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IV. Metodologia do estudo empírico

5. Trabalho de Campo

Após a preparação do trabalho empírico iniciou-se o trabalho de campo. Baseando-se na experiência do investigador, a Etnografia envolve a recolha de

dados através da observação, de entrevistas133 e de documentos (Genzuk,

2003). Assim, iniciou-se a tarefa de observação das facilidades e constrangimentos/barreiras colocados à prática de actividade física nas cidades do Porto e Estocolmo. Como refere Flick (2005, p. 169), na observação, a tarefa mais importante é registar as acções e interacções enquadradas e enriquecidas pelo contexto das actividades realizadas. Assim, o registo do observado foi efectuado não só pelo preenchimento da grelha de observação, mas também por um registo não-estruturado de dados num diário de campo, onde o investigador registou as informações que considerou pertinentes para o estudo e que não estavam encerradas nos itens da grelha.

De acordo com Grawitz (1993, p. 340), a observação dos factos sociais

é um momento único e histórico, no qual estudar pessoas e as suas interacções em determinados contextos corresponde a feitos que nunca mais se repetem exactamente da mesma maneira, traduzindo-se em actos ou práticas sociais, sentimentos e representações colectivas. Assim, a tarefa de observar rege-se também por diversos procedimentos metodológicos que foram seguidos no presente estudo e que, desta forma, permitem captar da melhor forma, o “momento único” ocorrido.

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5.1. A Observação não-participante

A observação decorreu de Abril de 2008 a Abril de 2011, na cidade do Porto e em dois momentos na cidade de Estocolmo, de 24 a 28 de Setembro de 2008 e de 13 a 19 a Julho de 2010. De forma a atingir os objectivos propostos, optou-se por efectuar uma observação não-participante, na qual o observador evitou interferir no terreno, acompanhando simplesmente o curso dos acontecimentos, de forma que os comportamentos e as interacções dos observados decorressem da mesma maneira como se o investigador não estivesse presente (Flick, 2005, p. 138). De modo a que o observador “passasse despercebido” no ambiente, usou roupa informal e transportou o seu material de apoio à investigação numa mochila, o que facilmente o confundiu com um mero turista. Para complementar a observação foram ainda utilizados, para além da grelha de observação e do diário de campo, uma máquina fotográfica, uma câmara de vídeo e um gravador áudio.

A observação do estudo foi estruturada em diferentes fases, segundo as directrizes advogadas por Flick (2005, p. 139), dividindo-se em: i) Escolha do Enquadramento; ii) Definição do que em cada caso deve ficar registado; iii) Treino do observador, para padronizar processos; iv) Observações gerais, dirigidas, selectivas; vi) fase final.

Após a escolha do enquadramento, da definição do que deve ficar registado e do treino do observador já referidos134, iniciou-se o trabalho de campo. De forma a sistematizar o processo, optou-se por dividir a observação das unidades de análise em diferentes fases: i) Análise impressionista, em que o investigador observou a área seleccionada, sem o recurso a qualquer instrumento de registo; ii) Observação sustentada, em que o trajecto foi percorrido à medida que o investigador ia reportando o que estava a observar ao seu redor, ficando esses elementos registados no gravador áudio e vídeo e na máquina fotográfica; iii) Paragem e registo escrito, caracterizada pela paragem para preenchimento da grelha de observação e registo de notas, no final da área a estudar; e iv) Re-observação e confronto de dados, na qual o

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investigador realizou o trajecto no sentido contrário ao efectuado no primeiro momento, confrontado os dados registados com a nova observação, rectificando e/ou acrescentando novas informações.

Desta forma, na primeira fase, a finalidade foi efectuar uma observação de forma ao investigador reter mentalmente um panorama geral da área a estudar, já numa segunda fase, o intuito foi dirigir a observação, concentrando- a nos aspectos relevantes da investigação ao mesmo tempo que esta estava a ser registada por gravadores. Na terceira fase, o propósito foi registar, por escrito, os dados observados que, tal como refere Flick (2005, p. 171), devem, regra geral, ser registados o mais breve possível. Na quarta fase, o objectivo foi efectuar uma observação selectiva visando captar intencionalmente apenas aspectos nucleares da investigação, adicionando ou rectificando a informação recolhida anteriormente.

