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vocálicos

2.1.3.2.2 Vogais nasais e nasais laringais

(169) /ˈuʔ-tu/ [ˈuːtu] “irara”

(170) /waˈlun-ni-ˈeu-ˈtã/ [waˈludnieːɾã] “está relampeando, eu vi”

(171) /ˈseit-ni-tu/ [ˈsejkniɾu] “pássaro, tipo de.” (172) /tukuiˈat-tu/ [dukujˈaʔthu] “peroba”

(173) /ˈa̰uʔ-ni-tu/ [ˈa̰wniɾu] “louro (pássaro)” (174) /ˈnut-ˈta̰ʔ-tu/ [ˈnṵtˌda̰ːtu] “enfeite de braço” (175) /taˈkṵn-ˈkaʔ-ˈta̰h-tu/[daˈkṵːˌɡaːˌdaːɾu] “jacamim”

2.1.3.2.2 Vogais nasais e nasais laringais

São seis as vogais nasais do Negarotê, sendo três delas possuidoras também do traço laringal: /ĩ/, /ã/, /ũ/, /ḭ /, /a̰ / e /ṵ /40. Na sílaba, as vogais nasais podem ocorrer sozinhas no núcleo ou formando ditongos, neste caso, as duas vogais envolvidas

40 As vogais médias /e/ e /o/, embora não sejam consideradas nasais na subjacência, podem ser nasalizadas na superfície mediante processos fonológicos.

Fonologia Segmental | 85 apresentam o traço nasal41, que é espraiado de um segmento vocálico para o outro.

O processo fonológico de nasalização alofônica em Negarotê, VN(V))σ  VN(V))σ, é apenas regressivo e limitado a vogais em sílaba átona. Sendo assim, em sílaba tônica as vogais orais, mesmo em ambiente nasal, nunca sofrem nasalização — nestes casos, há a realização preferencial de uma consoante nasal pré-oralizada que favorece a manutenção da oralidade da vogal. Portanto, em posição tônica, encontramos facilmente oposição entre vogais orais e nasais. Além disso, em ambiente oral (sem nenhum segmento nasal na adjacência que pudesse favorecer a nasalização) também é possível encontrar vogais nasais, o que seria mais uma evidência da existência dessas vogais no nível fonológico.

As vogais nasais ocorrem com bastante frequência na língua, sendo menos frequentes apenas que as vogais orais. De maneira distinta, as vogais nasais-laringais são as menos recorrentes, contribuindo para a sua baixa realização, além da sua característica menos natural, uma possível neutralização do traço laringal decorrente do contato com a língua portuguesa42.

A seguir, descreveremos o comportamento das vogais nasais e nasais-laringais.

a) /ĩ/ e /i ̰/

As vogais altas coronais nasal, /ĩ/, e nasal-laringal, /i ̰/, têm como alofones [ĩ] e [i ̰], respectivamente. A nasal pode ocorrer em início, meio e final de palavra, preferencialmente em sílaba

41 Não encontramos nos dados ditongos formados por vogais com os traços nasal e laringal simultaneamente.

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acentuada, sozinha em núcleo silábico ou formando os ditongos /ãĩ/, /ẽĩ/ e /ĩũ/.

(176) /tutaˈĩn-si-tu/ [dudaˈĩːʃiɾu] “1º pajé” (177) /ˌkãn-ˈjãin-taˈhĩ/ [ˌkãˈɲãːdahĩ] “a comida está

gostosa”

(178) /ihaˈmĩn-tu/ [ihiˈmĩːtu] “pássaro, tipo de.” (179) /ˈnĩhe-tu/ [ˈnĩːheɾu] “cipó”

Quando a vogal alta realiza os dois traços [nasal] e [creaky], /i ̰/, ela não aparece em ditongos e ocorre apenas em sílaba acentuada43.

