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2 A RELIGIOSIDADE DO MUNDO AFRICANO: TRADIÇÃO, ISLAMISMO E

7.1 Wellington Fernando dos Santos

Estudante de Psicologia, pelo Centro Universitário CESMAC, 32 anos, natural de Maceió, residente no bairro da Ponta Grossa.

Eu nasci em Maceió (né?), fui criado aqui em Maceió4, fui criado pelos meus pais e

quando cheguei na puberdade, meus pais se separaram, vim morar com minha mãe. Meu pai foi morar na Bahia. Meu pai é baiano e minha mãe é alagoana. E ficamos eu e meu irmão5.

Tenho outro irmão que é mais velho e ficamos em Maceió com minha mãe.

Então comecei a estudar. Já estudava. Dei continuidade aos meus estudos, interrompi um pouco, porque comecei a trabalhar, mas quando eu me estruturei financeiramente retomei os estudos22 e fiz o técnico de enfermagem, por uma questão de necessidade, porque perdi

uma tia por parte de mãe, que teve um problema, ela era especial e teve um choque hipovolêmico. Eu sabia do que se tratava, ela teve uma hemorragia interna. Eu sabia do que se tratava, mas eu não sabia intervir, então eu prometi a mim mesmo que a partir daí não iria mais acontecer aí comecei a estudar enfermagem, fiz o técnico, terminei, e comecei a atuar na área.11Fui trabalhar no Hospital do Açúcar na clínica cirúrgica, no segundo pensionato e

foram experiências maravilhosas, experiências ricas, porque eu aprendi a lidar com o ser humano, com a dor do outro e ter a sensibilidade de entender a subjetividade do outro, as questões que o outro traz, o que leva o outro ao adoecimento, sem julgar, sem prerrogativas algumas.

E depois, por uma necessidade, prestei seleção para o Hospital Sanatório passei e comecei a trabalhar. Trabalhava na UTI Geral, com pacientes críticos e também foram experiências maravilhosas e assim, depois de um ano de trabalho resolvi prestar vestibular. Não avisei a ninguém, prestei vestibular para Psicologia e passei, fiz a matrícula e comecei a estudar. E assim, o ingresso no mundo acadêmico me ampliou muito a mente, a forma de ver a vida, a como ver as pessoas, como lidar com as pessoas e também me ajudou profissionalmente, porque eu já me apoderei de tomar outros posicionamentos no meu trabalho de saber articular a ciência a qual eu estudava, a ciência ao qual eu praticava que era a enfermagem23 e trabalhei durante 6 anos, dentro do hospital e pedi demissão, porque surgiu

uma oportunidade de trabalhar no CESMAC. Pedi demissão dos dois hospitais e fui trabalhar no CESMAC. Estou lá, já tem um ano. Gosto de lá, me sinto bem, me sinto à vontade, mas

meu coração ainda sofre com saudade do hospital. Sinto muita saudade do hospital e dos pacientes, de lhe dar com o doente, de lhe dar com a questão do adoecimento em si.

Estou no 9º período da faculdade, escolhi ênfase em jurídica, porque é um processo ao qual eu me interesso. É um campo polêmico, aliás, porque a questão jurídica norteia muito o sujeito, em termos de sociedade, de negro, e de limites, então eu busquei a área jurídica para entender essa questão do limite que o sujeito tem perante a justiça em questão de direitos e deveres e como o sujeito em si se sente mediante a justiça e principalmente a justiça brasileira que é tão falha.

Sobre questões religiosas: me iniciei em 2001, 2002, não me recordo bem mais. Fui iniciado pelo Márcio de Oxum Pandá, que veio a falecer e assim iniciei dentro do candomblé,44 porque é uma religião que eu me identificava,12 uma religião ao qual não tem

julgamentos. Tem leis, tem regras, tem dogmas, mas não tem julgamentos, não tem imposição e foi algo que me encantou3 e a questão da natureza, a ligação direta com a natureza, com o

meio ambiente,46 com as questões sociais, com as questões da resistência em si, tanto é que é

a temática do meu TC da faculdade. E me desenvolvi dentro do candomblé praticando e ensinando também aos meus e criando um pertencimento, me apoderando de tudo a qual o candomblé poderia me oferecer e me oferece.

Fiz meus 7 anos dentro da religião aí passei por outro processo, que a gente chama de decá56 que é a entrega dos direitos, é a parte a qual o iniciado se torna um sacerdote, então eu fiz esse processo e foi o último processo que fiz com meu pai-de-santo legítimo.45 Foi quando

ele veio a falecer, por umas questões aí complicadas, e eu fiquei sob a custódia do meu avô que era Célio, até o presente momento, que hoje é meu pai, e assim, e comecei a frequentar a casa de Célio, meu santo hoje mora lá e é algo que me dá apoio, um ponto de refúgio, é onde eu tenho pra chorar minhas frustrações, pra ansiar aquilo que eu desejo, pra buscar conhecimento, buscar equilíbrio.13

E dentro dessa construção e desse cenário eu tento agregar a ciência da Academia junto à religiosidade a qual eu pratico, porque eu acredito que a casa de candomblé tem o ponto de apoio pra o sujeito ao qual ele se adéqua, ao qual ele vai fazer parte, ao qual ele vai se tornar adepto. E pra mim foi algo assim maravilhoso, me sinto muito bem.

