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2. DIREITO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL: CONSIDERAÇÕES

2.6. Trade Dress

Ainda tratando de propriedade industrial, faz-se necessário salientar acerca do

trade dress (conjunto-imagem), matéria que, apesar de não ser prevista na legislação

52COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial - Vol. 1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 255. 53

DI BLASI, Gabriel. A Propriedade Industrial: Os Sistemas de Marcas, Patentes, Desenhos Industriais e Transferência de Tecnologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 313.

54INPI. Disponível em: < http://manualdemarcas.inpi.gov.br/projects/manual/wiki/Manual_de_Marcas> . Acesso

em: 21 set. 2016.

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Como exemplo de marca notoriamente conhecida no setor da moda, cite-se Chanel, Louis Vuitton, Yves Saint Laurent, dentre outras. Tais signos alcançaram visibilidade mundial, sendo imediatamente associados a seus titulares.

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BRASIL. Lei nº 9279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade

industrial. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.htm#art240>. Acesso em: 21 set.

brasileira, é tema de discussão e de decisões judiciais recentes, sobretudo envolvendo a indústria da moda.

O trade dress é caracterizado como a forma que um produto ou serviço se apresenta para o consumidor. É o conjunto que compõe a imagem da marca, formado por cores, elementos e características estéticas. Nesse sentido, afirma José Carlos Tinoco Soares57:

Trade dress é a exteriorização do objeto, do produto ou de sua embalagem, é a maneira peculiar pela qual se apresenta e se torna conhecido. É pura e simplesmente

’ sti nt ’, / u ‘unif ’, ist é, u t ç culi , u u g u

maneira particular de alguma coisa se apresentar ao mercado consumidor ou diante dos usuários.

A criação de um conceito vinculado à identidade visual mostra-se eficaz no mercado, uma vez que se converte em um captador de clientes e, por tabela, em uma relevante fonte de lucros. Tamanha a importância do conjunto-imagem que outras marcas, as quais não obtiveram o mesmo destaque na criação do seu trade dress, incorporam signos distintivos de produtos e serviços de marcas com identidade visual consolidada, aproveitando-se do prestígio de terceiros para alcançar seu destaque comercial.

Importante ressaltar que, além de características físicas, o trade dress abrange outros aspectos da atividade comercial, como o cheiro do estabelecimento ou do produto, a cor, o modus operandi. Nesse sentido, pode incluir, ainda, o aviamento de empresa, definido por Requião como o atributo ou qualidade da empresa de gerar lucros resultante de sua organização58. Trata-se de valor intangível, sustentado por uma ideia desenvolvida com o funcionamento da empresa, por meio da soma de seus elementos comerciais.

Exemplo clássico e internacionalmente conhecido de trade dress é o das caixas azuis da empresa americana Tiffany & Co. A cor, criada pela Pantone especialmente para a grife, é registrada como trademark59 nos Estados Unidos e não pode ser comercializada por outras empresas. Outrossim, o próprio termo Tiffany Blue Box é trademarked.60

Figura 03 – Descrição do conjunto-imagem da embalagem da Tiffany & Co.

57SOARES, José Carlos Tinoco. Concorrência Desleal vs. Trade Dress e/ou Conjunto-imagem. São Paulo:

Ed. Tinoco Soares, 2004, p. 213.

58

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 29ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 394.

59 Ao longo deste trabalho, utiliza-se a expressão em inglês equivalente ao registro de marca nos Estados Unidos,

conforme exposto no capítulo três.

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KLARA, Robert. How Tiffany's Iconic Box Became the World’s Most Popular Package. Disponível em: <http://www.adweek.com/news/advertising-branding/how-tiffany-s-iconic-box-became-world-s-most-popular- package-160228>. Acesso em: 10 out. 2016. Tradução livre.

Fonte: Adweek, 2014.

Ressalte-se que o registro do trade dress nos Estados Unidos decorre do Lanham Act, conforme é abordado no capítulo três. No Brasil, como já citado, não há regulamentação específica para a proteção do conjunto-imagem.

