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VITTI, Catarina Maria Movimento da Matemática Moderna: Memória,

No documento APARECIDA RODRIGUES SILVA DUARTE (páginas 134-137)

Metodista de Piracicaba, 1998.

A tese teve como propósito apontar como foi a reação da comunidade de professores, pesquisadores e educadores envolvidos direta ou indiretamente com a Educação Matemática e as mudanças incorporadas no ensino, após a constatação do declínio do MMM. Para justificar seu estudo, Vitti catalogou trabalhos dedicados ao MMM, observando que, nos anos 80, apenas uma tese de doutorado, o de Beatriz D’Ambrosio (1987) e uma dissertação de mestrado, a de Elizabete Z. Búrigo (1989) haviam se debruçado sobre o tema. Em sua busca, destacou ainda trabalhos de Célia Maria Carolino Pires e Maria Angela Miorim, os quais trataram indiretamente desse movimento.

No primeiro capítulo, a autora relatou como a matemática se desenvolveu no século XIX, apresentando uma biografia dos principais matemáticos cujos trabalhos acabariam por exercer influências no ensino: Gauss, Riemann, Poincaré, Klein e Hilbert. Pretendeu, ao narrar a vida desses personagens, mostrar como se envolveram com as primeiras tentativas de reforma do ensino de matemática, as quais culminaram com o Primeiro Movimento Modernizador do Ensino da Matemática.

No segundo capítulo, a autora dedicou-se ao estudo da origem e objetivos do MMM. Fez breve comentário sobre o surgimento do grupo Bourbaki e a

realização de duas conferências: a da OECE em Royaumont, em 1959, na França e a de Dubrovnik, em 1960, na Iugoslávia.

A conferência de Royaumont contou com a presença de Jean Dieudonné. Em seu pronunciamento, Dieudonné almejou demonstrar o quanto o ensino secundário era atrasado e antiquado em relação ao superior, tornando-se cada vez maior o abismo existente entre eles, apesar dos esforços para a incorporação de tópicos como elementos de Cálculo Diferencial Integral, Álgebra Vetorial e Geometria Analítica no ensino secundário “sempre relegados a um segundo plano” (DIEUDONNÉ, apud VITTI, 1998, p. 57).

Vitti também destacou alguns objetivos e propostas apresentadas pelos países participantes da Conferência de Lima, Peru, ocorrido em 1966, referenciando-se em Howard Fehr (1969). A autora descreveu os principais acontecimentos relacionados com o MMM em 29 países participantes da conferência, como também os procedimentos necessários para alcançar os objetivos propostos. Verifica-se que nos trabalhos anteriores não aparece semelhante discussão.

Quanto à participação do Brasil na Conferência de Lima, dentre outras observações, a autora colocou em evidência a manifestação de Sangiorgi no sentido de atribuir como principal elemento para o progresso obtido em relação ao ensino da MM, a participação dos matemáticos no movimento. Vitti reforçou essa constatação transcrevendo os dizeres de Sangiorgi: “figuram matemáticos das universidades que propiciam aos futuros professores secundários uma boa vivência com a matemática atual” (SANGIORGI, apud VITTI, 1998, p. 89).

O “fracasso” do MMM é tratado no capítulo três. Norteando-se especialmente na obra de Morris Kline “O fracasso da matemática moderna”, Vitti analisou os principais motivos que contribuíram para o insucesso do Movimento. Nesse sentido, sublinhou a constatação de Kline quanto à forma como foram desenvolvidos muitos assuntos em Matemática, ou seja, a partir da imaginação e criatividade dos pesquisadores e estudiosos em matemática, sem que mantivessem vínculos com as necessidades reais dos estudantes.

O capítulo quatro, intitulado “O sucesso do Movimento da Matemática Moderna” trata das questões as quais foram incorporadas ao ensino, e que, para Vitti, são fatores positivos decorrentes do MMM. Dentre eles, destaca-se a organização da comunidade de pesquisadores em Educação Matemática, a criação de cursos de pós-graduação em Educação Matemática e o desenvolvimento de novas tendências no ensino da Matemática, incorporando tais como História da Matemática, Resolução de Problemas, Etnomatemática e Modelagem Matemática.

Em conclusão, a autora recapitulou os principais pontos abordados ao longo do trabalho, reforçando a constatação de elementos positivos importantes advindos do Movimento, indicando novas propostas e métodos de ensino, em que a autora propõe sejam voltados efetivamente para a escola, não indo muito além dos muros escolares, de modo a não se contaminarem com “elementos estranhos” – sem, no entanto especificá-los – e ainda, considerando a realidade do país nos quais se pretenda ver instituídos (VITTI, 1998, p. 177).

De imediato, a leitura da tese de Vitti permitiu-nos verificar uma diferença entre esse estudo e as pesquisas elaboradas por D’Ambrosio e Búrigo, referentes à descrição realizada pela autora, ainda que de forma sucinta, de como transcorreu o movimento em diversos países da Europa e América. Em sua análise, a autora abriu espaço para comentários e citações proferidos por matemáticos estrangeiros quando expressaram suas idéias relativas ao ensino da matemática, possibilitando formular alguns questionamentos a partir desses comentários e citações.

Ao mencionar o relatório elaborado pela Argentina, durante a Conferência de Lima, Vitti apresentou breve citação de Helmuth Renato Völker, sobre como deveria ser o professor do futuro: um professor moderno, aquele que, tendo acesso à matemática moderna, estando adequadamente preparado para ensiná- la, pensando, portanto, de forma moderna, ou seja estruturada, “poderia continuar a desenvolver-se por si mesmo” (VOLKER, apud VITTI, 1998, p. 74). Na análise da obra de Morris Kline, vemos combatida a idéia de Volker e outros educadores, pela qual a nova matemática seria auto-suficiente ou auto-criadora. Tais preocupações nos revelam indícios de uma matemática idealizada para atingir o

mais alto grau de abstração e pureza, tornando-se “a ciência das ciências”, a qual se auto-constrói, independente da realidade. A superioridade do currículo da MM transcenderia não só os currículos tradicionais de matemática como também se tornaria imprescindível, perpassando todos os outros de quaisquer ciências.

Vitti comentou que a matemática do século XX era caracterizada por sua generalidade, seu maior grau de abstração e rigor lógico. Por esse motivo, a matemática identificou-se com a dedução e a estrutura axiomática, garantindo-lhe em certa medida um caráter de independência perante as outras ciências. Desse modo, talvez por ser assim caracterizada, os matemáticos atribuíam à matemática a linguagem comum a todas as ciências. Vitti apresentou uma fala de Stone, a qual afirma que a matemática é totalmente independente do mundo físico, razão pela qual estaria dissociada de suas aplicações. Tal posição sugere uma relação de subordinação da matemática aplicada à matemática pura. Vitti comentou ainda, que havia uma crença na matemática como sustentáculo para uma cultura moderna, voltada para a ciência e tecnologia. Pensamos, todavia, existir aí uma contradição entre aquilo que se acreditava, ou seja, uma cultura moderna voltada para a ciência e tecnologia, que, a nosso ver, necessitaria de uma matemática voltada para aplicações, e o desejo de uma matemática abstrata, totalmente separada do mundo físico, como pleiteava Stone.

Nessa tese, destaque-se ainda, que em nota de rodapé, a autora afirma não ter tido a pretensão de desenvolver um trabalho sobre a participação dos matemáticos no movimento deixando esse tema em aberto para outras pesquisas.

No documento APARECIDA RODRIGUES SILVA DUARTE (páginas 134-137)