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Apelação Cível – Turma Espec. III – Administrativo e Cível Nº CNJ: 0006573‑65.2012.4.02.5101 (2012.51.01.006573‑8) Relator: Desembargador(a) Federal Alcides Martins Apelante: Andre Luis Ferraz Arantes

Defensor Público: Defensoria Pública da União Apelado: Ministério Público Federal

Procurador: Procurador Regional da República

Origem: 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro (00065736520124025101)

ementa

ADMINISTRATIVO – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – SERVIDOR PÚBLICO – CONDUTA ÍM- PROBA CONFIGURADA – VANTAGEM INDEVIDA – RESSARCIMENTO – NECESSIDADE – RECUR- SO DO RÉU IMPROVIDO

1. Trata-se de apelação interposta por Andre Luis Ferraz Arantes em face da sentença que, complementada pelo decisum de fls. 2482/2484, nos autos da ação por ato de improbidade ajuizada pelo Ministério Público Federal, julgou procedente o pedido, conde- nando o réu, em razão do alto grau de culpabilidade apresentado, ao ressarcimento dos danos causados à Administração Pública, a serem apurados em liquidação; perda da função pública; suspensão dos di- reitos políticos por 8 (oito) anos e pagamento de multa civil de duas vezes o valor do dano; proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios fiscais ou creditícios direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majo- ritário pelo prazo de cinco anos.

2. Em virtude do afastamento da prevenção deste feito com os autos do Processo nº 0003129-58.2011.4.02.5101 foi suscitado o conflito de competência o qual declarou competente, para processar e julgar a presente ação, o Juízo da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro. 3. O Ministério Público Federal propôs ação civil pública por im- probidade administrativa em face de Andre Luiz Ferraz Arantes, ob- jetivando a condenação do réu nas penas consignadas nos incisos I, II e III do art. 12 da Lei nº 8.429/1992, em razão da violação ao

art. 9º, caput e inciso I; art. 10, caput e incisos I, II, VII, IX e XII e art. 11, caput e inciso I da referida lei.

4. Segundo o MPF, consoante decidido no Processo Administrativo Disciplinar nº 46141.000746/2007-94 do Ministério do Trabalho e Emprego e Inquérito Civil Público nº 1.30.012.000025/2010-60, o réu foi responsável pela inserção de dados falsos no sistema do Setor de Pessoal da Delegacia Regional do Trabalho do Rio de Janeiro – DTR/RJ, de modo a efetivar alterações e inclusões indevidas nesta base de dados do sistema informatizado de pagamento de pessoal para obter vantagens pecuniárias indevidas em beneficio próprio e alheio, violando os artigos acima mencionados da Lei nº 8.429/1992. 5. A respeito da conexão com os autos do Processo nº 0003129- 58.2011.4.02.5101 é certo que a sentença que extinguiu o feito sem resolução do mérito, em relação ao ora apelante Andre Luis Ferraz Arantes, foi confirmada em grau de recurso em julgamento ocorrido no dia 05.12.2017, a afastar a possibilidade de decisões conflitantes. 6. Conforme consta do Processo Administrativo Disciplinar nº 46141.000746/2007-94 acostado aos autos às fls. 10/2178, con- firma-se a prática de atos de improbidade administrativa realizados pelo réu.

7. Ademais, o apelante foi condenado, nos autos da Ação Penal nº 0038711-85.2012.4.02.101, pelos mesmos fatos que ora lhe são imputados, conforme se constata de fls. 2397/2430, sendo a prova emprestada juntada aos autos, garantindo-se o contraditório (fls. 2431 e 2446).

8. A sentença condenatória (fls. 2414/2418) já transitada em julgado (fl. 2423) considerou comprovada a materialidade do crime, em vir- tude do teor do PAD 46141.000746/2007-94 que culminou com a demissão do ora apelante. Com efeito, constatou que as testemunhas inquiridas em Juízo confirmaram a autenticidade do relatório conclu- sivo lavrado no âmbito administrativo, esclarecendo que o acusado, ora apelante confessou ter cometido dois dos crimes noticiados na- quela peça acusatória, quais sejam a inserção de “falsos elementos

que lhe propiciaram a obtenção de vantagens pecuniárias indevidas, negando, todavia, o remanescente da acusação”. Concluiu o Juízo

criminal que o relatório realizado no âmbito administrativo, “foi per-

da que o acusado recuse a autoria pelos dois últimos episódios que lhe são indigitados, não há elementos que autorize o descrédito àque- le documento. Foi elaborado por servidores técnicos responsáveis, que esquadrinharam as condutas e que não tinham qualquer motivo para, graciosamente, pretender indigitar responsabilidade a quem sa- beriam inocentes. Portanto, a mera negativa de autoria, insulada e divorciada dos demais elementos de prova constantes do processo, não é o que basta para infirmar a tese acusatória, injustamente estig- matizada pela defesa”.

