• Nenhum resultado encontrado

UBERLÂNDIA NO CONTEXTO REGIONAL

No documento I S S E R T A Ç Ã O D EM ESTRADO (páginas 102-107)

Uberlândia, área de estudo, localiza-se no sudoeste do Estado de Minas Gerais, na região do Triângulo Mineiro. Considerada uma cidade média, o município apresenta uma área de 4.115 km² cuja parcela urbana representa apenas 219 km², ou seja, 5,11% do território onde está concentrada cerca de 93,70% de uma população constituída, em 2003, por 552.649 habitantes que se distribuem entre os distritos sede, Martinésia, Cruzeiro dos Peixotos, Miraponga e Tapuirama (PMU, BDI- 2004), ver Figura 3.1

LEGENDA CIDADES LIMITE DE MUNICÍPIOS LIMITE DE ESTADOS Gr ande TRIÂNGULO MINEIRO MAPA 2 LOCALIZAÇÃO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA FONTE:IBGE-1996

ORGANIZAÇÃO:DENISE LABREA FERREIRA

Figura 3.1 – Localização do município de Uberlândia.

É o terceiro município mineiro em termos populacionais e o primeiro na região do Triângulo Mineiro. O crescimento populacional deve-se as suas atratividades econômicas, infra-estrutura, à mecanização do campo que, em períodos remotos, e, segundo Guerra (1998), devido a uma propaganda, ou melhor, discurso, pelos promotores da imagem da cidade, como centro de desenvolvimento, de amplas oportunidades e qualidade de vida, difundiu um modelo rumo à modernização. Por muito tempo buscou-se propagar uma imagem de progresso e de desenvolvimento encontrados em poucas cidades do país.

Guerra (1998) afirma que os estreitos laços através do transporte ferroviário e rodoviário com as duas cidades planejadas, na época, Belo Horizonte e Goiânia, no final da década de 1940, foram determinantes na construção de um imaginário coletivo, apresentando reflexos diretos na prática administrativa que buscava padrões estéticos para a configuração da imagem da cidade.

Recebeu, inclusive o codinome de “Cidade Jardim ” pelas suas praças, cujo intento era destacar a estética, beleza e prosperidade da cidade, principalmente onde a questão da salubridade e os preceitos higienistas eram fatores preponderantes no desenho, ou melhor, nas áreas de maior valorização do solo urbano. A propaganda desejada e espalhada pelas elites e governo local, além dos incentivos fiscais, atraiu indústrias, incentivou o comércio interno, atraiu migrantes de diversas cidades próximas e de outras regiões do país.

A Tabela 3.1 mostra o surto de crescimento sofrido pelo município, onde em duas décadas a população mais que duplicou, concentrando-se principalmente na zona urbana.

Tabela 3.1 – Crescimento populacional em Uberlândia, MG- 1980/2003

Censo/Anos

Área 1980 1991 1996¹ 2000² 2001³ 2002 2003 Urbana 231.598 358.165 431.744 488.982 505.167 521.888 539.162

Rural 9.363 8.896 7.242 12.232 12.637 13.055 13.487 Total 240.961 367.061 438.986 501.214 517.804 534.943 552.649 Fonte: IBGE apud BDI 2001, PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA (2004). 1 Contagem populacional /IBGE/1996

2 Contagem populacional /IBGE/2000 3 Estimativa populacional 2002.

O desenvolvimento e a evolução urbana deveu-se a sua posição geográfica, a princípio, configurando-se como rota de passagem para migrantes que, na busca de ouro e diamantes na região de Goiás, incentivaram a ocupação do Brasil Central.

Construção de estradas, melhorias na infra-estrutura, articulação com São Paulo, onde a cultura predominante era o café, possibilitaram a inserção da cidade na economia regional, já que caberia ao Triângulo Mineiro o suprimento de outros gêneros alimentícios.

