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3.3 A PARTICIPAÇÃO É POSSÍVEL: UTILIZAÇÃO DOS MECANISMOS

3.3.3 Uruguai: Referência na Utilização de Consultas Populares

Importa observar o caso uruguaio, na medida em que o Uruguai é um dos países da América Latina com maior tradição na utilização de mecanismos de

<http://www.b.dk/ledere/hoejesteret-og-grundloven>. Acesso em: 09 out. 2013; CEIA, Eleonora Mesquita. A decisão do Tribunal Constitucional Federal Alemão sobre a constitucionalidade do Tratado de Lisboa. Revista da Faculdade de Direito – UFPR, Curitiba, n. 49, p. 89-107, 2009, p. 98- 107.).

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Importa referir que, em 2001 a Irlanda realizou um referendo sobre o Tratado de Nice, que objetivava a expansão dos membros da UE em direção ao leste europeu e o referendo foi negativo. Em 2002, outro referendo foi realizado e teve resultado positivo (PAES, Diego Cristóvão Alves de

Souza. Irlanda vota contra o Tratado de Lisboa. 2008. Disponível em:

<http://www.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_NOTIC20080620100239.pdf?PHPSESSID= d0457b6bc9dc03a8bf2ea84a00db74d0>. Acesso em: 18 set. 2013, p. 4).

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PAES, Diego Cristóvão Alves de Souza. Irlanda vota contra o Tratado de Lisboa. 2008.

Disponível em:

<http://www.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_NOTIC20080620100239.pdf?PHPSESSID= d0457b6bc9dc03a8bf2ea84a00db74d0>. Acesso em: 18 set. 2013, p. 3-4.

participação cidadã. Por essa razão, este trabalho analisa alguns exemplos de consultas populares no país.

A Constituição Uruguaia é de 1963 e foi emendada em 1989, 1994, 1996 e 2004. Importa observar que, todas essas emendas foram aprovadas via plebiscito, pela população uruguaia, o que é exigência Constitucional. O texto Constitucional prevê a participação popular através de referendo, iniciativa popular e plebiscito. Ao povo é garantida ainda, a possibilidade de interpor referendo contra leis, desde que dentro de um ano da aprovação da lei e da subscrição da proposta por 25% do total de eleitores.314 Pode-se perceber que as disposições constitucionais do país, não só garantem a utilização de mecanismos de participação, como também possibilitam a sua efetiva utilização, pela forma como são regulamentados.

Uma consulta importante foi o plebiscito de 1980, realizado sob a ordem militar (1973-1985) que concebeu as bases para a restauração do regime democrático no Uruguai. O plebiscito de 1980 foi uma manobra utilizada pelos militares, na tentativa de institucionalizar o projeto político autoritário, através da aprovação em plebiscito, da Constituição militar. A consulta gerou efeitos contrários aos esperados, permitindo o fortalecimento e organização da oposição ao regime autoritário. Os militares passaram a negociar com os opositores, contudo, a forma como o regime militar regulamentou os partidos políticos e os movimentos sociais acabaram por servir de base para o restabelecimento democrático.315

Em 1992 ocorreu um referendo, requerido pela população uruguaia em relação às privatizações. Assim, em dezembro de 2003, aproximadamente, 72% dos cidadãos se opuseram a parte da lei de privatizações, inviabilizando a privatização de empresas estatais.316 Para Eduardo Galeano317 uma postura realmente

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URUGUAI. Constitución (1967). Constitución de la Republica de 1967, com las modificaciones plebiscitadas el 26 de noviembre de 1994, el 08 de diciembre de 1996 y el 31 de octubre de 2004. Disponível em: <http://www.parlamento.gub.uy/constituciones/const004.htm>. Acesso em: 31 out. 2013.

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ROMERO, María José. Plebiscitos y reglas de juego em la transición a la democracia: Chile y Uruguay. Revista Uruguaya Ciencia Política, v.18 n.1, Uruguai, 2009. Disponível em:

<http://www.scielo.edu.uy/scielo.php?pid=S0797-97892009000100009&script=sci_arttext>. Acesso

em: 31 out. 2013. 316

CAPELÁN, Andrés. Primer round para los privatizadores. América Latina em Movimiento. Disponível em: <http://alainet.org/active/103&lang=es>. Acesso em: 31 out. 2013; NYMARK,

Johannes. ¿Adónde va la nueva izquierda en América Latina?. Disponível em:

<http://www.uruguay.attac.org/Documentos/varios/nueva_%20izquierda_al.htm>. Acesso em: 31 out. 2013.

democrática seria a realização em todos os países, de plebiscito para privatização de empresas estatais, já que tal medida compromete o destino de muitas gerações.

Outra consulta popular relevante no país, foi o referendo de dezembro de 2003, também solicitado pela população, como oposição a lei que “autorizava a Administración Nacional de Combustibles, Alcohol y Pórtland (Ancap) a associar-se com empresas privadas e eliminava o monopólio para a importação de combustíveis”318. Aproximadamente 72% dos cidadãos se manifestaram contra a lei, que foi revogada.