(180) /wa̰-juˈhḭ nte-tu/ [wa̰juˈhi ̰ːdeɾu] “seu fígado” (181) /naˈhi ̰ʔ/ [naˈhi ̰ː] “sempre” (182) /ˈmi ̰n-ni-tu/ [ˈmi ̰ːniɾu] “pai” (183) /ˈhi ̰n-ni-tu/ [ˈhi ̰ːniɾu] “avó”

43 Nas línguas-irmãs, Latundê e Mamaindê, aparentemente a vogal alta coronal laringal-nasal, /i ̰/ tem comportamento semelhante. Em Latundê, Telles (2002) afirma que a nasalidade fora da posição é alofônica, o que indicaria que este fonema apenas ocorre em posição de acento, e não apresenta ditongo formado por vogal laringal-nasal; em Mamaindê, em todos os dados apresentados por Eberhard (2009), a vogal também aparece em posição de acento, entretanto, de acordo com o autor, embora tenham raras ocorrências, ditongos formados por vogais laringais-nasais, /i ̰u ̰, a ̰i ̰, a ̰u ̰/ são fonológicos nesta língua.

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b) /ã/ e /a ̰/

/ã/ e /a ̰/ são, respectivamente, uma vogal dorsal baixa nasal e uma vogal dorsal baixa nasal e laringal. Dentre as vogais nasais e nasais laringais, /ã/ e /a ̰/ são as mais recorrentes na língua Negarotê. Estas vogais ocorrem em sílaba tônica, em início, meio e final de palavra.

/ã/ pode ocorrer sozinha em núcleo silábico ou formando os ditongos /ãũ/ e /ãĩ/. /a ̰/, por sua vez, pode ocorrer nos mesmos ambientes da sua correspondente não-laringal, porém, não forma ditongo com outras vogais. Não há restrição quanto à realização destas vogais seguindo consoantes em onset silábico ou diante de consoantes em coda.

(184) /wiˈanʔ-nã-ti-tu/ [wiˈaːˌnãthiɾu] “resina de jatobá” (185) /wiˈhãĩ-tu/ [wiˈhãj ɾu] “bicho-preguiça” (186) /ˈnãũ-tu/ [ˈnãw du] “ariranha”

(187) /ˈweiʔ-nã/ [ˈwejdnã] “está amanhecendo” (188) /kaˈma ̰nla/ [kaˈma ̰ːla] “molhado”

(189) /kamaˈma ̰h-ki-tu/ [kamaˈma ̰ːkiɾu] “borboleta” (190) /na-kaˈna ̰n-tu/ [nakaˈna ̰ndu] “irmão (dele)”

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c) /ũ/ e /u ̰/

As vogais altas dorsais (labiais) nasal e nasal laringal, /ũ/ e /u ̰/, têm como alofones [ũ] e [u ̰], respectivamente, e ocorrem em início, meio e final de palavra. /ũ/ ocorre preferencialmente em sílaba tônica, em ambiente nasal ou oral, sem restrição quanto às consoantes que podem precedê-lo ou segui-lo. Pode aparecer sozinho no núcleo silábico ou formando os ditongos /ãũ/ e /ĩũ/.

(191) /ˈnũsja/ [ˈnũsja] “nós” (192) /taˈnũki-tu/ [taˈnũːkeɾu] “beija-flor”

(193) /ˈnũn-na-tu/ [ˈnũːnaɾu] “animal doméstico” (194) /ˈnũsja ˈaih-ke-ˈtũn/ [ˈnũse ˈajkeˌtũː] “nós estamos andando”

A forma nasal e laringal, /u ̰/, é, a que tem menor realização em nossos dados. Sua ocorrência é restrita à posição tônica e nunca aparece formando ditongo.

(195) /waˈnu ̰n-ˈseit-ˈtãn/ [waˌnu ̰ˈʃejʔˌtã] “falar bonito” (196) /na-nũnˈtu ̰n-tu/ [nanũˈdu ̰ːndu] “cotovelo (dele)”

2.1.3.3 Ditongos

Observamos no Negarotê a ocorrência de quatorze ditongos, todos decrescentes, terminados por vogais altas /i/ ou /u/. Nós definimos como ditongos as sequências de vogais que ocupam o

Fonologia Segmental | 89 núcleo silábico, que licencia duas posições44, fazendo parte, preferencialmente, de sílaba acentuada (com acento primário ou secundário). Interpretamos sequências de vogal alta mais vogal como silabas do tipo CV, nas quais a vogal alta (glide) está no onset. Para fins de análise, consideramos como ditongos apenas as sequências vocálicas do tipo vogal+vogal alta, embora sequências vogal alta+vogal sejam também recorrentes na língua. A decisão por adotar um núcleo /VValta/ e por entendê-lo como a única forma de ditongo possível na língua é puramente teórica — não fonética — e é justificada pelos comportamentos distintos entre vogais altas pós-vocálicas e pré-pós-vocálicas, bem como dos processos fonológicos que eles sofrem e engatilham, tais como o fortalecimento do glide em posição de onset silábico (cf. 3 Processos Fonológicos) e os processos de assimilação e dissimilação do ponto de articulação de consoantes coronais em coda silábica (cf. 3.1.2 Ponto de articulação

das coronais em coda).

