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Rush e a Pressão Física nos Tratamentos de Loucos

2.7 LOUCURA: A IMPLANTAÇÃO DOS MANICOMIOS DURANTE OS SÉCULOS XVIII E

2.7.1 Rush e a Pressão Física nos Tratamentos de Loucos

Contudo no século XVIII citando um nome expressivo dentro da psiquiatria americana, temos o trecho abaixo subtraído da obra de Szasz, o qual posteriormente nos trará também os vários tratamentos do abaixo citado doutor.

Ensina-nos Szasz53:

Benjamim Rush (1746-1813) foi Médico-Geral do Exército Continental e Professor de física e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia. É indiscutivelmente o pai da psiquiatria americana; seu retrato enfeita a chancela da associação psiquiátrica Americana. Que tipo de homem era ele? Quais suas idéias e práticas psiquiátricas?

52 FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro:

Ed tempo Brasileiro, 1984. p. 81.

53 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p. 170-171.

Rush é celebrado como o fundador da Psiquiatria americana porque afirmava que não há diferenças entre doenças físicas e doenças mentais e porque através de sua grande influência pessoal como grande médico e amigo dos fundadores da República, foi capaz de impor suas idéias sobre doença mental. Em resumo, foi o primeiro medico americano a defender a transformação de problemas sociais em problemas médicos, e seu controle coercitivo através de sanções “terapêuticas” e não “punitivas”.

Como verificamos, a personalidade em questão foi um influente homem na medicina e na sociedade de sua época, com idéias que apesar de revolucionárias não acrescentou beneficamente em nada à inclusão e reabilitação dos deficientes, pelo contrário, submeteu-os, como veremos mais adiante, a tratamentos desumanos.

Assim temos sob os dizeres de Szasz54:

Rush acreditava que, para curar a loucura, o médico precisava ter um controle completo sobre a pessoa do louco. Não era o único a aceitar essa opinião que, na realidade, era aceita pela maioria dos médicos de seu tempo. O grande Philippe Pinel - que, segundo se pensa, retirou as correntes do insano - era um defensor irrestrito da coerção psiquiátrica.

Na verdade, opunha-se ao uso de correntes e ataques físicos aos doentes mentais, não porque desejasse devolver-lhes a liberdade, mas porque acreditava que, num hospício corretamente administrado, os pacientes ficariam tão impressionados com o poder e autoridade extraordinária dos responsáveis que esses métodos mais duros de controle seriam desnecessários. O tratado de insanidade de Pinel está cheio de elogios à

intimidação” e “ coerção”, o que se pode ver no seguinte trecho: “No entanto, se ele [O louco] enfrenta uma força evidente e convincentemente superior, submete-se sem oposição ou violência”.

Quanto das técnicas de tratamentos utilizadas, temos as praticadas pelo conceituado Rush, tratamentos desumanos que em sua maior parte traziam a obediência através do terror e da dor.

Inicialmente o doente era afastado do convívio que estava acostumado, sendo aprisionado no hospício.

54 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p. 178.

Descreve-nos Szasz55:

Um dos tratamentos prediletos de Rush era o “terror” que, segundo ele,

“age poderosamente no corpo, através da mente, e deve ser empregado na cura da loucura”. Para aterrorizar adequadamente o paciente, era necessário afastá-lo de sua casa e encarcerá-lo num hospício. Isso é o que Rush considerava terapêutico: “efeito da privação de liberdade tem sido às vezes extremamente salutar”. [...] Apenas pensava, como o fazem muitos psiquiatras contemporâneos, que essa perda de liberdade era amplamente justificada pela proteção que dava à sociedade.

Tal aprisionamento além de excluir da sociedade, era motivado pela justificativa de proteção social; num segundo momento os tratamentos por assim dizer, seguiam com torturas ocasionando muitas vezes sérias lesões.

Cita Szasz 56:

Às vezes Rush classifica seus métodos como “tratamentos”, e às vezes como “castigos”. O exemplo seguinte mostra muito claramente o que Rush pensava dos loucos: compara-os a animais não-domados e considera que o dever do médico é dominá-los. Em sua lista de recomendações terapêuticas - entre as quais encontramos “confinamento por camisa de força”, [...] privação de seus alimentos usual e agradável, [...] despejar água fria sob a camisa, sangria, solidão, escuridão.

