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4.1 A PETROBRAS

4.1.1 Uma trajetória que se confunde com a história do Brasil

A evolução histórica da Petrobras se confunde, desde o início, com a história do Brasil. Criada em 3 de outubro de 1953, pelo ex-presidente Getúlio Vargas, a partir de uma campanha popular iniciada em 1946 – O petróleo é nosso –, a empresa vem, desde então, contribuindo para o desenvolvimento do país.

Do salto tecnológico que representou a exploração em águas profundas, à descoberta das reservas de óleo e gás na camada pré-sal, a Petrobras impulsiona o crescimento do país há mais de seis décadas.

Ainda na década de 1950, a companhia herdou do extinto Conselho Nacional de Petróleo (1938-1960) duas refinarias, a de Mataripe (BA) e a de Cubatão (SP) e começou a operar com uma produção de 2.663 barris, equivalente a 1,7% do consumo nacional.

A década de 1960 trouxe os primeiros desafios em termos de infraestrutura para a Petrobras. Em 1961, foi inaugurada a Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, o primeiro empreendimento de refino construído pela companhia no Brasil. Em 1967, foi constituída a subsidiária Petrobras Química S.A. (Petroquisa), que implantou a indústria petroquímica no país. Em 1968, com o objetivo de atender às demandas tecnológicas para a expansão mundial da Petrobras, foi criado o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), o maior centro de pesquisas da América Latina.

No início da década de 1970, em 1971, com a missão de contribuir para a comercialização, distribuição e industrialização de derivados de petróleo, foi criada a Petrobras Distribuidora S.A., subsidiária que, a partir de 1975, tornou-se líder no segmento no Brasil. Em 1974, veio a primeira grande descoberta da Petrobras em águas profundas, a Bacia de Campos, que abrange a costa norte fluminense até o sul do Espírito Santo e responsável por cerca de 80% da produção nacional de petróleo. Sua exploração comercial teve início em 1977, no campo de Enchova, com uma produção média de 10 mil barris por dia.

Os anos 1970 testemunharam sucessivas crises internacionais do petróleo, que marcaram uma nova era na economia mundial, com a constatação que as reservas eram finitas e a mudança de patamar dos preços do barril, puxada pela decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), criada em 1960, de aumentar o preço do barril, reduzir a produção e promover o embargo econômico aos EUA, em retaliação ao apoio americano a conflitos no Oriente Médio, o que fez com que o custo do barril subisse 400%, entre 1973 e 1974, provocando recessão mundial. Foi o chamado “primeiro grande choque do petróleo”.

Como reação à crise, o Brasil investiu na criação do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool) e, a partir de 1975, a Petrobras teve atuação fundamental no abastecimento e na distribuição do etanol no mercado brasileiro.

Apesar da opção pelo crescimento forçado da economia, o Brasil sofre novo abalo, a partir de 1979, com o “segundo grande choque do petróleo”, provocado pela paralisação da produção iraniana, em consequência da Revolução Iraniana, reforma radical islâmica liderada pelo Aiatolá Khomeini, elevando o preço médio do barril ao equivalente a US$ 80.

Os anos 1980 representaram aquela que seria conhecida como a “década perdida” na economia da América Latina. No Brasil, em contraste com os anos do “milagre econômico”, na década anterior, o período trouxe baixo crescimento, desaceleração da produção, aumento do desemprego, volatilidade dos preços externos e explosão inflacionária.

Contudo, a década de 1980 também representou um marco divisório político, produziu a abertura democrática do país e descortinou um cenário de mudanças sociais e culturais pós- ditadura, que viria a consolidar-se posteriormente pela reação das correntes ideológicas de esquerda, pelos sucessivos abalos do poderio do capital ortodoxo e pelo surgimento de novos atores no mercado, entre estes, os países em desenvolvimento.

A Petrobras, naquele momento, teve um fator decisivo ao ignorar as previsões econômicas mais pessimistas e investir em seu corpo técnico altamente qualificado em busca de novas fronteiras. Assim, o campo de Marlim, localizado na Bacia de Campos, foi descoberto em janeiro de 1985. Ainda que situadas em lâminas de água jamais exploradas, as novas descobertas apontavam, pelo volume e comercialidade das reservas, para novos e mais distantes horizontes exploratórios na plataforma continental.

