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PARTE I – REFORMA AGRÁRIA E MEIO AMBIENTE:

2. POLÍTICA AMBIENTAL

2.2 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS

2.2.3 Unidades de Conservação

As atividades humanas estão constantemente colocando em risco a biodiversidade planetária. Uma das maiores ameaças é a destruição de habitats, principalmente em decorrência de ações destinadas a dar ao solo usos ‘economicamente produtivos’, como na agricultura, na exploração madeireira ou mineral, na expansão urbana e na especulação imobiliária (BENJAMIN, 2001). Em virtude disso, uma das estratégias usada para buscar a preservação de ambientes naturais foi a criação de áreas protegidas.

A primeira área protegida instituída no Brasil foi o Parque Nacional de Itatiaia, em 1937. Dois anos depois, criou-se o Parque Nacional de Iguaçu. Depois várias outras modalidades de áreas protegidas foram sendo criadas: Reserva Biológica e Ecológica, Reserva Extrativista, Estação Ecológica, Área de Proteção Ambiental, dentre outras (BENJAMIN, 2001).

Durante essa curta evolução histórica das áreas ambientalmente protegidas no Brasil, de 1937 até os dias atuais, a Constituição Federal de 1988 representa um marco. Pela primeira vez, um texto constitucional obriga expressamente o Poder Público a instituir espaços territoriais a serem protegidos (BENJAMIN, 2001).

Entretanto, foi somente em 2000, a partir da Lei 9.985, que se instituiu um Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Até a promulgação dessa lei, não havia na legislação brasileira uma definição legal para unidades de conservação, muito embora essa expressão já tivesse aparecido em alguns textos legais, como na Lei 7.797/89 e na Resolução Conama No 011/87 (OLIVEIRA, 2005). Segundo o inciso I, artigo 2º, da Lei 9.985/00, a Unidade de Conservação foi definida da seguinte forma:

[...] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.

O Snuc prevê dois grupos de unidades de conservação: 1) Unidades de Proteção Integral e 2) Unidades de Uso Sustentável. As primeiras têm por objetivo a preservação ambiental, admitindo-se apenas o uso indireto dos recursos naturais, com algumas exceções previstas na

lei. As últimas objetivam conciliar a conservação ambiental com o uso sustentável de parte de seus recursos naturais. O grupo das Unidades de Proteção Integral congrega as seguintes categorias: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Monumento Natural e Refúgio de Vida Silvestre. O grupo das Unidades de Uso Sustentável, por sua vez, é formado pelas seguintes: Área de Proteção Ambiental, Área de Relevante Interesse Ecológico, Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e Reserva Particular do Patrimônio Natural.

De acordo com Derani (2001), as unidades de conservação são construções jurídicas que buscam a proteção ambiental sob três perspectivas, conforme explicitadas a seguir:

1. Espaços geográficos retirados do modo de apropriação moderno – Tendo em vista que as atividades da sociedade moderna são constantemente causadoras de degradação ambiental, o Direito entra como um instrumento para definir espaços que devem ser protegidos pelo Poder Público;

2. Planejamento territorial – A criação de unidades de conservação é uma forma de planejar a ocupação do território nacional, por meio de diversos instrumentos como, por exemplo, a elaboração de Planos de Manejo;

3. Espaço técnico-científico – Os espaços especialmente protegidos constituem-se em reservatórios de riquezas biológicas de notável utilidade para a ciência e a tecnologia. O Brasil dispõe de um número considerável de unidades de conservação. Aproximadamente 2,6% do território brasileiro é ocupado por Unidades de Proteção Integral e cerca de 5,5% por Unidades de Uso Sustentável14 (MMA, 2006a). Embora esses percentuais sejam significativos, isso não demonstra que toda essa quantidade de ambientes naturais esteja sendo efetivamente protegida e que o instrumento de criação de unidades de conservação esteja conduzindo de fato à melhoria da qualidade ambiental.

O considerável aumento do quantitativo de áreas protegidas nos últimos anos, não viu a necessária contrapartida econômica para a viabilização desse modelo de preservação ambiental. A falta de recursos financeiros gera inúmeros problemas que vão da criação à gestão das unidades de conservação. Dentre os problemas mais comuns tem-se: a indefinição fundiária, a ausência de planos de manejo e os danos antrópicos ocasionados pela falta de uma fiscalização efetiva ou por um licenciamento ambiental irregular ou inexistente (ASSIS, 2005).

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A área total ocupada por unidades de conservação não corresponde exatamente à soma desses dois grupos, pois há Áreas de Proteção Ambiental (APA) que abrigam uma ou mais unidades de conservação de uso indireto (MMA, 2006a). Esses dados não incluem as unidades de conservação dos estados e municípios.

Pereira (2005) aponta que há práticas oportunistas e fragmentadas que permitem que sejam encontradas muitas unidades de conservação em estágios de degradação alarmantes. A indeterminação de uma política em diversos níveis institucionais leva à criação de áreas protegidas decorrentes de demandas pontuais e interesses diversificados. Observa-se a existência de solicitações limitadas à proteção de áreas sensíveis, em que o critério não é necessariamente ser representativa da biodiversidade, mas servir como valorização para o turismo, ou outro empreendimento privado, ou ainda responder a compromissos meramente políticos.

(...) a criação de UC´s não consegue por si só gerar profundas mudanças, apesar de estarem ligadas a organismos com incumbências ‘estratégicas’ para o avanço do país. A latência de políticas convencionais permeáveis aos interesses e tonificadoras da situação presente pouco alteram a rota e o ritmo da degradação ambiental. Para tanto, as instituições e seus funcionários carecem no mínimo, de considerável autonomia decisória, credibilidade pública, além de programas de trabalho mais permanentes do que sujeitos a interrupções (PEREIRA, 2005:130).