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Arquitetura Inclusiva: Decreto 5296/2004

4.2 A SOCIEDADE INCLUSIVA

4.2.5 Arquitetura Inclusiva: Decreto 5296/2004

Como meio inclusivo também se destaca a acessibilidade das pessoas com lesão às construções arquitetônicas que integram os espaços urbanos.

Quanto a este tipo peculiar de acessibilidade temos o entendimento de Cruz: “O direito à acessibilidade transformou-se em direito fundamental do portador de deficiência por meio do artigo 227, §2º [...] da Constituição Federal de 1988.”

Além do artigo 227, §2º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB), temos o Decreto 5296/2004 que promove a acessibilidade a espaços públicos, constituindo um elemento fundamental para a vida do deficiente.

110 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 261.

Acessibilidade segundo o Art.8º do Decreto 5296/2004111:

[...] condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Para tratar do Decreto 5296/2004, citaremos alguns de seus importantes artigos, a começar pelos que trazem a obrigação de cumprir normas técnicas112: Art. 2º - Ficam sujeitos ao cumprimento das disposições deste Decreto, sempre que houver interação com a matéria nele regulamentada:

I - a aprovação de projeto de natureza arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação, de transporte coletivo, bem como a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva;

II - a outorga de concessão, permissão, autorização ou habilitação de qualquer natureza [...]

Art. 11º - A construção, reforma ou ampliação de edificações de uso público ou coletivo, ou a mudança de destinação para estes tipos de edificação, deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Como verificado acima, o sujeito é subjetivo, podendo ser ente público ao dar permissão à determinada obra ou privado ao construir a obra, devendo ter a obrigação de zelar pelos preceitos contidos no presente decreto, sob a possibilidade de constituir sanções contidas no artigo terceiro: “Art. 3º - Serão aplicadas sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, previstas em lei, quando não forem observadas as normas deste Decreto”.

111 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> acesso em: 16 set. 2009.

112 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> acesso em: 16 set. 2009.

O parágrafo 3º do artigo quinto traz a obrigação da administração pública e de empresas prestadoras de serviços públicos, bem como de entidades financeiras de prestar atendimento prioritário aos deficientes113:

[...] O acesso prioritário às edificações e serviços das instituições financeiras deve seguir os preceitos estabelecidos neste Decreto e nas normas técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, no que não conflitarem com a Lei no 7.102, de 20 de junho de 1983, observando, ainda, a Resolução do Conselho Monetário Nacional no 2.878, de 26 de julho de 2001.

No caso da instituição financeira, além do respeito ao presente Decreto, ela também deverá obedecer às normas contidas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entre outros dispositivos.

Conforme dispositivo, outras obrigações surgem em prol da sociedade inclusiva. Remetendo ao cumprimento de norma técnica estabelecida pela ABNT temos no Art. 15º: “No planejamento e na urbanização das vias, praças, dos logradouros, parques e demais espaços de uso público, deverão ser cumpridas as exigências dispostas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT”. Entre estas obrigações estão o rebaixamento de calçadas, construção de rampas, pisos com demarcação própria para deficientes visuais, etc.

Há obrigação de se respeitar uma quota em determinados eventos, conforme prevê o Art. 23:

Os teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, casas de espetáculos, salas de conferências e similares reservarão, pelo menos,dois por cento da lotação do estabelecimento para pessoas em cadeira de roda distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e a obstrução das saídas, em conformidade com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

Também deverão ser respeitadas as normas técnicas da ABNT para renovação, criação de cursos e autorização para funcionamento de escolas públicas ou privadas. Em qualquer nível deverão apresentar estrutura acessível ao deficiente físico

113 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>

Acesso em: 16 set. 2009.

conforme determina o Art. 24: “Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível [...]

proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência.” Exemplos de ambientes são as bibliotecas, auditórios, laboratórios, etc.

Ainda na área educacional o Art. 65 destaca o dever dos Poderes Públicos na formação dos seguintes programas114:

Art. 65. Caberá ao Poder Público viabilizar as seguintes diretrizes:

[...] promoção da inclusão de conteúdos temáticos referentes a ajudas técnicas na educação profissional, no ensino médio, na graduação e na pós- graduação;

III - apoio e divulgação de trabalhos técnicos e científicos referentes a ajudas técnicas;

IV - estabelecimento de parcerias com escolas e centros de educação profissional, centros de ensino universitários e de pesquisa, no sentido de incrementar a formação de profissionais na área de ajudas técnicas.

Conforme trecho anteriormente exposto se tem o entendimento de que a acessibilidade do deficiente deveria ser exposta na educação de graduação ou não, em ensino privado ou público; o importante é informar o cidadão, demonstrando as várias dificuldades de adaptação ao meio social enfrentadas pelo deficiente por conta de projetos arquitetônicos que não visualizam o público portador de necessidades especiais.

O artigo sexto trata do atendimento prioritário ao deficiente, definindo o que seria este atendimento em termos de arquitetura:

Art. 6o O atendimento prioritário compreende tratamento diferenciado e atendimento imediato às pessoas de que trata o art. 5o.

§ 1o O tratamento diferenciado inclui, dentre outros:

I - assentos de uso preferencial sinalizados, espaços e instalações acessíveis;

114 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> Acesso em: 16 set. 2009.

II - mobiliário de recepção e atendimento obrigatoriamente adaptado à altura e à condição física de pessoas em cadeira de rodas, conforme estabelecido nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

De nada adiantaria sinalizações indicando assentos exclusivos à determinadas pessoas na recepção de algum órgão se no momento do atendimento tal pessoa se deparasse com um balcão obstruindo seu contato com o atendente, fato que ocorre freqüentemente em vários estabelecimentos.

Para evitar isso, o parágrafo quarto do Art. 6º estabelece determinações para desobstrução de barreira: “§ 4º Os órgãos, empresas e instituições [...]

devem possuir, pelo menos, um telefone de atendimento adaptado para comunicação com e por pessoas portadoras de deficiência auditiva”, observando assim o direito na igualdade de comunicação do deficiente auditivo.

O parágrafo 1º do Art. 19 estabelece o prazo de 30 meses para que estabelecimentos públicos já constituídos se adaptem as normas presentes no Decreto 5296/2004: “[...] edificações de uso público já existentes, terão elas prazo de trinta meses a contar da data de publicação deste Decreto para garantir acessibilidade às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”.

O mesmo prazo está no parágrafo 2º do Art. 22 que trata da construção de banheiros acessíveis (com equipamentos e acessórios especiais) a deficientes, cuja construção pública já estava concretizada.

Já na área dos transportes, intenção do Art. 34 seria louvável - “A infra-estrutura de transporte coletivo a ser implantada a partir da publicação deste Decreto deverá ser acessível e estar disponível para ser operada de forma a garantir o seu uso por pessoas portadoras de deficiência.” - se não existisse o prazo contido no § 3º do Art. 38 que destaca: “A frota de veículos de transporte coletivo rodoviário e a infra- estrutura dos serviços deste transporte deverão estar totalmente acessíveis no prazo máximo de cento e vinte meses a contar da data de publicação deste Decreto”, abrindo assim brechas para empresas de transportes continuarem dificultando os meios de transportes dos deficientes.

4.3 A IGUALDADE E O OBJETIVO FUNDAMENTAL NO ARTIGO 3º DA CRFB DE