A companhia, que até 1986 comprava tecnologia estrangeira, viu-se diante do desafio de produzir petróleo a 400 metros de profundidade e aumentar as reservas do país. Após pesquisar no mercado e descobrir que não havia tecnologia disponível, criou o primeiro Programa de Capacitação Tecnológica em Águas Profundas (Procap).

A imersão nos mares, por outro lado, levou a Petrobras a cuidar de forma mais intensiva da biodiversidade marinha, investindo em projetos ambientais como o Tamar (tartarugas-marinhas), Baleia Franca, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Peixe-Boi, a fim de preservar a fauna dos locais onde são desenvolvidas as suas atividades petrolíferas.

Enquanto isso, em terra, na vastidão da Amazônia, em 1986, entrava em operação o Campo de Urucu, na Bacia do Rio Solimões. A descoberta respondeu finalmente a uma antiga indagação dos técnicos do setor, ao apontar que havia petróleo comercial de excelente qualidade, associado ao gás natural, na Amazônia.

A década de 1990 trouxe os primeiros recordes e prêmios de exploração e produção. Em 1992, a Petrobras foi pela primeira vez reconhecida mundialmente pela liderança na exploração e produção em águas profundas e ultraprofundas pelo OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, prêmio concedido pela organização mundial da indústria do petróleo, Offshore Technology Conference (OTC). Esse prêmio é o maior reconhecimento que uma empresa de petróleo pode receber na qualidade de operadora offshore (localizado no mar).

Em 1997, a companhia atingiu a produção média de um milhão de barris de petróleo por dia. E, apesar dos sucessivos abalos nos mercados internacionais, seguiu seu curso relativamente estável, honrando todos os seus compromissos. Em meio à crise do petróleo, foi uma das primeiras mostras da capacidade de superação da empresa.

No final do mesmo ano, uma nova mudança viria a descortinar os cenários para os desafios futuros da Petrobras. Por meio da Emenda Constitucional nº 9, de 9 de novembro de 1997, chegava ao fim o monopólio estatal do petróleo.

Os anos 2000 trouxeram as promessas de um novo milênio e registraram acontecimentos importantes para o Brasil, em um mundo ainda estarrecido diante das crises financeiras dos mercados globalizados e das mudanças econômicas produzidas pelos movimentos incessantes de fusões, aquisições, falências e fraudes contábeis.

Os EUA, diante dos escândalos financeiros e empresariais que abalaram os mercados e sólidas instituições, como Enron, Worldcom e Arthur Andersen, anteviram a colisão dos interesses de mercado com a nova conformidade da ordem mundial e promoveram ajustes normativos, fiscais e legais, em um movimento ainda incipiente, que viria depois a consolidar-se com o nome de governança corporativa.

A Petrobras, por sua vez, ampliou sua participação na matriz energética brasileira, com o investimento em termelétricas; e aumentou sua aposta na exploração de fronteiras ainda mais distantes, comprovando e indo além das previsões mais otimistas do seu corpo técnico, com a descoberta, posteriormente confirmada, das jazidas do pré-sal.

Em 2001, em resposta aos vazamentos de óleo na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, e no Rio Iguaçu, no Paraná, foi lançado o Programa de Excelência em Gestão Ambiental e Segurança Operacional (Pegaso), criado para desenvolver técnicas de controle, prevenção de acidentes e socorro imediato na indústria petrolífera, tornando-se um dos mais amplos e ousados projetos de toda a história da indústria no Brasil.

Nesse mesmo ano, a Petrobras viria a ser novamente reconhecida pelo OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, pela excelência no domínio da tecnologia de exploração e produção de petróleo em águas profundas no Campo de Roncador, na Bacia de Campos, que levou à quebra do recorde mundial de produção em águas profundas, chegando a 1.877 metros de profundidade.

Em 2003, a empresa completou 50 anos e, na direção do mercado, que clamava por mudanças éticas e transparência, tornou-se signatária do Pacto Global da ONU, iniciativa para adoção corporativa de práticas de responsabilidade social e democratizou suas políticas de patrocínio, por meio de seleções públicas para projetos culturais, ambientais e sociais.

