem-se um dos cartazes criados por Bass para a divulgação do filme.

Segundo Bass e Kirkham (2011), Saul Bass acreditava que as

title sequences tinham por função criar a atmosfera e definir o

humor do filme, além de transicionar o espectador da realidade para o universo da trama. Suas title sequences variavam de for- ma a concordar com a obra, mas nas vinhetas em que se fazia uso da animação, é possível perceber alguns elementos co- muns: a presença de ícones gráficos fortes e corpos humanos, ou partes dele. Ele também tinha uma primazia com o uso das cores em seus trabalhos, utilizando desde paletas com cores fortes e saturadas até pequenas nuances de cores pastéis.

Figura 11 - Title sequence de The Man with the Golden Arm (1955, dir. de Otto Preminger), por Saul Bass. Fonte: site Art of the Title.

Figura 12 - Um dos cartazes de Saul Bass para divulgação de The Man

with the Golden Arm (1955, dir. de Otto Preminger). Fonte: site Christian

As title sequences de Saul prezam pela redução, pelo minima- lismo, assim como pelo uso de metáforas e ambiguidades. Detalhes em suas vinhetas, por vezes, guardam particularidades da própria trama da obra. Além disso, percebe-se o bom uso das grades construtivas, mesmo que as formas criadas por Saul nunca sigam criteriosamente o formato geométrico. Seu estilo de desenho, que se assemelha ao cartoon, também é bastante característico. Na Figura 13, tem-se a title sequence criada por Bass para o filme It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World (1963, dir. de Stanley Kramer), na qual o estilo cartoon é explorado.

Ele também reconhecia a importância de uma tipografia ade- quada, sabendo que esta era vital para a criação da atmosfera da realidade fílmica. Como em Anatomy of a Murder (1959, dir. de Otto Preminger), Saul optou por um lettering com letras em tama- nhos variados e inconsistentes (Figura 14). Cada versão de cada letra se difere, da mesma maneira que, no filme, cada versão dos eventos é diferente e contraditória (BASS; KIRKHAM, 2011). Na Fi- gura 15, tem-se um dos cartazes criados por Bass para o mesmo filme. Nele, as cores são exploradas, ao contrário da title sequen- ce em si, na qual o preto, o branco e os tons de cinzas dominam. Bass também sabia que o impacto visual de suas title sequen-

ces seria potencializado, se combinado com uma trilha sonora.

Ele explorava as possibilidades de casar o visual ao sonoro, de maneira a causar o maior impacto e deslumbramento possível no espectador. Um bom exemplo desta combinação primo- rosa se dá na abertura de Ocean’s Eleven (1960, dir. de Lewis Milestone), na qual elementos gráficos animados são combina- Figura 13 - Title sequence de It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World (1963, dir.

de Stanley Kramer), por Saul Bass. Fonte: site Art of the Title.

Figura 14 - Title sequence de Anatomy of a Murder (1959, dir. de Otto Preminger), por Saul Bass. Fonte: site Art of the Title.

dos com uma música agitada para passar o clima de Las Vegas e seus cassinos (Figura 16). Bass também teve esse esmero em

Walk on the Wild Side (1962, dir. de Edward Dmytryk), no qual

os movimentos do felino coincidem com a música de jazz que toca ao fundo (Figuras 17 e 18).

Sua capacidade em trazer tantos significados e emoções, a partir de elementos simples, e seu talento em explorar uma cena com jogos de câmera e efeitos não muito dispendiosos o eternizaram não apenas como designer, mas como um dos grandes nomes do cinema e o principal nome quando falamos em title sequences. “Bass não apenas reinventou as aberturas de filme, mas também as tornou uma forma de arte”. (INCEER, 2007, p. 12) [tradução nossa]

Outro grande nome que marcou essa área foi Pablo Ferro. Ferro começou a trabalhar com design na década de 1950, e permanece em atividade até hoje. Suas title sequences se destacam especialmente pelo uso das tipografias. Alguns de seus trabalhos mais conhecidos são Dr. Strangelove or: How I

Learned to Stop Worrying and Love the Bomb (1964, dir. de Stan-

ley Kubrick) – como apresentado na Figura 19 –, The Thomas

Crown Affair (1968, dir. de Norman Jewison), Bullit (1968, dir. de

Peter Yates), Midnight Cowboy (1969, dir. de John Schlesinger),

A Clockwork Orange (1971, dir. de Stanley Kubrick), Beetlejuice

(1988, dir. de Tim Burton) e The Addams Family (1991, dir. de Barry Sonnenfeld).

Figura 15 - Cartaz de Saul Bass para divulgação de Anatomy of a Murder (1959, dir. de Otto Preminger). Fonte: site MoMA.

Figura 16 - Title sequence de Ocean’s Eleven (1960, dir. de Lewis Milesto- ne), por Saul Bass. Fonte: site Art of the Title.

Figura 17 - Storyboard feito por Saul Bass para a abertura do filme Walk

on the Wild Side (1962, dir. de Edward Dmytryk). Fonte: Oscars.

