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5.3 TRANSCRIÇÃO MODERNIZADA DOS DOCUMENTOS

5.3.1 Transcrição Modernizada de São Sebastião

São Sebastião

Nolite timere cos que occiducut corpus. Não temais a aqueles que podem tirar a vida ao vosso corpo.

Para alcançar batalhas/vitórias contra os inimigos do estado é necessário ter tropas numerosas, disciplinadas, bem armadas, ambiciosas de reputação e de glória, é necessário ter experiência, aproveitar as menores vantagens e mesmo usar de astúcias.

Mas para alcançar vitórias contra os inimigos da Igreja, basta não temê- los; foi por este modo que a Religião Cristã alcançou imortais triunfos e se coroou de glórias imortais na sua primitiva; e foi para mais fortalecer os ânimos que Jesus Cristo recomendou que não temêssemos aqueles que podem tirar a vida a nosso corpo, porque se eles o podem fazer, jamais poderão perder a alma; Nolite timere cos.

Com as vistas nesta recomendação, era que os Mártires se apresentavam a seus tiranos sem os temer, ensinando a doutrina de Jesus Cristo e sofrendo todos os tormentos até acabar a própria vida, e por isso alcançaram a palma da vitória e se tornaram dignos de que a Igreja sempre solicita em louvar os que morrem pela Fé de Jesus Cristo apresenta a nossa veneração.

Mas, Senhores, se os Mártires da Fé são dignos de nossa veneração e de nossos elogios, eu descubro naquele que a Igreja hoje oferece aos nossos cultos, em Sebastião um motivo de maiores encômios.

Louvem-se os outros de ter combatido os inimigos da nossa Religião e padecido por amor dela o martírio: eu tenho para juntar ao louvor de Sebastião, que ele conservou pura a sua alma conservando sem cargos no meio de uma corte idólatra e que sobreviveu aos tormentos para por um segundo martírio,

fazer conhecer qual o seu valor e qual a onipotência de Deus que obrava nele tantos prodígios.

Mostrar por que se conservou puro e que sem temor sofreu até morrer pela Fé será o objeto do meu discurso.

Discurso

Da estirpe de Judá nasce o ilustre Daniel, e precisado de viver por muitos anos na régia sala de Nabucodonosor, de Baltasar e de Ciro, soube sempre distinguir os deveres para com seu Rei, dos deveres para com seu Deus; se o seu nascimento ilustre o fazia estimável aos Gentios, mais estimável o fazia a Deus a virtude com que sempre guardou ilesa a alma, e fiel o entendimento na pura distribuição de seus afetos: vigilante sempre em proteger os aflitos tornou-se respeitado dos mesmos Leões.

E o que vimos em Sebastião ainda quando empregado no serviço do cruel Diocleciano? No meio de uma corte pagã ele conserva sua alma pura: sabe dar a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus; sabe não confundir os respeitos, nem misturar as oblações: ao Rei serve como fiel militar, a Deus como verdadeiro e fervoroso Católico.

Ouvistes vós falar daquele bom velho Tobias, que orava com lágrimas, e sepultava os mortos no cativeiro de Babilônia, como consolava os cativos, como os fortalecia na Fé, como os firmava na Religião, sem temer o Rei idólatra que pretendia fazê-los cair na adoração dos ídolos dos Assírios? Pois eis o mesmo em que se emprega Sebastião, sem temer o Diocleciano, que podia tirar a vida a seu corpo, mas não perder sua alma, dá sepultura honrosa aos restos dos Santos Mártires, que ou haviam servido de pasto às feras, ou suspensos nas forcas, nos cadafalsos, atormentados nos cavaletes, ou queimados nas fogueiras daqueles tiranos, daqueles ímpios, daqueles bárbaros. Sem temer a perda da estima de seu Rei visita os Cárceres, em que fazia o bárbaro gemer milhares de Cristãos, que negavam adoração a seus ídolos; os exorta, os fortifica, os faz constantes na confissão da Fé: eu me

apresso a apresentar-vos um fato em que mostrou o seu zelo pela fé que professava.

Caminhavam para o Martírio Marco e Marciliano, quando lhe saem ao encontro, os objetos os mais os caros que possuíam sobre a terra, os caros pais, as amadas esposas, os queridos filhos, os parentes, os amigos, e todos banhados em lágrimas, com as palavras entrecortadas de gemidos lhes instam, lhes persuadem a voltar a adorar os Ídolos, porque só assim poderiam salvar a vida e livrar a tantos de tantos padecimentos.