Em setembro de 2006, a Petrobras ingressou no Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI World), da Bolsa de Valores de Nova York, o mais importante índice mundial de sustentabilidade, que avalia as melhores práticas de gestão social, ambiental e econômica entre as empresas globais de capital aberto.

No mesmo ano (2006) a companhia ajudou o país a atingir a autossuficiência na produção de petróleo e gás, com a entrada em operação das plataformas P-34 e P-50. Com uma produção média diária de 1,9 milhão de barris de petróleo, o país, naquele período, passou a exportar mais do que importar petróleo.

O ano de 2007 foi marcado pela confirmação da descoberta da área de Tupi, na Bacia de Santos, no litoral de São Paulo, com grande concentração de petróleo e gás em seções de pré-sal. A nova fronteira exploratória, se confirmada, poderá aumentar em 50% as reservas de óleo e gás do país até 2020. A quantidade de petróleo encontrado é tão significativa, que colocará a Petrobras e o Brasil em um novo cenário na indústria mundial de energia.

Em 2 de setembro de 2008, foi realizada a extração do primeiro óleo do pré-sal, no Campo de Jubarte, na Bacia de Campos, no litoral sul do Espírito Santo. Nesse mesmo ano, a Petrobras atingiu a marca histórica de produção de 2 milhões de barris de petróleo por dia.

Em 1º de maio de 2009, teve início a produção de óleo em Tupi, área do pré-sal da Bacia de Santos, no litoral de São Paulo, com jazidas de óleo leve e gás natural em volume equivalente (petróleo e gás) recuperável estimado entre 5 e 8 bilhões de barris de petróleo, com uma produção média estimada em 100 mil barris/dia.

A descoberta de novas fronteiras exploratórias na plataforma continental estimulou estudos governamentais e de entidades do setor sobre mudanças no modelo do marco regulatório de exploração e produção de petróleo e gás natural no Brasil.

Em 30 de junho de 2010, foi promulgada a Lei de Cessão Onerosa (Lei 12.276), que autoriza a União a ceder onerosamente à Petrobras o exercício das atividades de pesquisa e lavra de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos em blocos na área do pré-sal, limitado à produção de cinco bilhões de barris de óleo equivalente.

No dia 2 de agosto de 2010, foi sancionada pela Presidência da República a Lei no 12.304, que autorizou a criação da empresa pública denominada Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A. – Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA). No mês seguinte, em 24 de setembro de 2010, a Petrobras realizou um processo de capitalização, por meio de uma oferta pública de ações, que arrecadou mais de R$ 120 bilhões, destinados à exploração e produção de reservas do pré-sal.

Em 22 de dezembro de 2010, foi sancionada pela Presidência da República a Lei no 12.351, que dispõe sobre a exploração e a produção de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos, sob o regime de partilha de produção, em substituição ao regime de concessão, em áreas do pré-sal e em áreas estratégicas e cria o Fundo Social, com a finalidade de constituir fonte de recursos para o desenvolvimento social e regional.

Em 8 de dezembro de 2010, a Petrobras e a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) lançaram no Brasil a NBR 26000 – versão da ISO 26000 – norma internacional de responsabilidade social. A Petrobras foi a primeira empresa a adotar a norma no país.

Em 2013, a companhia ingressou no novo Índice Dow Jones de Sustentabilidade dos Mercados Emergentes (DJSI Emerging Markets), da Bolsa de Valores de Nova York, índice regional criado para países em desenvolvimento. No mesmo ano, renovou, pelo oitavo ano consecutivo, sua participação no Índice Dow Jones de Sustentabilidade (DJSI World). Essa participação foi novamente renovada, em 2014, pelo nono ano consecutivo. Porém, em 2015, como reflexo da Operação Lava-Jato, a companhia foi considerada inelegível para a renovação do índice e só poderá ter sua participação reconsiderada a partir de 2016.