A região do Triângulo Mineiro foi palco de peregrinação das bandeiras na ocupação do interior do país. Pertenceu, a princípio, à capitania do Rio de Janeiro até início de 1700. Esteve ligada à São Paulo, em 1744. No momento da emancipação de Goiás, a região passou a pertencer a esta província. A anexação definitiva do Triângulo a Minas Gerais, após disputas com Goiás, data do ano de 1816.

A localização e a manutenção das comunicações com os principais centros urbanos do Sudeste e do Centro Oeste, apresentando-se como entroncamento rodo-ferroviário, lhe confere condição de destaque na economia regional e nacional, sendo um dos principais pólos atacadistas da América Latina.

Sua economia baseia-se, nas atividades agrícolas de produção de grãos e pecuária, enquanto os setores secundário e terciário, que se sobrepõem àquelas atividades, apresentam destaque nas indústrias de transformação e beneficiamento, transações mercantis, prestação de serviços e comércio atacadista.

Entre os produtos comercializados e beneficiados, voltados inclusive para exportação estão a soja, o milho, feijão, arroz. Os hortifrutigranjeiros também se encontram no rol dos produtos beneficiados e comercializados no setor industrial de Uberlândia. Entre eles, a banana, café, laranja e atividades de olericultura (PMU, BDI, 2003).

Os estabelecimentos cujo ramo de atividade insere-se na agricultura, além das atividades de comercio varejista, ramo da atividade em estudo, apresentam grande representação e um número crescente de estabelecimentos frente aos demais setores da atividade econômica, conforme demonstrado o crescimento na Tabela 3.2.

Tabela 3.2 – Evolução do número de estabelecimentos por atividade econômica

Subsetor da economia 1996 1997 1998 1999 2000 Agricultura, silvicultura, criação de

animais e extrativismo vegetal. 891 882 932 988 1.044 Comércio varejista 2.694 2.932 3.198 3.448 3.703 Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP) e Centro de Estatística e Informações (CEI) apud BDI 2003, PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA (2004).

A pesquisa O-D, elaborada pela Prefeitura em 2002, revela que, entre a população urbana ocupada de Uberlândia, o mercado de empregos formais corresponde a 52,7% e o informal a 43,9%. Esses distribuídos, entre os setores da atividade econômica, da seguinte forma: serviços correspondem a 35,78%, comércio, 23,83% e indústria de transformação a 14,79%. Conforme o estudo, a agropecuária participa com 3,3% do PIB municipal, a indústria com 45,7% e os serviços com 51,0%, em média.

Observa-se, da mesma forma que vêm ocorrendo em todo o país, uma preponderância dos setores de serviço, fato que interfere na configuração dos ramos de atividades entre os diversos centros de comércio, inclusive os shopping centers.

A pesquisa ainda revela a distribuição de renda da população durante a década de 1990, afirmando que houve uma mudança nos padrões de distribuição, ou seja, um aumento relativo dos níveis de renda, bem como uma melhor distribuição da mesma, demonstrado no Quadro 3-1

Quadro 3-1–Distribuição de renda em Uberlândia, MG – 1990-2000

1990 2000 Faixas de rendimento Famílias (%) Famílias (%) 0.0 - 0,5 SM 4.670 5,1 546 0,4 0,6 – 1.0 SM 11.293 12,4 15.873 11,7 1.1 – 2.0 SM 23.030 25,4 30.006 22,2 2.1 – 3.0 SM 16.084 17,7 21.048 15,6 3.1 – 5.0 SM 15.152 16,7 25.869 19,1 5.1 – 10.0 SM 12.613 13,9 24.627 18,2 10.1 – 15.0 SM 4.018 4,4 6.498 4,8 15.1 – 20.0 SM 1.521 1,7 4.519 3,3 > 20.0 SM 2.374 2,6 6.115 4,5 Total 90.755 100,0 135.101 100,0

Fonte: IBGE (2000) apud PMUe FECIV (2002)

A implantação do distrito industrial, na década de 1960, impulsionado pelos incentivos estaduais, permitiu que diversas indústrias voltassem seus interesses e investimentos para a

região. As indústrias de destaque estão inseridas no setor agrícola de produção; fato que nos dias atuais, com o destaque dado pelo Governo ao agronegócio, e, mesmo em períodos anteriores, permitiu que Uberlândia apresentasse níveis de arrecadação e um PIB – Produto Interno Bruto superior ao de diversas cidades do Estado, vide Tabela 3.3.

