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A partir da conceituação de Vigilância à Saúde utilizado neste trabalho, os padrões de qualidade desta subdimensão descrevem ações de monitoramento da situação alimentar e nutricional da população, busca ativa de casos novos de tuberculose, hanseníase, hipertensão arterial e diabetes mellitus, notificação compulsória de doenças, identificação de riscos a

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saúde do idoso e do trabalhador, bem como identificar situações de violência sexual e doméstica.

Com a análise do desempenho das equipes de saúde nos processos preconizados pelos padrões de qualidade desta subdimensão, a Vigilância à Saúde mostrou ser uma das fortalezas da ESF no Espírito Santo, principalmente no que diz respeito a ações de identificação de novos casos de hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, hanseníase e tuberculose.

Estes agravos estão entre as prioridades para a Atenção Básica no Brasil, conforme a Política Nacional de Atenção Básica, e possuem políticas bem definidas que abrangem todas as esferas de governo(BRASIL, 2006a). Além disso, estas condições de saúde apresentam altas taxas de prevalência em todo o território nacional (BATISTELLA, 2007), o que justificaria a alta penetração destes processos no cotidiano das equipes. Estas são importantes ações de saúde na medida em que desloca o processo de atenção à saúde para estágios mais precoces do processo de adoecimento das pessoas, partindo-se do pressuposto que isto aumentaria a efetividade destas ações e reduziria custos (CAMPOS, 2003).

Por outro lado, muitas destas ações de vigilância à saúde estão atreladas a programas sociais do governo federal, como a Bolsa-Família, e são desempenhadas pelas equipes de saúde da família, tendo como exemplos a avaliação nutricional e a realização de grupos operativos voltados para a educação em saúde e prevenção de agravos. Assim, esta indução pode também contribuir para um bom desempenho nestes indicadores de qualidade.

Os dados referentes às práticas de diagnóstico precoce e buscas ativas de hipertensão arterial e diabetes mellitus pelas equipes de saúde da família são contraditórios e pouco disponíveis na literatura nacional. Um informe técnico do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001b), mostra que os municípios com maior cobertura de PSF tiveram maior implantação da Campanha Nacional de Detecção de Casos Suspeitos de Diabetes, embora outros estudos mostrem graves problemas com estes processos (MALFATTI; ASSUNÇÃO, 2008; COSTA; CARVALHO; SILVA, 2007), sendo que a atenção à saúde de hipertensos e diabéticos freqüentemente se vê reduzida ao atendimento da demanda de pacientes já diagnosticados (SOUZA; GARNELO, 2008), baseando-se em práticas curativas individuais com poucas e inadequadas intervenções voltadas para a promoção e prevenção da saúde (SOUZA; GARNELO, 2008; ALVES; NUNES, 2006). Quanto à infra-estrutura para a busca ativa e prestação da assistência

preconizada aos hipertensos e diabéticos, alguns mostram a sua precariedade (ASSUNÇÃO; SANTOS; GIGANTE, 2001) enquanto outros mostram a sua adequação (MEDINA, et al., 2003).

Com relação à tuberculose, poucos são os estudos que avaliaram a implantação de processos de busca ativa de casos da doença nas equipes de saúde da família. O padrão 4.63 D questiona sobre a realização de ações para a detecção de casos de tuberculose, incluindo busca ativa entre comunicantes e casos suspeitos (tosse crônica), obtendo uma média de percentual de respostas “Sim” de 89,2, o que o coloca acima do esperado para seu estágio de qualidade (Tabela 6.6). Este dado está em concordância com os achados de Canesqui e Spinelli (2006), que encontraram uma boa avaliação por parte de médicos e enfermeiros da saúde da família do estado do Mato Grosso quanto à busca ativa de novos casos de tuberculose e investigação de contatos dos pacientes, embora alertem quanto à necessidade de melhorias na atenção à doença.

Fregona (2007) observou que os índices de casos novos de tuberculose eram menores nos municípios com tempo longo – 1998 e 1999 - de implantação da ESF, embora não seja possível inferir sobre a forma como estas ações são implementadas nas equipes de saúde da família. Por outro lado, a literatura mostra deficiências de conhecimentos necessários para que as práticas de busca ativa de casos sejam adequadamente efetivadas, como por exemplo, o conhecimento dos ACS quanto aos sinais e sintomas indicativos de tuberculose (MACIEL et al., 2008). Além disso, apenas valorizar a busca ativa não significa que ela se faz presente no cotidiano das equipes, como por exemplo, no acolhimento (MUNIZ et al., 2005).

As ações para detecção de novos casos de Hanseníase também alcançaram altas médias de implementação no cotidiano das equipes de saúde, sendo que o padrão 4.66 C atingiu média de 88,2, o que também o coloca acima do esperado para seu estágio de qualidade. Igual à tuberculose, poucos são os trabalhos com este enfoque, embora saibamos que a identificação de novos casos de Hanseníase é problemática em diversas realidades (SCHOLZE et al., 2006). Contudo, Cunha et al. (2007) sugerem a associação entre maior expansão da ESF e melhores indicadores municipais de detecção da doença. Os mesmos resultados que Canesqui e Spinelli (2006) encontraram para a atenção à tuberculose se deram com relação à Hanseníase em seu trabalho, embora tenham feito também ressalvas quanto à pertinência de melhorias na atenção à doença.

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Corroborando o achado de que a Vigilância à Saúde é uma dimensão de grande potencialidade na ESF do Espírito Santo, encontraram-se altas médias de percentual de respostas “Sim” para os processos de identificação de situações de risco entre a população de idosos e identificação de situações de violência doméstica e sexual, sendo estes temas de grande impacto na saúde pública brasileira (VERAS, 2009; CAMPOS; SHOR, 2008).

Um ponto que merece destaque é a alta, mas abaixo do esperado, média (76) com relação à sensibilidade das equipes de saúde para ações voltadas para a prevenção da dengue. O Espírito Santo sempre freqüenta com destaque as listas anuais de estados com maior número de casos da doença, o que nos faz esperar que todas as equipes estejam sensibilizadas para este problema de saúde pública, mostrando ser este um desafio que demanda constantes ações de capacitação e investimento financeiro, político e cultural. O mesmo poderia ser dito sobre ações de monitoramento da situação alimentar e nutricional da população adscrita à ESF.

E por fim, Campos (2003), mostra a importância de se mesclar ações das diferentes vigilâncias (epidemiológica, sanitária e ambiental) ao cotidiano das equipes. No entanto, o padrão 4.64 D, que versa sobre ações com foco na vigilância ambiental e sanitária pelas equipes de saúde – manipulação de alimentos, uso racional de produtos de limpeza e medicamentos, destino do lixo, saneamento, prevenção de acidentes, entre outros, alcançou o pior desempenho nesta subdimensão, talvez pelos motivos já aventados na subdimensão Promoção da Saúde.

5.7 INFLUÊNCIA DO TEMPO DE IMPLANTAÇÃO E COBERTURA POPULACIONAL