Também em 2015, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) suspendeu a Petrobras por 12 meses de seu quadro associativo para subsequente reavaliação, que tem por objetivo propiciar o tempo necessário para que a companhia transforme os esforços já realizados em um conjunto de práticas que assegure a robustez e a eficácia do seu modelo de governança efetivamente praticado e não apenas apontado em seus documentos.

Contudo, apesar dos prejuízos registrados em 2014, a Petrobras manteve, em 2015, a 28ª colocação na 61ª edição do ranking de 500 maiores empresas do mundo, publicado pela revista americana de negócios Fortune. A companhia foi a empresa brasileira mais bem colocada e a maior petrolífera da América Latina

Em maio de 2015, a conquista do pré-sal levou a Petrobras a receber, pela terceira vez, o OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, em reconhecimento ao conjunto de tecnologias desenvolvidas pela companhia para a produção de petróleo e gás na camada ultraprofunda do pré-sal.

A chamada província do pré-sal está situada em uma área com aproximadamente 800 km de extensão por 200 km de largura, no litoral entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo. O conjunto de campos petrolíferos do pré-sal possui entre 5 mil e 7 mil metros de profundidade, incluindo uma camada de até 2 mil metros de sal, no subsolo marinho, a uma distância de quase 300 km da costa. As reservas do pré-sal possuem petróleo considerado de média a alta qualidade, em torno de 28° na escala do American Petroleum Institute (API).

Oito anos após a primeira descoberta de petróleo na camada pré-sal, ocorrida em 2007, foi atingido, em 15 de setembro de 2015, o recorde histórico de 1.120 mil barris de óleo equivalente por dia (boed), uma marca extremamente significativa na indústria do petróleo, principalmente pelo fato dos campos se situarem em profundidade de água profundas e ultraprofundas. Em 2014, a companhia alcançou 100% de sucesso exploratório no Polo Pré- Sal da Bacia de Santos, tendo encontrado óleo em todas as perfurações realizadas nessa área. A figura 04, a seguir, mostra uma representação gráfica do estrato do pré-sal no leito marinho.

Figura 04 - Camadas do pré-sal. Autor: Paulo Cabral

A média anual de produção operada na camada pré-sal em 2015 foi a maior da história da Petrobras, atingindo 767 mil barris por dia (bpd), superando a produção de 2014 em 56%. A produção de petróleo e gás natural no pré-sal se mantém acima da marca de 1 milhão de barris de óleo equivalente (boed) desde julho de 2015.

Em 2015, a produção total da Petrobras, no Brasil e no exterior, atingiu a média diária de 2 milhões 787 mil boed, com um crescimento de 4% em relação a 2014. A companhia espera alcançar uma produção total de óleo e gás de 3,7 milhões boed em 2020, quando o pré- sal deverá representar mais de 50% da produção de óleo e gás natural do Brasil.

Em 31 de dezembro de 2015, as reservas totais provadas de óleo e gás natural da Petrobras atingiram 13,27 bilhões boe, segundo critérios ANP/SPE (Society of Petroleum Engineers), que consideram os preços do petróleo no cálculo de viabilidade das reservas.

Em meados de 2016 foi atingida a marca de produção de 1 milhão de barris de petróleo por dia no pré-sal, menos de dez anos depois da primeira descoberta nessa camada.

A Petrobras em números *

 Investimentos: R$ 76.315 bilhões

 Receita de Vendas: R$ 321.638 bilhões

 Lucro Líquido (prejuízo): R$ - 34.836 bilhões

 Acionistas: 725.447

 Número de Empregados: 78.470

 Produção diária: 2 milhões 787 mil barris de óleo equivalente por dia

 Plataformas de Produção: 122 (64 Fixas; 58 flutuantes)

 Refinarias: 16 (3 no exterior)

 Frota de Navios: 181 (55 de propriedade da Petrobras)

 Dutos: 7.517 km de oleodutos e 7.151 km de gasodutos

 Biocombustíveis: 5 usinas de biodiesel e 10 usinas de etanol em parceria

 Termelétricas: 20 usinas

 Energia Eólica e Energia Solar: 1 usina eólica e 1 usina solar voltaica

 Postos: 8.176 (no Brasil) e 382 (exterior)

 Fertilizantes: 3 fábricas