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Uma análise do papel da personagem Gregory House na série

No documento Dr. House : o anti(herói) no texto televisivo (páginas 101-114)

3. A SÉRIE: A NARRATIVA EM TORNO DA PERSONAGEM

3.3 Uma análise do papel da personagem Gregory House na série

De início, o discurso mítico está intrinsecamente atrelado à série no sentido de que remonta a um sistema capaz de gerar novos significados com base na conotação. Nesse sentido, o mito se estabelece no universo clínico em que as personagens se encontram à medida que eles enfrentam os dilemas éticos da medicina em confronto com a prática científica. Há uma atmosfera de controvérsia instalada no cotidiano ficcional do Hospital cuja função é revelar, sobretudo, o quão pouco se sabe sobre o corpo e seu funcionamento; sobre a incapacidade de controlá-lo, o que claramente diz respeito à condição humana. 

A totalidade dos elementos mitológicos de House M.D. concentram-se na figura do médico, concebida como um arquétipo: o sábio e/ou o curandeiro. O próprio David Shore declarou em uma convenção no Paley Center for Media, Estados Unidos, que existe um preconceito em relação aos profissionais da Medicina no inconsciente coletivo dos pacientes que vão aos consultórios sem, de fato, apresentarem problemas graves de saúde. Essa pressuposição deu origem ao protagonista Gregory House, pois seu criador imaginou uma situação em que o doutor tratasse seus pacientes com arrogância.

Em outras palavras, House é um homem que tem plena consciência da proporção em que sua inteligência se encontra diante do indivíduo comum, afinal, ele é visto como o único capaz de chegar a conclusões diagnósticas a partir de seu próprio método de raciocínio, que diverge drasticamente do modo de pensar dos outros médicos, bem como contradiz os protocolos do Hospital do ponto de vista moral. Não é à toa que a única ameaça a sua tranquilidade é a banalidade e a prova disso reside tanto nas indicações constantes dos diálogos veementes sobre convicções sem fundamento, quanto nas evidências iconográficas que constroem a personagem no imaginário do espectador ao longo do desdobramento da narrativa. 

Isso significa que, de verdade, a figura do protagonista está interessada em uma única instância: o prazer pela descoberta. No que se refere à proposta criativa por detrás da narrativa, representa-se sob a forma de um arquétipo do homem da ciência, do discurso da razão absoluta.  

O caráter da personagem é revelado gradualmente ao espectador devido ao projeto narrativo da série (e também por questões comerciais). É possível, inclusive, cogitar a ideia de que apenas se toma conhecimento do seu verdadeiro eu no último ato, quando sua índole caracterizada pela inconsequência e pela obstinação dá lugar a um indivíduo mais humanizado, que se doa ao amigo Wilson. Isso é deixado para o final por conta de uma escolha estética, ou seja, os fragmentos da vida de House são construídos na sucessão de eventos que, distribuídos, totalizam a história após 8 temporadas. 

“Três Histórias”, primeiro episódio a ser apresentado sob uma forma narrativa distinta em relação aos demais, fornece uma pista substancial para a compensação do perfil psicológico do médico, pois até então não havia qualquer indicação do porquê House manca ou por que é dependente de drogas. Pode-se perceber, no capítulo em questão, que sua amargura deriva de um trauma, posterior a uma cirurgia ou mais especificamente: um infarto na perna esquerda cujo diagnóstico demorou a ser feito.  

 

Figura 28: House ao lembrar do infarto sofrido na perna esquerda; Temporada 1, ep:21, 32’. 

Fonte: Netflix 

A razão pela qual o médico está unicamente interessado na resposta para os enigmas se deve a esse fato em particular da biografia da personagem. Ocorre que é nessa medida que seu racionalismo, pautado no método indutivo de investigação filosófica, distorce seu senso de realidade em termos de conduta moral. É como se a consciência de House não sofresse a censura do superego e isso o leva a

crer que as respostas para os paradigmas da ciência seriam suficientes para resolver a busca subjetiva pela felicidade. 