Outro exemplo de tratamento desumano descrito em detalhes é trazido a seguir, no qual Rush busca inspiração nas técnicas utilizadas para domar cavalos, que consistia no aprisionamento do doente a uma cadeira, reduzindo assim o pulso ao diminuir a ação muscular.

Szasz57 assim nos traz:

55 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p. 179.

56 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p.181.

57 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p.181-182.

[...] Rush inclui “uma posição ereta do corpo”. Esse método é empregado da seguinte forma: “Existe um método de domar cavalos rebeldes na Inglaterra, encurralando-os, e depois impedindo que deitem ou durmam, colocando-se pregos pontudos em seus corpos, durante dois ou três dias e noites. Não tenho dúvida de que as mesmas vantagens podem ser obtidas se colocarmos os loucos em posição ereta, e acordados, durante vinte e quatro horas, mas por meios diferentes e mais suaves.”

Uma das mais famosas invenções terapêuticas de Rush foi um aparelho que denominou o “tranqüilizante”. Deutsch descreve esse aparelho da seguinte maneira: “o tranqüilizante era formado por uma cadeira ao qual o paciente era amarrado pelos pés e pelas mãos, além de uma parte que mantinha a cabeça numa posição fixa.

Esta terceira fase do tratamento que também pode ser alcunhado como tortura uma vez que os pacientes eram obrigados a cooperar, mostra uma fase branda, tendo em vista as próximas técnicas de tratamento.

Seguindo, nos conta Szasz58:

A segunda invenção psiquiátrico-terapêutica de Rush era uma máquina chamada o “girador”. Era uma prancha giratória a que se prendiam os pacientes que sofriam de loucura apática, com a cabeça colocada o mais longe possível do centro. Podia ser girado a grandes velocidades, fazendo com que o sangue corresse para a cabeça.

Ressaltasse que na época este e outros tratamentos eram vistos como métodos terapêuticos elogiáveis, mas que para o doente vinham a ser insanos.

Rush e suas invenções findam no Mergulho, Szasz 59conta-nos: o

“tranqüilizante” e o “girador” não eram os únicos métodos terapêuticos de Rush. Ele usava o “mergulho” que consistia em imergir a paciente na água e dizer-lhe que seria afogada.

Demonstrando que o doutor Rush não era o único a aplicar os tratamentos cruéis em doentes mentais, temos nos métodos de Leurent outras técnicas inadmissíveis para a atualidade.

58 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p. 182.

59 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed.

Guanabara, 1971. p. 183.

Conta-nos Foucault 60: [...] Leurent submetera seus doentes a uma ducha gelada na cabeça e empreendera neste momento, com eles, um diálogo durante o qual forçá- los-á a confessar que sua crença é apenas delírio. O século XVIII havia também inventado uma máquina rotatória onde se colocava o doente a fim de que o curso de seus espíritos demasiado fixo numa idéia delirante fosse recolocado em movimento e reencontrasse seus circuitos naturais.

O século XIX aperfeiçoa o sistema dando-lhe um caráter estritamente punitivo: a cada manifestação delirante faz-se girar o doente até desmaiar, se ele não se arrependeu. Emprega-se também uma gaiola móvel que gira sobre si mesma segundo um eixo horizontal e cujo movimento é tanto mais vivo quanto esteja mais agitado o doente que ai é preso.

Numa visão menos prejudicial, mas que também abalava, temos a pressão mental, que consistia na tentativa de melhora através do consciente do doente, uma nova técnica criada pelo conceituado Pinel.

Quanto à pressão mental, retrata-nos Foucault sobre Pinel61:

Pinel, em Bicêtre, depois de ter “liberado os acorrentados” que ai se encontravam em 1793. Certamente, ele fez ruir as ligações materiais (não todas entretanto), que reprimiam fisicamente os doentes. Mas reconstituiu em torno deles todo um encadeamento moral, que transformava o asilo numa espécie de instancia perpetua de julgamento:

O louco tinha que ser vigiado nos seus gestos, rebaixado nas suas pretensões, contratido no seu delírio, ridicularizado nos seus erros: A sanção tinha que se seguir imediatamente qualquer desvio em relação a uma conduta normal. E isto sob direção do médio que está encarregado mais de um controle ético que de uma intervenção terapêutica. Ele é, no asilo, o agente das sínteses morais

Salienta-se que devido ao encarceramento e o tratamento da época, muitos deficientes perderam não só a liberdade, mas também a vida.

60 FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro:

Ed. Tempo Brasileiro, 1984. p. 83.