9. Assim, o Juízo a quo reconheceu a conduta praticada pelos réus, como ato de improbidade administrativa, aplicando as penas previs- tas no art. 12 da Lei nº 8.429/1992, e ao formar seu convencimento para o fim de julgar a presente ação levou em conta as provas acima mencionadas.

10. Constata-se, portanto, que o réu valeu-se de sua função, lotado que estava no Setor de Pessoal da Delegacia Regional do Trabalho no Estado do Rio de Janeiro, onde tinha livre acesso ao sistema informa- tizado da folha de pagamento, o que acabou por lhe beneficiar, pois facilmente poderia fraudar o sistema, incluindo vantagens indevidas em seu contracheque, além de outras vantagens ao também servidor Cláudio Ricardo Alves de Araújo.

11. O Juízo a quo acertadamente aplicou as penas de ressarcimento integral do dano, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios fiscais ou creditícios direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário. 12. A multa arbitrada trata-se de mera sanção pecuniária, configuran- do-se em objetivo o critério adotado pelo Juízo a quo para o arbitra- mento do seu valor.

13. Recurso conhecido e improvido.

aCórdão

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, decidem os membros da 5ª Turma Especializada do Tribunal Regional Fe- deral da 2ª Região, por unanimidade, negar provimento ao recurso de ape- lação do réu, nos termos do voto do Relator.

Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2017 (data do Julgamento). Alcides Martins

Relator

relatório

Trata-se de apelação interposta por Andre Luis Ferraz Arantes em face da sentença (fls. 2447/2463) que, complementada pelo decisum de fls. 2482/2484, nos autos da ação por ato de improbidade ajuizada pelo Ministério Público Federal, julgou procedente o pedido, condenando o réu, em razão do alto grau de culpabilidade apresentado, ao ressarcimento dos danos causados à Administração Pública, a serem apurados em liquidação; perda da função pública; suspensão dos direitos políticos por 8 (oito) anos e pagamento de multa civil de duas vezes o valor do dano; proibição de con- tratar com o Poder Público ou receber benefícios fiscais ou creditícios direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário pelo prazo de cinco anos.

Em suas razões de fls. 2471/2474, o réu alega, em síntese, que a sen- tença merece parcial reforma, com a redução das penas imputadas.

Contrarrazões do MPF, às fls. 2492/2495.

O MPF, em seu parecer de fls. 2504/2507, opina pela manutenção da sentença.

É o relatório. Alcides Martins Relator

voto

Nos autos do Processo nº 0003129-58.2011.4.02.5101, o Juízo

a quo após analisar acerca da possibilidade de prevenção com estes au-

tos, decidiu pela sua inexistência, porque, nos autos daquela demanda, a questão controvertida cingia-se a averiguar suposta prática de atos de im- probidade administrativa apurados nos PADs 47694.002069/2007-53 e 46141.000902/2007-17, enquanto nos autos deste feito o debate girava em torno de suposta conduta ímproba apurada no PAD 46141.000746/2007-94.

Desta forma, em virtude do afastamento da prevenção, foi suscitado o con- flito de competência às fls. 2181 destes autos.

O aludido conflito de competência foi conhecido a fim de declarar competente, para processar e julgar a ação de improbidade administrativa nº 2012.51.01.006573-8, o Juízo da 17ª Vara Federal do Rio de Janeiro (fl. 2276).

Na origem, o Ministério Público Federal propôs ação civil pública por improbidade administrativa em face de Andre Luiz Ferraz Arantes, ob- jetivando a condenação do réu nas penas consignadas nos incisos I, II e III do art. 12 da Lei nº 8.429/1992, em razão da violação ao art. 9º, caput e inciso I; art. 10, caput e incisos I, II, VII, IX e XII e art. 11, caput e inciso I da referida lei.

