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1 INTRODUÇÃO

1.4 Metodologia da pesquisa

1.4.4 Tratamento e análise dos dados

A análise de conteúdo, na modalidade de categorias temáticas, tem o intuito de encontrar respostas para as questões formuladas, como também confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do trabalho de investigação (GOMES, R., 2009).

Os procedimentos adotados para a análise e a interpretação dos dados buscaram a compreensão acerca das categorias Descentralização, Autonomia e Cooperação, estabelecidas previamente. Conforme defende Gomes, R. (1999), o pesquisador deve, em primeiro lugar, com

base em uma fundamentação teórica sólida, definir as categorias a serem investigadas, antes do trabalho de campo, para, segundo, após a coleta de dados, formulá-las, visando à classificação dos dados encontrados, permitindo, por fim, comparar as categorias gerais, estabelecidas antes, com as específicas, formuladas após o trabalho de campo. O autor ainda alerta para o fato de nem sempre ser simples a tarefa de formular categorias a partir dos dados coletados, podendo se transformar em uma tarefa complexa que só pode ser ultrapassada com a fundamentação e a experiência do pesquisador, pois a articulação das categorias gerais também requer sucessivos aprofundamentos sobre as relações entre a base teórica e os resultados. Seguindo essa lógica, as categorias prévias e os indicadores que foram apresentados no Quadro 1, bem como o roteiro de entrevista, que está disponível no Apêndice A, foram elaborados com base nos conceitos utilizados para fundamentar a pesquisa.

Para facilitar a compreensão do método de análise aplicado, torna-se oportuno demonstrar, simbolicamente (Figura 5), como foram encontradas as categorias e indicadores, emergentes da fundamentação teórica e do conjunto de entrevistas realizadas. Primeiramente, foram definidas categorias prévias, e estas nortearam a especificação de indicadores e, consequentemente, guiaram a elaboração do roteiro de entrevista, identificada na figura como Etapa A.

Figura 5 – Definição de categorias prévias e análise de categorias temáticas

Fonte: elaboração própria (2016).

As categorias previamente definidas foram importantes para conduzir a análise das falas dos sujeitos e garantir que os resultados se mantivessem dentro do escopo inerente à perspectiva de pesquisa. Em outro momento, após a realização das entrevistas, procedeu-se com as etapas de análise de conteúdo delimitadas por Bardin (2011): primeiro, pré-análise, depois, exploração do material e, em seguida, tratamento dos resultados, inferência e interpretação. A

pré-análise é a fase de organização, que corresponde a um período de intuições, mas tem por objetivo tornar operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das operações de análise. A fase de exploração do material, “consiste essencialmente em operações de codificação, decomposição ou enumeração, em função de regras previamente formuladas” (BARDIN, 2011, p. 131). Na última fase, a autora considera que, ao dispor de resultados significativos e fiéis, pode-se, então, propor inferências e interpretações a propósito dos objetivos previstos, ou ainda que digam respeito a outras descobertas inesperadas.

Dentro dessa perspectiva, na Etapa B, foram adotados, mais precisamente, os seguintes procedimentos (GOMES, R., 2009):

a) decomposição de material a ser analisado em partes, a partir do que foi definido como unidade de registro e de contexto;

b) distribuição das partes em categorias com descrição do resultado da categorização; c) identificação, por intermédio de inferências, dos núcleos de sentido apontados

pelos resultados, que demarcam cada categoria, e interpretação dos mesmos com auxílio da fundamentação teórica adotada.

Na disposição do texto, puderam ser evidenciados os elementos encontrados nos documentos analisados, permitindo enriquecer a discussão com o entrelaçamento de trechos dos documentos, falas dos entrevistados e conceitos teóricos que orientaram a investigação. Como estágio final, elaborou-se uma síntese interpretativa, buscando sempre o diálogo das temáticas com os objetivos, questões e pressupostos da pesquisa.

Considerando a metodologia de análise de conteúdo, atenção especial deve ser dada à explicação da codificação do material. Mediante a aplicação de regras, a codificação corresponde a uma transformação dos dados brutos do texto, permitindo atingir uma representação do conteúdo ou da sua expressão (BARDIN, 2011). Na presente pesquisa, a codificação tem como elemento norteador a análise temática. Portanto, com abordagem qualitativa, primou pela descoberta, no texto, de ideias constituintes, manifestas em enunciados e em proposições portadores de significações, fundamentando-se na presença de temas. Conforme explica Bardin (2011), fazer uma análise temática consiste em estabelecer o tema, enquanto unidade de registro, para descobrir os núcleos de sentido que compõem a comunicação e cuja presença pode ter algum significado para o objetivo analítico escolhido. Ainda segundo a autora, as respostas a entrevistas são, frequentemente, analisadas tendo o tema por base, cuja regra de recorte (do sentido, e não da forma) não é fornecida, pois o recorte depende do nível de análise, e não de manifestações formais reguladas. Nesse caso, cabe

lembrar que não se tem em mente a simples frequência da aparição dos elementos do texto, mas sim as relações que esses elementos mantêm entre si.