Entretanto, essa equação parece se resolver apenas quando o médico abdica do caminho da racionalização e segue, junto a Wilson, em direção à estrada que apresenta a cena de encerramento do seriado. Do ponto de vista ontológico, House descobre a medida de contentamento para sua existência. Tal critério aplicado à observação da personagem refere-se basicamente ao exame acerca da natureza do ser, tanto no que diz respeito à dimensão ampla e fundamental do indivíduo quanto no que concerne a sua compreensão da realidade. 

A grande ironia que permeia a essência da personagem está associada ao exagero com que House depreende a realidade concreta, ou seja, à parte do enigma, qualquer aspecto inerente às relações humanas torna-se objeto de ridicularização. Isso reflete uma ordem ambígua do sujeito, que pode ser exemplificada no excerto a seguir:

Dr. House: __ Há muito que pode aprender em minha empresa. Poderia te ensinar alguns novos procedimentos... Claro que precisaríamos de uma enfermeira para a preparação. 

Dra. Samira Terzi: __ Eu sei como matar um homem com meu dedinho. 

Dr. House: __ Na verdade, eu estava tentando fazer outro eufemismo para sexo. 

Dra. Terzi: __ Eu também. 

House: __ Deus do céu! 

Dr. Sidney Curtis: __ Como pode flertar com esse idiota? Ele mentiu para nós repetidas vezes... infringiu leis... códigos éticos... 

House: __ Eu estava certo. 

Dr. Curtis: __ Isso não quer dizer tudo. 

Dra. Terzi: __ Quer dizer muito. (House M.D. Temporada 04, Ep. 02, 38’) 

A maneira de agir do protagonista condiz com a concepção de complexidade formulada por Edgar Morin (2006), no sentido de que House não pode ser interpretado unilateralmente, porque sua personalidade transcende durante a história. Trata-se, pois, de uma questão filosófica atribuída à personagem, de modo que é possível afirmar que o médico não se limita ao pensamento cartesiano19,

      

19 Doutrina do pensador francês René Descartes 1596-1650, e de seus seguidores, considerada o marco fundacional da filosofia moderna, por inaugurar a autonomia de uma razão dubitativa, científica e subjetivista em relação ao primado da autoridade tradicional e da crença religiosa.

justamente por se estar lidando com a representação de um sujeito que aceita a mudança e isso o transforma de modo significativo no desfecho. 

House, nesses termos, possui uma natureza dualista. Ao passo que sua inteligência e poder de observação remontam a um valor socialmente aceito, sua arrogância e inclinação para a conduta politicamente incorreta remetem a outro tipo de valor, o qual, apesar de parecer prático no contexto da série, está universalmente estigmatizado. Em parte, o universo da televisão norte-americana é o grande responsável por essa formulação da personagem esférica20, pois tem colocado à prova os padrões da autocensura que o próprio público se impõe. 

No final da terceira temporada, por exemplo, (Episódio 21) uma família vive uma situação de doença grave aparentemente sem solução: um casal passava dificuldades com o quadro de saúde do filho mais velho, quando o mais novo, de repente, demonstra ter a mesma condição genética. Na ocasião, House sugere que os pais sacrifiquem o jovem doente há mais tempo, com o intuito de realizar uma biopsia que revelaria qual a patologia até então intratável. Óbvio que se trata de uma imposição absurda, mas é a partir desse ato que House consegue obter informação para o diagnóstico.

      

20 Diz-se daquelas personagens cuja complexidade se sobressai por força dos traços psicológicos. Além de apresentarem um comportamento singular bem definido, mostram-se imprevisíveis e cheias de contradições. De acordo com a formulação de Edward Morgan Forster (2004), são aquelas que se transformam no decorrer da narrativa, de modo a expressarem a verdadeira natureza humana no interior do cosmos da ficção.

 

Figura 29: Questões éticas da Medicina na série House M.D., Temporada 3, ep:21, 23’. 

Fonte: Netflix 

House, na verdade, configura-se como um modelo clássico de herói, com a distinção de que alguns traço do anti-herói lhe são atribuídos. Afinal, é nessa medida que o médico sacrifica seu próprio

eu pelo próximo. Ao tomar atitudes corajosas, House elimina qualquer premissa de pensamentos

egoístas, não obstante aqueles com quem convive vejam tais ações como posturas inconsequentes.  Ainda a respeito do complexo, embora haja o domínio e a manipulação da razão, a mediação entre House e sua equipe se dá por um caminho tortuoso. A questão é que, apesar de tudo, a vida é preservada como um bem maior e, para tanto, busca-se uma comunicação entre os diversos dogmas subjacentes aos discursos científicos (MORIN, 200021). Dessa forma, a qualidade narrativa da série representa um ponto de convergência que soluciona a contradição do mundo real em detrimento da falta de diálogo entre os diversos ramos do conhecimento. 

