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Veremos neste capítulo como o Império do Oriente, o Islã e a cristandade latina

No documento História Da Educação e Da Pedagogia.pdf-1 (páginas 155-188)

gestaram os novos tempos após a dissol-

ução do Império Romano. E como essas

mudanças repercutiram no modo de pre-

servar a tradição, criar novos valores e

educar as gerações.

Contexto histórico

1. O Império Bizantino

Enquanto o antigo Império Romano do Ocidente se frag- mentou em inúmeros reinos bárbaros, o Império Romano do Oriente, ou Bizantino, conseguiu manter uma estrutura relativa- mente duradoura até o século XV, quando sua capital, Con- stantinopla, foi tomada pelos turcos.

De início prevaleceu a tradição romana, com o uso do latim, e o papa de Roma ainda dispunha de autoridade para decidir sobre questões da religião cristã. Com a estrutura adminis- trativa herdada da tradição romana, a civilização bizantina manteve-se econômica e culturalmente adiantada, enquando o Ocidente decaía.

No século VI o imperador Justiniano foi responsável pela grande revisão e sistematização do Direito Romano, levadas a efeito pelos seus juristas na elaboração do Corpus Juris Civilis, cuja influência é sentida até hoje nos códigos jurídicos de grande parte da Europa e da América. Durante o governo desse

• Divisão do Império Romano em Império do Ocidente e Império do Oriente: 395 (ainda na Antiguidade).

• Idade Média: de 476 (queda do Império Romano do Ocidente) a 1453 (tomada de Constantinopla pelos turcos).

• Império Romano do Oriente (ou Império Biz- antino): de 395 a 1453.

• Expansão islâmica: iniciada no século VII; na Europa, o último reduto islâmico em Granada (Espanha) foi reconquistado pelos cristãos em 1492.

imperador, o Império Bizantino alcançou sua máxima extensão, abrangendo Grécia, Ásia Menor, Oriente Médio, algumas re- giões da Itália, norte da África e sul da Espanha. Por volta do século XV, o Império fora reduzido a pequenos territórios na Grécia, além da cidade de Constantinopla.

Com o tempo, falaram mais alto as raízes gregas e asiáticas, e a orientalização de Bizâncio foi inevitável, passando a predom- inar costumes mais antigos, inclusive com a retomada da língua grega. Os imperadores, investidos de maior poder, assumiam decisões no campo religioso, motivo pelo qual as divergências com o papado culminaram em 1054 com a criação da Igreja Cristã Ordodoxa Grega, acontecimento conhecido como Cisma

do Oriente[34], pelo qual os bizantinos recusaram a autoridade do papa de Roma e as duas Igrejas se separaram.

2. O Islã

Na Península Arábica viviam tribos em constante conflito, com grandes prejuízos para o comércio. No século VII, o profeta Maomé fundou a religião islâmica, ou muçulmana. Trata-se de uma religião monoteísta, e seu livro sagrado, o Alcorão, traz a palavra de Alá, que orienta a conduta moral e religiosa dos fiéis. Maomé conseguiu unificar as tribos árabes por meio de pregação, mas sem desprezar a ação guerreira. Instaurou um governo teocrático, isto é, sem separar religião e Estado.

Após sua morte, os seguidores iniciaram a expansão islâmica, cujo resultado foi a criação de um grande império, que se es- tendeu além da Península Arábica pelo Oriente Médio, al- cançando a leste o vale do Indo, ocupando a oeste todo o norte da África e depois a Península Ibérica, na Europa.

A civilização islâmica, além da cultura árabe original, assimil- ou a dos povos vencidos, tornando muito rica a sua influência nos locais onde se instalou. Desse modo, os árabes conheciam a

filosofia, a ciência e a literatura dos gregos antigos, traduziram inúmeras obras clássicas, algumas delas conhecidas posterior- mente pelos latinos justamente por essa via: por exemplo, os cristãos da Escolástica tiveram o primeiro contato com o pensamento de Aristóteles por meio dos árabes.

A partir do século XIII começaram à leste as incursões dos mongóis e mais tarde dos turcos, enquanto na Europa a recon- quista cristã os expulsou lentamente da Península Ibérica, até a queda do Reino de Granada, no século XV. Justamente nessas regiões do sul de Portugal e Espanha, em que os mouros per- maneceram por mais tempo, vemos até hoje os sinais fecundos dessa passagem.