61 FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro:

Ed. Tempo Brasileiro, 1984. p. 82.

2.8 PERÍODO ANTECEDENTE À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O EXTERMÍNIO DE DEFICIENTES

Outro período de expressão no que diz respeito à exclusão e extermínio do deficiente é o pré Segunda Guerra Mundial. Há que se dizer, que este foi um período marcado pela ascensão de regimes ditatoriais (totalitários) que acentuaram a intolerância nos mais diversificados níveis, fato que mais uma vez interferiu na vida dos portadores de deficiências.

Assim nos conta Cytrynowicz62:

Eu gostaria de fazer um parêntesis e lembrar que, a rigor, a primeira câmara de gás foi utilizada contra pacientes de um hospital psiquiátrico no programa nazista chamado de “eutanásia”, que matou cerca de 100 mil alemães considerados “doentes mentais e incuráveis”, entre eles epiléticos, surdos, cegos, pessoas com lábio leporino, às vezes também pessoas consideradas “associais” e judeus. A eutanásia foi oficialmente suspensa devido a protestos de setores da igreja, pressões que não ocorreram depois contra o extermínio dos judeus.

Mesmo com o protesto da Igreja contra o extermínio dos deficientes, a política de esterilização continuava ativa, além dos casos em que muitos deficientes eram levados à câmara de gás, outros tantos eram submetidos às experiências bizarras, que também culminavam na morte.

Um dos métodos de esterilização que era aplicado nos campos de concentração era o feito por raios X, com autorização de tal procedimento feita por Himmler.

Quanto aos campos de extermínio ressaltasse as experiências feitas com os deficientes que por anos serviram de cobaias para os médicos S.S., especialmente para o Dr. Joseph Mengele, que os usava para o aperfeiçoamento da tão sonhada raça superior, buscando descobrir a causa da inferioridade dos corpos deficientes.

62 CYTRYNOWICZ, Roney. Segunda Guerra Mundial um Balanço Histórico. São Paulo: Ed. Xamã, 1995. p. 217.

Conta-nos Aziz63:

Quando os comboios chegam [...] os soldados percorrem as fileiras formadas diante dos vagões a procura dos gêmeos e dos anões. [...] Os gêmeos adultos sabem que são interessantes do ponto de vista cientifico;

na esperança de melhores condições, apresentam-se voluntariamente. O mesmo acontece com os anões. [...] As pesquisas são desenvolvidas em três campos diferentes. O primeiro, o mais importante aos olhos de Mengele, dizia respeito ao segredo da gestação dos gêmeos. Mas o medico S.S. interessa-se igualmente pelas causas biológicas e patológicas do nanismo e do gigantismo, esperando ai descobrir uma predestinação especial hereditária das raças inferiores. Por último, uma doença extremamente rara, surgida entre as crianças ciganas, oferece-lhe um terceiro campo de investigação: o noma fácies, ou gangrena seca do rosto.

[...] Os gêmeos, os anões, os deformados de todos os gêneros, são ali submetidos a todos os exames médicos que o corpo humano pode suportar. Recolhas de sangue, punções lombares, transfusões de sangue entre irmãos gêmeos, assim como inúmeros exames, todos eles fatigantes e deprimentes.

As seleções citadas anteriormente, que consistiam em três grupos eram fundamentadas primeiramente nos gêmeos, em desvendar como eram gerados, para assim fazer a procriação da raça ariana em maior escala, quanto aos anões à intenção era também descobrir sua origem, mas com o intuito de exterminar qualquer possibilidade do surgimento de alemães com esta anomalia, no primeiro momento estas pessoas especiais eram bem tratadas, ou seja, menos mal tratadas, tinham alimentação diferenciada dos demais assim como suas moradias, e por estes motivos as mesmas se apresentavam voluntariamente; já num segundo estágio, começavam as experiências que sempre findavam, após muita tortura, na morte.

2.8.1 O Nazismo e as Leis de Extermínio de Deficientes

Período vergonhoso tanto para a história geral da humanidade quanto à historia do corpo legislativo que legalizou as práticas de genocídio, incluindo neste processo de extermínio legal de minorias, os portadores de deficiências.

63 AZIZ, Philippe. Os médicos da morte: Joseph Mengele ou a encarnação do mal. Rio de Janeiro: AGGS Ind. Gráficas SA., [20-]. p.118-120.