A face de negativa de House, ademais, não se constrói no imaginário da audiência somente em função de suas características comportamentais, mas também se manifesta no seu discurso verbal. A fala da personagem é em geral retratada pela ironia e, sobretudo, pelo tom grosseiro com que trata seus

      

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pacientes e colegas de trabalho, sempre menosprezando suas crenças e grau de conhecimento sobre diversos assuntos da vida.  

A esse respeito, afirma Antônio Cândido (2009, p. 21): 

[...] personagens, ao falarem, revelam-se num modo mais completo do que as pessoas reais, mesmo quando mentem ou procuram disfarçar a sua opinião verdadeira. O próprio disfarce costuma patentear o cunho do disfarce. Esta “franqueza” quase total da fala e essa transparência do próprio disfarce [...] são índices evidentes da onisciência ficcional.  

Por outro lado, talvez uma das analogias mais interessantes em relação à criação de David Shore diz respeito à comparação entre o Dr. Gregory House e o detetive Sherlock Holmes, dos romances policiais de Arthur Conan Doyle. O excêntrico mentalista da Literatura Britânica do século XIX tem uma paixão obsessiva pelo campo da Lógica, da mesma forma que ele não se interessa pela resolução dos casos por sentir compaixão de seus clientes. As semelhanças estruturais evidenciam-se no excerto abaixo, extraído de Um Estudo em Vermelho, publicado pela primeira vez em 1887: 

__ Holmes é demasiado científico para o meu gosto [...] 

É o tipo de sujeito que faz um amigo ingerir uma pitada do último alcaloide vegetal22, não por maldade, mas por uma espírito de investigação, porque quer ter uma ideia clara dos efeitos da droga. Por uma questão de justiça, é preciso que se diga que ele também estaria disposto a tomar o alcaloide. Parece ter paixão pelo conhecimento exato e definido. 

__ Por mim, não há nada errado nisso. 

__ Sim, contanto que não se chegue a excessos. A situação muda quando se passa a dar pauladas nos corpos na sala de dissecação. 

__ Dar pauladas nos corpos? 

__ Sim, para verificar quanto tempo depois da morte o corpo pode apresentar escoriações. Vi Holmes fazer isso com meus próprios olhos. 

__ E você diz que ele não é estudante de medicina? 

__ Não. Só Deus sabe o que ele estuda. Bem, aqui estamos [...] 

Via-se apenas um estudante no laboratório. Ele estava curvado sobre uma mesa distante e absorvido em seu trabalho. Ao ouvir nossos passos, olhou em torno, ergueu-se com um grito de satisfação. 

      

22 classe de substâncias orgânicas nitrogenadas com características básicas; álcali natural [Encontradas em plantas vasculares e em alguns fungos, tb. podem ser obtidas por síntese, muitas possuem ação terapêutica, p.ex., a morfina, a estricnina, a atropina etc.].

__ Descobri! Descobri! – dizia a meu companheiro, enquanto corria a nosso encontro com um tubo de ensaio na mãos. – Descobri um reagente que é precipitado pela hemoglobina e por nada mais! 

Se tivesse descoberto uma mina de ouro, não poderia estar mais feliz. 

__ Dr. Watson. Sr. Sherlock Holmes. – disse Stamford, apresentando-nos. 

__ Como vai? – disse cordialmente [...] – Vejo que esteve recentemente no Afeganistão. 

__ Como é que você sabe? [...] 

__ Não importa – respondeu, rindo para si mesmo. – No momento, o que interessa é a hemoglobina. Sem dúvida, você percebe o significado dessa minha descoberta não? 