3. A Europa cristã

Como já dissemos, no Ocidente europeu, o primeiro período, conhecido como Alta Idade Média, caracterizou-se pelas in- vasões bárbaras e a formação dos primeiros reinos germânicos. A desagregação da antiga ordem e a insegurança dos novos tem- pos forçaram o despovoamento das cidades, que perderam sua importância, provocando um processo acentuado de ruralização que se estendeu até o século X. Na virada do Ano Mil teve início a Baixa Idade Média, caracterizada pelo renascimento das cid- ades e do comércio, bem como pelo ressurgimento das artes e das lutas sociais e religiosas.

Na primeira fase, todos procuravam proteção ao lado do castelo do senhor, e a sociedade se tornou agrária, autossufi- ciente na atividade agrícola e no artesanato caseiro. Desapare- ceram as escolas, o Direito Romano entrou em desuso, o comér- cio local retringiu-se, predominando os negócios à base de trocas, a ponto de quase desaparecer a circulação de moedas.

O sistema escravista foi desaparecendo, surgindo em seu lugar o trabalho dos servos, que, embora livres, dependiam dos

seus senhores. Aos poucos, configurava-se o feudalismo, institu- ição que não apresentou práticas uniformes nem se desenvolveu ao mesmo tempo e do mesmo modo em todos os lugares.

A sociedade feudal, essencialmente aristocrática, estabeleceu- se sob os laços de suserania e vassalagem que entremeavam as relações entre os senhores de terras. No alto da pirâmide es- tavam a nobreza e o clero. O rei teve seu poder enfraquecido pela divisão dos territórios, pela autonomia dos senhores locais e, com o tempo, pela supremacia do papa. A alta e a pequena nobreza, constituídas por duques, marqueses, condes, vis- condes, barões, cavaleiros, disputavam entre si, e alguns sen- hores conseguiam ser até mais poderosos que o rei.

No mundo feudal, a condição social era determinada pela re- lação com a terra, e por isso os que eram proprietários (nobreza e clero) tinham poder e liberdade. No outro extremo, encontravam-se os servos da gleba, os despossuídos, impossibil- itados de abandonar as terras do seu senhor, a quem eram obri- gados a prestar serviços.

Apesar dessa instabilidade e turbulência, desde o início da Idade Média, a herança cultural greco-latina foi resguardada nos mosteiros. Os monges eram os únicos letrados, porque os nobres e muito menos os servos sabiam ler. Podemos então compreender a influência que a Igreja exerceu não só no con- trole da educação, como na fundamentação dos princípios mo- rais, políticos e jurídicos da sociedade medieval.

No contexto de fragmentação do Império Romano, a religião surgiu como elemento agregador. A influência da Igreja, além de espiritual, tornou-se efetivamente política, e para contar com ela os chefes dos reinos bárbaros convertiam-se ao cristianismo. Não deixa de ser significativa a cerimônia em que o rei franco Carlos Magno foi coroado pelo papa Leão III, no ano 800, con- solidando o Império Carolíngio, que se estendia dos Pirineus à metade norte da Itália. Após esse período, conhecido como

renascimento carolíngio, deu-se a fragmentação do Império e

novo período de retração.

No decorrer da Baixa Idade Média, a partir do século XI, porém, a atividade da burguesia comercial em ascensão trouxe o reavivamento das cidades, não só do ponto de vista econômico, mas também político, com a formação da nova burguesia que começava a se opor ao poder dos senhores feudais, bem como das heresias que contestavam a ortodoxia religiosa. A efer- vescência intelectual culminou com a criação das universidades. Em contrapartida, a Igreja resistia às tentativas de contest- ação do seu poder, instituindo no século XIII a Inquisição (ou Santo Ofício), para punir os hereges.

No período final da Idade Média, o embate entre os reis e o papa evidenciava o ideal de secularização do poder em oposição à política da Igreja, e anunciava os esforços no intuito da form- ação das monarquias nacionais. No seio da sociedade, a contra- dição entre os habitantes da cidade (os burgueses) e os nobres senhores deu início aos tempos do capitalismo.

