• Nenhum resultado encontrado

DIREITO E BENEFÍCIOS DA IGUALDADE NAS CONSTITUIÇÕES DE ALGUNS

O décimo terceiro e último parágrafo é assim traduzido por Campinos88: “O deficiente, a sua família e a sua comunidade devem ser plenamente informados, por todos os meios apropriados, dos direitos contidos na presente Declaração”.

Infelizmente a sociedade não tem ciência dos direitos dos deficientes e, muito menos de seus deveres para com eles. Direitos estes que só visam à inclusão e a dignidade do ser humano.

3.6 DIREITO E BENEFÍCIOS DA IGUALDADE NAS CONSTITUIÇÕES DE ALGUNS

El Estado tiene la obligación de defender el capital humano protegiendo la salud de la población; asegurará la continuidad de sus medios de subsistencia y rehabilitación de las personas inutilizadas;

propenderá asimismo al mejoramiento de las condiciones de vida del grupo familiar. 90

Tal dever do Estado se expressa no sistema de seguridade social que garante ao necessitado os meios para sua subsistência, assegurando os meios necessários para a família mantê-lo.

3.6.2 Constituição da República do Chile

Quanto à Constituição da República do Chile, o artigo primeiro já traz o direito à igualdade e à dignidade para todos: “Los hombres nacen libres e iguales em dignidad y derechos.” 91

Ainda no artigo primeiro é citado o Estado como assegurador da integração dos setores da Nação e da igualdade do ser humano na participação de oportunidades na vida92: “[...] promover la integración armônica de todos los sectores de la Nación y asegurar el derecho de las personas a participar com igualdad de oportunidades em la vida nacional”.

No terceiro capítulo temos os direitos e deveres constitucionais que também destacam a igualdade93: “Articulo 19: La igualdad ante la ley. Em Chile no hay persona ni grupo privilegiados.”

3.6.3 Constituição da República do Paraguai

Na Constituição da República do Paraguai observa-se no artigo sexto a qualidade de vida promovida pelo Estado sob planos e políticas de visam: erradicar

90 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 131.

91 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 401.

92 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 401.

93 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 403.

a pobreza, promover a inclusão social do deficiente e do idoso94: “Articulo 6. DE LA CALIDAD DE VIDA. La calidad de vida será promovida por el Estado mediante planes y politicas que reconozcan factores condicionantes, tales como la extrema pobreza y los impedimentos de la discapacidad o de la edad.”

O terceiro capítulo trata da igualdade entre as pessoas95:

Artículo 46. DE LA IGUALDAD DE LAS PERSONAS. Todos los habitantes de la República son iguales em dignidad y derechos. No se admiten discriminaciones. El Estado removerá los obstáculos e impedirá los factores que las mantengan o las propicien. Las protecciones que se establezcan sobre desigualdades injustas no serán consideradas como factores discriminatorios sino igualitarios.

Como verificado anteriormente, a igualdade e a dignidade também são assegurados a todos os habitantes do Paraguai. Sendo que será removida qualquer forma de empecilho às ações – governamentais - desiguais direcionadas à inclusão do portador de necessidades especiais à sociedade. Essas medidas jurídicas não serão consideradas medidas discriminatórias, mas sim, tratamentos que buscam a igualdade através do reconhecimento da desigualdade.

3.6.4 Constituição da República Oriental do Uruguai

Da constituição da República Oriental do Uruguai se abstrai a igualdade perante a lei, mas não necessariamente visando uma classe menos favorecida, e sim, não favorecendo uma classe supostamente mais abastada96: “Artículo 8. Todas las personas son iguales ante la ley no reconociêndose outra distinción entre ellas sino la de los talentos o las virtudes”.

94 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 451.

95 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 456.

96 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 503.