__ É quimicamente interessante, sem dúvida – respondeu – mas do ponto de vista prático... 

__ Meu caro, esta é a mais prática descoberta médico-legal dos últimos anos! Não vê que é um teste infalível para machas de sangue? [...] (1998, p. 4-5)

Assim como Holmes, a personagem de David Shore tem problemas de convivência social e de aceitar as limitações das outras pessoas (ABRAMS, 2008, p. 57), o que é equilibrado por duas instâncias: seu método de dedução que, por vezes, é irreverente, e o fato de sua inteligência ser praticamente milagrosa. Todavia, a crença na religiosidade sempre é anulada diante do predomínio da razão. Tanto é verdade que House costuma criar pequenos axiomas carregados de ceticismo a fim de reafirmar sua aversão a tudo aquilo que não pertence ao conhecimento prático, como “se você fala com Deus, você é uma pessoa religiosa; se Deus fala com você, você provavelmente é psicótico” (House vs. Deus; temporada 02, Ep.19).

Em particular, a série televisa em questão ultrapassa o ponto da indiferença diante do sofrimento alheio e chega a colocar os pacientes retratados na história em situações de necessidade tão complicadas que chega a parecer cruel. House, por conseguinte, é apresentado para o espectador desde o episódio primeiro como um sujeito obstinado pela resposta, mesmo que para obter informações dos pacientes que sempre mentem para acobertar suas faltas no caráter, o médico tenha que submetê-los a tratamentos tortuosos, conforme se observa no diálogo abaixo: 

House: __ Eu sou o Dr. House 

Paciente: __ É um prazer conhecê-lo enfim. 

House: __ Você está sendo uma idiota. Você tem uma tênia no cérebro. Não é agradável, mas se não fizermos nada, você vai morrer até o final da semana. 

Paciente: __ Você chegou a ver o verme? 

House: __ Quando você estiver melhor, eu te mostro os meus diplomas. 

Paciente: __ Você também tinha certeza de que eu tinha vasculite. Agora eu não posso andar e estou usando fraldas. O que esse tratamento vai fazer comigo? 

House: __ Não estou falando de tratamento. Estou falando sobre a cura. Mas porque eu posso estar enganada, você prefere morrer. 

Paciente: __ O que deixou você manco? 

House: Eu tive um infarto. 

Paciente: __ Um ataque cardíaco? 

House: __ É o que acontece quando o fluxo sanguíneo fica obstruído. No coração é um infarto; no pulmão é embolismo pulmonar; no cérebro é um derrame. Eu tive na coxa. 

Paciente: __ Não havia nada que os médicos pudessem fazer? 

House: __ Havia muito o que fazer, mas o único sintoma era dor. É raro alguém sentir a morte do tecido muscular. 

Paciente: __ Você achou que estava morrendo? 

House: __ Eu desejava morrer. 

Paciente: __ Então você se esconde no seu escritório, se recusa a ver os pacientes, porque não gosta do modo com que as pessoas olham para você [...] Eu só queria morrer com um pouco de dignidade. 

House: __ Isso não existe [...] Não me importo se anda, enxerga ou consegue limpar sua própria b... É sempre feio; sempre! (HOUSE M.D. Temporada 01, Ep. 01, 34’)

No episódio mencionado, o caso de uma professora cujas funções motoras, cognitivas e respiratórias entram em colapso de repente e, por isso, é levada ao Hospital às pressas, apresentou uma sucessão de complicações que, inclusive, tiveram como causa o tratamento proposto por House e sua equipe. A narrativa passa por diversos estágios de tentativa e erro de tratamento antes de que realmente se alcance uma resposta. É certo que o objetivo de salvar vidas a qualquer custo está presente por detrás das discussões que aparecem no seriado, no entanto o senso de deslumbramento subjacente à essência do protagonista está voltado à dedução fundamental para a resolução do caso clínico. 

Jerold J. Abrams (2008, p. 56), professor assistente de Filosofia na Universidade de Creighton que também é autor de outras publicações na área de cinema e televisão e interessado pelo estudo da Filosofia na cultura popular, destaca outra prova que auxiliou na cristalização do comparativo entre ambas as personagens no território da crítica: 

Tal qual se observa nos diálogos expostos, House se mostra apático até nas situações mais delicadas e, com certeza, esse traço se justifica pelo fato de que seu problema físico pode comprometer sua credibilidade diante dos pacientes, razão pela qual o médico evita o contato face a face com seus pacientes. Também há a possibilidade de que House use essa justificativa apenas como medida presunçosa para se dedicar apenas ao processo de dedução. Assim, o perfil de House se compara ao de Sherlock Holmes em um outro nível, no qual seu interesse pessoal pela razão se sobressai na mesma proporção de sua indiferença em relação às leis, à Ética e à moralidade. 

