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4 O FEMINISMO EM CAMPO: UMA LEITURA A PARTIR DA CONSTRUÇÃO DE

5.1 PERFIL DAS MULHERES NOS TERRITÓRIOS DA CIDADANIA

5.1.2 As usuárias de ATER Mulheres no RN

Os dados do perfil das usuárias foram extraídos do Sistema de Monitoramento de ATER (SIATER) e dos registros de diagnósticos do Centro Feminista 08 de Março sobre as usuárias da política. É a partir de um demonstrativo dos territórios que se pretende apresentar um panorama da situação das mulheres beneficiárias da política de ATER Mulheres no RN e, assim, ter um maior entendimento do perfil das mulheres do universo da pesquisa.

Entre os dados disponíveis, foram considerados apenas os que são base dos indicadores elaborados para a avaliação da efetividade do ATER Mulheres

no RN. É importante ressaltar que essas informações foram extraídas do diagnóstico realizado no início de cada execução de contrato.

Um outro elemento a ser considerado são os diferentes formatos do diagnóstico. Ao longo dos contratos de ATER, houve uma considerável evolução na inclusão do debate do trabalho doméstico e do cuidado na coleta de dados. Os dois últimos contratos executados, Seridó e Mato Grande, tiveram uma importante inclusão da análise da divisão sexual do trabalho e da mensuração de escoamento da produção das mulheres. Uma outra diferença é que houve uma ampliação das políticas ofertadas e acessadas desde a execução do ATER Mulheres no Sertão do Apodi e Açu/Mossoró (2010) ao ATER Mulheres Seridó e Mato Grande (2014).

Para efeito da caracterização das mulheres usuárias de ATER, consideram-se dados sobre o acesso às políticas públicas, à terra, a divisão sexual do trabalho, o tipo e o destino da produção.

a) Acesso às políticas públicas

No Brasil, é recente a incorporação das mulheres rurais como usuárias das políticas públicas que se deu a partir dos anos. Butto (2008) afirma que a ação do Estado como promotor de política pública que incida sobre as relações sociais de sexo tem acompanhado o processo histórico do país. Sua intensidade e intencionalidade dependem de fatores conjunturais e de como a ação governamental estrutura-se para responder às demandas levantadas pelas reivindicações das mulheres como sujeito político e social e coincide com uma conjuntura de mobilização questionadora do status quo. De acordo com os dados das beneficiarias do ATER no RN, o acesso a políticas públicas ainda é incipiente. No entanto, quando olhamos para os dados de 2010 do Sertão do Apodi, percebe-se avanço nos números de programas acessados e números de mulheres por políticas.

No tocante ao acesso às políticas públicas, as Mulheres que acessaram o ATER Seridó apresentam o seguinte quadro:

Gráfico 5 – Acesso a políticas públicas Seridó

Fonte: CF8, 2016.

Já as mulheres do Mato Grande, conforme diagnóstico, tiveram acesso às políticas de acordo com o Gráfico 6:

Gráfico 6 – Acesso a políticas públicas Mato Grande

Fonte: CF8, 2016.

Mesmo considerando que essas mulheres experimentaram, em um período recente, o acesso às políticas públicas ofertadas pelo MDA, ainda permaneceu a ausência de acesso aos programas como PAA/PNAE e acesso à terra como a reforma agrária.

Já no ATER do Território Sertão do Apodi, considerando que seu acesso se deu em 2008, as mulheres tiveram um ingresso ainda menor como agentes da política pública. No Gráfico 7, apenas quatro políticas foram citadas:

78,6 3,5 92,8 80,2 21 4 14 %

ACESSO À POLÍTICAS PÚBLICAS

43 3 91 28 5 2 29 %

ACESSO À POLÍTICAS PÚBLICAS

MATO GRANDE

Gráfico 7 – Acesso às políticas públicas 2008

Fonte: CF8, 2016.

Entre o contrato de ATER mais antigo (Sertão do Apodi) e os atuais (Seridó e Mato Grande), houve um considerado avanço das mulheres no acesso à política pública, conforme é possível ver nos dados citados. Já no acesso à terra, há uma semelhança nos números ou no controle dessas mulheres ao bem que legalmente é de sua propriedade.

O acesso desigual das mulheres à terra é uma realidade nas diversas regiões do país. De acordo a análise do censo agropecuário 2006, feita por Nobre (2012), as mulheres são responsáveis por estabelecimentos em áreas médias inferiores à metade da média dos estabelecimentos em que os homens são responsáveis.

b) Acesso à terra

Apesar de na agricultura a terra ser peça fundamental na economia do país e na vida de camponesas e camponeses, os níveis de utilização das terras por mulheres são desiguais e estão abaixo do necessário para a conquista da autonomia econômica. Esses dados apontam que apenas 2,3% são proprietários da terra legalmente. O controle sobre a posse da terra é, portanto, fator fundamental. Essa questão pode ser apoiada na afirmação de Carmen Diana Deere (2010), quando cita as teorias feministas, afirma que o poder de

181 99 12 86 113 - 50 100 150 200 BOLSA FAMÍLIA GARANTIA SAFRA ATER MULHERES CRÉDITO RURAL OUTROS

negociação das mulheres dentro de casa (na relação conjugal) também está relacionado com a posição que ocupa no interior da família, da comunidade e com os bens que possuem e que estão sobre seu controle38.

