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(4) Maria Estela: O tema da emenda 29? (5) Tutora-orientadora: Ahram!

(6) Maria Estela: Então, é porque eu sou jornalista, né. E eu sempre me

interessei por gestão pública. Então, eu sempre trabalhei em assessoria de imprensa, lidando né? Enfim... com as questões que emanam da esfera política e a saúde sempre foi um tema que me chamou muita atenção. Porque eu sempre via no grande noticiário, né, nas grandes mídias, que a saúde está ruim, a saúde está ruim, mas eu quero saber assim: por que está ruim?

(7) Tutora-orientadora: E por que está ruim?

(8) Maria Estela: Porque as reportagens não se aprofundam. Então, eu fui

descobrindo algumas coisas. Fui descobrindo que até 88, quando era o esquema do INAMPS, só quem tinha carteira assinada podia usar o sistema de saúde pública, o restante era atendido pela rede filantrópica. E com a criação do SUS em 88 uma leva de pessoas, quer dizer, os desempregados mais as pessoas do campo também, foram aceitos, né? O sistema foi universalizado. Então, evidentemente, se precisa de muita grana. E aí, eu comecei a pesquisar. E existe um consenso entre os especialistas no tema de que é preciso mais recursos e aí a gente cai em uma seara, em uma celeuma, assim, que remete ao papel do Estado, ao tamanho do Estado, à reforma tributária. Que existem duas correntes básicas. Uma que vai dizer: que tem dinheiro suficiente no país e que é preciso o governo gerir melhor, evitar, enfim, corrupção, né? E vai ter uma outra corrente que vai dizer: gente, a gestão sempre pode melhorar, mas precisa de dinheiro, basicamente. Aí, a Emenda 29, que surgiu em 2000, faz onze anos que foi promulgada, com o intuito de garantir porcentagens mínimas de investimentos em recursos próprios. Veja bem, é qual que é, são transferir as correntes e os impostos arrecadados ali na sua esfera, então ao município ficaram estipulados 15%, aos Estados 12% e o percentual da União ficou de ser decidido, quando a Emenda fosse regulamentada, para ser dito o que é que pode ser considerado como gasto em saúde e o que não pode. Historicamente, a união tem investido cerca de 8 a 10%; isso precisa ser dito na lei também.

(9) Tutora-orientadora: Esse tema tem sido o foco de seu trabalho como

jornalista?

(10) Maria Estela: Também.

(11) Tutora-orientadora: Tem publicado? Tem feito entrevista?

(12) Maria Estela: Na verdade, eu fiz várias entrevistas que estão aí no

trabalho, que não citei a bibliografia exatamente por causa disso, porque eu estou tentando publicar essa matéria, tem tempo, e por causa de questões, justamente da

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emana da esfera política, eu não tenho conseguido. [...] E a realidade, o que nós temos é que o presidente do Sinmed, Sindicato dos Médicos de Minas Gerais, ia dizer: é que exatamente a rede Fhemig está sucateada, tirando o João XXIII que é um cartão de visita, né, é o pronto socorro referência, né, tirando ele, você vai lá ao, acho que Sara Kubitschek63 [...]

(13) Tutora-orientadora: O que te levou a investigar isso, como profissional,

como jornalista?

(14) Maria Estela: Bem.

(15) Tutora-orientadora: É algum caso especial?

(16) Maria Estela: É. Em primeiro lugar, porque eu tenho uma formação

considerada de esquerda, assim, minha mãe, funcionária do governo federal, funcionária pública, meu avô que deu aula aqui no ICEx, [...], ele foi um dos fundadores do partido comunista. Então, essa agenda política sempre esteve muito presente na minha vida. Muito embora, meu pai fosse um cara de direita assumido, um malufista, ele votou no Maluf, nem no Collor foi, no Maluf. Mas então, isso sempre, e os movimentos sociais, né. Eles estavam [...] há muito eles vem denunciando aí essas arbitrariedades do governo Aécio64, que penalizam muito a área social, porque é uma

visão de Estado que vai preconizar exatamente o Estado Mínimo e vai dar mais ênfase a essa gestão empresa do que à gestão cidadã. Então, eu tenho, em primeiro lugar, esse foco. Em segundo lugar, é, aí é uma questão que eu acho que é mais latente ainda, como profissional, como jornalista, profissional da mídia, eu sei muito bem como é que se opera isso aqui no Estado [...]. Então, eu tenho extremo interesse em tornar essas coisas públicas.

(17) Tutora-orientadora: Essa ideia surgiu, o tema surgiu, a partir de quem?

Como foi que foi organizado isso aí?

(18) Maria Estela: O tema surgiu a partir de mim porque exatamente eu já tinha

feito uma matéria que eu estou esperando uma oportunidade de publicá-la. Acho que a semana que vem eu vou conseguir, na internet, não vai sair no impresso, vai sair na internet escondido. Mas enfim, já é alguma coisa, sabe.

(19) Tutora-orientadora: Com certeza, há o público que assiste.

(20) Maria Estela: Exato, e eu vou divulgar também. Gente, pelo amor de Deus,

divulguem, a internet está aí para isso. [tom de apelação na voz]. Mas então, que eu já tinha feito uma matéria sobre isso, está pronta, apurei tudo. E, eu sou mãe, sou

63 João XXIII e Sara Kubistschek são nomes de hospitais que fazem parte da rede Fhemig

(trata de um conjunto de hospitais vinculados ao SUS em Minas Gerais).

64 Refere-se, especificamente, ao governador Aécio Neves, responsável pela gestão anterior à

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jornalista, sou professora de música de criança, preciso dizer, eu tenho 120 alunos todas as semanas, de zero a sete anos.

(21) Tutora-orientadora: Você toca o quê?

(22) Maria Estela: Toco piano, violão, canto, toco um pouco de percussão e

trabalho com iniciação musical e musicalização infantil, ferramentas da pedagogia: Piaget, Vygotsky, basicamente, Henri Wallon e um pouco de Paulo Freire, porque eu acredito na educação política. E, além disso, atuo em várias frentes, então eu quero dizer assim: eu não tenho muito tempo de ficar rebuscando. Então, eu resolvi voltar para a escola, estudar Gestão Pública, porque eu quero me aprimorar, aprimorar minha crítica, entender os mecanismos, como funciona essa coisa. Até mesmo para poder propor coisas, criticar e etc. Então, eu não tenho tanto tempo de ficar reinventando a roda. Então, os trabalhos da escola, eu quero contextualizar o meu trabalho. Então, isso aqui já estava pronto, o que é que eu fiz, eu coloquei na linguagem acadêmica. [...]

(23) Tutora-orientadora: Mas, assim, o grupo, como foi se reunindo?

(24) Maria Estela: Quando a professora convidou aquele professor65 de

matemática para mostrar o projeto, eu fiquei encantada, porque é exatamente aquilo que eu gostaria de fazer [...]. Então, quando eu vi aquele trabalho do professor eu falei: _Meu Deus, o que me falta é esse aporte da matemática.

(25) Tutora-orientadora: No caso foi você que escolheu o tema e as pessoas

foram se juntando ou já existia uma relação de amizade ali?

(26) Maria Estela: Não, pois é, aí quando eu vi, eu falei: _Nossa, mas tem que

ser a Saúde. Aí, quando a professora falou: _Vamos colocar os temas dos grupos; eu falei: _Professora, com licença, eu quero propor um tema, Saúde pública em Minas Gerais. Aí no dia da escolha dos grupos, eu falei: professora eu tenho um tema e pode ser que alguém queira se juntar a mim, então, as pessoas vieram.