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Transcrição Modernizada de Nossa Senhora de Montserrat

PAROXÍTONOS PROPAROXÍTONOS VERBOS

5.3 TRANSCRIÇÃO MODERNIZADA DOS DOCUMENTOS

5.3.3 Transcrição Modernizada de Nossa Senhora de Montserrat

Dequa natus est Jesus.

Apenas um sopro divino anima nossos primeiros Pais, logo vêem eles desfazer-se por sua prevaricação as vantagens da inocência: só uma lembrança lhes resta então do seu primeiro estado, e esta lembrança só lhes serve para fazer sentir mais cruelmente a sua perda, e sua desgraça seria sem remédio se Deus, em quem a misericórdia é infinita, lhes não desse a mão para os levantar do abismo em que se haviam precipitado.

Ainda lhes não respira livre o coração e o sangue devera gelar-se em suas veias se a desgraça fosse irremediável, mas uma promessa é feita em nossos primeiros dias: uma mulher deve vir ao mundo e declarando “viva guerra” ao nosso inimigo, deve esmagar-lhe a cabeça soberba, e constituir-se nossa proteção, nosso refúgio, nossas esperanças.

E, com efeito, Senhores, esta promessa nos ligaram nossos Pais. Em vós, Nossa Senhora, que a quem vem constituído.

Sim, Senhores, por mim falam todos esses templos e altares erigidos com tanta pomba e magnificência, em honra de Maria, em todas as aldeias, em todas as cidades, em todas as Nações do Mundo Cristão hoje! A devoção com que lhe prestais estes cultos solenes. Tudo, tudo nos está dizendo, o que dizem os Padres, a Igreja nos ensina e a experiência dos séculos nos confirma: isto é, que Maria é a desposadora de todas as graças e Misericórdias, que a ela devemos recorrer em nossas necessidades, que ela é a nossa poderosa Advogada, Advogada, como diz São Pedro Damião, que chega ao trono de seu Filho, antes para mandar do que para pedir, mais como soberana do que como serva; Non oram, sed inperam, domina, non ancilla.

Continuemos, pois, Senhores, continuemos a prestar-lhes os solenes cultos que lhe são devidos de nossa eterna gratidão; e confessando à face do Céu e da terra a Glória e a Proteção de Maria, procuremos... a nossos Filhos a herança que muitas vezes reiterada tem sido: realizada na ordem dos tempos, e Deus tem baixado ao mundo para revestir-se da carne humana nas

puríssimas entranhas de uma Virgem, de uma Virgem cuja maior glória é ser a Mãe do mesmo Deus – de qua natus est Jesus.

E esta Vossa, sendo a Mãe do Deus, e, por consequência, superior a tudo o que é inferior ao mesmo Deus, por um excesso de amor verdadeiramente divino, nos tem tomado sob sua proteção, adotando-nos como Filhos ao pé da cruz no meio do turbilhão das angustias do Calvário.

Já daqui, Senhores, podereis coligir qual o objeto do meu discurso, e nem vos rogaríeis julgando que eu adquira fala, procure penetrar no abismo insondável da Glória da Mãe de Deus.

Não, Senhores, o meu fim é somente excitar a vossa devoção, a vossa piedade para com esta extremosa Mãe de quem temos recebido tantos benefícios e a quem hoje prestamos tão solenes cultos debaixo do título de Montserrat.

Discurso

Para melhor conhecermos a grandeza os benefícios, que temos recebido de Maria Santíssima, cumpre antes de tudo, Senhores, examinar a multidão de males que pesam sobre nós; cumpre conhecer bem o estado de fraqueza e de miséria a que nos tinha reduzido o pecado e os perigos que nos ameaçam por toda a parte; e então lembrando-nos que foi ela quem dissipou, por seu Filho, as trevas da nossa ignorância, nos restituiu os direitos de que fôramos despojados e carinhosa Mãe nos ampara e protege nos perigos; será fácil conhecer, ou ao menos avaliar, uma parte dos benefícios que temos recebido desta Mãe extremosa.

O berço, Senhores, é o primeiro teatro das misérias do homem e o aliado do seu nascimento, o que dá princípio à penosa carreira de sua infelicidade. Fracos mortais trazemos impresso o caráter da fragilidade. Ramos desgraçados de um tronco infeccionado temos dentro em nós o princípio de corrupção. Em uma palavra: o homem descendente de Adão nasce pecador e, em consequência, sujeito a todos os males e perigos que nos atropelam neste mundo.

Abramos a história a mais autêntica, e aí veremos em cada página, desde o berço do mundo, uma prova da nossa miséria e infelicidade.

Adão é o primeiro, que com suas lágrimas rega a terra sempre ingrata a seus suores. Abel, o inocente Abel morre banhado no seu próprio sangue às fratricidas mãos de Caim: este errando vagabundo traz estampado no seu rosto o pavor e sobressalto, julgando ver em cada um homem um assassino.

As águas do Dilúvio dão sepultura a todo o Mundo, e Noé apenas escapado da geral submersão serve de escárnio a um mau Filho, que é logo a um triste cativeiro condenado.