Quando perguntadas pelo acesso à terra, apenas 2,3% das mulheres do Seridó responderam que têm a propriedade da terra e 13% a posse da terra para uso familiar. Já no Mato Grande, esse número amplia para 25%, conforme os gráficos a seguir:

Gráfico 8 – Acesso à posse de terra no sertão do Seridó

Fonte: CF8, 2016.

Gráfico 9 – Acesso à posse de terra no Mato Grande

Fonte: CF8, 2016.

38 Informações retiradas da conferência proferida no VIII Congresso Latinoamericano de

Sociologia Rural, Porto de Galinhas, Brasil, de 15 a 19 de novembro de 2010.

1,9 43,7 1,9 13 2,3 34 3,2

Acesso à Posse da Terra no

sertão do Seridó

Arrendamento Comodato Parceria

Posse Pópria Outras

SR 3%16% 2%2%1% 17% 23% 25% 7%4%

Acesso a Terra Mato Grande

Arrendamento Comodato Cessão

Direito de uso Meação Parceria

Posse Própria Outras

Os gráficos modificam-se parcialmente nos quatro territórios. No Sertão do Apodi, as mulheres beneficiárias do ATER Mulheres também não têm controle sobre a terra, mesmo afirmando a sua posse, conforme Gráfico 10:

Gráfico 10 – Situação de posse sertão do Apodi (Terra Morada)

Fonte: CF8, 2016.

Nesse caso, deve-se perguntar se as terras podem ser consideradas um bem sob o controle das mulheres, já que os dados indicam que essas mulheres não têm acesso a esse bem legalmente. Portanto o acesso à terra é um fator importante para a autonomia financeira das mulheres.

Nesse sentido, vale debater sobre a importância dos quintais produtivos que, se apresentam, nesse caso, como a capacidade de resiliência das mulheres por duas questões: primeiro porque, de acordo com os dados apresentados, as mulheres beneficiárias do ATER no RN, em sua maioria, não têm acesso à terra, restando apenas os quintais para o controle e produção das mulheres; o segundo refere-se ao fato de os quintais estarem ao “redor de casa” por não conseguirem quebrar as estruturas da divisão sexual do trabalho. A proximidade da terra à casa facilita que possam realizar as suas tarefas domésticas e produtivas ao mesmo tempo.

c) O tipo e o destino da produção das usuárias do ATER Mulheres RN

A partir dos dados do diagnóstico de ATER Seridó e Mato Grande fica nítido que as mulheres convivem entre suas produções dos quintais

PROPRIETÁRIA 43% PROP S/TITULO 23% ARRENDATÁRIA 0% PARCEIRA 11% MEEIRA 1% POSSEIRA 0% USUFRUTUÁRIA 22%

SITUAÇÃO DE POSSE SERTÃO DO

APODI (Terra de Morada)

consideradas agroecológicas, com a produção da família que ainda persiste na produção de forma convencional.

De acordo com as mulheres do Seridó, suas famílias já praticavam agroecologia bem antes de acessarem o ATER. No entanto, ainda existe um significativo número de produção convencional.

Gráfico 11 – Tipo de produção Seridó

Fonte: Autora, 2017.

No Mato Grande, o número de mulheres que convivem com a produção convencional é ainda mais elevado, conforme gráfico a seguir. 39

Gráfico 12 – Tipo de produção Mato Grande

Fonte: Autora, 2017.

39 Sobre esse tema, nas entrevistas com as técnicas do CF8 foi detectado que os dados

coletados podem ter divergência na medida que as mulheres entendem agricultura convencional como aquela que elas praticam há anos e aprenderam com os pais. No entanto, também foi afirmado que as famílias das mulheres trabalham com insumos químicos e defensivos, advindos da revolução verde. 41% 54% 5%

Tipo de Produção

Agroecológico Convencional SR 22% 59% 19%

Tipo de Produção

Agroecológico Convencional SR

Um outro dado da produção importante de ser analisado é o destino da produção.

Gráfico 13 – Destino da produção do Seridó

Fonte: Autora, 2017.

A primeira análise é que um dos principais destinos da produção das mulheres é para o consumo da família. Considerando que o campo de saber da agroecologia baseado no aprendizado de camponeses e indígenas consiste na prática de subsistência, logo, a agricultura feita pelas mulheres aproxima-se das práticas agroecológicas.

Outro número que se sobressai nos diagnósticos do Seridó, é a relação direta com o consumidor que, neste item, estão incluídas as diversas formas de organização informais praticadas pelas mulheres (associação, grupos informais de mulheres, feiras agroecológicas, Rede Xique Xique). De acordo com dados do censo da economia solidária em Nobre (2012), os empreendimentos coordenados por mulheres têm um maior processo coletivo, no entanto com mais dificuldades de formalização. Observa-se ainda que, no processo de comercialização, 57 mulheres contam com intermediários, persistindo, assim, a figura do atravessador.

Após a apresentação da caracterização do território e das mulheres usuárias do ATER mulheres no RN, faz-se necessário apresentar os sujeitos políticos, parte constitutiva da execução do ATER Mulheres no RN.

0 20 40 60 80 100 96 2 1 0 9 4 38 57 2 96 97 98 90 94 60 41 2 2 2 2 2 2 2 2 %

Destino da Produção do Seridó

5.2 OS SUJEITOS POLÍTICOS E SUA ATUAÇÃO NO RN: MMM, CF8, GRUPOS