Quadro 10. Ditongos

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(197) /ˈiu-tu/ [ˈiwːɾu] “boca” (198) /ˈeu-ten/ [ˈewɾe] “olhar/ver”

(199) /kanˈtiut-ni-tu/ [kaˈdipniɾu] “pernilongo” (200) /kaˈtḛiʔ-tu/ [kaˈdejʔthu] “mangaba do campo”

(201) /na-ˈiu-ˈhein-tu/ [naˌiwˈhḛjŋdu] “língua dele” (202) /ˈsṵh-naˈhein-tu/ [ˈʃuːnaˌhejndu] “cesta nova” (203) /iˈtaut-ten/ [iˈtawpte] “pegar e quebrar” (204) /ˈa̰u-kaˈta/ [a̰wkaˈda] “coquinho quebrado

(para fazer artesanato)” (205) /ˈjain-ten/ [ˈjajdnde] “comer”

(206) /ˈwaih-tu/ [ˈwa̰jɾu] “abelha bijuí” (207) /ˈkou-eiʔni-tu/ [ˈkowˌḛjdniːɾu] “jaboti macho” (208) /wiˈan-tu/ [wiˈaːdu] “jatobá”

Quando há nasalização ou laringalização nos ditongos, na superfície, ela atinge os dois segmentos, sendo difícil, na maior parte dos casos, de oitiva, distinguir quando apenas um dos segmentos é nasal ou laringal. Cabe ressaltar que não encontramos nos dados caso de ditongo com os traços nasal e laringal combinados45.

45 Em Latundê, Telles (2002) trata o ditongo como sequência de Vogal + Glide e, aparentemente, os traços nasal e laringal dos segmentos vocálicos não são espraiados para o segmento consonantal. Já no Mamaindê, Eberhard (2009) pontua que nasalizadade e laingalidade atingem as duas partes do ditongo e, diferentemente do Negarotê, explicita que no Mamaindê há três ditongos com os

Fonologia Segmental | 91 (209) /ˈmãĩn-kaˈnĩn/ [ˈmãj ɡiˌnĩ] “caju do mato (polpa)” (210) /wa̰-ˈiuh-ˈhḛḭn-tu/ [wa̰ˌjuˈhḛj̰ŋdu] “sua língua”

Fenômenos comuns, em fala espontânea e rápida, são a fusão e o apagamento do segundo segmento do ditongo, que resultam em um segmento único na superfície, e opcionalmente, alongamento compensatório da parte não-apagada, sobretudo na silaba acentuada. /au/ > [ɔ]

(211) /ˈkaut-tu/ [ˈkɔptu] “cuia”

(212) /na-ˈiu-ˈkaut-tu/ [naˌiwˈkɔptu] “queixo dele” (213) /ˈwaut-ˈta̰h-tu/ [ˈwɔtˌda̰ːtu] “pombo”

/au/ > [a (ː)]

(214) /ˈlah-ˈwaum-nako/ [ˈlaːˌɾwaːb.naˌɡo] “arara vermelha” (215) /ˈsaun-ki-tu/ [ˈsaːmɡiɾu] “mosquito borrachudo”

/ãũ/ > [õ (:)]

(216) /iˈsjãũn-ki-tu/ [iˈʃõmɡiɾu] “flor”

(217) /ˈnãũn-ˈta̰-tu/ [ˈnõːmˌdaːɾu] “abelha, tipo de.”

traços nasal e larigal combinados: /a ̰u ̰/, /a ̰i ̰/ e /i ̰u ̰/, que embora pouco recorrentes, são reconhecidos como fonológicos.

92 | Fonologia Negarotê /eu/ > [e (ː)]

(218) /ˈleutte-ˈsin-si-tu/ [ˈleːpteˌsiːtʃiɾu] “bocaiuva” (219) /kaˈleun-te/ [kaˈleːbmˌde] “japolão”

/ɪ ũ/ > [ĩ(ː)]

(220) /ˈĩũn-ˈte/ [ˈĩːmˌde] “cheirar”