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Viação Cometa TITO MASCIOLI [in memorian]

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VIAÇÃO COMETA

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Em 1937, o major aviador Tito Mascioli, veio da Itália para o Brasil e foi morar em São Paulo, cidade onde teve início sua trajetória na história do transporte coletivo. Na época de sua chegada, por iniciativa do agrimensor Arthur Brandi, que viria a ser seu cunhado, estava se abrindo um loteamen- to no bairro do Jabaquara. O bairro ficava muito distante do centro, e não tinha linhas de ônibus, fatores que dificultavam a venda dos lotes. Tito se associou a Brandi nesse empreendimento imobiliário e criaram uma linha de ôni- bus que fizesse a ligação entre o bairro do Jabaquara e a praça da Sé. Surgia assim a Auto Viação Jabaquara que, em pou- co tempo, tornou-se a maior empresa de ônibus urbano de São Paulo, controlando 40% do transporte coletivo da cidade.

Os negócios iam muito bem. A mesma coisa que fizeram com o bairro do Jabaquara fizeram na Freguesia do Ó, lotearam terrenos e levaram linhas de ônibus para o bairro que, assim como o Jabaquara era distante do centro. Os

Auto Viação Jabaquara 1940 GMC, Prefixo 225.

sócios foram comprando outras empresas, até que, em 1946, a prefeitura decidiu municipalizar o transporte coletivo criando a CMTC – Companhia Municipal de Transporte Coletivos que, assim como acontecera com outras empresas, encampou os ônibus da Auto Viação Jabaquara sem qualquer indenização aos proprietários, mesmo tendo Tito Mascioli assumido, ainda que por pouco tempo, o cargo de Tesoureiro da CMTC.

Antes de ser encampada pela CMTC a Auto Via- ção Jabaquara tinha sete garagens, das quais duas ainda

existem: uma na rua Tabapuã e outra no Largo do Cambuci. Naquela época era tudo diferente. Imagine ter uma garagem de ônibus na rua Ta- bapuã. Essa garagem manteve esse uso até os anos 1960 quando passou a ser locação comercial. A garagem do Largo do Cambuci também está locada para o comércio, mas com uma configuração um pouco diferente.

Em 1946 a CMTC encampou as empresas privadas, Tito e os sócios deixaram o transporte urbano em 1946 e optaram pelo trans- porte rodoviário. Compraram em 1947 uma empresa chamada Auto Viação São Paulo – Santos que estava praticamente falida e por essa razão foi melhor mudar o nome. A partir de 7 de maio de 1948 a Auto Viação São Paulo – Santos passou a se chamar Viação Cometa. O nome Cometa vem de um quadro que reproduzia a pintura de um cometa, com estrela e rabo, que ficava na agência Vila Rica, na avenida Ana Neri, em Santos, de onde os ônibus saiam. Daí surgiu a ideia do nome e por coincidência, nos velhos dicionários, cometa é também um nome dado para caixeiro viajante. Quanto as cores originais dos ônibus, azul e bege, a inspiração partiu do jogo de porcelana no qual o major Tito e sua esposa tomavam chá.

A Auto Viação São Paulo – Santos, agora Viação Cometa tinha per- missão para o transporte rodoviário e fazia concorrência com o Expresso Brasileiro, que já existia e estava trazendo ônibus novos. Foram acabando os “fordinhos” das primeiras empresas, substituídos por modelos mais novos.

Diplomação dos motoristas da Auto Viação Jabaquara, 1939. Entrevistados: Arthur Mascioli

Arthur Mascioli VIAÇÃO COMETA

Os investimentos no setor rodoviário foram se ampliando. Além da ligação São Paulo – Santos novas linhas foram im- plantadas: São Paulo – Campinas, São Paulo – Jundiaí e outras linhas no interior do Estado. Em 1951, foi inaugurada a Via Dutra e na ocasião foi dada permissão para três empre- sas operarem essa nova linha

interestadual: Viação Cometa, Expresso Brasileiro e Pássaro Marron. A primeira empresa que começou a operar a nova linha foi a Cometa, a Expresso Brasileiro veio logo depois. A viagem, em média, demorava 7 horas e meia com duas paradas: Roseira e Itatiaia na ida, Taubaté e Re- sende na volta. A Pássaro Marron, da família Teixeira tinha uma linha na estrada velha São Paulo – Rio. A Cometa então montou uma outra empresa e comprou a permissão da Pássaro Marron. No começo essa empresa se chamava Ultra, que depois ficou com a linha da Cometa que fazia São Paulo – Santos.

