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Auto Viação ABC JOÃO ANTONIO SETTI BRAGA

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João Antonio Setti Braga AUTO VIAÇÃO ABC

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Um dos primeiros registros de empresa nos livros do SETPESP, datado de 1925, é da empresa do meu avô João Setti. E assim começa a história... Meu bisavô quando imigrou da Itália para o Brasil, em 1877, de- sembarcou no porto de Santos e quando viu aquela imensidão do mar, não quis lá ficar, afinal perdera toda sua plantação de batata na Itália por conta de uma enchente. Subiu a Serra do Mar e foi para São Ber- nardo. Viu que a terra era boa para o cultivo e, com o pouco dinheiro que tinha comprou um pedaço de terra e ganhou outro como resultado de uma reforma agraria que fizeram na época. Esse terreno onde ele começou a sua plantação de batata, pertence até hoje a nossa família. Meu avô, João Setti, com 10 anos de idade ajudava o pai na plantação. Levantava às três e meia da manhã, descalço, muitas vezes com o jor- nal enrolado no pé, para proteger do orvalho, para pegar os cavalos no pasto e colocar na carruagem que iria buscar os colonos na estação de trem de Santo André, que era na verdade a estação de São Bernardo, era tudo São Bernardo, para trabalhar naquele pedaço de terra.

Naquela época toda a região do ABC – Santo André, São Bernardo, São Caetano - era uma grande horta que se estendia até os municípios de Mogi das Cruzes e Suzano. Por conta da plantação de batata, o são bernar- dense era apelidado “batateiro” enquanto o santo andreense, que plantava cebola era apelidado de “ceboleiro”.

Ônibus número um da Auto Viação ABC.

No início meu avô transportava somente nossos colonos, mas de- pois começou a transportar colonos para outros sítios da região e a co- brar uma tarifa para fazer esse transporte entre São Bernardo e Santo André. Daí nasceu a Auto Viação ABC. Da carruagem ele passou para o táxi e um ônibus. Ele e seu sócio Tozzi que também pertencia a uma família antiga de São Bernardo se revezavam; um dia no táxi, outro dia no ônibus.

A empresa foi crescendo acompanhando o desenvolvimento da região do ABC e da cidade de São Paulo. Quando meu pai, Fernando Medina Braga ficou noivo de minha mãe depois da guerra, em 1946, meu avô fez meu pai entrar como sócio na empresa que, na época tinha dois ônibus. Meu pai entrou na sociedade em 1946, casou-se com mi- nha mãe em 1947 e eu nasci em 1948. Trabalhar com transporte nessa época era muito difícil, os caminhos eram de terra, tinha muito atoleiro, a ponto de ser necessário, em algumas situações, colocar corrente nos pneus para poder passar.

Em 1955, meu avô cansado, resolveu vender a empresa; ele tinha 50%, meu pai que adorava a empresa tinha 25% e meu tio, irmão da minha mãe 25%. Tinha um empresário na época que queria comprar, era o José Romano que depois veio a ser sogro de minha irmã Beatriz. José Romano era dono da Auto Viação do Ipiranga, uma importante

João Antonio Setti Braga AUTO VIAÇÃO ABC

empresa que ligava o Ipiranga com parte de São Bernardo. O alto do Ipiranga, à época, era um bairro nobre, onde, além do Museu, residiam famílias tradicionais da indústria paulista, como os Ramenzoni e Jafet.

Meu avô, a contragosto do meu pai, vendeu a Auto Viação ABC. Em 1955 é inaugurada a via Anchieta e São Bernardo cresce vertiginosa- mente da noite para o dia. Em 1956, meu pai inconformado por ter ven- dido a empresa, foi até o José Romano e falou que queria a empresa de

volta. Quando foi vendida a Auto Viação ABC tinha apenas dois ônibus, em um ano passara a ter sete ônibus. Meu pai comprou a empresa em 9 de novembro de 1956, levou 7 ônibus; 5 no guincho e dois funcionando e tornou-se o único proprietário. Em 1969 meu pai criou a Viação Cacique para fazer as linhas municipais de São Bernardo, contribuindo para levar o progresso aos novos bairros que estavam surgindo: Vila Ba- eta, Batistini.

Nós tínhamos, até 1988, quando meu pai faleceu, a Auto Viação ABC com 50 e poucos carros e a Viação Cacique com quarenta e pou- cos carros, tínhamos perto de 100 carros mais ou menos. Nesse mes- mo ano o PT – Partido dos Trabalhadores – assumiu a prefeitura de São Bernardo e no ano seguinte, 1989, começou a desapropriação das empresas de ônibus. A intenção era municipalizar o transporte e dar emprego aos correligionários do partido. A desapropriação começou

pela Viação Riacho Grande e Auto Viação São Bernardo, que per- tencia a família Romano. O mesmo aconteceu em Santo André, em 1990 quando desapropriaram a Viação Alpina que meu pai me ajudara a comprar. Era a maior empresa de Santo André com 13 mil metros de garagem, uma frota de 80 e poucos carros. O prefeito eleito era o Celso Daniel que tinha sido meu colega no ginásio estadual de Santo André. Canetas, bens móveis e imóveis, tudo foi listado no decreto de desapropriação, até o número de copinhos que tinha no filtro de água. Tudo foi desapropriado da noite para o dia. Em 1992 foi desapropriada a Viação Cacique de São Bernardo. Só nos restou a Auto Viação ABC. Nosso grupo que tinha 200 e poucos carros, ficou com 50 ônibus e to- dos os encargos possíveis dos 200 carros. A

frente das empresas nesse período, só está- vamos eu e minha irmã Beatriz. Quando aconteceu tudo isso, eu era o presidente do sindicato e a perseguição foi ferrenha em cima de nós.

Foi muito difícil passar por tudo isso, decidi então conversar com a Bia: “Nós nascemos empresários de ônibus, mas não va- mos morrer empresários de ônibus, vamos di- versificar esse negócio. Dormir empresário e acordar sem as empresas, não mais”.

Ônibus da Auto Viação ABC circulando pelas ruas da cidade. Ônibus mais moderno, 1948.

Trabalhar com transporte