Sobre a unidade de contexto, este é definido com base em uma sinalização mais ampla, considerando o contexto do qual faz parte a mensagem (GOMES, R., 2009). Nesse sentido, esclarece-se a probabilidade de se encontrarem temas semelhantes em texto de várias páginas ou em gravação de uma hora (BARDIN, 2011). Geralmente, quanto maior é a unidade de contexto, mais as atitudes ou os valores se afirmam numa análise avaliativa.

Em termos operacionais, a codificação das entrevistas foi realizada por meio do programa ATLAS.ti 7.5 – um software de análise qualitativa de dados textuais, gráficos, áudio e vídeo, o qual oferece uma variedade de ferramentas para realizar as tarefas associadas à análise de conteúdo, ajudando a explorar os dados em um ambiente intuitivo que mantém o foco nos materiais analisados (ATLAS.ti, 2013). O programa oferece ferramentas para gerenciar, extrair, comparar, explorar e remontar partes significativas de grandes quantidades de dados, de maneira flexível e sistemática. Sendo assim, a seguir, serão explanados os procedimentos adotados para a codificação, em três aspectos: transcrição das entrevistas, geração de códigos e redes semânticas.

Transcrição das entrevistas

Após a realização das entrevistas, partiu-se para a fase em que são tratadas as informações extraídas dos sujeitos. Para tanto, foram realizadas as transcrições dos diálogos gravados, o que resultou em um trabalho exaustivo, mediante o qual foi ouvida cada entrevista por diversas vezes, a fim retratar de forma fiel aquilo que foi dito.

Com a finalidade de não permitir a individualização dos dados de pesquisa, a identidade dos participantes foi preservada, conforme compromisso assumido no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B). Sendo assim, após a identificação das falas dos sujeitos de pesquisa, foi indicada apenas a numeração correspondente à entrevista realizada, seguido do tipo de ente federado que participou. Por exemplo, P1-UNIÃO refere-se ao primeiro entrevistado, o qual é representante do MEC ou do FNDE, isto é, do ente UNIÃO; P5-SME identifica o quinto entrevistado, que representou o dirigente da SME de Campina Grande, P9- EQUIPE_SME é o nono respondente, integrante da equipe da SME de Campina Grande, sempre nessa lógica. Cabe ressaltar que, embora tenham sido realizadas entrevistas com homens e mulheres, optou-se por não proceder com as concordâncias verbal e nominal, como forma de

manter ainda mais o sigilo sobre a identidade dos participantes.

Conceitos fundamentais do ATLAS.ti 7.5: a geração de códigos

O ATLAS.ti 7.5 funciona com alguns conceitos básicos: primeiro, o carregamento dos dados de origem, que são intitulados como Primary Docs (documentos primários). É por isso que, conforme explicado anteriormente, cada entrevista foi nomeada como P1, P2, P3, e assim sucessivamente. O segundo conceito é o de quotation (citação), caracterizado como um segmento do documento considerado importante para o usuário (ATLAS.ti, 2013). As citações, portanto, são os trechos da entrevista que, agrupadas, deram sentido às unidades de registro e de contexto, pois, após a exploração do material, estiveram relacionadas às temáticas da pesquisa.

O terceiro conceito importante do ATLAS.ti 7.5 é o de code (código). Os códigos captam o significado dos dados, sendo usados como dispositivos de classificação em diferentes níveis de abstração para criar conjuntos de unidades de informação (ATLAS.ti, 2013). Os códigos podem ser cadastrados no sistema tanto previamente quanto no decorrer da análise. Por isso, foram inseridos, como códigos, os indicadores das categorias prévias determinadas para o estudo, definidos na metodologia da pesquisa, como também, no desenvolvimento da análise, percebeu-se a existência de novos núcleos de sentido, ou seja, novos indicadores (códigos), que retrataram mais achados de campo na investigação. Sendo assim, a sequência inicial de providências adotadas na análise dos dados foi: inserir as entrevistas transcritas no ATLAS.ti como Primary Docs, para, em seguida, analisá-las, sendo atribuídos códigos (prévios ou posteriores) aos trechos (citações) relacionados aos núcleos de sentido observados.