Educação

Começaremos com rápida referência à educação dos bizanti- nos e dos árabes, para nos concentrarmos na tradição europeia latina, que exerceu maior influência no Ocidente.

Vimos como o Império Bizantino e o Islã, na primeira fase da Idade Média, conseguiram manter uma atividade cultural in- tensa, não só conservando a literatura clássica, mas também in- ovando sobre a tradição. Consequentemente, a atividade edu- cativa também foi mais rica naquele período, nesses locais. 1. A educação bizantina

No Império Bizantino, como no Ocidente, dava-se ênfase à vida religiosa e havia preocupação com as heresias. Porém, se- gundo Marrou, a civilização bizantina, embora “tão profunda- mente cristã, que dá tanta importância às questões propria- mente religiosas e especialmente à teologia, continuou obstin- adamente fiel às tradições do humanismo antigo”.

Há pouca documentação a respeito do ensino primário e secundário, mas é certo que não havia o predomínio do ensino religioso nas escolas, e os clássicos pagãos eram estudados sem restrição, característica que distingue suas escolas daquelas do Ocidente, como veremos. A meta da educação continuava a mesma da estabelecida na Antiguidade, ou seja, a formação hu- manista e a preparação de funcionários capacitados para a ad- ministração do Estado.

Sobre as escolas superiores existem informações mais detal- hadas, com destaque para a Universidade de Constantinopla, importante centro cultural de 425 a 1453. Embora tivesse so- frido altos e baixos nesse longo período, aquela universidade acolheu as obras antigas e orientou estudos fecundos de filosofia e ciências, bem como preservou o Direito Romano, sistematiz- ado na época de Justiniano.

Os estudos religiosos eram feitos à parte na escola monástica. Nesse caso, predominava o interesse espiritual e ascético, hostil mesmo ao humanismo pagão. Já na escola patriarcal — em que os professores eram nomeados pelo Patriarca — o ensino não se restringia à formação religiosa, apesar de essa ser bastante vigorosa. Abria-se também à tradição clássica, buscando-se elaborar de forma original o humanismo cristão.

Após a conquista turca, o antigo Império entrou em declínio, tal como ocorrera com o Ocidente no início da Idade Média. Ainda segundo Marrou, na Grécia “em cada aldeia, à sombra da igreja, o padre reúne as crianças e empenha-se, o mais possível,

em ensiná-las a ler — o saltério[35]e os demais livros litúrgicos —, de modo a ‘preparar para si um sucessor competente’”. 2. A educação islâmica

O primeiro renascimento cultural promovido pelos árabes deu-se no século VIII, em Bagdá, intensificado no século seguinte com a criação da “Casa da Sabedoria”, constituída de biblioteca e centro de estudos e ensino, além de competente corpo de tradutores de obras vindas da Índia, China, Alexandria e Grécia. Esse modelo repetiu-se no Egito e na Síria.

Havia um nítido interesse pela pesquisa e experimentação, em oposição às restrições que a Igreja cristã ocidental fazia a essa orientação intelectual. Assim, os árabes destacaram-se nas áreas de matemática — difundindo os algarismos, a álgebra, os logaritmos etc. —, medicina, geografia, astronomia e carto- grafia. Na filosofia, Avicena e Averróis, como veremos no tópico

Pedagogia, foram importantes divulgadores da obra de

Aristóteles.

Por volta do século X, os árabes criaram inúmeras escolas primárias para ensinar a leitura e a escrita. Aprendia-se o Al- corão de cor, a fim de conhecer a palavra de Alá e, por meio dela, ser educado moralmente. Também havia preceptores particulares.

Durante a influência árabe, as cidades de Córdova, Toledo, Granada e Sevilha, na Espanha, tornaram-se grandes centros ir- radiadores de cultura.

3. A paideia cristianizada

Vejamos agora como foi o longo período de mil anos da Idade Média ocidental, de influência marcadamente católica. Já sabemos que, enquanto as civilizações bizantina e islâmica

floresceram culturalmente, o Ocidente mergulhou em fases de retração e obscuridade. No entanto, no século VIII houve o renascimento carolíngio, e, a partir dos anos mil, mudanças im- portantes fecundaram o período subsequente, mas sempre com ênfase na cristianização da paideia.