House [...] não é apenas baseado na personagem de Holmes. Nesse sentido, House de facto é Holmes, existindo, em certa medida, no limiar de dois universos paralelos: um no presente do Hospital Princeton-Plainsboro; outro no passado da rua Baker nº 221B em Londres. House, inclusive, fala como Holmes. Por exemplo, ao observar um paciente enfermo, House pergunta: “Quais são as suspeitas?” (Episódio piloto), e uma vez que a doença foi diagnosticada, ele declara com orgulho “Eu solucionei o caso” (idem). Começando a descartar os suspeitos, House desconfia dos pacientes como fraudulentos e mentirosos, assim como Holmes vê seus clientes. Mesmo na condição de doença em que se encontram, eles estão sempre no meio do caminho, de modo que House precisa contorná-los. Ele invade suas casas, furta seus objetos pessoais, revista suas gavetas – qualquer coisa que o ajude a reunir pistas; novamente, assim como Holmes23. 

Em síntese, o critério que permite afirmar que House e Sherlock Holmes são personagens criadas a partir do mesmo princípio compreende às inferências que ambos obtêm como base em deduções apoiadas no universo da Lógica e do Racionalismo. No entanto, o fato é que os dois seguem por uma trajetória na qual o erro persiste para que possa haver o acerto e isso promove a humanização de House, na série, e de Holmes, na Literatura. Do contrário, o espectador provavelmente não teria a devida curiosidade em conhecê-los, pois nesse caso a descoberta de algo mais profundo não seria possível.

A dimensão do erro em House M.D. contempla o universo da investigação, mas em relação a uma série de casos clínicos, como se David Shore tivesse a ousadia de criar uma narrativa híbrida com o drama humano dos seriados médicos e o suspense característico de séries modernas que se valem de perícia forense. O resultado dessa combinação é indicado sob a perspectiva iconográfica, quando a encenação do ator Hugh Laurie dá a entender a descoberta do enigma:

 

      

23

Tradução da autora para: “House is […] not just based on the character of Holmes. In a sense, he actually is Holmes, existing somehow between two parallel universes: one in the present at Princeton-Plainsboro, the other in the past at No. 221B Baker Street in London. House even talks like Holmes. For example, looking at a sick patient, house asks, “What are the suspects?” (Pilot), and once the disease is diagnosed, he proudly declares, “I solved the case” (Pilot). Getting from suspects to whodunit, House looks at patients as frauds and liars, just as Holmes looks at clients. Sick as they are, they’re always in the way, so House works around them. He breaks into their homes, steals their belongings, rummages their drawers – anything to gather clues; again, like Holmes”

Figura 30: A expressão da descoberta representado visualmente. Temporada 3, ep:02, 36’. Fonte: Netflix 

Pode-se, ainda, acrescentar ao conjunto de controvérsias que permeiam o caráter da série um tom de humor. À condição de sofrimento por dores físicas e psicológicas a que House está sujeito é, costumeiramente, compensado com as piadas de mal gosto e o dictério com o qual o médico trata as outras pessoas. No episódio já citado da 2ª temporada, a bengala na qual House se apoia é destruída pelo cachorro de Wilson e os amigos vão a uma loja de artigos usados para comprar uma nova, que tem um acabamento com labaredas. A cena é muito bem trabalhada visualmente em conjunto com a trilha sonora de Highway to Hell, da banda AC/DC:

 

Fig. 31: Tom de Humor na série House M.D. Temporada 3, Ep. 21, 26’. 

Fonte: Netflix

Em diversas passagens da narrativa, House faz comentários satíricos, os quais são, ao mesmo tempo, ofensas generalizadas (no contexto do episódio) e piadas muito bem elaboradas (no tocante ao entretenimento televisivo). Por exemplo: o episódio de número dois da terceira temporada apresenta uma quantidade considerável de alusões à cultura pop norte-americano. O caso clínico da vez é a

No documento Dr. House : o anti(herói) no texto televisivo (páginas 101-114)