O ATLAS.ti também oferece um recurso que permite agrupar documentos de acordo com os critérios especificados. Esse é o quarto conceito fundamental do programa: families (famílias). Dentre outras funções, as famílias são uma maneira de formar grupos, para facilitar o manuseio dos mesmos (ATLAS.ti, 2013). Nesse caso, ao agrupar os códigos em torno de uma ideia, com os critérios da análise de conteúdo, as families são exatamente as categorias de análise que o pesquisador define no decorrer da apreciação dos achados de campo.

O resultado da análise das entrevistas culminou, portanto, com o surgimento tanto de novos indicadores (códigos) para as categorias prévias, de análise, como também evidenciaram o surgimento de uma nova categoria, com indicadores sobre a coordenação federativa do MEC, sendo esses achados sistematizados, para fins de exposição dos resultados da pesquisa,

conforme demonstra a Figura 6.

Figura 6 – Categorias e indicadores (códigos) prévios e posteriores resultantes da pesquisa

Fonte: elaboração própria (2016).

O propósito da tese esteve em todo momento alinhado ao desenho norteador da pesquisa, visando ao estudo do contexto em que as categorias Autonomia, Descentralização e Cooperação interagem com elementos como o gerencialismo, as assimetrias regionais, o poder local dos municípios e a coordenação federativa. Ainda que a coordenação federativa não tenha sido definida como categoria prévia para as entrevistas, foi assumida como tal no momento em que se percebeu que as falas dos sujeitos a evidenciaram de forma explícita. Essas evidências em nada enfraquecem a proposta inicial, pelo contrário, reforçam ainda mais a necessidade de se estabelecerem bases mais claras sobre o papel do MEC enquanto órgão coordenador das políticas educacionais.

Redes semânticas: encontrando relações entre os conceitos

Após a atribuição de códigos às citações, com o posterior agrupamento desses códigos

em categorias, o ATLAS.ti 7.5 possibilita estabelecer relações entre os códigos para a formação de redes semânticas (networks). Uma rede é definida como um conjunto de nodes (nós) e links (ligações), por isso, para construir as semantic networks (redes semânticas), o que se faz é determinar links para expressar mais claramente a natureza das relações entre os conceitos, ligando conjuntos de elementos semelhantes em um diagrama visual (network view) de nodes (ATLAS.ti, 2013).

Explicar todos os detalhes e funcionalidades da construção de redes semânticas se tornaria uma atividade extensa e desnecessária, por isso serão destacados apenas os conceitos que foram aplicados na presente pesquisa, a qual fez uso das funções específicas de nodes do tipo code families (categorias) e links do tipo code-code-relations para a construção de networks e, consequentemente, network views. As network views são importantes para facilitar a construção de conexões entre os conceitos e interpretar as descobertas, comunicando-as de forma eficaz, pois, em contraste com os modelos lineares e as representações sequenciais, as apresentações do conhecimento em redes se assemelham mais à forma como o pensamento humano é estruturado (ATLAS.ti, 2013).

Representadas pelo símbolo , as categorias estão vinculadas aos códigos, com símbolo , por meio de setas vermelhas, ao tempo em que setas pretas estabelecem relações entre os códigos. Por exemplo, na categoria Coordenação Federativa, o código “Instituir a cultura de planejamento” liga-se ao código “Unificar o atendimento” por meio da relação “está associado a”, estabelecendo, assim, uma sentença expressa como “Instituir a cultura de planejamento está associado a unificar o atendimento”. Adicionalmente, em cada código há a informação, dentro do símbolo de chaves, da quantidade de citações existentes para o código, seguida da quantidade de relações designadas entre esse código e os demais. Convém esclarecer que um código, quando reúne dez citações, por exemplo, pode ter mais de uma citação de um mesmo respondente. Muitas vezes o entrevistado falou sobre um assunto em um dado momento, mas, no decorrer da entrevista retoma uma ideia anterior, expondo mais de uma fala sobre o mesmo assunto. Porém, em nenhum dos casos, houve um código com falas de apenas um entrevistado. Em todos eles, há a exposição de ao menos três entrevistados, conferindo maior consistência ao seu conteúdo.

Após apresentar cada rede semântica, incluindo os núcleos de sentido que nortearam a escolha das citações atribuídas a cada código, partiu-se para uma análise que congregou a tendência central em torno das falas, avaliando-as mediante a base teórica instituída e a leitura analítica da pesquisadora. E, por fim, conforme já explicado, concluiu-se o exame de cada

categoria com uma síntese interpretativa.