As escolas monacais

Após a queda do Império, escolas romanas leigas e pagãs con- tinuaram funcionando precariamente em algumas cidades, com o clássico programa das sete artes liberais. Quase não há docu- mentos que comprovem a existência dessas escolas depois do século V, mas certos fatos nos levam a crer que ainda existiram por algum tempo. Por exemplo, como de início os bárbaros con- servaram as características da organização administrativa do Império, o que exigia pessoal instruído, é de supor que necessi- tassem ser iniciados nas letras latinas.

Com a decadência da sociedade merovíngia, porém, essas escolas também teriam entrado em desagregação. Surgiram en- tão as escolas cristãs, ao lado dos mosteiros e catedrais, e, como consequência, os funcionários leigos do Estado passaram a ser substituídos por religiosos, os únicos que sabiam ler e escrever.

O monaquismo é um movimento religioso que começou lentamente com a vida solitária dos monges, mas com o tempo exerceu considerável influência na cultura da Alta Idade Média. Etimologicamente, as palavras mosteiro (monasterion) e

monge (monachós) são formadas pelo mesmo radical grego monos, que significa “só, solitário”. Portanto, monge é o reli-

gioso que procura a perfeição na solidão e no afastamento da vida mundana.

Em todos os tempos, religiões como o judaísmo, o hinduísmo e o budismo nos deram exemplos dessa forma de busca espiritu- al. São famosos os monges do Egito e do Tibete, que vivem

absolutamente segregados, nas florestas, cavernas ou desertos. Outros se reúnem em mosteiros situados em lugares desabita- dos, mas se recolhem em celas separadas.

Com a decadência do Império, aumentou o número daqueles que, desgostosos com o afrouxamento dos costumes, se refu- giavam nos desertos como eremitas (ou ermitões). Partindo da crença de que o corpo é ocasião de pecado, repudiavam os prazeres sensuais, abstiam-se de sexo, alimentavam-se frugal- mente, jejuavam com frequência e dedicavam o tempo às or- ações. Para vencer as paixões e atingir a mais pura espiritualid- ade, submetiam-se a mortificações, como o uso do flagelo. Por isso são chamados de ascetas. A palavra ascese, segundo o Novo

dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holan-

da Ferreira, significa “exercício prático que leva à efetiva realiza- ção da virtude, à plenitude da vida moral”, e ascetismo é uma “moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e sensíveis do homem”.

Ao se juntar nos mosteiros, os ascetas intensificaram a vida comunitária. Embora no século VI já existissem alguns mosteir- os, em 529 São Bento fundou em Monte Cassino, na Itália, a Or- dem Beneditina, considerada a primeira em importância na Idade Média. Os monges beneditinos submetiam-se a uma dis- ciplina rigorosa e dedicavam-se ao trabalho intelectual e ao manual.

Criar escolas não era a finalidade principal dos mosteiros, mas a atividade pedagógica tornou-se inevitável à medida que era preciso instruir os novos irmãos. Surgiram então as escolas monacais (nos mosteiros), em que se aprendiam o latim e as hu- manidades. Os melhores alunos coroavam a aprendizagem com o estudo da filosofia e da teologia.

Os mosteiros assumiram o monópolio da ciência, tornando-se o principal reduto da cultura medieval. Guardavam nas bibli- otecas os tesouros da cultura greco-latina, traduziam obras para

o latim, adaptavam algumas e reinterpretavam outras à luz do cristianismo. Monges copistas, pacientemente, multiplicavam os textos clássicos.

Renascimento carolíngio

A partir do século VIII, com as conquistas do Islã, os europeus perderam o acesso ao mar Mediterrâneo, e com isso o comércio declinou ainda mais, provocando regressão econômica e intensificando o processo de feudalização. As pessoas se desin- teressaram de aprender a ler e a escrever, e mesmo na Igreja muitos padres descuidavam-se da cultura e da formação intelec- tual. Apesar desses fatores, cada vez mais o Estado precisava do clero culto nas atividades administrativas.

No final do século VIII e começo do IX, teve início o chamado

renascimento carolíngio. Carlos Magno — antes rei dos francos

e depois imperador de um vasto território —, trouxe para sua corte em Aix-la-Chapelle (atual cidade de Aachem, na Ale- manha) vários intelectuais proeminentes, entre os quais o anglo-saxão Alcuíno. O objetivo do imperador era reformar a vida eclesiástica e, consequentemente, o sistema de ensino.

