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Vantagens e desvantagens da utilização do jogo

Capítulo I – Enquadramento teórico

4. O jogo na Educação

4.1. Vantagens e desvantagens da utilização do jogo

O jogo pode ser considerado como um auxiliar educativo e uma forma de motivar os alunos para a aprendizagem. Nesse sentido, o jogo não pode apenas ser encarado como prazer e divertimento, mas também como uma atividade na qual pretende-se atingir um objetivo e uma aprendizagem. No entanto, não existem só benefícios, também há algumas desvantagens.

Ferran, Mariet & Porcher (1979:81) acreditam que “ Um jogo verdadeiramente educativo faz esquecer ao jogador que é educativo e que foi feito para instruir distraindo: deve surgir ao interessado como tendo por propósito distraí-lo. É acrescentado o aspecto educativo sem que o utilizador tenha disso clara consciência.”.

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Tal acontece porque quando a criança joga fá-lo por prazer sem perceber que ao mesmo tempo é educativo.

Os mesmos autores apontaram um leque de vantagens para a utilização do jogo no contexto educacional são elas: “1) O emprego dos jogos na escola é potencialmente de uma enorme riqueza; não a esqueçamos em nome de um certo puritanismo pedagógico. 2) São verdadeiramente eficazes apenas quando permanecem como jogos: recreativos, divertidos, repousantes, «interessantes» (dizem significativamente as crianças). 3) Devem ser inscritos como elemento apenas no contexto pedagógico global. Há que adaptá-los à estratégia pedagógica do conjunto do ensino e não transformar este em função deles. A sua virtude é serem utensílios e o seu alcance é unicamente metodológico (o que já é considerável). 4) A sua utilização deve pois privilegiar a coordenação, a articulação dos utensílios entre si. 5) É preciso que se saiba e admita que, para as crianças, os jogos são sempre mais interessantes que o trabalho escolar: não lutemos contra isso, num combate perdido à partida; utilizemo-los sabendo que o trabalho escolar é, na escola, a mais importante e a mais rica das consequências sociais para os alunos (futuros adultos). 6) A solução passa pela multiplicação dos jogos educativos com a condição de estes serem primeiros jogos que têm, por acréscimo, qualidades pedagógicas.” (Ferran, Mariet & Porcher, 1979:87-88). Refletindo sobre estas ideias dos autores parece-me que estão a separar duas coisas que não necessitam de ser separadas, à partida:

1. Aprender não implica jogar. 2. Jogar não implica aprender.

Esta divisão advém da separação que os autores fazem entre “jogos” e “trabalho escolar”.

Na minha opinião onde o Professor deve esforçar-se é por reduzir o peso demasiado “maçador” e sacrificante do “trabalho escolar” entendido como “fichas”; “ditado” etc. e procurar que o tal “trabalho escolar” se torne mais aliciante. O “jogo” é uma das estratégias, apesar de não ser a única. As crianças felizes aprendem melhor, na minha opinião.

Assim, o jogo educativo deve ser encarado como uma estratégia pedagógica que cada vez mais deve ser utilizada nas escolas pois ajuda os alunos na sua aprendizagem, não pondo de parte o lado da diversão e do prazer, mas sim conciliando ambos.

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Segundo Rizzo (1999), citado por Cruz (2012), outra das vantagens do jogo é o desenvolvimento da atenção, da disciplina, do autocontrole, do respeito pelas regras e das habilidades de perceção e motoras de cada tipo de jogo.

Para Cruz (2012), as vantagens e desvantagens do jogo não se remetem apenas ao grau de especialização, mas também são de acordo com os jogadores, com as características envolventes e com as características da própria escola. Assim, o jogador ao envolver-se na atividade de jogar possui o objetivo de ganhar e tem medo de errar perante os outros. O jogador ao conseguir vencer este obstáculo prepara-se mais facilmente para a sua vida adulta. Mas, como já disse, é tão importante aprender a perder como aprender a ganhar.