Em questões pessoais: vivo para meu trabalho, para estudar, para Ori. Meu hobby é leitura, é canto, gosto muito de música, tanto é que eu cantei no coral da Igreja há 8 anos.

56 Título atribuído aos adeptos da religiosidade após completarem sete anos de iniciação e atingida tal posição na

hierarquia social do candomblé já podem abrir seu próprio terreiro. Mas hoje em dia é possível presenciar casas de cultos das religiões de matriz africana entregando o título de decá aos seus fiéis com menos tempo, desembocando no aumento do número de fiéis e na expansão da religião (MELO, 200-).

Cantei no Prisma, cantei no Angelus e cantei no Magnífica que acabou e é uma coisa que eu não rejeitei, não desprezei, não esqueci, eu ainda continuo. Não continuo cantando em coral, mas sempre que eu estou em casa eu estudo, faço a partitura, vou escutar um canto diferente. E gosto de ler, estudar, ir à praia, como todo jovem, todo adulto.

Em questões profissionais: o que eu desejo é terminar a faculdade, fazer pós- graduação24 na área jurídica. E tentar fazer a interlocução dessa ênfase em práticas jurídicas,

processos clínicos jurídicos, com a questão cultural, com a questão religiosa, com a questão da resistência negra, com a questão do posicionamento do negro no mercado de trabalho, com a questão da discriminação racial, com a questão também de gênero e etnia, até mesmo porque eu me afirmo uma pessoa de casa de axé, eu me afirmo uma pessoa cultural, que faz parte de uma cultura resistente, que faz parte de uma cultura arraigada de preconceitos, onde tem se quebrado muitos tabus ainda, que é uma coisa que não é pra agora, é uma coisa que vai ser para os meus netos, meus bisnetos.47

Penso em fazer mestrado também,25 mas mestrado eu ainda não me decidi na área,

porque eu também gosto de neuropsicologia e da parte cognitivo-comportamental. E penso em trabalhar na Academia como docente, e também trabalhar ou em clínica, ou dentro de um fórum, para poder mostrar autonomia, que o negro também tem autonomia, que eu me sinto uma pessoa negra, eu sou negro, mesmo que algumas pessoas digam: não você é moreno, pra mim não existe isso, ou é branco ou é negro. E eu sou negro, de etnia e acabou-se.

Pretendo, como todo mundo, ser feliz, ter uma pessoa do meu lado que me queira bem que goste de mim e que tenhamos conexão.

Pretendo estudar fora, fazer a pós-graduação fora, em outro estado. Pretendo fazer uma viagem para o exterior, conhecer outros mundos, outros ares, gosto muito de viajar e também sou uma pessoa que adoro história, gosto muito de história e eu acredito que se o sujeito não conhece sua história ele não sabe realmente quem ele é. A história, quando você tem contato com ela, ela faz com que cada encontro seja um novo encontro com você mesmo e assim foi uma das coisas que fez com que eu escolhesse Psicologia foi a questão da historicidade da Psicologia, enquanto ciência nova e também por uma questão de gostar de observar muito as coisas, eu prefiro mais observar do que falar. De característica minha.

Gosto de filosofia, mas eu acho a filosofia muito incipiente pra sociedade em termos concretos, objetivos, eu sou mais da objetividade, gosto da natureza, de flores, de história, principalmente o que vem sobre a história do negro, sobre como o negro foi escravizado, como foi o período de colonização do Brasil e toda a história do país,73 gosto muito da

minha religião, também, gosto muito, acredito na força dos cristais, que é algo que vem da natureza, a pedra, as questões da pedra rolada, pedra de rio, e quartzo, e outras pedras mais sofisticadas, tenho até algumas em casa, eu acredito que elas conseguem absorver a energia do ambiente, que nós somos puro magnetismo, e pura energia, não só o que a gente fala, mas também o que a gente pensa, esse plasmante da gente antes de executar...

E coisas que almejo, que desejo é um mundo melhor, estudo, educação, moradia, lazer, principalmente compreensão e senso crítico e questões políticas, hoje nós não temos política, nós temos politiqueiros e a corrupção está aí, e assim, a gente fica até sem saber como se posicionar dos partidos que hoje existem, a gente fica sem saber se posicionar a quem vai dar o nosso voto e assim, é algo que eu estou elaborando ainda antes de chegar a eleição, pra saber e fazer a escolha certa, apesar de que meu candidato faleceu e Deus e Olorum botem ele num bom lugar, é isso.

Questão de ciência também, gosto, sou muito curioso na questão da ciência, acredito na ciência do homem, mas também acredito muito na questão de Odù. E como dizem, a gente tem que estar de bem com a sala e com a cozinha.