• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA

3.2 Sobre a metodologia

3.2.5 Tratamento dos dados

Uma vez que não pretendemos fazer diversos estudos de casos, mas entender o Campo como um todo, os dados obtidos visam subsidiar uma análise transversal do fenômeno em questão nas organizações do Campo.

Depois de recebido o material referente à primeira etapa da coleta, este foi analisado para composição de um quadro geral das ações de RSE no Campo, para seleção das organizações a serem entrevistadas e também para preparação dos roteiros das entrevistas. Assim, em relação à análise destes documentos, numa primeira leitura, para visualização do todo, buscamos a compreensão do que está sendo divulgado como sendo a RSE das organizações. Depois disto, numa leitura mais detalhada, buscamos as similaridades e diferenças do que é divulgado pelas organizações e também a composição de um quadro, mais elaborado, sobre as ações de RSE do Campo como um todo. Deve ser destacado que muitas respostas indicavam os websites das organizações como fonte de informações, que foram também analisados nessa etapa.

Teve destaque a análise dos balanços sociais das organizações e também a análise do Balanço Social dos Bancos, preparado pela Febraban, documento que sinaliza como a RSE é compreendida no Campo como um todo. Buscamos, nesta última análise, verificar como o tratamento dado à questão vai se refinando e indo ao encontro dos valores e demandas sociais. Ainda, em relação aos outros documentos enviados pelas organizações, a análise de seu conteúdo pôde fornecer indicadores úteis a respeito dos arranjos estruturais relacionados à RSE, principalmente.

Na análise dos dados coletados via pesquisa bibliográfica e documental, atentamos para a identificação de elementos de alguma maneira relacionados ao movimento pela RSE, ao longo

da História. Deve ser ressaltado que não fez parte do escopo da pesquisa a análise histórica da formação e estruturação do Campo, mas que, com a descrição do processo foi possível tecer um pano de fundo para entendimento daquilo que caracteriza este grupo de organizações como um campo organizacional, na linha da Teoria Institucional. Assim, com este passo, foi possível realizar a análise referente à institucionalização da prática social no Campo – conforme o modelo de análise exigiu.

Em relação às entrevistas, estas foram transcritas, parte pela pesquisadora e parte por terceiros, a fim de possibilitar melhor avaliação dos discursos e informações. Para visualização do material disponível, as entrevistas foram catalogadas, conforme apresentado no Quadro 3. Os códigos apresentados na primeira coluna – E1, E2, E3, por exemplo –, são utilizados ao longo dos capítulos para referenciar as respectivas entrevistas. Assim, quando trechos ou informações derivados de determinada entrevista forem utilizados, serão referenciados com este código. Os nomes dos entrevistados não foram mencionados, uma vez que entendemos que todos são reprodutores do discurso, embora alguns tenham maior ou menor conhecimento para falar em nome do Campo, em decorrência de sua vivência/experiência.

Devemos ressaltar que nem todas as entrevistas foram explicitamente mencionadas no trabalho, dada a redundância verificada nos discursos. Muitas entrevistas confirmam/reproduzem o discurso da anterior, evidenciando que a RSE está tornando-se uma instituição, uma vez que já faz parte, em alguma medida, das percepções coletivas dos atores do Campo. Outras entrevistas foram utilizadas unicamente como fonte de informações sobre as ações das organizações/atores. Entretanto, todas as entrevistas realizadas, as formais e as informais, foram úteis (e utilizadas), no sentido de que ajudaram a compor um quadro da RSE no Campo e, assim, cumprir o objetivo geral da tese.

No Quadro 3 está também identificado o nome da organização e o número de participantes de cada entrevista, quando mais de um; a seguir, o cargo e o departamento a que o entrevistado está vinculado, para entender sob que referencial/visão ele reproduz o discurso. Quanto ao assunto/ênfase da entrevista, entendemos que esta informação é relevante para evidenciar que em alguns casos foram tratados assuntos específicos, voltados a algum produto ou processo organizacional. Em outros casos, normalmente com os altos executivos das organizações ou

com pessoas vinculadas aos departamentos/áreas de RSE, tratou-se de uma visão mais geral do fenômeno. As datas das entrevistas foram mantidas para evidenciar o caminho percorrido.