Figura 18 - Title sequence de Walk on the Wild Side (1962, dir. de Edward Dmytryk), por Saul Bass. Fonte: site Art of the Title.

Figura 19 - Title sequence de Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop

Worrying and Love the Bomb (1964, dir. de Stanley Kubrick), por Pablo

Ferro. Fonte: site Art of the Title.

Figura 20 - Title sequence de The Man with the Golden Gun (1974, dir. de Guy Hamilton), por Maurice Binder. Fonte: site Art of the Title.

Desta mesma época, também é importante citar Maurice Binder. Sua carreira começou na década de 1950, mas atingiu maior su- cesso a partir da década seguinte. Ele é conhecido principalmente por suas title sequences feitas para os filmes da saga James Bond, com ênfase na icônica abertura de Dr. No (1962, dir. de Terence Young). Binder se destacou pelo bom emprego das cores em suas title sequences, como pode ser visto na title sequence de The Man

with the Golden Gun (1974, dir. de Guy Hamilton), na figura 20.

Com o surgimento de novas tecnologias a partir da década de 1980, as title sequences passaram a apresentar mais efeitos. A estreia da MTV, em 1981, também trouxe mudanças nas aber- turas de filmes e programas de TV, que passaram a trazer mais elementos gráficos e informações, e apresentar uma velocidade mais rápida de acontecimentos (VARGAS, 2013). A Figura 21 apresenta algumas das vinhetas criadas para o canal.

Na década de 1990, surgiu outro grande nome nesse campo de atuação, o diretor e designer Kyle Cooper. Cooper combina bem o uso de novas tecnologias com métodos e visuais mais antigos, conferindo a suas title sequences uma aura sinistra e sombria. Na Figura 22, tem-se a title sequence criada para o filme Se7en (1995, dir. de David Fincher).

Em 1990 e 2000, as title sequences se tornaram elaboradas ao ponto de haver uma grande equipe por trás de sua criação. Algumas vinhetas combinam não só tipografia, imagens e sonoplastia, mas também efeitos especiais e até a utilização de 3D, como é o caso de

Fight Club (1999, dir. de David Fincher), apresentado na Figura 23,

e Lord of War (2005, dir. de Andrew Niccol), mostrado na Figura 24.

Figura 21 - Vinhetas do canal MTV. Fonte: site Raw Volume.

Figura 22 - Title sequence feito por Kyle Cooper para Se7en (1995, dir. de David Fincher). Fonte: site Art of the Title.

Apesar de suas diversas aplicações atuais, o cinema permanece a principal área na qual se deu o desenvolvimento das title sequen-

ces ao longo da história. Isto pois, antigamente, a área do cinema

permitia experimentações e efeitos que não poderiam ser testados na televisão, por exemplo (BENDAZZI, 2016). Atualmente, as title

sequences podem ser vistas em vinhetas de canais de televisão,

aberturas de programas de TV, desenhos animados, videogames, filmes, novelas, dentre outros meios audiovisuais.

No Brasil, uma demonstração relevante das title sequences se dá no ramo das novelas, tendo seu ápice a partir da entrada do designer alemão Hans Donner na Rede Globo, em 1975. Segundo o site Me- mória Globo, Donner trabalhou na identidade visual da Rede Globo, em aberturas de programas e diversas novelas e na cenografia de programas jornalísticos do canal. Donner também foi responsável pela criação do departamento de design da Globo, o Videographics. O departamento se encarrega das aberturas da emissora. Vale sa- lientar que, apesar da televisão e do cinema serem meios distintos, as title sequences de ambos são similares, tanto em função, quanto em elementos, como pode ser visto nas Figuras 25 a 28, que mos- tram partículas retiradas de aberturas de novelas da Globo, antigas e atuais e que empregam técnicas de produção diversas.

Figura 23 - Title sequence do filme Fight Club (1999, dir. de David Fincher), que contou com uma equipe de efeitos especiais para ser feita. Fonte:

site Art of the Title.

Figura 24 - Title sequence do filme Lord of War (2005, dir. de Andrew Niccol), que combinou live action com computação gráfica. Fonte: site

Figura 25 - Partículas retiradas da abertura da novela Vereda Tropical (1984, dir. de Jorge Fernando e Guel Arraes), feita inteiramente com ilustrações. Fonte: site e10blog - Nos bastidores da teledramaturgia.

Figura 26 - Partícula da abertura da novela Cordel Encantado (2011, dir. de Amora Mautner e Ricardo Waddington), que traz o característico

estilo nordestino do cordel. Fonte: site AdoroCinema.

Figura 27 - Partícula da abertura da novela Velho Chico (2016, dir. de Carlos Araújo, Gustavo Fernandez, Antônio Karnewale e Philipe Barcinski), que em- pregou o stop motion e a pintura e entalhe em madeira. Fonte: site GShow.

Figura 28 - Partícula retirada da abertura da novela Deus Salve o Rei (2018, dir. de Fabrício Mamberti), que utilizou manipulação gráfica e

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