A escola palatina (assim chamada porque funcionava ao lado do palácio) tornou-se sede de um novo movimento de difusão dos estudos que visava à reestruturação e fundação de escolas

monacais, de escolas catedrais (ao lado das igrejas, nas cid-

ades) e de escolas paroquiais, de nível elementar.

O conteúdo do ensino era o estudo clássico das sete artes lib- erais — as artes do indivíduo livre, distintas das artes mecânicas do servo —, cujas disciplinas começaram a ser delimitadas desde os tempos dos sofistas gregos, na Antiguidade. Na Idade Média elas constituíram o trivium e o quadrivium. Como veremos adiante neste capítulo, Marciano Capella (século V) es- creveu um livro sobre esse assunto, e daí em diante a divisão

das sete artes serviu para esboçar um programa de ensino, em- bora sua definitiva adoção tenha ocorrido apenas com as re- formas de Alcuíno, no século IX.

No trivium (três vias), constavam as disciplinas de gramática, retórica e dialética, que correspondiam ao ensino médio. O

quadrivium (quatro vias), formado por geometria, aritmética,

astronomia e música, destinava-se ao ensino superior, a que tinha acesso um número menor de pessoas.

Nos cursos do trivium, a gramática incluía o estudo das letras e da literatura; nas aulas de retórica, além da arte do bem falar, ensinava-se história; a dialética cuidava da lógica, ou arte de ra- ciocinar. Enquanto as disciplinas do trivium se voltavam para as artes do bem falar e discutir, o quadrivium era também con- hecido como o conjunto das artes reais (no sentido de terem por objeto o conhecimento da realidade). Dessa forma, a geometria incluía eventualmente a geografia, a aritmética estudava a lei dos números, a astronomia tratava da física, e a música cuidava das leis dos sons e da harmonia do mundo.

Uma ressalva deve ser feita com relação ao conceito de artes reais: se a ciência antiga tinha a intenção de entender a realid- ade, certamente o fazia de forma incipiente, porque a física aris- totélica era qualitativa, a astronomia muitas vezes se enredava na astrologia, o estudo da geometria entremeava discussões sobre formas perfeitas. O teor dessas discussões sofreria modi- ficações sensíveis apenas no século XVII, com a revolução científica levada a efeito por Galileu.

Renascimento das cidades: as escolas seculares Após o florescimento do período carolíngio, outras invasões bárbaras assolaram a Europa, provocando novo retrocesso. Com o fim dessas incursões, as Cruzadas liberaram a navegação no Mediterrâneo e reiniciou-se o desenvolvimento do comércio,

alterando definitivamente o panorama econômico e social. A principal consequência foi o renascimento das cidades e o surgi- mento de uma classe, a burguesia.

A palavra burgo inicialmente significava “castelo, casa nobre, fortaleza ou mosteiro”, incluindo as cercanias. Com o tempo os burgos transformaram-se em cidades, cujos arredores ab- rigavam os servos libertos que se dedicavam ao comércio e pas- saram a ser chamados de burgueses.

Por volta do século XI, o comércio ressurgiu, as moedas vol- taram a circular, os negociantes formaram ligas de proteção, montaram feiras em diversas regiões da Europa e passaram a depender das atividades dos banqueiros. As cidades cresceram graças ao comércio florescente. Como resultado das lutas contra o poder dos senhores feudais, as vilas se libertaram aos poucos, transformando-se em comunas ou cidades livres.

Essas mudanças repercutiram em todos os setores da so- ciedade. Onde só existia o poder do nobre e do clero, contrapôs- se o do burguês. Eram três os polos da atividade medieval: o castelo, o mosteiro e a cidade; e três os seus agentes: o nobre, o padre e o burguês.

As modificações exigidas no sistema de educação fizeram sur- gir as escolas seculares. Secular significa “do século, do mundo”, e, portanto, adjetiva qualquer atividade não religiosa. Até então, a educação era privilégio dos clérigos, ou, no caso da formação de leigos, as escolas monacais e catedrais restringiam- se à instrução religiosa. Com o desenvolvimento do comércio, as necessidades eram outras, e os burgueses procuraram uma edu-

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