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Valores humanos: Contribuições iniciais

CAPÍTULO III. VALORES HUMANOS

3.1. Valores humanos: Contribuições iniciais

O estudo dos valores teve seu início com a Filosofia na primeira metade do século XIX. Grandes filósofos, como Platão, Sócrates e Aristóteles, estudaram a

respeito deste construto (Medeiros, 2011). Além disso, referências sobre este tema são encontradas em outras vertentes teóricas, como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia (Gouveia, 2003; Santos, 2008).

Sabe-se que houve grandes contribuições de autores no estudo sobre os valores humanos, tais como: Tönnies (1887/1979) com as concepções sobre comunidade e sociedade; Merton (1938) com a ideia de adesão às normas sociais ou desvio delas; e Kluckhohn (1951) com o princípio do desejável. Porém, este tópico destaca, brevemente, apenas algumas teorias, entendendo que a teoria dos outros autores não é menos importante. Mas, por não ser foco desta obra descrever sobre todos os precursores no estudo dos valores, buscou-se apenas destacar alguns. Desta forma, dá- se ênfase a autores-chave tais como: Thomas e Znaniecki (1918), Parsons (1959/1976) e Maslow (1954).

Iniciando com a contribuição dada por Thomas e Znaniecki (1918), os quais demarcaram o seu pioneirismo no estudo dos valores com a publicação da obra O Campesino Polonês, introduziram os conceitos de valores e atitudes de maneira distinta. Os autores entendiam as atitudes como um processo pelo qual o indivíduo apreende cognitivamente uma realidade social e decide como agir. Os valores, por outro lado, fariam a conexão entre as atitudes e a estrutura social, guiando a ação dos indivíduos por meio das regras do grupo. No entanto, seriam as atitudes que elucidariam o processo de elaboração individual (intrassubjetivo) no universo social no qual se estabelecem os valores (intersubjetivo e extrassubjetivo) (Ros, 2006).

Uma outra contribuição foi dada por Parsons (1959/1976) com a teoria da ação social. Este autor contribui com uma base teórica no contexto dos estudos sobre os valores, apesar de não ter deixado muitas contribuições empíricas (Medeiros, 2011). Segundo Parsons (1976), os indivíduos são guiados por três critérios: cognitivos, catéticos (afetivos) e avaliativos, bem como pelas orientações de valor que os obrigam

a respeitar as normas que delimitam suas escolhas. Assim, os valores estariam ligados a critérios normativos e apresentariam aspectos cognitivos, avaliativos e de responsabilidade social, em que o indivíduo assumiria as conseqüências de suas ações tanto para si mesmo quanto para o sistema social (Ros, 2006).

Outro precursor dos estudos sobre os valores foi Maslow (1954), que, por sua vez, traz as primeiras contribuições psicológicas acerca deste construto, diferente dos autores anteriormente citados que tratam os valores numa perspectiva socioantropológica. Sua teoria da motivação afirma que as necessidades fisiológicas, de segurança, de pertencimento e amor, de estima, de autorrealização, de conhecimento e estética são as que motivam as pessoas em busca de seus objetivos. De acordo com este autor, as necessidades de ordem superior são atendidas a partir da satisfação das necessidades mais básicas. Assim, concebe-se os valores enquanto necessidades. Mais detalhes acerca da teoria podem ser vistos em sua obra Motivation and personality. Entretanto, Gouveia, Fonsênca, Milfont e Fischer (2011) resumem o que Maslow propôs em sua teoria da seguinte forma: os valores seriam todos positivos devido à natureza benevolente do homem e por ser orientado à autorrealização. Eles também representariam as necessidades deficitárias e de desenvolvimento.

Alguns modelos de valores têm sido identificados como adotando uma perspectiva cultural. Este construto reflete as representações de necessidades construídas socialmente na realidade, as quais são estabelecidas sob o reflexo de normas sociais e institucionais vigentes (Mangabeira, 2002). Estes modelos se apresentam como referências para as pontuações médias das culturas nacionais, normalmente países, buscando conhecer ou testar determinada estrutura teórica ou dimensões valorativas (Medeiros, 2011).

Para tanto, têm-se os estudos de Hofstede (1984) que analisou as prioridades valorativas considerando a cultura em que as pessoas estavam inseridas. Este autor

mapeou os valores de várias culturas. Para isto, contou com 100.000 empregados da empresa IBM, multinacional com filiais espalhadas pelos cinco continentes. As dimensões encontradas foram definidas como: distância de poder, individualismo- coletivismo, masculinidade-feminilidade e evitação de incerteza.

Por outro lado, Inglehart (1977) conta com estudos sobre os valores humanos nesta mesma direção, porém no âmbito das Ciências Sociais e Políticas. Partindo da teoria das necessidades de Maslow, este autor elaborou um modelo em que considerou os aspectos sociais e culturais dos valores, contemplando duas dimensões nas quais buscou identificar as mudanças geracionais e comparar as culturas nacionais: materialismo e pós-materialismo. A primeira se refere às necessidades mais básicas ou os valores materiais (por exemplo, satisfação de necessidades de segurança física e econômica), já a segunda diz respeito às necessidades mais elevadas (por exemplo, autoestima, pertencimento, cognitiva e estética).

Não obstante, no plano individual, de acordo com Ros (2006), as teorias sobre valores são úteis para caracterizar as prioridades que orientam os indivíduos, as bases motivacionais nas quais são apoiados os valores, servindo igualmente para entender as diferenças entre os indivíduos. Esta autora enfatiza que as teorias na perspectiva individual são comumente relacionadas com tomadas de decisões e atitudes manifestas. Portanto, são úteis para o estabelecimento de relações entre as prioridades valorativas e os comportamentos de pessoas e grupos.

O foco desta tese prima por um enfoque individual dos valores. Neste sentido, os tópicos seguintes versam sobre as principais teorias dos valores no âmbito individual considerando os trabalhos de Rokeach (1973), Schawartz (2006) e Gouveia et al. (2008, 2011), tendo a teoria deste último como referência principal.