Segundo o MPF, consoante decidido no Processo Administrativo Dis- ciplinar nº 46141.000746/2007-94 do Ministério do Trabalho e Emprego e Inquérito Civil Público nº 1.30.012.000025/2010-60, o réu foi responsável pela inserção de dados falsos no sistema do Setor de Pessoal da Delegacia Regional do Trabalho do Rio de Janeiro. DTR/RJ, de modo a efetivar alte- rações e inclusões indevidas nesta base de dados do sistema informatizado de pagamento de pessoal para obter vantagens pecuniárias indevidas em beneficio próprio e alheio, violando os artigos acima mencionados da Lei nº 8.429/1992.

A respeito da conexão com os autos do Processo nº 0003129- 58.2011.4.02.5101 é certo que a sentença que extinguiu o feito sem reso- lução do mérito, em relação ao ora apelante Andre Luis Ferraz Arantes, foi confirmada em grau de recurso em julgamento na sessão do dia 05.12.2017, a afastar a possibilidade de decisões conflitantes.

O termo improbidade significa desonestidade, má índole, isto é, falta de integridade, de lisura. Ao contrário, a probidade está relacionada a hon- radez, boa-fé, honestidade.

A finalidade da lei de improbidade é penalizar é aquele ato dotado de efetiva má-fé, baseado na desonestidade, na corrupção, comprometedor da moralidade, e suscetível de abalar as instituições, caracterizados nestes autos, aplicando sanções àquele agente público que, no exercício de suas funções, cause prejuízo ao erário, promova o enriquecimento ilícito, que conceda ou aplique indevidamente benefício financeiro ou tributário, ou ainda, viole os princípios da administração pública (arts. 9º, 10, 10-A e 11 da Lei nº 8.429/1992).

Além disso, para a aplicação das penalidades decorrentes da referida lei desnecessária a efetiva ocorrência de dano ao patrimônio público, salvo quanto à pena de ressarcimento (art. 21).

A distinção entre conduta ilegal e conduta ímproba imputada a agen- te público ou privado é muito antiga. A ilegalidade e a improbidade tem cada uma delas a sua peculiar conformação estrita. Assim, nem todo ato administrativo irregular, inclusive que ofenda a legalidade pode ser enqua- drado na Lei de Improbidade.

Conclui-se, então, que para a caracterização do ato de improbidade basta que a conduta praticada afronte os princípios da administração públi- ca, mesmo que dele não advenham prejuízos para a administração.

O caput do art. 37 da Constituição Federal ao determinar quais os princípios que devem ser observados pela administração inseriu dentre eles o da moralidade, significando que o administrador em sua atuação deva atender aos ditames a este princípio relacionados tais como: ética, lealdade, boa-fé.

Logo, para a tipificação das condutas descritas nos arts. 9º e 11 da Lei nº 8.429/1992 é indispensável para a caracterização de improbidade, que o agente tenha agido dolosamente e, ao menos, culposamente, nas hipóteses do art. 10 (atos ímprobos que causam prejuízo ao erário).

Neste aspecto, todo o acervo probatório apontou inequivocamente para a existência de ato de improbidade.

Com efeito, o Juízo a quo acertadamente concluiu que a prova dos autos direciona para a prática de atos de improbidade administrativa, nos moldes do art. 9º, caput e inciso I; art. 10, caput e incisos I, II, VII, IX e XII e art. 11, caput e inciso I da Lei nº 8.429/1992 e considerando que a trans- gressão maior foi ao art. 10, aplicou as penas indicadas no art. 12, II da referida lei.

Especificamente em relação ao caso em apreço, como bem ponderou o Juízo a quo conclui-se que o réu praticou conduta comissiva dolosa, em razão do exercício de cargo público, causando prejuízo à Administração Pública, violando ademais os deveres de imparcialidade e legalidade.

