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PARTE I – REFORMA AGRÁRIA E MEIO AMBIENTE:

2. POLÍTICA AMBIENTAL

2.2 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS

2.2.4 Zoneamento Ecológico-Econômico

O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) pode ser definido como uma forma de compartimentação de um espaço geográfico, a partir das características físicas e bióticas de seus ecossistemas e suas interações entre si e com o meio socioeconômico, em que são evidenciados e previstos os impactos sobre o sistema natural e antrópico (COSTA, 1993). É um instrumento de planejamento destinado a ordenar o uso e a ocupação do solo, por meio da definição de zonas, em que são especificadas as formas de uso, tendo em vista os atributos ambientais e o desenvolvimento de uma região (MATOS et al., 2003).

O ZEE visa circunscrever e condicionar a ocupação territorial, por meio de regras e normas determinadas a partir de estudos sistematizados das características, fragilidades e potencialidades do meio ambiente de uma área. O zoneamento deve ser o resultado de um processo político-administrativo e se basear também nos conhecimentos técnico-científicos, a fim de possibilitar a fundamentação das diretrizes e normas legais que disciplinam o uso dos recursos naturais em dado território (MILARÉ et al., 2005).

O objetivo geral do ZEE é organizar, de maneira vinculada, as decisões dos atores públicos e privados no que se refere a planos, programas, projetos e atividades utilizadores de recursos naturais, a fim de assegurar a plena manutenção dos serviços ambientais. A

elaboração e a implantação do ZEE devem buscar a ampla participação democrática e a valorização do conhecimento científico multidisciplinar (DIAS, 2004).

Em 1990, o Governo Federal instituiu o Grupo de Trabalho para elaborar o ZEE, nos termos do Decreto nº 99.193. No mesmo ano, foi editado o Decreto nº 99.540 que definiu os princípios gerais do zoneamento e elegeu a Amazônia Legal como a área prioritária para a implementação desse instrumento (MILARÉ et al., 2005). Esse mesmo decreto criou também a Comissão Coordenadora do ZEE e definiu suas atribuições.

Em 2001, o Decreto nº 99.540 é revogado pelo Decreto de 28 de dezembro de 2001, que passa a dispor sobre a Comissão Coordenadora do Zoneamento Ecológico-Econômico do Território Nacional e o Grupo de Trabalho Permanente para a Execução do Zoneamento Ecológico-Econômico. Além disso, esse decreto determina os princípios que devem conduzir o processo de elaboração do zoneamento.

A regulamentação do inciso da Lei 6.938/81 que prevê o zoneamento como instrumento da Política Ambiental ocorreu somente no ano de 2002, por meio do Decreto nº 4.297. Essa norma determina os critérios mínimos a serem seguidos para a elaboração do ZEE. Além disso, define também seus objetivos e princípios, bem como dispõe sobre o uso, o armazenamento e a publicidade dos dados e informações do zoneamento.

Milaré et al. (2005) ressaltam que na elaboração desse decreto perdeu-se a oportunidade de propor uma forma de gestão integrada. Afirmam ainda que essa norma carece de um aperfeiçoamento, uma vez que não especificou os setores governamentais envolvidos e seus executores, além de ter silenciado sobre as interfaces e as conexões entre os diversos atores. Outro ponto negativo apontado pelos autores é que esse decreto burocratizou em excesso o processo de elaboração do ZEE, ao colocar a necessidade do mesmo ser analisado e aprovado pela Comissão Coordenadora.

Foi realizado pelo Ministério do Meio Ambiente um diagnóstico15 sobre os dez anos de implantação do ZEE no Brasil. Matos et al. (2003) citam alguns aspectos relevantes verificados nesse diagnóstico:

1) Durante esses dez anos, vários ZEE´s regionais fracionados e dispersos foram gerados. Como foram usadas diferentes metodologias, não foi possível uma compreensão ampla da realidade nacional.

15

Workshop “Dez anos de ZEE no Brasil: Avaliação e Perspectivas” – 27 a 29 de junho de 1999, no Senado Federal.

2) Não havia um zoneamento em escala compatível com as necessidades do governo federal e somente dois macro-diagnósticos foram efetivamente realizados, um referente à Amazônia Legal e outro à Zona Costeira.

3) Em escala igual ou maior que 1:250.000, o ZEE abrangia apenas 11% do território nacional.

Tendo em vista que o ZEE constitui-se num leque de informações sistematizadas e atualizadas sobre um determinado espaço geográfico, o destino, a forma e a seriedade com que essas informações são usadas representa o âmago da utilidade desse instrumento. Deve-se buscar a institucionalização do ZEE, para que o destino do mesmo não seja apenas servir como referência bibliográfica e ocupar as estantes das bibliotecas e sim, trazer benefícios concretos para a sociedade (COSTA, 1993).

Em 2006, o Programa Zoneamento Ecológico-Econômico do Ministério do Meio Ambiente conta com as seguintes ações em andamento (MMA, 2006b):

1. Projetos da Ação Rede Nordeste – busca integrar as iniciativas de ZEE no Nordeste; 2. Projetos da Ação Rede Amazônia – objetiva a integração das iniciativas de ZEE na

Amazônia Brasileira;

3. Ação de Apoio aos Estados e Órgãos Federais: apóia as demandas dos estados para a elaboração do ZEE como, por exemplo, desenvolvimento de metodologias, capacitação técnica, fornecimento de informações e dados sistematizados;

4. Ações de Gestão e Administração do Programa: objetiva armazenar e divulgar as informações e dados do ZEE, além de revisar, atualizar e publicar o documento base do programa.

O Zoneamento Ecológico-Econômico, enquanto instrumento da política ambiental, ainda tem tido um papel incipiente para promover a diminuição da degradação ambiental no País. O ZEE consiste em uma prática técnico-burocrática fundamentada em tecnologias modernas, como o sensoriamento remoto, mas que está desprovida de uma base legitimadora junto aos atores sociais pertencentes aos territórios (ACSELRAD16 apud ACSELRAD, 2001).

16

ACSELRAD, H. Zoneamento ecológico-econômico entre ordem visual e mercado mundo. Rio de Janeiro, IPPUR/UFRJ, mimeo, 2000 apud ACSELRAD (2001).

De acordo com Milaré et al. (2005), o desenho estrutural do ZEE ainda não foi concluído, o que tem dado ensejo a diversas ações setoriais que:

[...] não obstante apresentarem avanços importantes, estão longe da realidade prática e das necessidades socioambientais do país; ou seja, não contemplam uma política ampla porque carecem de preocupação holística e de visão sistêmica no tratamento dos recursos florísticos e faunísticos em nossos ecossistemas e biomas (MILARÉ et al., 2005:16).