Por fim, um exemplo extremamente importante da utilização dos mecanismos no Uruguai, é o caso do plebiscito de outubro de 2004, referente a uma PEC. O assunto objeto de consulta era da mais alta relevância: a privatização dos serviços de abastecimento de água potável e de saneamento. Menezes319 explica que a emenda “surgiu em resposta à assinatura de uma carta de intenções entre o governo uruguaio e o FMI, na qual o país se comprometia a estender a privatização a estes setores”.

A população votou contra a EC “confirmando que a água, recurso natural escasso e finito, deve ser um direito de todos e não um privilégio daqueles que podem pagá-lo”320.

Ainda em 2004, o Uruguai presenciou um importante momento para o avanço democrático: a ascensão do partido de esquerda Frente Ampla, que representou o fim de um sistema onde dois partidos revezavam no poder.321

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GALEANO, Eduardo. Eleição e plebiscito no sul da América: águas de outubro. Disponível em: <http://resistir.info/uruguai/galeano_01nov04.html>. Acesso em: 31 out. 2013.

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MENEZES, Daiane Boelhouwer. Consultas populares e instituições políticas na América do Sul: os referendos e os plebiscitos da Venezuela. Colômbia, Uruguai, Bolívia e Brasil. In: III Seminário Internacional Organizações e Sociedade: Inovações e Transformações Contemporâneas, 2008,

Porto Alegre, Anais do evento. Porto Alegre: PUCRS, 2008. Disponível em:

<http://www.pucrs.br/eventos/sios/download/gt5/Menezes.pdf>. Acesso em: 15 out. 2013, p. 8. 319

MENEZES, Daiane Boelhouwer. Consultas populares e instituições políticas na América do Sul: os referendos e os plebiscitos da Venezuela. Colômbia, Uruguai, Bolívia e Brasil. In: III Seminário Internacional Organizações e Sociedade: Inovações e Transformações Contemporâneas, 2008,

Porto Alegre, Anais do evento. Porto Alegre: PUCRS, 2008. Disponível em:

<http://www.pucrs.br/eventos/sios/download/gt5/Menezes.pdf>. Acesso em: 15 out. 2013, p. 8. 320

GALEANO, Eduardo. Eleição e plebiscito no sul da América: águas de outubro. Disponível em: <http://resistir.info/uruguai/galeano_01nov04.html>. Acesso em: 31 out. 2013.

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SADER, Emir. O novo Uruguai. Carta Maior, 2004. Disponível em:

<http://www.cartamaior.com.br/?/Coluna/O-novo-Uruguai/18950>. Acesso em: 31 out. 2013;

GALEANO, Eduardo. Eleição e plebiscito no sul da América: águas de outubro. Disponível em: <http://resistir.info/uruguai/galeano_01nov04.html>. Acesso em: 31 out. 2013.

O Uruguai foi utilizado como exemplo, na medida em que tal país possui uma forte tradição de consultas populares e flexibilização da lógica liberal representativa. Dos casos analisados, o Uruguai é o que apresenta taxas mais altas de participação nas consultas populares. Isso ocorre, pois tal participação é incentivada há muito tempo, criando o hábito nos cidadãos.

Esse exemplo aponta que os argumentos em relação à falta de costume do povo em participar e a sua “aversão” a tal participação, são simples desculpas para não permitir o fortalecimento da democracia semidireta, na medida em que a utilização constante de consultas incentiva e desperta nos cidadãos o desejo de se envolver nas questões políticas do seu país.

3.3.4 Bolívia, Equador e Venezuela: Reformas Constitucionais

Os três países serão analisados em conjunto, na medida em que possuem trajetórias semelhantes de reformulação democrática, no sentido de ascensão ao poder de um líder de esquerda, convocação de uma Assembleia Constituinte, eleição para essa Assembleia e a submissão do novo texto a referendo. Isso ocorreu, respectivamente, na Venezuela a partir de 1998, na Bolívia desde 2005 e, por fim, no Equador de 2006 em diante.

Vergueiro322 explica que os objetivos dos três países ao modificarem a sua base política (a Constituição) eram: reformular a sua política, eliminar as diferenças de classes e aumentar a inclusão social.

A Venezuela foi a primeira a tentar redemocratizar o seu país, com a eleição de Hugo Chávez em 1998. A vitória de Chávez representou o fim do Pacto de Punto

Fijo, que estabeleceu as regras para a criação da democracia no país, em 1958.

Desde então, o sistema político estava concentrado em dois partidos, que alternavam no poder, desgastando as instituições representativas.323 Chávez surgiu, portanto, como uma esperança de mudar essa situação.324

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VERGUEIRO, João Paulo de Andrade. Constituição, poder constituinte e bolivarianismo: Bolívia, Equador e Venezuela e as estratégias presidenciais. 2013. 82p. Dissertação (Mestrado em Administração Pública e Governo) – Escola de Administração de Empresas de São Paulo (da Fundação Getúlio Vargas), São Paulo, 2013, p. 34.

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VERGUEIRO, João Paulo de Andrade. Constituição, poder constituinte e bolivarianismo: Bolívia, Equador e Venezuela e as estratégias presidenciais. 2013. 82p. Dissertação (Mestrado em