Tabela 3.3 – Crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) total em porcentagem, e por Habitante em municípios de Minas Gerais (1987 -2000)

PIB (total) PIB (por habitante) Município 85/97 91/97 98/00 99/00 85/97 91/97 98/00 99/00 Belo Horizonte 1,80 1,24 (1,85) (4,42) 0,16 0,52 (2,74) (5,28) Contagem 1,32 3,16 4,09 6,87 (1,52) 1,25 2,33 5,07 Uberlândia 5,36 6,05 7,37 10,76 1,68 2,25 4,22 7,54 Minas Gerais 2,70 3,29 3,34 5,09 1,37 2,07 2,13 3,87 Fonte: Fundação João Pinheiro (FJP) e Centro de Estatística e Informações (CEI) apud BDI 2003, PREFEITURA MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA (2004).

(1) Inclui a intermediação dos serviços financeiros

A condição econômica associada a um mercado consumidor relevante, onde se destaca também, o setor varejista do comércio, permite-lhe uma condição de auto-sustentabilidade, fato determinante para a sua polarização, desejada pelas demais cidades do Triângulo Mineiro. A condição de independência do Triângulo, em relação ao Estado de Minas Gerais, levantou inclusive os ânimos para a formação de um estado independente e desarticulação de Minas Gerais.

Quanto à sua evolução e expansão urbana, a Pesquisa O-D (Origem-Destino _ 2002), realizada pela Secretaria Municipal de Trânsito e Transportes e Universidade Federal de Uberlândia, relata que a cidade apresenta crescimento típico de conformação radial. Entretanto, seu traçado é, em essência, uma malha xadrez, como em grande parte das cidades brasileiras. Esta conformação radial associada ao traçado ortogonal revela um adensamento na área central da cidade e ocupação das áreas periféricas caracterizada por gabarito mais horizontal.

A expansão do perímetro urbano deveu-se a incorporação de terras agrícolas e chácaras para a implantação de bairros populares e conjuntos habitacionais, dentro de uma conjuntura política e econômica de déficit habitacional, incrementado pelo número de pessoas que se deslocavam para a zona urbana da cidade.

A cidade se expandiu sem a preocupação com problemas futuros. A especulação imobiliária confundia-se com o poder local que, na medida de seus interesses, modificava

o contorno do limite urbano deixando lacunas à espera de valorização. Soares (1988) afirma que, na década de 1980, 56,5% dos terrenos em Uberlândia encontravam-se desocupados.

A segregação espacial, observada nos bairros periféricos entremeados de vazios urbanos, proporcionará uma dinâmica própria para certos bairros, na tentativa de suprir a carência de serviços, comércio local e outros usos que dão vitalidade às áreas urbanas que não apenas o uso residencial; tentativa de suprir o fator distância dos centros de comércio, a carência de infra-estrutura de transporte e serviços básicos. A partir deste momento, como defende Araújo Sobrinho (1998), o processo de polinucleação passa a tornar-se evidente no meio urbano, caracterizando novas áreas centrais em Uberlândia.

Para compreender o processo que levou Uberlândia a atingir a situação de destaque frente aos demais municípios, sobressaindo-se como cidade – pólo, faz-se necessário conhecer um pouco da sua história e evolução urbana, descrito detalhadamente por Soares (1994) e outros autores que se dedicaram ao estudo do crescimento da cidade.

No documento I S S E R T A Ç Ã O D EM ESTRADO (páginas 102-107)