A última fase da observação foi efectuada posteriormente, onde os dados recolhidos por escrito (grelha de observação e diário de campo) foram confrontados com a visualização das fotografias (Anexo 2) e vídeos e pela audição das informações recolhidas através do gravador áudio.

5.2. O Diário de campo

Os registos efectuados no diário de campo são uma fonte preciosa de informação, pois reúnem informações sobre os obstáculos, as dificuldades encontradas no terreno, assim como os sucessos da observação, que usualmente são mais difíceis de registar (Augé e Colleyn, 2004, p. 80). Assim, foram feitas anotações sobre os aspectos específicos do ambiente das cidades do Porto e Estocolmo e dos comportamentos adoptados pelas pessoas relativos à actividade física que, não sendo discriminados na grelha de observação, poderiam ser elementos necessários a uma representação mais clara das realidades observadas. Esta complementaridade entre as notas de campo e a grelha de observação permitiu, tal como Flick (2005, p. 172) defende, reduzir ou pelo menos qualificar a selectividade do registo,

Por outro lado, como são anotadas as primeiras “impressões” do investigador, libertam-no das suas expectativas iniciais, evitando ou diminuindo a possibilidade de um erro de apreciação, através do distanciamento temporal que irá impor-se numa leitura e releitura posteriores (Beaud e Weber, 2007, pp. 67-68). Desta forma, as notas registadas em forma de diário de campo, pretenderam registar experiências, ideais e/ou problemas surgidas(os), receios percebidos, erros e/ou confusões detectados(as) e avanços que surgiram durante o trabalho de campo (Flick, 2005, p. 173).

5.3. A Fotografia, o vídeo, as gravações-áudio

Para complementar os registos efectuados através da observação da realidade no terreno e possibilitar, posteriormente, uma análise cuidada, foram

utilizadas uma máquina fotográfica, uma câmara de filmar135 e um gravador

áudio.

Segundo Eckert e Rocha (2003), no decorrer de uma etnografia de

rua136, a introdução de instrumentos audiovisuais como a câmara fotográfica

e/ou a câmara de vídeo, passam a fazer parte do olhar do investigador. Deste modo, foram fotografados e filmados vários espaços percorridos, tanto no Porto como em Estocolmo, com o intuito de complementar a informação recolhida pelo “olhar” do investigador, ilustrando as posteriores descrições e servindo como «memória futura» aquando da escrita da tarefa descritiva.

Para além de contribuírem para um conhecimento mais profundo sobre as áreas em estudo, a fotografia e o vídeo serviram para relembrar alguns aspectos/acontecimentos que desapareceriam da memória do autor sem o uso dessas ferramentas técnicas.

Assim, o uso sistemático da câmara de vídeo e/ou câmara fotográfica perspectiva, no argumentado por Eckert e Rocha (2003), a reconstrução de

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De referir que, por motivos de segurança do investigador, a câmara de vídeo foi preterida nalgumas áreas, sendo substituída pelas imagens registadas pela máquina fotográfica e pelas gravações concomitantemente efectuadas no momento da observação.

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As autoras propõem uma definição de etnografia de rua que consiste no desenvolvimento da observação sistemática de uma rua ou mais ruas de um bairro e/ou cidade, descrevendo os cenários, as pessoas que constituem as rotinas das áreas em estudo, dos imprevistos, das situações de constrangimento, de tensão e conflito, de entrevistas com habitués e moradores, cujo objectivo é a busca das significações sobre o viver o dia-a-dia na cidade.

uma narrativa a partir da própria temporalidade do registo da imagem no instante em que o acontecimento se desenrola sob os olhos do investigador, desencadeando a posteriori, a presença de outras imagens, impressões mnésicas, experiências sensoriais, evocação de imagens de outras cenas urbanas que habitaram em momentos e situações anteriores.

Para além da máquina fotográfica e da câmara de vídeo, foi também utilizado um gravador-áudio, que serviu como registo de relatos e/ou reflexões do investigador constatadas durante o trabalho de campo, possibilitando ouvir, posteriormente, as notações efectuadas durante esse período (Grawitz, 1993, p. 341).