Já no artigo 44 temos97: “El Estado legislará en todas las cuestiones relacionadas com la salud e higiene públicas, procurando el perfeccionamiento físico, moral y social de todos los habitantes del país.” Assim tem-se a obrigação do Estado na formação de leis buscando a harmonia entre a saúde publica e o homem.

Assim se finda o presente capítulo que buscou através de Declarações de Direito Internacional e de Constituições Latino-Americanas demonstrar o processo jurídico de inclusão do ser humano portador de necessidades especiais ao meio social: seja esta inclusão pelos princípios internacionais da igualdade e da dignidade da pessoa humana ou, simplesmente, por legislação específica.

97 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 505.

4 INCLUSÃO SOCIAL: OS DIVERSOS MEIOS DE INCLUIR O PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS À SOCIEDADE

4.1 CONCEITO DE INCLUSÃO

Antes de verificarmos os vários meios inclusivos que estão disponíveis, mas que pouco se faz presente no dia-a-dia, é preciso entender seu significado, assim temos o entendimento de Sassaki98:

Com o advento do paradigma da inclusão e do conceito de que a diversidade humana deve ser acolhida e valorizada em todos os setores sociais comuns, hoje entendemos que a acessibilidade não mais se restringe ao aspecto arquitetônico, pois existem barreiras de vários tipos também em outros contextos que não o do ambiente arquitetônico.

Assim tem-se a inclusão, na destruição de várias barreiras que ao longo da vida se apresentam perante a pessoa com lesão, não sendo apenas barreiras arquitetônicas, mas sim educacionais, sociais, pessoais etc.

Quanto a barreiras pessoais ensina-nos Sassaki99:

Acessibilidade Atitudinal: sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, como resultado de programas e práticas de sensibilização e de conscientização dos trabalhadores em geral e da convivência na diversidade humana nos locais de trabalho.

O autor quando cita a acessibilidade atitudinal, prioriza especificamente a relação do trabalhador com o trabalho. Todavia, mas fácil será a analogia que traz a idéia de acessibilidade entre pessoa e sociedade, construindo um convívio através de práticas de conscientização sem discriminações.

4.2 A SOCIEDADE INCLUSIVA

Devido à sua importância, primeiramente temos a necessidade de ampliar o conceito de inclusão ao patamar social, explicando alguns meios de inclusão

98 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 68.

99 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 69.

social. Assim, quanto à inclusão no âmbito social, o conceito de sociedade inclusiva destaca a criação de espaço para todos.

Explica-nos Sassaki100:

Uma sociedade inclusiva garante seus espaços a todas as pessoas, sem prejudicar aquelas que conseguem ocupá-los só por méritos próprios.

Neste ponto, é oportuno acrescentar que o conceito de sociedade inclusiva, introduzido nos meios especializados em deficiência, tornou-se hoje válido também em outros meios, ou seja, naqueles em que estão presentes as pessoas com outras condições atípicas

Além de garantir o espaço para todos, fortalece a aceitação da diversidade humana em outros meios, com a convivência, a cooperação, etc.

Temos o conceito de sociedade inclusiva exteriorizada pela ONU a partir do ano de 1981, quando é realizado o Ano Internacional das Pessoas Deficientes.

Ensina-nos Sassaki101:

A semente do conceito sociedade inclusiva foi lançada em 1981 pela própria ONU quando realizou o Ano Internacional das Pessoas Deficientes (A I P D), que enalteceu firmemente o reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência como membros integrantes da sociedade.

Outro termo usado para tratar de inclusão social é o de “sociedade para todos”, elaborado por Ture Jonsson, conforme descreve Sassaki102:

Sociedade para todos como “uma sociedade que se empenha para acolher as diferenças de todos os seus membros, isto significa que temos que

100 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 168.

101 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 169.

102 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 169.

focalizar nossos esforços não mais em adaptar as pessoas à sociedade e sim em adaptar a sociedade às pessoas”.

