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processo decisório, isto é, não foram suficientes para ameaçar o projeto político que vinha sendo desenvolvido desde 1970. É certo que, ao longo de quinze anos, foi promovida uma série de rearranjos e adaptações, que muitas vezes os gerentes do sistema de controle sobre PI e TT procuraram acomodar determinados conflitos e tiveram que ceder, em um ou outro aspecto, a pressões provenientes do sistema produtivo. Contudo, a essência do projeto político gestado na década de 60, e posto em prática a partir do governo Médici, manteve-se durante todo o período analisado, não surtindo a oposição exercida por um ou outro segmento empresarial efeitos que comprometessem a continuidade das políticas institucionais. Se as conseqüências, em geral, foram benéficas ou prejudiciais ao processo nacional de desenvolvimento industrial, é algo que não pretendemos aqui precisar. Esta seria uma questão que exigiria um outro tipo de análise, pautada em instrumentos teórico-metodológicos distintos dos que procuramos até aqui utilizar.

execução de diagnósticos das deficiências do sistema, visando sua gradual reestruturação, o que envolvia uma ampla modificação de recursos e métodos de trabalho. De acordo com o discurso oficial, optou-se pelo gradualismo na implementação das ações reformuladoras, para que um período de transição mais longo pudesse evitar maiores prejuízos a terceiros.329 As ações iniciais da Secretaria de Marcas consistiram na aceleração da apreciação dos depósitos, eliminação de processos irregulares, bem como a modernização e automação dos procedimentos processuais — este último com a assessoria do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO).330 Podemos afirmar, ainda, que a questão do backlog (acúmulo de processos) de marcas foi uma das principais a perpassarem as quatro primeiras administrações da autarquia, constituindo-se a busca por dinamização dos trabalhos de avaliação dos depósitos e diminuição do estoque de pendências como o padrão de atuação dos agentes institucionais em todo o período abordado. Com este intuito, vários outros convênios seriam firmados ao longo destes quinze anos, envolvendo instituições das mais diversas naturezas — como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e a Fundação de Tecnologia Industrial (FTI), por exemplo.331

A partir das estatísticas da instituição, o que se pode perceber é que os depósitos de marcas mantiveram-se crescentes entre 1971 e 1978 — ano em que o número de depósitos alcançou seu pico — passando por uma tendência de queda no quadriênio seguinte. Uma possibilidade de interpretação desta inflexão na curva de depósitos é concebê- la como uma oscilação provocada pela desaceleração da atividade econômica do país, cujos efeitos mais

1976, a instituição passaria por uma grande reestruturação organizacional, recebendo aquela “área-fim” uma nova denominação — Diretoria de Marcas (DIRMA). Para maiores informações sobre a reestruturação organizacional do INPI, estabelecida pelo Decreto n.º 77.483, de 23 de abril de 1976, ver BOLETIM DE SERVIÇO. Rio de Janeiro: INPI, n. 33/34, 30 abr. 1976. p. 1-4.

329 INPI. Relatório das Atividades em 1971..., p. 4-5.

330 Essas e outras informações sobre a atuação da Secretaria de Marcas também podem ser encontradas nos Relatórios Anuais de Atividades. Ver INPI. Relatório das Atividades em 1971..., p. 4-5. _____. Relatório-1972/Programa-1973..., não paginado. _____. Relatório 1970/1973..., não paginado.

331 INPI. Relatório de Atividades 1980 — Plano Geral de Trabalho 1981. Rio de Janeiro: INPI, [1980]. p. 17-20.

graves seriam produzidos nos anos de 1981 e 1982.332 Posteriormente, no biênio 1983-84, a entrada de pedidos no Instituto novamente ganharia um ritmo ascendente.

