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4.1 A configuração da pesquisa

4.1.3 A justificativa da pesquisa

Primeiramente, reafirmamos que desenvolvemos um trabalho de investigação por meio de uma pesquisa qualitativa, que “tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento” (LUDKE; ANDRÉ, 1986, p. 11). Aqui, deixamos evidente um ambiente escolar natural que começa na sala de aula e vai para além dela.

30Para Santos Filho e Gamboa (2013, p. 67): “A análise epistemológica situa-se como análise conceitual de segunda ordem que questiona os fundamentos das ciências, os processos de produção do conhecimento e os parâmetros de confiabilidade e veracidade da pesquisa científica [...] Os estudos epistemológicos buscam na Filosofia seus princípios e na Ciência seu objeto e têm como função não só abordar os problemas gerais das relações entre Filosofia e a Ciência, senão também servem como ponto de encontro entre elas. Esse encontro só é possível na prática concreta. Portanto, quando falamos de epistemologia da pesquisa educacional, fazê-lo com base nas práticas concretas de pesquisa na área da Educação”.

31“Hoje, a reflexão filosófica, por intermédio da epistemologia, vem dando importante contribuição ao estudo sobre os métodos científicos e, sem dúvida, essa contribuição é ainda mais necessária na atual fase de aprimoramento da pesquisa educacional em face dos riscos de tecnicismos” (SANTOS FILHO; GAMBOA, 2013, p. 64).

32 “[...] todo objeto é capturado por um método e todo método atua sobre um objeto” (Tradução nossa).

Alhures, aludimos à nossa condição de estudante que vivenciou, na escola pública, todo o seu processo de escolarização e a atuação profissional que desenvolvemos na escola pública em Alagoas, na cidade de Teotônio Vilela. É, para nós, motivo de júbilo poder atuar no ensino público e oferecer à juventude do Estado um pouco daquilo que recebemos. Porém, para além do prazer e dos afetos que afetam tal realidade, imprimimos na docência o compromisso cidadão com a luta pela escola pública de excelência e qualidade social.

Assim, consignamos esse texto de doutoramento como coerente, na medida do possível, com a nossa trajetória de vida e o apelo que recebemos para militância pela vida justa e digna de nosso povo. Cabe, de tal forma, destacar que o pesquisador, também docente da disciplina na escola e do campo de pesquisa, comunga das vivências dos estudantes e, inevitavelmente, tem, nas suas práticas, na sua discursividade e no seu modo de viver, traços de um ambiente que também já foi natural para ele. Neste ponto, queremos mencionar os modos de viver a vida dos estudantes que estão em volta da disciplina de filosofia na referida escola pública e, em especial, realçar as experiências do seu dia a dia, algo que buscaremos retratar com mais fidedignidade no próximo capítulo.

O fenômeno acerca da filosofia no ensino médio está imerso nas práticas biográficas dos sujeitos de escola pública. Nosso fato fenomenológico repousa no modo de viver dos estudantes no mundo e suas relações sociais. Noutras palavras, abordaremos aqui os sujeitos envolvidos na pesquisa, compartilhando suas experiências singulares, sob o prisma dos conceitos problematizados em sala de aula, buscando sempre que possível, ressignificar o modo acerca de seu agir no mundo.

Nesse aspecto, justificamos uma visão holística, pelo princípio “[...] de que a compreensão do significado de um comportamento ou evento só é possível em função da compreensão das inter-relações que emergem de um dado contexto” (ALVES-MAZZOTTI, 1998, p. 131). Esse modelo de pesquisa permite-nos perceber o cenário das vivências de um sujeito social multifacetado, dinâmico e em constante mutação. Além disso, destacamos as interpretações e compreensões hermenêuticas realçadas no método diacrônico das experiências subjetivas.

Vale destacar ainda que, na conjuntura de uma pesquisa qualitativa, nossa preocupação é “com a compreensão (verstehen) ou interpretação do fenômeno social, com base nas perspectivas dos atores por meio da participação em suas vidas” (SANTOS FILHO; GAMBOA, 2013, p. 41). Nossa problematização baseia-se na justificativa de uma filosofia inserida na

formação crítica dos sujeitos à sua volta e de como a busca pelo conhecimento pode contribuir para uma ressignificação do seu modo de ver e viver no mundo.

O argumento básico é que o processo de conscientização de si mesmo sugere um olhar para o próprio modo de ser. Nesse critério, ao percebemos a ideia subjacente dos contextos de dominação, estamos envolvidos em um pertinente processo de emancipação. O que pode justificar uma filosofia emancipatória é sua práxis provocativa sobre a realidade posta. Nesse caso, os sujeitos compreendidos no contexto cotidiano da prática filosófica no ensino médio podem ser considerados como aqueles/as que são constantemente provocados/as pelo meio em que vivem, suscitando pertinentes problematizações a respeito de sua realidade. Na perspectiva de Adorno (1995, p. 143), “[...] de um certo modo, emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade”. A valer, nossa justificativa sustenta-se em um processo que busca provocar um pensar de maneira autônoma e configurar um modo de viver no mundo de forma racional e lúcida.

Aqui repousa um pensar subversivo à luz de um dizer foucaultiano. Michel Foucault (2011) reflete sobre um discurso e uma postura em que suas características são o “dizer sobre as coisas”; o provocar de Foucault (2011) instiga-nos a aprender a dizer sobre as coisas. Ora, que tudo seja sempre dito e que esse dizer possa ser materializado como uma ação no mundo.

(DELEUZE, 2019).

Pensamos ser útil salientar uma pesquisa sustentada na ideia de filosofia como prática para a vida dos sujeitos à sua volta. Um dizer filosófico que saí ao encontro do outro, e não o contrário, pois, lembrando o diálogo de Laques posto por Foucault (2011, p. 111), “[...] é preciso cuidar dos jovens, ensinar os jovens a cuidar de si mesmo [...] Aqui, o objeto designa a vida (bios), isto é, a maneira de viver”. A indispensabilidade de uma filosofia preocupada com a formação é refletida na necessidade de um dizer concretizado no princípio do cuidado.

Nossa pesquisa percorre uma ordem prática no intento de oferecer uma contribuição à questão social. A relevância de nosso estudo repousa na perspectiva de contradizer e romper com os paradigmas. Quebrar paradigmas é fazer prevalecer a oportunidade de conhecimento de si mesmo, compreensão daquilo que nos define e nos caracteriza. Essa quebra tem a ver com a contemplação da própria essência, sem resíduos ou fragmentos. A justificativa do estudo segue o viés de uma construção e de uma possível reconstrução de um modo de viver que possa contribuir com a modificação da realidade à nossa volta, seja na prática do contexto social ou nos discursos sobre o mundo.

Assim, por fim, sustentamos que o conhecimento científico adotado em nosso estudo será justificado pelas Ciências Humanas, tendo em vista a manifestação das subjetividades e das humanidades presentes em nosso objeto/sujeito e em nosso modo de proceder na pesquisa.

Esses motivos são condizentes, ainda, com o aporte da filosofia no ensino médio e sua prática na esfera da educação pública, base mentora de nossa investigação.

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