Contudo, para haver uma sociedade inclusiva, não se faz apenas necessário a criação de mais declarações, leis e decretos, mas sim, é preciso despertar a conscientização da sociedade em geral, entendendo que somos iguais em direito e que a melhor forma de incluir uma pessoa com lesão a meio social é praticar um conjunto de idéias que já estão formuladas em teorias educacionais, médicas e arquitetônicas.

No mesmo compasso temos o entendimento de Atchabahian103: O entendimento atual é no sentido de fazer valer, efetivamente, a igualdade entre todos. Significa dizer que a efetividade está na igualdade alcançada de forma real e não somente na letra da lei. Eis aqui a igualdade substancial.

4.2.1 Governo e Inclusão

O primeiro instrumento que une o governo às ações inclusivas no Brasil é a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), secretaria de governo que objetiva promover políticas públicas voltadas à proteção dos direitos humanos.

Outras funções lhe são conferidas104:

1 - Prestar assessoria direta e imediata ao Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes voltadas à promoção dos direitos da cidadania, da criança, do adolescente, do idoso e das minorias e à defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência [...] 2 - coordenar a Política Nacional de Direitos Humanos, [...] 3 - articular iniciativas e apoiar projetos voltados para a proteção e promoção dos direitos humanos em âmbito nacional [...] e 4 - exercer as funções de ouvidoria- geral da cidadania, da criança, do adolescente, da pessoa portadora de

103 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo, RCS Editora, 2004. p.

76.

104 Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/sobre/>Acesso em: 18 set.

2009.

deficiência, do idoso e de outros grupos sociais vulneráveis.

A SEDH representa os “olhos” do Presidente Brasileiro, exercendo atos voltados à dignidade da pessoa humana e fiscalizando as práticas sociais que reafirmam a exclusão através da ouvidoria da cidadania.

Conforme verificamos, dentre as atribuições da Secretaria Especial está a função de coordenar a Política Nacional de Direitos Humanos, delegando está responsabilidade à Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE).105

CORDE é o órgão de Assessoria da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, responsável pela gestão de políticas voltadas para integração da pessoa portadora de deficiência, tendo como eixo focal a defesa de direitos e a promoção da cidadania.

Verifica-se como gestão de políticas voltadas às ações da coordenação do Programa Nacional de Acessibilidade que apóia e promove a capacitação de recursos humanos em acessibilidade, acompanhando as atualizações de legislação sobre a acessibilidade e organizando campanhas informativas e inclusivas.

4.2.2 Ministério Público e Inclusão

Outro órgão nacional que atua em favor da inclusão social de minorias é a Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência (AMPID). Entidade que foi criada em São Luiz do Maranhão em 09/01/2004 - conforme seu registro de pessoa jurídica - com intuito de defender os direitos dos idosos e das pessoas com lesões. Dentre os objetivos da associação estão106:

[...] a proclamação e defesa dos direitos das pessoas idosas e pessoas com deficiência. [...] promoção da cultura jurídica crítica e democrática, com base na formação dos Membros do Ministério Público de defesa das pessoas idosas e pessoas com deficiência. [...] o estudo das normas internacionais relativas ao envelhecimento e às deficiências, de maneira a contribuir para o aperfeiçoamento das instituições [...] a difusão dos

105 Disponível em: <http://www.mj.gov.br/corde/ > Acesso em: 18 set. 2009.

106 Disponível em: < http://www.ampid.org.br/O_que_e_AMPID.php> Acesso em: 14 set. 2009.

estudos jurídicos e sociais, mediante a elaboração de boletins, revistas e jornais [...] a promoção de campanhas visando mobilização da opinião pública no sentido de participação dos diversos segmentos na promoção dos direitos das pessoas idosas e das pessoas com deficiência [...] aplicar integralmente suas rendas, recursos e eventual resultado operacional na manutenção e desenvolvimento dos objetivos institucionais no território nacional.

Percebe-se a intenção de defesa da pessoa deficiente através da formação de promotores capacitados e conscientes sobre a necessidade de promover as práticas de inclusão.