O mesmo autor ainda considera que as desvantagens da utilização do jogo estão, entre outros aspetos, associadas ao facto de, nos dias de hoje, os alunos terem muita facilidade em aceder a jogos o que permite que em contexto escolar estes sejam mais desinteressantes e se não forem previamente preparados podem levar à distração por parte dos alunos (Cruz, 2012). Considero muito importante este aspeto. Nesta era de internet, dos I-Phones, dos Tablets, etc., o jogo está muito presente não só no mundo infantil, mas também no mundo adulto. Cada vez mais os adultos optam pelo jogo como um momento anti-stress e de relaxamento. Ora, o mundo dos vídeo jogos é muito apelativo, interativo, estratégico, rico em todas as múltiplas formas. Isto implica e dificulta a construção dos jogos didáticos ou educativos que facilmente caiem em jogos sem interesse e sem qualquer função motivacional, perdendo, assim, a sua função pedagógica.

Mas voltando à reconhecida importância do jogo para a Educação, apresento a análise feita por Grando (2000) a partir de vários autores e que estabelece um conjunto de vantagens e desvantagens do jogo referentes ao processo de ensino e aprendizagem:

Vantagens Desvantagens

- Os conceitos que já foram aprendidos são expostos de uma forma motivadora. - Permite a introdução e desenvolvimento de conceitos de difícil compreensão. - O jogo ajuda o aluno a aprender a tomar decisões e a reflectir sobre elas,

- Quando os jogos são utilizados incorretamente pode levar a que os alunos joguem sem perceberem o motivo pelo qual o fazem.

- Se o professor não tiver preparado previamente o jogo, pode provocar

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- Facilita na obtenção de significados para conceitos que aparentemente são incompreensíveis.

- O jogo favorece a interdisciplinaridade. - O aluno passa a ser construtor do seu próprio conhecimento.

- Promove a socialização e incute nos alunos o trabalho em equipa.

- A utilização dos jogos motiva os alunos no seu processo de ensino e aprendizagem.

- Proporciona o desenvolvimento da criatividade, do sentido crítico, da competição saudável, da observação, da comunicação e do prazer em aprender. - Desenvolve nos alunos habilidades que necessitam e é útil no trabalho com alunos de diferentes níveis.

- Os jogos facilitam aos professores diagnosticar nos alunos possíveis erros de aprendizagem, as suas atitudes e as suas dificuldades.

desperdício de tempo e assim sacrificar outros conteúdos, devido à falta de tempo. - Nem todos os conceitos podem ser ensinados através do jogo.

- O professor não deve intervir constantemente no desenrolar do jogo, pois leva a que este perca a sua ludicidade.

- O professor deve manter a natureza do jogo, não deve exigir ao aluno que ele jogue mas sim mostrar-lhe que o jogo é uma atividade voluntária.

- Existe pouco material disponível sobre a utilização de jogos no processo de ensino e aprendizagem, o que pode levar a que os docentes não o adotem nas suas aulas.

Para Kishimoto (2001:36-37), “Utilizar o jogo na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora.”.

Ainda de acordo com o mesmo autor, ao utilizarmos o jogo em contexto escolar, este potencializa e explora os conteúdos e, ao mesmo tempo, ajuda na construção de conhecimentos devido à motivação que este oferece.

Freinet, o iniciador do Movimento da Escola Moderna (MEM) não é apologista do jogo, aliás o MEM não indica o jogo como estratégia eficaz. Diz-nos Freinet, citado

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por Ferran, Mariet & Porcher (1979:73), consideram que “O jogo na escola, utilizado pedagogicamente, fornece uma solução de facilidade que, além disso, é inadequada ao objectivo primordial de toda a formação: preparar a criança para a vida pela própria vida.”. Percebe-se que para este Modelo Pedagógico, cuja centralidade está na construção do cidadão como membro de uma sociedade democrática, o jogo falsifique a reprodução da sociedade que se pretende que aconteça na sala de aula. Contudo, para estas crianças que aprendem no Modelo do MEM toda a aprendizagem é motivacional, pelo que o jogo é dispensável (Paszkiewicz, 2002).

Concluindo, em modelos pedagógicos mais tradicionais e menos sociocentrados há vantagens da utilização do jogo dado que este inclui a tomada de decisão, a interação social, o trabalho cooperativo, o desenvolvimento a nível afetivo, cognitivo, intelectual, motor, entre outros. O jogo pode ainda funcionar como facilitador na relação entre os discentes e os docentes. Relativamente às desvantagens, estas podem ser praticamente colmatadas se o docente antes de expor o jogo perante a turma o tiver bem planeado e os objetivos bem definidos para que assim não haja motivos para distração nem perdas de tempo.

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