Em 1956, foram adquiridas operações urbanas em Campinas, onde, da fusão das linhas já existentes com as novas, surge a CCTC – Companhia Campineira de Transporte Coletivo, que chegou a ter 300 ôni- bus e operou até 1988. Nos anos 1960, implan- tou o serviço urbano em Ribeirão Preto que operou até 1983.

Quando a Cometa começou investir no setor rodoviário ainda existiam as estradas de terra e as novas estradas desenvolvidas, pelo governador Ademar de Barros, conti- nuadas pelo Jânio Quadros e pelo Carvalho

Pinto: Anchieta, Anhanguera e Dutra. Antes da abertura dessas estradas, a ligação São Paulo – Santos, São Paulo – Campinas e São Paulo – Sorocaba era feita pela rodovia Raposo Tavares. Era uma viagem difícil, tinha trechos de terra, como por exem- plo, de Sorocaba a Itapetininga. Quando chovia não tinha como passar. Apesar das dificuldades a Viação Cometa fazia todo o interior, São José do Rio Preto, Poços de Caldas, Araraquara, Ribeirão Preto, Franca. Tudo era Cometa.

Pensando em oferecer mais conforto aos passageiros, Tito foi ao Es- tados Unidos e comprou ônibus novos, GM Coach modelo PD-4104, mo- dernos, carroçaria de alumínio, janelas panorâmicas, vidros ray-ban, sus- pensão a ar, ar condicionado. Os novos ônibus desembarcaram no porto de Santos em março de 1954 e receberam o apelido de “Morubixaba”, nome dado, no Brasil, aos caciques indígenas.

Em maio de 1962 foi inaugurada a nova garagem, que até hoje abri- ga a sede da empresa.

Em 1970, foram introduzidos motores tur- bos nos modelos conhecidos com Turbo Jumbo. A Cometa tornou-se a maior frotista da Scania, de meados dos anos 1970 até o final de 2002, era sua marca exclusiva. Os modelos de ônibus da Cometa apelidados de Papo Amarelo, Flecha de Prata, Jumbo, Sete-belo, Turbo Jumbo, Dinos- sauro I e II eram encarroçados pela CIFERAL em parceria com a Cometa e Scania. Essa parce- ria durou quase meio século, até que em 1982 a CIFERAL entrou em concordata.

1948. Twin Coach. Já com o nome COMETA na lateral. Prefixo 118.

1957. Mercedes-Benz Monobloco (sem letreiro) para Itapetininga.

1951. Aclo. Prefixo 315 para Ribeirão Preto.

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Arthur Mascioli VIAÇÃO COMETA

Como a empresa já conhecia a tecnologia para carrocerias com estrutura de alumínio, começou a fa- bricar as próprias carrocerias. Foi construída em 1982, a fábrica, C.M.A – Companhia Manufatureira Auxi- liar. Na época havia além da CIFERAL, a conheci- da fábrica de carroceria Marcopolo. Das carrocerias, a empresa passou a produzir os próprios ônibus. A base era a mesma dos Dinossauros, mas com altera- ções como redução de peso, poltronas de couro, painel completo com voltímetros, conta-giros etc. O primeiro ônibus fabricado pela CMA, o Flecha Azul, foi con- siderado o ônibus mais leve do Brasil. O Flecha Azul ficou famoso. Foram produzidas várias gerações seria- das desse modelo de ônibus, Flecha Azul I, II, III e assim por diante, até 1999, quando foram produzidos os dois últimos modelos.

A partir dos anos 1980 toda a frota da empresa era composta por ônibus com carrocerias de alumínio.

Mas os tempos foram mudando. No final dos anos 1990 proliferou o transporte clandestino. Vieram as vans e começaram a fazer as linhas de curta distância. A Cometa operava linhas de altíssima intensidade São Pau- lo – Campinas, por exemplo, que chegava a fazer 200 viagens de ida e volta num único dia; muita gente morava

em Campinas e trabalhava em São Paulo. A tarde saía ônibus de 3 em 3 minutos. Eram 70 ônibus trabalhan- do para atender essa linha de Campi- nas. Os motoristas eram destacados para linhas especificas; quem fazia São Paulo – Campinas, fazia São Paulo – Campinas, o mesmo acon- tecia com a linha São Paulo – Rio de Janeiro, São José do Rio Preto.

Os novos ônibus