Ao analisar as entrevistas, além de atentar para as categorias identificadas no modelo de análise, buscamos interpretar os discursos com uma leitura cuidadosa que costura texto e contexto, examinando o conteúdo, a organização e as funções do discurso (COSTA, 2003). Iniciamos a análise pelas entrevistas realizadas com pessoas relacionadas diretamente às estruturas voltadas à RSE e as entrevistas realizadas com altos executivos das organizações – identificadas no campo “Assunto/ênfase” do Quadro 3 como Geral ou RSE –, para compreensão, principalmente, do caminho e dos interesses envolvidos no processo de institucionalização da RSE. Entendemos que nessas entrevistas poderíamos melhor captar o discurso de justificação da inserção das organizações do Campo no movimento pela RSE.

Em seguida, foram analisadas as entrevistas relacionadas especificamente às ações e produtos bancários, realizadas em sua maioria com pessoas das áreas técnicas das organizações. Buscamos efetuar uma comparação, entre diversas organizações, para o mesmo produto ou grupo de ações, em alguns casos específicos, como os fundos de investimento socialmente responsáveis, por exemplo.

Dessa forma, principalmente nas organizações em que realizamos mais de uma entrevista, os dados obtidos foram interpretados, sobrepostos e cotejados, ou seja, buscou-se verificar em que medida um discurso complementa e/ou reforça o outro, se existe um discurso que permeia toda a organização e que não se confunde com posicionamentos pessoais dos entrevistados. Além disto, buscamos verificar se este discurso reflete-se nas ações, políticas e procedimentos, via análise de documentos. Ressaltamos mais uma vez que a avaliação das ações não foi objeto do estudo, mas a análise buscou confirmar a suposição de pesquisa de que muitas vezes a prática é diferente do discurso nas organizações, em termos de sua RSE.

Mais do que simplesmente cotejar dados, contudo, é a conversação reflexiva que buscamos, tal qual apresentado no início deste capítulo. É com base numa análise interpretativa, que visa não explicar, mas compreender a dinâmica de institucionalização da RSE, que tratamos os dados da pesquisa. Temos consciência de que, muitas vezes, pode-se captar mais nas entrelinhas dos discursos do que nas próprias palavras. É para essa dimensão que estivemos atentos, pois ela pôde apontar objetivos não-ditos e intenções não reveladas. Por outro lado,

em alguns casos, foi preciso cotejar informações das entrevistas com outras fontes, como documentos internos e/ou publicações de jornais, revistas etc, visando compreender a informação transmitida nas entrevistas, por exemplo.

Como já afirmamos, em não se tratando de um estudo de múltiplos casos, mas da compreensão da dinâmica da institucionalização da prática social no campo selecionado, o estudo não se restringiu à verificação do fenômeno nos maiores bancos estabelecidos no Brasil; todavia, estes mereceram especial atenção, uma vez que há a suposição de que eles conduzem o processo no Campo. Estudos mostraram que quando organizações grandes e centralizadas são inovadoras e logo adotam uma estrutura, esta estrutura tem mais probabilidade de se tornar totalmente institucionalizada do que outras (TOLBERT e ZUCKER, 1999).

Ainda, considerando que o estudo dos determinantes do processo de institucionalização requer trabalho comparativo sobre o desenvolvimento e propagação de diferentes esturturas (TOLBERT e ZUCKER, 1999), buscamos fazê-lo dentre as organizações do Campo. Assim, nas análises produzidas procuramos seccionar bancos públicos e bancos privados, de capital nacional e também de capital estrangeiro. Como se verá, esta segmentação se mostrou inócua, tendo sido necessário buscar-se outro caminho para a interpretação.