Assim nos conta Aziz64:

Desde os primeiros meses do regime que a esterilização faz parte do arsenal dos métodos nazis. Um decreto de 1933 legalizou a esterilização por motivos eugênicos: pode-se privar da faculdade de procriar os doentes hereditários, os inadaptados, os desequilibrados. [...] Na Alemanha, a porta é completamente aberta aos mais graves excessos e os abusos depressa se tornam flagrantes: o inconformismo político é, muitas vezes, motivo para esterilização. Quando a guerra rebenta, os dirigentes alemães acabam por encarar a esterilização de populações inteiras, para criarem, conforme desejo de Himmler, um novo equilíbrio racial na Europa. O Dr. Mengele trabalha para a multiplicação da raça pura; outros devem, paralelamente, estudar os meios mais eficazes de impedir a reprodução das raças inferiores.

Seguindo, no trecho subtraído da revista almanaque Abril temos:65 Mas o racismo de Hitler ia mais longe. Outra lei de 14 de julho determinou a esterilização de deficientes físicos e mentais, com o objetivo de manter a pureza da raça ariana. De 1933 a 1945, 400 mil pessoas – entre alcoólatras e indivíduos considerados anti-sociais ou incapazes – foram esterilizados à revelia. Em 1939, pouco antes do inicio da guerra, os deficientes seriam separados da família, sem conhecimento prévio, para ser assassinados em centros espalhados pelo país.

Ou seja, antes do início da Segunda Guerra Mundial a Alemanha já implantara a política de esterilização, autorizando estas práticas legalmente, que ao transcorrer da guerra apenas disseminou o extermínio em massa, sempre lembrando que era no entendimento de Hitler para a multiplicação da raça pura.

Nos traz Cytrynowicz66:

Para o nazismo, a medicina deveria se ocupar da higiene racial, da pureza étnica, e não dos indivíduos. Esta idéia deriva da visão de que a historia era movida por uma permanente luta entre raças, luta na qual os arianos

64 AZIZ, Philippe. Os médicos da morte: Joseph Mengele ou a encarnação do mal. Rio de Janeiro: AGGS Ind. Gráficas AS., [20-]. p. 153.

65 II Guerra Mundial 60 anos. A ofensiva do nazismo. São Paulo; v. 1: Abril, 2005. p. 70.

66 CYTRYNOWICZ, Roney. Segunda Guerra Mundial um Balanço Histórico. São Paulo: Ed. Xamã, 1995. p. 217.

seriam vencedores. Aos nazistas se viam, portanto, como agentes biológicos que intervinham em um processo histórico-natural para abreviar um fim que se imporia pela lógica da historia, que daria a vitória aos arianos.

A união do corpo legislativo com a medicina permitiu ao nazismo realizar experiências que findavam na morte de deficientes que, entre outras minorias, passaram a ser utilizados como cobaias humanas.

3 A LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

3.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E DIREITOS HUMANOS

O fim da Segunda Guerra Mundial despertou a sociedade política internacional para os perigos da intolerância contra as minorias políticas e sociais que havia sido verificada nas ações de regimes totalitários como o nazismo. Para precaver-se deste perigo é criada oficialmente em 24 de outubro de 1945 a Organização das Nações Unidas (ONU). Em dezembro de 1948, fruto de resolução da III Sessão Ordinária da Assembléia Geral das Nações Unidas, surge a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, primeiro e mais importante documento internacional de Direitos Humanos, ou seja, de proteção jurídica às minorias sociais.

Inicialmente temos a consolidação dos direitos humanos em face à sua violação antes e durante a Segunda Guerra Mundial: extermínios de judeus, deficientes e civis de diversas nações.

Assim nos contempla Braga67:

As irremediáveis violações dos direitos humanos cometidas durante a Segunda Guerra Mundial foram determinantes para que tivesse inicio um fenômeno de internacionalização dos direitos humanos.

Para a garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana necessária fora a Organização das Nações Unidas que sucedeu a Sociedade das Nações criada no fim da Primeira Guerra Mundial.

Ensina-nos Braga68:

A carta que instituiu a Organização das Nações Unidas foi concluída na cidade californiana de São Francisco, em 26.06.1945 [...] a preocupação essencial das Nações Unidas é “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”. Para tanto, os Estados reafirmam a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana.

67 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. São Paulo: Método, 2009. p. 76.

68 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. São Paulo: Método, 2009. p. 128.