O ato administrativo que concede a proteção à propriedade industrial, conforme já exposto, é de natureza constitutiva e vinculada. Parte da doutrina, no entanto, considera a identidade visual do produto ou serviço adquirida pelo trade dress semelhante ao fenômeno do secondary meaning61, ou seja, o sentido secundário da marca adquirido por seu uso, capaz de diferenciá-la no mercado. Nesse caso, para ser passível de proteção, a natureza do ato administrativo deveria ser declaratória, situação que não se encontra prevista na LPI.62

No entanto, ainda que não haja dispositivo legal direcionado especificamente ao

trade dress, a reprodução de elementos do conjunto-imagem de uma marca por terceiros é

61

Neste trabalho, optou-s f z us s x ssõ s “s c n y ning” “s nti s cun á i ” c sinônimas. Com a finalidade de evitar repetições, ora utiliza-se a forma em inglês, ora utiliza-se a forma traduzida.

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XAVIER, Vinicius de Almeida. As possibilidades de proteção ao trade dress. Direito Justiça (Porto Alegre

Online), [s.l.], v. 41, n. 2, p.248-263. Rio Grande do Sul: EDIPUCRS, 2015. Disponível em:

solucionada, na maioria dos casos, por meio da aplicação do artigo 195, inciso III da Lei de Propriedade Industrial, combinado com o inciso XXIX do art. 5º da Constituição Federal.63

O artigo supracitado da LPI trata da concorrência desleal caracterizada pelo uso de meios fraudulentos para desvio de clientela próprio ou alheio.64Logo, mesmo sem trazer à baila menção específica ao conjunto-imagem, o Judiciário Brasileiro se vale da repressão à concorrência desleal ou da garantia à livre concorrência em suas decisões, conforme o caso.

Nesse sentido, vale nci n c s “Hy c s X Vict i ’s S c t”. Hypermarcas, detentora da marca Monange, realizou um evento nacional intitulado Monange Dream Fashion Tour, que reunia desfile de peças íntimas, modelos conhecidas mundialmente65, música ao vivo e figurinos adornados com asas de anjo, em uma proposta muito semelhante à da marca de lingerie norte-americana66. A ação em desfavor da empresa brasileira e dos outros organizadores do evento foi julgada procedente pelo juízo da 14ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. A decisão condenou a parte ré ao pagamento de uma indenização de R$100.000,00 (cem mil reais) por danos morais e à abstenção de realizar eventos que possam aludir ao Victoria’s Secret Fashion Show.67

A alegação da autora na petição inicial foi acolhida em sede de sentença. Ou seja, foi considerado o uso dos adornos e símbolos específicos pela Hypermarcas como um caso de concorrência desleal. Além de as empresas serem do mesmo ramo comercial, a estrutura do evento e, sobretudo, o uso das asas poderiam causar o desvio de clientela e o enriquecimento

i u i nti isu l c i l Vict i ’s S c t. Logo, mesmo que os

símbolos individualizados não fossem passíveis de proteção pelo ordenamento jurídico brasileiro, a decisão resguardou o conjunto-imagem criado pela empresa norte-americana.68

Posteriormente, são apresentados outros casos emblemáticos em se tratando de

trade dress na indústria da moda, bem como as implicações decorrentes da lacuna legislativa no que concerne à sua proteção.

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PIVA, Fernanda Neves . Trade dress: imitação e concorrência desleal. Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo , v. 35, p. 191-206, 2015. Disponível em: < http://revistadireitoempresarial.com.br/artigos/95- Artigo%20trade%20dress.pdf>. Acesso em: 10 out. 2016.

64BRASIL. Lei nº 9279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade

industrial. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9279.htm#art240>. Acesso em: 10 out.

2016.

65 Algumas das qu is,inclusi , f zi t c l s Vict i ’s S c t.

66 Vict i ’s S c t, s éc n nt , liz “Vict i ’s S c t F shi n Sh w”, nt qu ún

grandes figurinos adornados por asas de anjo, de tal forma que as modelos vinculadas à marca são conhecidas

un i l nt c “ ng ls”.

67 BEZERRA, Elton. TJ-RJ condena Hypermarcas a indenizar Victoria's Secret. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2013-ago-19/hypermarcas-indenizar-victorias-secret-concorrencia-parasitaria>. Acesso em: 12 out. 2016.

68 Sentença disponível em: <http://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art20130816-10.pdf>. Acesso em: 12