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3.2 Fundamentos da lei de responsabilidade fiscal

3.2.2 Transparência

A transparência consubstancia o dever de o governante divulgar de forma clara e objetiva a destinação dada à verba pública. Corolário do princípio da publicidade

Acórdão nº 948/2016. Relator: Ministro José Múcio Monteiro. Acórdão Nº 948/2016 – TCU – Plenário: TC

033.142/2015-7. Brasília, 20/04/2016. 64

O TCU investigou ainda as projeções para o PPA 2016-2019, chegando à seguinte conclusão: A tabela a seguir apresenta os parâmetros macroeconômicos utilizados para a elaboração do PPA 2016-2019.

Tabela 2 - PPA 2016-2019 - Cenário Macroeconômico de Referência

2016 2017 2018 2019

PIB 0,20 1,70 2,00 2,50

IPCA 5,40 4,50 4,50 4,50

Fonte: Mensagem Presidencial PPA 2016-2019

Com relação aos parâmetros macroeconômicos utilizados para a elaboração do PPA 2016-2019, ainda não é possível fazer uma análise de compatibilidade entre os valores previstos e os realizados, já que o Plano entrou em vigor em janeiro deste ano. Porém, os relatórios de mercado preparados pela Focus, com atualização até 21 de março de 2016, apontam, para 2016, PIB e inflação de -3,6% e 7,43%, respectivamente, e, para 2017, PIB e inflação de 0,44% e 6%, respectivamente. Dessa forma, é possível afirmar, com base nos dados da Focus, que as projeções para elaboração do PPA 2016-2019 continuam otimistas e com grande probabilidade de não se concretizarem, o que pode comprometer o andamento das políticas formuladas com base nesses parâmetros. BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 948/2016. Relator: Ministro José Múcio Monteiro. Acórdão

Nº 948/2016 – TCU – Plenário: TC 033.142/2015-7. Brasília, 20/04/2016.

65 JOSÉ Maurício Conti. Comissão Especial de Impeachment (02/05/2016). Brasília: Notícias no Youtube, 2016. P&B. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Oa6g05qQ1Mo>. Acesso em: 02 maio 2016.

administrativa, como visto no primeiro capítulo deste trabalho, o princípio da transparência não significa uma postura passiva do Estado, pelo contrário, impõe uma conduta ativa de divulgar os dados orçamentários de forma adequada, suficiente, clara, tempestiva e veraz.

O dever de prestar contas é condição essencial à gestão pública e ao próprio Estado Democrático de Direito, pois, além de informar aos cidadãos como e onde estão sendo gastos os recursos públicos, permite ainda a participação na elaboração das políticas e o controle da aplicação desses recursos66. Conforme Fernando Lemme Weiss67:

A transparência é uma evolução da publicidade, sendo caracterizada pela somatória de rápida divulgação, clareza quanto ao conteúdo e suficiência das informações. A administração pública só é realmente transparente quando há compromisso de atender a esses três requisitos essenciais à participação política responsável e embasada. O art. 48 da LRF lista os instrumentos de transparência retro-referidos, trazendo como novidades a utilização de meios eletrônicos (Internet), o incentivo à participação e realização de audiências públicas, o que demonstra seu caráter de norma efetivadora da democracia.

O art. 48 da LRF determina que será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos, aos planos, aos orçamentos e às leis de diretrizes orçamentárias; às prestações de contas e ao respectivo parecer prévio; ao Relatório Resumido da Execução Orçamentária e ao Relatório de Gestão Fiscal.

A ampla divulgação a que se refere a Lei Complementar n.º 101/2000 transcende a mera publicação em Diário Oficial da União e visa a atingir os meios de comunicação efetivamente utilizados pela população em geral. Nesse sentido, nem mesmo a simples disponibilidade em “meios eletrônicos de acesso ao público” (art. 48, caput) seria capaz de dirimir o dever de informar do Estado, pois, apesar de importantíssimo instrumento para divulgação das contas públicas, as informações presentes na internet ainda se encontram distantes de boa parte da sociedade brasileira68, motivo pelo qual se faz necessária a divulgação por meio de veículos de comunicação mais populares, como jornais, revistas, rádio e televisão.

O Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) será publicado pelo Poder Executivo a cada bimestre, como previsto pelo §3º do art. 165 da CRFB/88. A LRF regulamentou referido dispositivo constitucional, ampliando a obrigatoriedade de

66 O dever de prestar contas tem status constitucional. O parágrafo único do art. 70 da CRFB/88 leciona o

seguinte: “Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária”.

67 WEISS, Fernando Lemme. Princípios Tributários e Financeiros. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2006. P. 300. 68

NOTÍCIAS, Uol. Metade das casas no Brasil não tem acesso à internet, diz pesquisa. Disponível em: <http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2015/09/15/mais-de-32-milhoes-de-domicilios-brasileiros-nao- tem-acesso-a-internet.htm>. Acesso em: 04 maio 2015.

apresentação do RREO para os demais Poderes da República e para o Ministério Público (arts. 52 e 53). Essa peça orçamentária deve explicar detalhadamente as receitas e despesas realizadas e a realizar, bem como suas respectivas origens e funções.

O descumprimento dos prazos previstos para a apresentação do RREO impedirá que o ente da Federação receba transferências voluntárias e contrate operações de crédito, exceto as destinadas ao refinanciamento do principal atualizado da dívida mobiliária.

O Relatório de Gestão fiscal - RGF (arts. 54 e 55), por sua vez, impõe ao gestor público de cada Poder a prestação de contas e a divulgação de informações sobre a gestão orçamentária, concentrando-se esse relatório na demonstração que os limites e proibições impostos pela LRF estão sendo respeitados. O RGF relativo ao último quadrimestre do ano deverá conter, adicionalmente, entre outras obrigações, o demonstrativo do cumprimento do disposto na alínea “b” do inciso IV do art. 38 da LRF, que proíbe a realização de operação de crédito por antecipação de receita orçamentária no último ano de mandato.

Além disso, a participação popular na elaboração e no acompanhamento de todos os documentos fiscais citados até então fortalece o caráter democrático do orçamento público69. O art. 48, caput, da LRF prevê também a divulgação de versões simplificadas das peças mencionadas, com intuito de facilitar a compreensão popular. É o que defende o Relatório de Levantamento do Tribunal de Contas da União (TC 033.142/2015-7) 70:

A transparência e a accountability são princípios adotados pela governança para propor práticas de controle e acompanhamento da administração, bem como responsabilização dos seus agentes. Para tanto, além de transparentes, as informações precisam ser confiáveis e íntegras, a Administração Pública precisa estar preparada para se adequar às novas exigências da sociedade e o cidadão apto a acompanhar e a participar da gestão pública.

Portanto, a transparência na gestão do dinheiro público é essencial para o pleno exercício da cidadania e viabiliza o cumprimento dos demais fundamentos da LRF, pois sem informações íntegras e confiáveis resta inviabilizado o controle, a fiscalização e a responsabilização dos representantes do povo.

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Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive

em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. (grifou-se).

70 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Acórdão nº 948/2016. Relator: Ministro José Múcio Monteiro. Acórdão Nº 948/2016 – TCU – Plenário: TC 033.142/2015-7. Brasília, 20/04/2016.