Conforme nos explica Dallari, os direitos humanos não poderão ser contrariados nem por outras leis, muito menos por autoridades públicas.

Assim nos contempla Dallari69:

O que desde logo deve ficar claro é que existem certos direitos que nem as leis nem as autoridades públicas podem contrariar. Esses direitos estão quase todos na Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948.

Com a criação da ONU, os princípios abaixo elencados aparecem com o intuito de prevenir o surgimento de novos conflitos étnicos, a exemplo dos fatos que, em parte, provocaram a Segunda Guerra Mundial.

Assim nos traz Braga70:

O indivíduo passou, portanto, a ser destinatário de várias normas cujo objetivo é proteger os mais elementares direitos da pessoa humana, que lhe permitiam gozar de uma vida fundada nos princípios da igualdade e da dignidade.

Tais direitos fundamentais no Brasil são amparado a partir do art.

da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que veremos adiante no capítulo III.

O ser humano como principal detentor de garantias fundamentais, subseqüentemente aparecerá a figura do deficiente analogicamente com tais direitos, que posteriormente será defendido com legislação específica.

Ainda quanto à igualdade e à dignidade, temos o entendimento a seguir.

Segundo Dallari71:

69 DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são direitos da pessoa. São Paulo: Brasiliense. 1984. p. 10.

70 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. São Paulo: Método, 2009. p. 76.

71 DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são direitos da pessoa. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 7-8.

Cada pessoa deve ter a possibilidade de exigir que a sociedade e todas as demais pessoas respeitem sua dignidade e garantam os meios de atendimento daquelas necessidades básicas.

Além disso, as pessoas humanas são todas iguais por natureza e todas valem a mesma coisa, mas cada uma tem suas preferências, suas particularidades.

Necessário se faz sem dúvidas, a criação de normas para regular essas diferenças e também garantir a dignidade, sendo esse o objeto deste e do próximo capítulo.

3.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Tendo o objetivo de priorizar a dignidade e a igualdade, iniciamos trazendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, citando assim alguns de seus artigos convenientes ao presente trabalho, tal Declaração é marco inicial dos direitos das minorias, servindo de base para posteriores leis, sendo ele assinado no ano de 1948.

Já em seu preâmbulo, são declarados como atos bárbaros os cometidos com desprezo e desrespeito aos direitos humanos. O direito a igualdade surge logo em seu primeiro artigo que assim traz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito”. 72

Seguindo, em seu artigo segundo é trazido o direito a gozar dos benefícios consagrados na presente declaração: “Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta declaração, sem distinção de qualquer espécie”.73

A de se notar que expressamente há o entendimento de que qualquer pessoa com deficiência ou não deve ter seus direitos e deles gozar.

72 Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php> Acesso em: 09 set. 2009.

73 Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php> Acesso em: 09 set. 2009.

Ainda quanto do direito ao gozo e igualdade, tem-se o entendimento de Celso Ribeiro Bastos assim descrito na obra de Atchabahian74:

Desde as primeiras eras tem o homem se atormentado com o problema das desigualdades inerentes ao seu ser e à estrutura social em que se insere. Daí ter surgido a noção de igualdade que os doutrinadores comumente denominam igualdade substancial. Entende-se por esta, a equiparação de todos os homens no que diz respeito ao gozo e fruição de direitos, assim com sujeição a deveres.

Conforme mencionado anteriormente, o direito igualitário entre os seres humanos representa o que se convencionou chamar de igualdade substancial.

Por fim, observasse no artigo vinte e oito: “Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados”.75 Para manter tal ordem é necessária a introdução no meio social de leis, surgindo então o Estado como responsável a manter a ordem social e a realização dos direitos juridicamente estabelecidos.

Quanto da participação da sociedade destaca-se o entendimento de Cruz76: “Esta sociedade deve trabalhar no sentido de oferecer oportunidades para que cada cidadão possa ser respeitado, garantindo-lhe mecanismos para que a mesma consiga a integridade de sua autonomia, auto-determinada e participativa”.

3.3 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS DO HOMEM

A Convenção Americana sobre Direitos do Homem de 22 de novembro de 1969, também conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, assim como prescreve seu preâmbulo, tem o intuito de consolidar no continente um regime de liberdade pessoal e de justiça social, sempre baseado no respeito dos direitos essenciais do ser humano.

74 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo, RCS Editora, 2004.

p.73.

75 Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php> Acesso em: 09 set.

2009.

76 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte, Del Rey, 2003. p.127.