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1. BÍBLIA: O GRANDE CÓDIGO

1.4. TRADUÇÕES TRAÍDAS

Além dos inúmeros problemas que permeiam o estudo das ―Sa- gradas‖ Escrituras um dos mais consideráveis talvez seja suas várias

traduções, muitas vezes, tendenciosas. Os autores Gabel e Wheeler ex- plicam que:

A Bíblia é um dos mais importantes livros do mundo. Ao longo da história, milhões e milhões de pessoas a têm considerado a própria palavra de Deus, tomando o seu conteúdo como fundamento do bem-estar eterno de sua alma. E, no entanto, dentre o vasto o número de indivíduos que têm ti- do a Bíblia em tão alta estima, nem a metade de um por cento leu as suas palavras reais. Porque essas palavras estão em hebraico e grego, línguas que somente uma pequena parcela da população do mundo já foi capaz de ler. Todas as outras pes- soas dependem, para um conhecimento direto da Bíblia, da capacidade de transmissão das tradu- ções (GABEL: WHEELER, 2003, p. 205, itálico dos autores).

Considerando a explanação dos autores, nos apegamos à hipótese de que a falta de uma explicação para a existência da vida humana na terra leva a maioria dos seres humanos a se apegarem àquilo que lhes é mais cabível e acessível. Um grande número do fieis nem cogita a ideia de que podem estar lendo traduções imprecisas.

O conhecimento da história da escrita da Bíblia e suas traduções são assuntos cabulosos, mas para a maioria dos que creem, são verdades inconvenientes. Outros, por outro lado, possuem uma capacidade de compreensão muito limitada, não teriam condições intelectuais para estudar a própria religião, desta forma, contentam-se com o lhes têm ensinado as igrejas, e, muitas vezes, são doutrinados por pregações ten- denciosas.

Cássio Murilo Dias da Silva argumenta que inúmeras pessoas têm uma visão ingênua sobre o conteúdo das ―Sagradas‖ Escrituras e por esta razão consideram:

[...] todas as traduções iguais e transposições to- talmente fiéis do hebraico e do grego para uma língua vernácula (em nosso caso, para o portu- guês). Na verdade, sempre se perde algo quando se traduz de uma língua para outra, ainda mais quando se trata de textos antigos: o significado exato das palavras e das expressões, os jogos de palavras, o universo cultural, etc (DA SILVA, 2007, p.14).

Como é de conhecimento entre os estudiosos da tradução, o tra- dutor é chamado também de traidor, pois como enfatizado por da Silva, algo sempre é perdido durante a tradução. Ademais, especialmente com relação à Bíblia, o texto pode também sofrer vários acréscimos ou alte- rações ideológicas, dependendo das convicções religiosas e políticas de quem traduziu e continua traduzindo, pois, o processo é ininterrupto.

Sendo assim, com frequência são lançadas no mercado brasileiro, Bíblias católicas e de outras religiões cristãs, com variações bastante expressivas com relação à tradução. Gass explica que:

A primeira tradução da Bíblia para a língua portu- guesa foi feita em 1681 por João Ferreira de Al- meida, que era evangélico, e publicada em um só volume sob o título de ―A Bíblia Sagrada‖. Em 1821, com o título de ―Santa Bíblia‖, foi publica- da a tradução católica portuguesa do padre Anto- nio Pereira Figueiredo.

Nos últimos 50 anos, foram editadas várias tradu- ções da Bíblia, como a ―Bíblia de Jerusalém‖ (E- dições Paulinas), a ―Bíblia Sagrada‖ (Editora Vo- zes), ―A Bíblia Sagrada – Edição Pastoral‖ (Edito- ra Paulus), ―Tradução Ecumênica da Bíblia‖ (Edi- ções Loyola), ―A Bíblia na Linguagem de Hoje‖ (Sociedade Bíblica do Brasil), ―Bíblia do Peregri- no‖ (Editora Paulus), entre outras.

Os estudos da Bíblia avançaram muito nos últi- mos tempos. Milhares de ―exegetas‖, que quer di- zer intérprete e pesquisadores que nos ajudam no entendimento e na interpretação das Escrituras, dedicam-se ao estudo da Bíblia. Eis porque estão sempre aparecendo novas traduções mais aperfei- çoadas (GASS, 2002, p. 53).

Portanto, de acordo com o autor, só tivemos uma Bíblia em por- tuguês na segunda metade do século XVII, isso quer dizer, antes disso só os clérigos e poucos leigos tinham acesso ao que estava escrito nos textos bíblicos, portanto, eram privilegiados e usavam as informações das formas que lhes fossem mais apropriadas. Na verdade, a população geral só começou a ter mais acesso a Bíblia com a publicação das várias Bíblias nos últimos cinquenta anos, mas mesmo assim, muitos só leem as partes que lhes são convenientes, para que assim possam justificar os dogmas de suas religiões.

Outro problema mostrado por da Silva são as dificuldades em se traduzir um texto antigo:

Traduzir a Bíblia não é algo fácil. Há muitos tex- tos em que foram usadas palavras cujo significado já se perdeu; em outros casos, as palavras são co- nhecidas, mas formam uma frase obscura ou trun- cada. À medida que a ciência bíblica progride, ela oferece novas soluções para velhos problemas tex- tuais. Em cada nova tradução da Bíblia, os tra-

dutores procuram superar as dificuldades, mas

muitos versículos ainda permane-

cem“indecifráveis” (DA SILVA, 2007, p.15, ne-

grito nosso).

Em suma, o trabalho dos exegetas e dos tradutores será sempre interminável, pois quanto mais se analisam os textos antigos, mais mis- térios e novas formas de ver as ―Sagradas‖ Escrituras religiosamente, linguisticamente, moralmente, sociologicamente e politicamente são encontrados.Dentro desse contexto, vale lembrar que muitas Bíblias que temos traduzidas para o português são traduções de traduções. Cássio Murilo Dias da Silva também faz o seguinte questionamento: ―Qual texto é o inspirado: o original ou a tradução? ‖ (DA SILVA, 2007, p. 14). Portanto, apesar de todos os estudos feitos até o presente, ainda há necessidade de se continuar estudando esses textos polissêmicos, para que possamos procurar entender melhor seu conteúdo e o fascínio e o poder que esses tiveram e ainda têm sobre várias sociedades ao longo dos séculos. Histórias relatadas dentro da Bíblia e histórias inspiradas pelas palavras contidas nela permeiam todo andamento do ocidente.