Quanto ao aperfeiçoamento das instituições que visam promover a inclusão social de minorias, destaca-se a necessidade de ampliação do conhecimento sobre as normas internacionais para mantê-las atualizadas, favorecendo a prática de divulgar informações ao público interessado e formar campanhas inclusivas.

4.2.3 Programas Preventivos

No âmbito nacional também temos o exemplo de campanhas preventivas e de readaptação que visam erradicar possíveis doenças que causariam algum tipo de lesão, bem como, promover a recuperação de vítimas destas doenças.

Contempla-nos Cruz107:

Nesse sentido, as campanhas nacionais de imunidade contra a poliomielite/paralisia infantil têm conseguido êxito pleno na erradicação dessas doenças. O Poder Público é obrigado a fornecer gratuitamente medicamentos necessários ao tratamento do portador de deficiência, não podendo haver qualquer impedimento a sua participação nos planos ou seguros privados de saúde, nos termos do artigo 14 da Lei federal n.

9.658/98. Além disso, o Poder Público deve oferecer gratuitamente próteses que favoreçam sua adequação funcional, bem como, próteses auditivas, visuais e físicas.

Sabemos que o sistema de prevenção acaba sendo uma boa alternativa para sanar problemas de saúde quando se está diante de um sistema de saúde

107 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 250.

precário - inclusive para aqueles que não possuem lesão – que desfavorece as medidas curativas.

4.2.4 O Papel da Educação Especial na Inclusão Social

Nacionalmente temos também a inclusão do deficiente no sistema educacional, trazido assim por Cruz108:

No campo educacional, qualquer portador de deficiência tem direito à educação pública e gratuita, inclusive em sistema próprio de educação especial, adequada às suas necessidades, como se depreende do artigo 2º, inciso I da Lei n. 7.853/89, do artigo 58 da Lei n. 9.394/96 e do artigo 24 do Decreto n. 3.298/99. Entende-se por educação especial a modalidade oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para o educando com necessidades especiais, constituindo-se num processo flexível, dinâmico e individual ligado às necessidades de cada portador de deficiência.

Quanto à educação inclusiva, temos o posicionamento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que foi subtraído de seu site nacional109:

Após décadas de existência e de profundas mudanças sócio-culturais no tocante a questão da deficiência no Brasil e no mundo, a Rede APAE tem acompanhado, junto a outras organizações sociais, uma mudança de paradigma sobre a questão da inclusão escolar. Tais mudanças influenciam diretamente na vida das pessoas com deficiência intelectual, no funcionamento da entidade, no foco de sua prestação de serviços e nas suas ações de articulação de promoção de políticas. [...] a APAE hoje possui um posicionamento claro e responsável sobre a questão da inclusão escolar.

A APAE é a favor de um processo de inclusão escolar gradativo (processual) e responsável, com o qual as escolas comuns sejam devidamente preparadas para o recebimento dos estudantes, que necessitam não apenas de recursos para acessibilidade física, mas, sobretudo de treinamento de professores, preparação dos alunos, dentre outras ações. Além disso, a Rede APAE defende o direito de escolha da

108 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 249.

109 Disponível em: <http://www.apaebrasil.org.br/artigo.phtml?a=11398> Acesso em: 16 set. 2009.

pessoa com deficiência intelectual e de sua família sobre o local onde deseja estudar.

Com este entendimento temos a inclusão do deficiente sob a livre escolha de sua família, seja em escolas especializadas ou comuns, o importante é que as escolas também tenham profissionais competentes com atitudes inclusivas manifestas nas ações de seus administradores, professores e ou alunos.