Tabela I: Pedidos de registros de marcas (1971-1984)

Depósitos Decisões

Anos Total Deferidos Indeferidos e

arquivados Total

1971 22.791 1.185 138.835 140.020

1972 24.201 23 37.508 37.531

1973 26.227 1.970 24.714 26.684

1974 24.571 14.327 21.923 36.250

1975 29.397 46.570 42.013 88.583

1976 34.596 25.141 17.457 42.598

1977 37.916 13.514 15.611 29.125

1978 41.984 36.053 9.643 45.696

1979 38.629 31.949 17.500 49.449

1980 37.839 15.341 27.336 42.713

1981 34.619 37.534 36.109 73.643

1982 33.031 38.269 44.908 83.177

1983 37.789 36.655 39.042 75.697

1984 42.435 29.632 39.584 69.216

Fonte: INPI. Relatórios de Atividades

Embora o número de decisões tenha se mantido em quase todos os anos superior ao número de entradas, a diferença não foi suficiente para acabar com o acúmulo de processos, legado do DNPI. Em 1978, por exemplo, a DIRMA fecharia seu balanço anual com 144.764 processos pendentes, número que cairia paulatinamente nos anos seguintes — em função da diminuição dos depósitos e do esforço de aceleração das análises processuais. Apesar deste último fator ter se constituído em uma das prioridades da administração Arthur Bandeira (1979-1984), o fim do backlog de marcas não foi alcançado.

Um último elemento a considerar é que durante a maior parte do período abordado o índice de indeferimentos e arquivamentos manteve-se maior do que o de deferimentos — com exceção dos anos de 1975, 1976, 1978 e 1979 e 1981. Isto pode nos indicar um efeito do rigor da legislação de propriedade industrial quanto a prazos e exigências,333 cujo descumprimento era motivo principal para eventuais negações de registros. Quanto à acentuada discrepância

332 Teceremos alguns comentários sobre a conjuntura econômica do início dos anos oitenta na seção 4.4.

333 Conforme discutido na seção 3.3.3.

entre deferimentos e indeferimentos/arquivamentos observada no período 1971-1973, podemos atribuí- la a um expurgo realizado pela primeira administração da autarquia em parte dos processos herdados do extinto DNPI.334

4.3.2 Patentes

De acordo com o disposto no Artigo 2º da Lei n.º 5.648/70, ficava o INPI responsável pela concessão de privilégios oferecidos por patentes de invenção, de acordo com as disposições do Código da Propriedade Industrial. O papel da instituição seria, neste aspecto, o de executor e regulador das normas para o campo da propriedade industrial em território nacional, constituindo peça fundamental em uma ampla engrenagem voltada ao desenvolvimento científico-tecnológico nacional. A partir da compreensão do documento de patente como uma importante fonte de informação tecnológica, caberia ao INPI o impulsionamento do sistema de proteção patentária no país, fomentando sua disseminação entre os agentes econômicos nacionais. Para que isso se tornasse possível, na concepção do

“núcleo fundador”, deveria o Instituto promover melhorias nos serviços prestados aos usuários do órgão, buscando a otimização dos procedimentos para concessão de patentes, de forma a garantir a maior eficiência possível nos resultados, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.335

Com este intuito, a atuação dos agentes institucionais estabelecidos da área de patentes336 deu-se, em um primeiro momento, em dois sentidos: resolver os problemas herdados do DNPI — relacionados principalmente ao atraso da resolução dos processos — e

334 COARACY, Gastão Roberto. Os dezoito anos do INPI. Rio de janeiro: INPI, 1988. p. 1-7.

335 Sobre esta diretriz estabelecida pela primeira gestão do órgão, ver, por exemplo, INPI. Relatório-1972/Programa-1973..., não paginado.

336 No momento de criação da autarquia a “área-fim” responsável pela análise e concessão de privilégios de patentes era a Secretaria de marcas, conforme discutido na seção 3.3.3. Com a reformulação organizacional efetuada em 1976, o setor passou a ser denominado Diretoria de Patentes (DIRPA). Ver. BOLETIM DE SERVIÇO. Rio de Janeiro: INPI, n. 33/34, 30 abr. 1976. p. 1-4.