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DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DO DEFICIENTE MENTAL

Da proteção específica das pessoas especiais, iniciamos citando alguns trechos da Declaração sobre os Direitos do Deficiente Mental de 20 de dezembro de 1971, traduzido pelo jurista Jorge Campinos. Declaração esta que traz o compromisso dos Estados membros das Nações Unidas a agirem conjunta ou separadamente - entre outras obrigações - para cooperar com o progresso e o desenvolvimento da ordem econômica e social, sempre visando integrar e proteger os direitos de bem-estar e readaptação dos deficientes físicos e mentais.

77 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

182.

78 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.22.

Conforme tradução de Campinos79: ”O deficiente mental deve beneficiar, em toda medida que for possível, dos mesmos direitos que os outros seres humanos”.

Quanto ao entendimento do texto acima se tem o deficiente mental como ser humano com seus direitos iguais ao demais, dentre eles o direito a vida, liberdade, etc.

Na área da saúde temos a seguinte proteção:

O deficiente mental tem direito aos cuidados médicos e aos tratamentos físicos apropriados, bem como à instrução, à formação, à readaptação e aos conselhos que o ajudem a desenvolver ao máximo as suas capacidades e as suas aptidões.

Diferentemente do século XVIII e XIX, quando a deficiência passara a ser um problema da medicina a ser resolvido através de tratamentos desumanos que só vinham a piorar o estado da pessoa deficiente, atualmente é um dever dos órgãos estatais, tendo como obrigação o tratamento médico apropriado para a readaptação do ser humano à sociedade, diferenciando do período passado.

Demonstrando a possibilidade do ser humano exercer uma atividade, seguimos a tradução da declaração ainda nos dizeres de Campinos80:

O deficiente mental tem direito à segurança econômica e a um nível de vida decente. Tem direito, em toda a medida das suas possibilidades, de desempenhar um trabalho produtivo ou de exercer qualquer outra ocupação útil.

Já no quarto parágrafo da declaração, encontra-se o dever da família acolher o deficiente e assisti-lo devidamente, ou caso necessário, encaminhá-lo a um estabelecimento apropriado.

79 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

570.

80 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

570.

Assim traduz Campinos81:

Quando possível, o deficiente mental deve viver no seio de sua família ou de um lar que a substitua e participar em diferentes formas da vida comunitária. O lar onde vive deve ser assistido. Se a sua colocação em estabelecimento especializado é necessária, o meio e as suas condições de vida devem ser tão próximos quanto possível dos da vida normal.

Como verificado, a obrigação subsidiária e solidária é do Estado, uma vez que deverá assistir ou manter estabelecimento para adaptá-lo à vida comunitária.

No transcorrer da declaração se tem no item sexto o procedimento de possíveis incriminações judiciais.

O deficiente mental deve ser protegido contra qualquer exploração, qualquer abuso ou qualquer tratamento degradante. Se for objecto de incriminações judiciais deve beneficiar de um processo regular que tenha plenamente em conta, em função das suas faculdades mentais, o grau da sua responsabilidade.

O benefício no caso de um possível processo criminal também está presente no Código Penal Brasileiro que traz no artigo vinte e seis a imputabilidade penal do deficiente mental: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender.”

Anteriormente a possíveis incriminações judiciais, o texto acima trata da dignidade do doente, devendo ser protegido contra qualquer tratamento degradante.

Findando a Declaração temos o procedimento para a supressão de direitos, sendo tais supressões legais quando devidamente avaliada por peritos.

Traduz Campinos 82:

81 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

570.

82 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

571.

Se, em virtude da sua deficiência, certos deficientes mentais não são capazes de exercer efectivamente o conjunto dos seus direitos, ou se uma limitação desses direitos ou mesmo a sua supressão se revelam necessárias, o processo utilizado para fim dessa limitação ou dessa supressão deve legalmente preservar o deficiente contra toda a forma de abuso. Esse processo deve ser baseado numa avaliação, feita por peritos qualificados, das suas capacidades sociais. A referida limitação ou supressão de direitos será submetida a revisões periódicas e preservará o direito de recurso perante instâncias superiores.

Tal medida é necessária tendo em vista que o doente deve ser devidamente avaliado antes de ter algum de seus direitos subtraídos ou suspensos por assim dizer, pois até o momento o que sempre foi visado é o direito do ser humano, em analogia temos do art. 1.767 ao 1.780 Código Civil brasileiro, a figura do interditado; já no inciso I do art. 1.767 traz a sujeição a curatela para “aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil.” Já no art. 1.768 cita-se quem deverá promover a interdição: I – pelos pais ou tutores; II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente; III – pelo Ministério Público. Mais adiante no art. 1.773 nota-se o direito ao recurso “ A sentença que declara a interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita a recurso. E no art. 1.776 se tem o tratamento em estabelecimento apropriado: “ Havendo meio de recuperar o interdito, o curador promover-lhe-á o tratamento em estabelecimento apropriado”, sendo que no art. 1.777 informa-se que só deverão ser internados em estabelecimentos adequados quando o doente não se adaptar ao convívio doméstico.