Quanto da participação da APAE, temos a opinião de Cruz110: Contudo, se o Estado brasileiro está longe de implementar um programa coerente de ações afirmativas em favor do portador de deficiência, tal não se pode falar da sociedade brasileira. [...] A Associação de Paraplégicos, de deficientes físicos e as APAE são alguns dos milhares de exemplos de uma sociedade que deseja a inclusão e que vê a solidariedade como um principio constitucional próprio do Estado Democrático de Direito e não mera caridade ou “assistencialismo do Estado”.

4.2.5 Arquitetura Inclusiva: Decreto 5296/2004

Como meio inclusivo também se destaca a acessibilidade das pessoas com lesão às construções arquitetônicas que integram os espaços urbanos.

Quanto a este tipo peculiar de acessibilidade temos o entendimento de Cruz: “O direito à acessibilidade transformou-se em direito fundamental do portador de deficiência por meio do artigo 227, §2º [...] da Constituição Federal de 1988.”

Além do artigo 227, §2º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB), temos o Decreto 5296/2004 que promove a acessibilidade a espaços públicos, constituindo um elemento fundamental para a vida do deficiente.

110 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 261.

Acessibilidade segundo o Art.8º do Decreto 5296/2004111:

[...] condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Para tratar do Decreto 5296/2004, citaremos alguns de seus importantes artigos, a começar pelos que trazem a obrigação de cumprir normas técnicas112: Art. 2º - Ficam sujeitos ao cumprimento das disposições deste Decreto, sempre que houver interação com a matéria nele regulamentada:

I - a aprovação de projeto de natureza arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação, de transporte coletivo, bem como a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva;

II - a outorga de concessão, permissão, autorização ou habilitação de qualquer natureza [...]

Art. 11º - A construção, reforma ou ampliação de edificações de uso público ou coletivo, ou a mudança de destinação para estes tipos de edificação, deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Como verificado acima, o sujeito é subjetivo, podendo ser ente público ao dar permissão à determinada obra ou privado ao construir a obra, devendo ter a obrigação de zelar pelos preceitos contidos no presente decreto, sob a possibilidade de constituir sanções contidas no artigo terceiro: “Art. 3º - Serão aplicadas sanções administrativas, cíveis e penais cabíveis, previstas em lei, quando não forem observadas as normas deste Decreto”.

111 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> acesso em: 16 set. 2009.

112 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> acesso em: 16 set. 2009.

O parágrafo 3º do artigo quinto traz a obrigação da administração pública e de empresas prestadoras de serviços públicos, bem como de entidades financeiras de prestar atendimento prioritário aos deficientes113:

[...] O acesso prioritário às edificações e serviços das instituições financeiras deve seguir os preceitos estabelecidos neste Decreto e nas normas técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, no que não conflitarem com a Lei no 7.102, de 20 de junho de 1983, observando, ainda, a Resolução do Conselho Monetário Nacional no 2.878, de 26 de julho de 2001.

No caso da instituição financeira, além do respeito ao presente Decreto, ela também deverá obedecer às normas contidas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), entre outros dispositivos.

Conforme dispositivo, outras obrigações surgem em prol da sociedade inclusiva. Remetendo ao cumprimento de norma técnica estabelecida pela ABNT temos no Art. 15º: “No planejamento e na urbanização das vias, praças, dos logradouros, parques e demais espaços de uso público, deverão ser cumpridas as exigências dispostas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT”. Entre estas obrigações estão o rebaixamento de calçadas, construção de rampas, pisos com demarcação própria para deficientes visuais, etc.

Há obrigação de se respeitar uma quota em determinados eventos, conforme prevê o Art. 23:

Os teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, casas de espetáculos, salas de conferências e similares reservarão, pelo menos,dois por cento da lotação do estabelecimento para pessoas em cadeira de roda distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e a obstrução das saídas, em conformidade com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

Também deverão ser respeitadas as normas técnicas da ABNT para renovação, criação de cursos e autorização para funcionamento de escolas públicas ou privadas. Em qualquer nível deverão apresentar estrutura acessível ao deficiente físico

113 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm>

Acesso em: 16 set. 2009.