Conforme consta do Processo Administrativo Disciplinar nº 46141.000746/2007-94 acostado aos autos às fls. 10/2178, confirma-se a prática de atos de improbidade administrativa realizados pelo réu. A esse propósito, confira-se a conclusão a que chegou a Comissão do menciona- do PAD, após analisar os fundamentos apresentados pela defesa, conforme

fls. 1026/1065, no sentido de considerar procedentes as condutas e as capi- tulações descritas no Termo de Indiciação de fls. 960/977:

1. Incluiu vantagem financeira, em benefício próprio, na folha de pagamento do mês de abril de 2007, para aumentar irregularmente o valor da sua remu- neração, fls. 964/965;

2. Incluiu vantagem financeira, em benefício próprio, na folha de pagamento do mês de maio de 2007, a título de abono de permanência de que trata a Emenda Constitucional nº 41, de 2003, no valor de R$ 5.850,00, fls. 965/966; 3. Procedeu reposição ao erário em desconformidade com o que determi- na o § 2º do art. 46 da Lei nº 8112/1990, incluída na folha de maio/2007, fls. 966/967;

4. Obteve vantagem financeira indevida, por meio de lançamentos na folha de pagamento de valores majorados a título da Vantagem Pessoal Nominal- mente Identificada – VPNI, fls. 967/968;

5. Beneficiou-se com vantagem financeira indevida, por meio da inclusão de dados irreais no Sistema SIAP, gerando, com isso, transformação de um quinto (1/5) incorporado de Função Gratificada – FG 03 para um quinto (1/5) de Direção e Assessoramento Superior – DAS 1, e, posteriormente, para 2/5 de DAS 2, fls. 968/969;

6. Majorou, indevidamente, o valor das suas parcelas do passivo dos 28,86%, durante o período em que esteve lotado no Setor de Pessoal, obtendo vanta- gens financeiras indevidas, por meio de alteração dos valores constantes no módulo SIAPE do passivo em questão, fls. 969/971;

7. Majorou, irregularmente, as parcelas do passivo dos 28,86% do servidor Claudio Ricardo Alves de Araújo, proporcionando-lhe vantagem financeira indevida, quando ambos estavam lotados no Setor de Pessoal, fl. 971; 8. Beneficiou-se com descontos das antecipações das remunerações das fé- rias usufruídas em 2003 e 2005, de forma parcelada, fls. 971/973;

9. Percebeu, injustificadamente, nos meses de agosto, setembro e outubro de 2006, o valor de R$ 141,60, a título de Gratificação de Desempenho de Atividade da Seguridade Social e do Trabalho – GDASST, conforme ficha financeira dos respectivos meses (fls. 27,158), fls. 973/974;

10. Incluiu número de dependentes que não possuía em seus dados funcio- nais no cadastro do SIAPE, obtendo com essa irregularidade vantagem de retenção a menor do Imposto de Renda Retido na Fonte – IRRF sobre a sua remuneração de, pelo menos, R$ 1.319,03, fls. 974/978;

11. Incluiu número de dependentes irreais do Imposto de Renda Retido na Fonte em benefício do servidor Claudio Ricardo Alves de Araujo, e, com isso,

contribuiu para que o citado servidor se beneficiasse com a retenção a menor do IRRF, fls. 978/979;

12. Incluiu na folha de pagamento do servidor Claudio Ricardo Alves de Araujo o montante que ele fazia jus ao reposicionamento do padrão I para V, da Classe D, do cargo de Agente administrativo, na rubrica da Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada – VPNI, de que trata o art. 62-A da Lei nº 8.112/1990, burlando, com isso, os procedimentos de pagamento de exer- cícios anteriores, beneficiando, assim, o referido servidor Cláudio Ricardo, com o recebimento antecipado de verbas que lhe eram devidas de exercícios anteriores, fls. 979/981.

O apelante, por outro lado, alega que embora tenha confessado parte dos fatos descritos na inicial, não realizou todas as condutas noticiadas, pois parte dos fatos narrados sequer foram praticados pelo setor em que traba- lhava o mesmo, e que decorreram de ordem judicial e ato de ofício, tendo confessado apenas dois dos fatos a ele imputados.

Não se pode olvidar, entretanto, que o apelante foi condenado, nos autos da ação penal nº 0038711-85.2012.4.02.101, pelos mesmos fatos que ora lhe são imputados, conforme se constata de fls. 2397/2430.

A prova emprestada foi juntada aos autos, garantindo-se o contradi- tório (fls. 2431 e 2446).

Segundo o STJ, é possível o translado de provas de processos penais para processos cíveis, desde que a prova emprestada tenha sido validamen- te produzida no processo penal, que as partes do processo penal sejam as mesmas partes do processo cível e que tenha sido obedecido o contraditório no processo cível para onde foi transplantada a prova emprestada do pro- cesso penal.