O Egito é castigado com pragas inauditas, e o mesmo Moisés vê muitas vezes lavrar a morte em seu povo por mil calamidades diferentes.

Baltazar vê, no meio de sua corte esplêndida, uma prodigiosa mão lavrar o decreto de sua morte, e nessa mesma noite é arrancado à vida nas delícias de seu festim. Sedícias é levado cativo para Babilônia sem ao menos ter olhos para chorar sua desgraça.

Finalmente todos estão expostos a milhares de perigos, como diz o Apocalipse nos campos, nos caminhos, nas cidades, nos Impérios, não achando em toda a redondeza mais do que hostilidades nos homens, mortandade nas feras, perigos e flagelos nos elementos conjurados. O Céu fechando seus diques nos deixa gemer na fome e na miséria. Eis, Senhores, eis o esboço das mi sérias do gênero humano!!

Grande Deus! E teremos nós de lutar sempre contra ventos tão contrários? Fracos baixeis lançados no encapelado mar de tantas desgraças, como navegar por meio de tantos cachopos sem termos quem nos guie?

Mas não, alegrai-vos, tristes filhos de Adão, eu já vejo a pura estrela da manhã mais brilhante que o Sol, em seu zinir, que nos vem conduzir à salvação, removendo os obstáculos, acolhendo benigna as nossas súplicas e nos protegendo e amparando em todos os perigos.

Desviemos, pois, as vistas do quadro lutuoso que acabei de traçar, e vamos apreciar as prerrogativas e reconhecer a proteção desta Virgem imaculada, origem de todos os benefícios.

Formada pela mão do Eterno para do seu sangue formar-se aquele que é a mesma caridade por essência e princípio de todo o Amor; destinada por

Deus para um dia ser Mãe do mesmo Deus, ela nasce sem que participe da desobediência: um muro de separação se levanta entre ela e o pecado; e a torrente de iniquidades, que desde princípio do mundo tem assolado a terra, passa por ela sem a tocar, e respeitando-a como Templo de Deus vivo, não se atreve a atacar o seu Espírito.

A terra que a vê nascer a bafeja com os negros vapores do crime: a vaidade; a cobiça, a vingança e todas as demais paixões, que nos fazem gemer debaixo de sua tirania, jamais perturbam a paz de sua alma; semelhante à Esposa dos Cantores ela fica reclinada em um leito de flores, enquanto todos os mais filhos de Israel vagam pelo escabroso da montanha.

Nascida, pois, cheia da Graça de Deus, é prodígio das Graças e Santidade; não conhecendo os princípios por onde passa o Justo para chegar por degraus à perfeição, toca logo ao seu mais alto grau, e por premissas da Graça recebe logo a enchente de toda ela e o poder de distribuí-la em nosso favor.

Santos Patriarcas, Profetas santos, Justos da antiga lei, vós a reconhecestes, e por isso ao Céu a implorastes com lágrimas e suspiros como o único refúgio, fortaleza e consolação em que depositáveis toda a vossa confiança. O que poderemos pois recear sendo protegidos por tal Mãe? E não foi o mesmo Jesus Cristo que próximo a expirar declarou, do alto da cruz, que em Maria Santíssima nos deixava uma Advogada, uma Protetora, e o que é mais ainda, uma extremosa Mãe, Ecce mater tua?

E poderá ela esquecer-se por um só momento dos filhos recomendados na última hora das agonias do nosso Redentor?

Não, Virgem Santíssima, vós sois a Mãe do mais perfeito amor; em vós nada é austero, nada terrível, mas tudo ternura, tudo suavidade. Poderosíssima diante de Deus, de quem formais as Castas delícias, vós sois ao mesmo tempo nossa Mãe, e por isso cheios de confiança nós vos invocamos em nossas tribulações.

E quem jamais poderá duvidar do interesse que ela toma por aqueles que a invocam com a verdadeira devoção?

Consagrado à Senhora do Montserrat, ereto no cimo desta montanha, como uma atalaia para vigiar e dirigir com segurança os navegantes ao Porto e

proteger aos habitantes desta Cidade... estes quadros, estes sinais de reconhecimento que eu vejo como servindo de adorno às paredes deste Templo são outros tantos padrões de glória, públicos testemunhos dos benefícios que dela recebemos todos os dias.

O que, pois, poderei eu mais dizer à vista de tais provas, mais eloquentes em seu mesmo silêncio do que a língua do Orador ainda o mais sábio e o mais sublime?

E já que estais constituída nossa Mãe e protetora, continuai a mitigar os nossos males e a proteger àqueles que vos invocam com piedosa devoção; estendei o vosso manto sobre estes devotos que com tanto fervor vos consagram tão solenes cultos; Continuai, senhora, ainda vos suplico, continuai a inflamar os seus corações prodigalizando vossos benefícios e vossas Graças, porque se tornem dignos de cantar louvores em vossa honra na Glória eterna que eu a todos desejo.

Com efeito, enfim, espalhados pelo Universo, Senhores, todos esses templos dedicados a Maria debaixo de títulos diferentes.