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UNIVERSIDADES TRADICIONAIS UNIVERSIDADES CORPORATIVAS

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Uma breve explicação da escolha metodológica

A escolha por pesquisa qualitativa e descritiva se deu por ser uma abordagem adequada ao entendimento e à caracterização da universidade corporativa e suas possíveis implicações na gestão de recursos humanos.

A metodologia qualitativa permite entender e descrever o fenômeno em sua complexidade, com possibilidade de análise da interação entre as variáveis e os processos dinâmicos subentendidos, assim como sua evolução no tempo, podendo revelar tanto particularidades, quanto generalizações, em maior ou menor nível de aprofundamento (RICHARDSON,1985).

Haguete (1992) dá ênfase ao pressuposto de que a pesquisa qualitativa proporciona maior relevância ao aspecto subjetivo da ação social e, por isso, tende a ser apropriada para fenômenos únicos e/ou complexos.

A abordagem mais ampla e integrada do fenômeno investigado, aliada à estrutura pouco rígida do método, favorece a influência da sensibilidade e criatividade do pesquisador enquanto uma variável a ser considerada no processo, o que pode resultar em caminhos e/ou enfoques não previstos, adverte Godoy (1995). A autora também se refere ao crescente uso da abordagem qualitativa no campo da administração de empresas, principalmente a partir da década de 70, tendo em vista seu progressivo reconhecimento enquanto um caminho de investigação muito apropriado e pertinente às questões da área (GODOY,1995).

Extrapolando o campo da pesquisa em ciências sociais e pensando em termos da pesquisa científica, no entender de Richardson (1985) e de outros autores (OLIVEIRA,2002; GOODE e HATT,1968), todo método científico, em última instância, é um estudo qualitativo, não havendo para eles distinção clara entre estudos qualitativos e estudos quantitativos. A presença de

instrumentos de estatística, de medições e contagem não inviabiliza ou descaracteriza o caráter qualitativo presente em qualquer fenômeno. O que vai fazer a diferença entre qualitativo e quantitativo é a forma como se pretende interpretar e analisar o problema, que se refere ao enfoque adotado. Essa idéia é também compartilhada por Yin (2001,p.33), ao afirmar que “o contraste entre evidências quantitativas e qualitativas não diferencia as várias estratégias de pesquisa” [e indo além, completa o autor], “a estratégia de estudo de caso [que será adotada nesta pesquisa] não deve ser confundida com pesquisa qualitativa”. Este (o estudo de caso), por sua vez, pode incluir as evidências quantitativas, o que não é o caso, ou mesmo a elas se limitar. Assim, o estudo proposto será abordado de forma qualitativa porque a análise a respeito dos dados encontrados propõe entender e abordar o fenômeno, descrevendo e estabelecendo relações entre as variáveis que o compõem, reconhecendo-se a presença de complexidades e interfaces que o caracterizam e o particularizam.

O estudo descritivo justifica-se pela possibilidade de identificar as características do fenômeno enquanto tal e também por poder ordená -lo e classificá-lo, fazendo surgir variáveis novas que, por sua vez, vão alimentar novos estudos (RICHARDSON,1985). De acordo com Oliveira (2002), o estudo descritivo possibilita uma melhor compreensão do comportamento de diversos fatores e elementos que influenciam determinado fenômeno, configurando-se como o tipo de estudo mais adequado para o objetivo de entender um fenômeno e os fatores a ele interligados. Vergara (2000) acrescenta que o estudo descritivo não necessariamente apresenta o compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora ele possa servir de base para tal explicação.

A estratégia adotada para esta pesquisa é a do estudo de caso único, por meio do qual se busca estudar com maior profundidade a universidade corporativa como estratégia de desenvolvimento profissional importante para a competitividade, sua relação com a gestão de pessoas da organização e as implicações decorrentes dessa interface. Conforme Gil (1991), o aprofundamento, que lhe é característico, permite uma compreensão tão mais ampla, quanto detalhada do fenômeno.

O exercício de fazer pesquisa em ciências sociais implica o cuidado de considerar todas as estratégias de uma maneira pluralística, isto é, como partes de um repertório maior, a partir do qual, o pesquisador vai escolher o procedimento em conformidade com a situação-problema a ser investigada (YIN,2001). No caso da presente pesquisa, o estudo de caso é a opção que contempla detalhamento e aprofundamento das informações, com base numa análise qualitativa.

De acordo com Vergara (1998, p.45) “o estudo de caso é a investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu o fenômeno ou que dispõe de elementos para explica- lo”. Além de preservar o contexto no qual ocorre o fenômeno, permite estudá-lo em profundidade, a partir de variáveis previstas e não previstas, garantindo sua “integridade própria” [na medida em que possibilita] “o exame de um conjunto básico de áreas problemáticas, relacionadas à interação social, processos históricos e estruturas organizacionais” (SJOBERG et al.,26

apud ROESCH, 1999,p.198). De acordo com Roesch (1999), os autores, Sjoberg et al. (1991) consideram o estudo de caso uma estratégia que cobre questões sociais tanto no momento histórico, quanto no contemporâneo, diferentemente de Yin (2001), que limita o caso ao estudo dos fenômenos contemporâneos, tendo em vista a presença da observação e de entrevistas sistemáticas.

Reiterando o que foi dito anteriormente, Yin (2001,p.32) considera “o estudo de caso uma investigação empírica que estuda o fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Trata -se de um tipo de investigação que permite preservar as características significativas do evento estudado (YIN,2001). Esse mesmo autor considera o estudo de caso mais do que uma tática ou um estágio exploratório da coleta de dados, mas uma estratégia de pesquisa pela sua abrangência enquanto método, na medida em que compreende uma lógica de planejamento adequada ao problema de pesquisa e às suas circunstâncias, possibilitando incor porar abordagens específicas tanto na coleta de dados, quanto na análise dos dados.

Bruyne (1977) chama a atenção para a importância de o estudo de caso não se limitar a uma mera descrição, por mais documentada que seja e, sim, apoiar-se em conceitos e hipóteses, guiados por um esquema teórico que sirva de norte para a coleta de dados. Dessa forma, busca- se assegurar a pertinência e a interpretação dos dados reunidos. Isso evidencia o seu caráter particularizante e contingente e seu limitado poder de generalização (BRUYNE,1977). Entretanto, concede, por outro lado, uma flexibilidade ao estudo, tanto no nível do planejamento, quanto no decorrer do processo de coleta e análise dos dados, permitindo considerar o fenômeno na sua multiplicidade (GIL,1991).

26 Sjoberg et al. The case study approach in social research: basic methodological issues. In: SJOBERG, G. et al. A case for the case study.Chapel Hill: The University of North Carolina Press, 1991.