A sentença condenatória (fls. 2414/2418) já transitada em julgado (fl. 2423), considerou comprovada a materialidade do crime, em virtude do teor do PAD 46141.000746/2007-94 que culminou com a demissão do ora apelante. Com efeito, constatou que as testemunhas inquiridas em Juí- zo confirmaram a autenticidade do relatório conclusivo lavrado no âmbito administrativo, esclarecendo que o acusado, ora apelante confessou ter co- metido dois dos crimes noticiados naquela peça acusatória, quais sejam a inserção de “falsos elementos que lhe propiciaram a obtenção de vantagens

pecuniárias indevidas, negando, todavia, o remanescente da acusação”.

Concluiu o Juízo criminal que o relatório realizado no âmbito administra- tivo, “foi percuciente e exaustivo ao analisar as condutas increpadas”, e que “ainda que o acusado recuse a autoria pelos dois últimos episódios

que lhe são indigitados, não há elementos que autorize o descrédito àquele documento. Foi elaborado por servidores técnicos responsáveis, que esqua- drinharam as condutas e que não tinham qualquer motivo para, graciosa- mente, pretender indigitar responsabilidade a quem saberiam inocentes. Portanto, a mera negativa de autoria, insulada e divorciada dos demais ele- mentos de prova constantes do processo, não é o que basta para infirmar a tese acusatória, injustamente estigmatizada pela defesa”.

Com efeito, como mencionado pelo MPF, em suas contrarrazões à fl. 2494, “as provas reunidas nos autos demonstram a prática de todos os

ilícitos imputados ao apelante, conforme vasta documentação acostada aos autos, em especial oriunda do Processo Administrativo Disciplinar que acompanha a inicial, com destaque para Relatório da Comissão do Processo Administrativo Disciplinar (fls. 2.097/2.135), que detalha todos os elemen- tos colhidos e juntados aos presentes autos, Parecer da Consultoria Jurídi- ca da AGU junto ao MTE (fls. 2.161/2.173), interrogatório do recorrente (fls. 2.002/2.007), e a cópia da sentença condenatória transitada em julgado na espera penal (fls. 2.414/2.418). Não há, portanto, que se falar em insu- ficiência de provas quanto a qualquer dos fatos narrados na inicial, tendo sido amplamente demonstrados os ilícitos praticados pelo apelante”.

Assim, o Juízo a quo reconheceu a conduta praticada pelo réu, como ato de improbidade administrativa, aplicando as penas previstas no art. 12 da Lei nº 8.429/1992, e ao formar seu convencimento para o fim de julgar a presente ação levou em conta as provas acima mencionadas.

Constata-se, portanto, que o réu valeu-se de sua função, lotado que estava no Setor de Pessoal da Delegacia Regional do Trabalho no Estado do Rio de Janeiro, onde tinha livre acesso ao sistema informatizado da folha de pagamento, o que acabou por lhe beneficiar, pois facilmente poderia frau- dar o sistema, incluindo vantagens indevidas em seu contracheque, além de outras vantagens ao também servidor Cláudio Ricardo Alves de Araújo.

Com efeito, sabe-se não haver obrigatoriedade de aplicação cumula- tiva de todas as sanções previstas no art. 12 da Lei nº. 8.429/1992, que po- dem ser fixadas e dosadas segundo a natureza, a gravidade e as consequên- cias da infração, assim, podendo ser aplicadas isolada ou cumulativamente. Logo, a aplicação conjunta de todas as cominações previstas no inciso II do aludido dispositivo deve ser reservada às situações extremas, em observân- cia aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.

Por essa mesma razão, o magistrado, no momento da aplicação des- sas sanções, observando o caso concreto, deve limitar-se àquelas necessá-

rias à consecução dos objetivos da Lei, não podendo simplesmente aplicar em bloco as penalidades previstas.

In casu, o Juízo a quo acertadamente aplicou as penas de ressarci-

mento integral do dano, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefí- cios fiscais ou creditícios direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário.

Condenou, também, o apelante à sanção de multa civil, que se mos- tra compatível com a gravidade dos fatos desta demanda, eis que fixada em duas vezes o valor do dano, dentro do máximo admitido pelo art. 12 da LIA.

Na hipótese, a multa arbitrada trata-se de mera sanção pecuniária, configurando-se em objetivo o critério adotado pelo Juízo a quo para o ar- bitramento do seu valor.

Ante o exposto, conheço do recurso interposto, para lhe negar pro- vimento.

É como voto. Alcides Martins Relator

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