No meio deste combate entre os sentimentos da natureza, os laços do amor e da amizade com os deveres de Cristão, qual de vós não ficaria perplexo? A vitória começa a decidir-se a favor da natureza: já Marco e Marciliano começam a enfraquecer, quando no meio do conflito se apresenta Sebastião, que mais se preza de ser Cristão do que Capitão da primeira Corte de Diocleciano; e assim fala aos enfraquecidos: que fazeis, diz ele, que fazeis vós que vos alistastes debaixo das bandeiras as mais triunfantes? Não queiras por estas falsas persuasões perder a coroa e palma da vitória que por momentos esperais.

Este socorro tão a propósito decidia a vitória e eles venceram os estímulos da carne e do sangue, que já se rebelavam contra as resoluções do espírito. Com seu discurso, não só fortaleceu os dois Mártires, que impávidos caminharam para o patíbulo, mas até converteu muitos dos Idólatras que ali se achavam.

Não se demorou o Céu em premiar esta obra. Já a notícia corre por toda parte, voa até o palácio de Diocleciano: que horror, que desordem, que rancor não imprimiu ela em seu bárbaro coração?! Ah! Eu não tenho palavras com que vos possa pintar o aspecto desse monstro sanhudo: terrível monstro, que brama desesperado, descarrega todo o furor de sua cólera no rosto de Sebastião, mas este compadecido de sua cegueira procura inutilmente fazer de um bárbaro um Cristão; mostra-lhe o engano em que está, prova a verdade e santidade da Lei de Jesus Cristo, mas tudo é baldado, são vagas que se despedaçam contra um duro rochedo: em vão se cansa Sebastião, o tirano lhe dá as costas e manda que seja traspassado de setas: chegai, chegai, feliz momento para onde se dirigem todos os desejos de Sebastião.

As setas disparadas em seu corpo abrem feridas por todas as partes, até que por morto o deixam os algozes; mas a providência divina o conserva para um novo combate e um novo triunfo, para dar mais um testemunho de suas maravilhas: por Irene foi ele achado no campo sustentado pelo Céu como Elias no deserto. O deixaram os algozes, porém ainda a Providência o conservava para um novo triunfo, para um outro martírio, e por dar mais um evidente testemunho de suas maravilhas: por Irene foi ele achado no Campo sustentado pelo Céu, como Elias no deserto.

Ainda uma vez Sebastião vai à presença de Diocleciano, ainda uma vez tenta a conversão do bárbaro: Diocleciano fica estático, entre assustado e furioso, vacilando nestas duas reflexões, se seria um fantasma ou se alguma falsidade teria corrompido os algozes para não executarem os seus decretos.

Depois de algum tempo de perplexidade resolve, abrasado em cólera, que se multipliquem os tormentos no corpo do inocente até fazer exalar os últimos alentos.

Chegai, algozes, vós achareis um valoroso Guerreiro sempre firme no seu posto, sempre pacífico e tranquilo. Em que parte do seu corpo quereis descarregar os vossos golpes? As setas já o têm rasgado todo e ele sobreviveu no Martírio, só para que se renovassem as feridas sobre as chagas antigas.

Morre enfim Sebastião, mas se o tirano pôde tirar a vida ao seu corpo, não pode por mais ameaças, por mais promessas e carícias que fizesse perder sua alma, ela vai receber a coroa da imortalidade, a palma do martírio.

Que mais claro testemunho do seu valoroso ânimo? Sebastião empregou-se em fortalecer os fracos, em enterrar os Cristãos, e sustou intrepidamente a fé de Jesus Cristo sem temer o tirano; e por isso alcançou imortais triunfos, glórias imortais: este é um dos testemunhos que a Igreja apresenta da santidade de sua doutrina. Imitai-o, pois, na caridade e, se for necessário, no seu alívio e alcançareis a mesma coroa, a mesma glória imortal que eu a todos vós desejo.

Ainda uma vez Sebastião vai à presença de Diocleciano, ainda uma vez tenta a conversão do bárbaro; mas ele abrasado em cólera manda que se multipliquem os tormentos no inocente, até que exalem os últimos alentos.

Chegai, algozes, vós achareis um valoroso guerreiro firme no seu posto, sempre pacífico e tranquilo: em que parte do seu corpo quereis descarregar os vossos golpes? As setas já o têm rasgado todo e ele sobreviveu ao martírio só para se renovarem as feridas sobre as chagas antigas.

Morre enfim Sebastião, mas se o tirano pôde tirar a vida a seu corpo, não pode por mais ameaças, por mais tormentos que o fizesse sofrer, não pode perder sua alma, ela recebeu a palma do martírio e a coroa da imortalidade.

Que mais claro testemunho de seu valor? Sebastião empregou os seus dias em socorrer os Cristãos, em tudo o que pôde, e sustentou intrepidamente a fé de Jesus Cristo sem temer o tirano, e por isso alcançou imortais triunfos, glórias imortais.