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DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS DEFICIENTES

Se, em virtude da sua deficiência, certos deficientes mentais não são capazes de exercer efectivamente o conjunto dos seus direitos, ou se uma limitação desses direitos ou mesmo a sua supressão se revelam necessárias, o processo utilizado para fim dessa limitação ou dessa supressão deve legalmente preservar o deficiente contra toda a forma de abuso. Esse processo deve ser baseado numa avaliação, feita por peritos qualificados, das suas capacidades sociais. A referida limitação ou supressão de direitos será submetida a revisões periódicas e preservará o direito de recurso perante instâncias superiores.

Tal medida é necessária tendo em vista que o doente deve ser devidamente avaliado antes de ter algum de seus direitos subtraídos ou suspensos por assim dizer, pois até o momento o que sempre foi visado é o direito do ser humano, em analogia temos do art. 1.767 ao 1.780 Código Civil brasileiro, a figura do interditado; já no inciso I do art. 1.767 traz a sujeição a curatela para “aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil.” Já no art. 1.768 cita-se quem deverá promover a interdição: I – pelos pais ou tutores; II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente; III – pelo Ministério Público. Mais adiante no art. 1.773 nota-se o direito ao recurso “ A sentença que declara a interdição produz efeitos desde logo, embora sujeita a recurso. E no art. 1.776 se tem o tratamento em estabelecimento apropriado: “ Havendo meio de recuperar o interdito, o curador promover-lhe-á o tratamento em estabelecimento apropriado”, sendo que no art. 1.777 informa-se que só deverão ser internados em estabelecimentos adequados quando o doente não se adaptar ao convívio doméstico.

Quanto aos itens importantes da presente declaração iniciamos com a tradução de Campinos83:

O termo “deficiente” designa qualquer pessoa que se ache na incapacidade de assegurar, por si mesma, a totalidade ou parte das necessidades de uma vida individual ou social normal, em virtude de uma deficiência, congênita ou não, das suas capacidades físicas ou mentais.

Subseqüentemente temos o entendimento de Débora Diniz84 que assim trata a deficiência: “Deficiência é um conceito complexo que reconhece o corpo com lesão, mas que também denuncia a estrutura social que oprime a pessoa deficiente”

Na citação anterior é reconhecida a falha do Estado que acaba oprimindo (excluindo) o ser humano portador de necessidades especiais quando lhe nega a infra-estrutura arquitetônica e social que facilitaria o seu processo de inclusão social.

Campinos85 também destaca o reconhecimento dos direitos humanos a todos os portadores de necessidades especiais:

O deficiente deve gozar de todos os direitos enunciados na presente Declaração. Esses direitos devem ser reconhecidos a todos os deficientes sem qualquer excepção e sem distinção ou discriminação baseadas na raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem nacional ou social, estado de fortuna, nascimento ou qualquer outra situação, quer esta diga respeito ao deficiente ou à sua família.

Como verificado, o primeiro direito introduzido na presente Declaração é o da igualdade, direito este que traz a não distinção inclusive dentro da deficiência, por assim dizer, não existindo diferença entre ricos, pobres, negros, brancos, cristãos, judeus etc.

Quanto ao parágrafo terceiro, nos traduz Campinos86:

83 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

574.

84 DINIZ, Débora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. Capa.

85 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

574.

O deficiente tem essencialmente direito ao respeito da sua dignidade humana. O deficiente, quaisquer que sejam a origem, a natureza e a gravidade das suas perturbações e deficiências, tem os mesmos direitos fundamentais que os seus concidadãos de mesma idade, o que implica primacialmente o direito de gozar uma vida decente, tão normal e realizada quanto possível.

Quanto à dignidade humana do deficiente, subtrai o entendimento que ela deriva da igualdade em relação aos cidadãos que não possuem deficiência, ou seja, todos são iguais, independente de um possuir dois braços e outro apenas um, a dignidade daquele deve ser respeitada como a deste.

Têm os mesmos direitos civis e políticos tanto os deficientes quanto as pessoas comuns: “O deficiente tem os mesmos direitos civis e políticos que os outros seres humanos [...]” assim trazido pelo parágrafo quarto, a exemplo disso temos no Brasil, importantes personalidades que são portadoras de necessidades especiais. O próprio presidente da República possui uma pequena deficiência.

O parágrafo quinto diz respeito à autonomia da pessoa deficiente. Quanto aos tratamentos médicos, o parágrafo sexto é traduzido assim87:

O deficiente tem direito aos tratamentos médico, psicológico e funcional, incluindo o direito a aparelhos de prótese e de órtese; à readaptação médica e social; à educação; à formação e à readaptação profissionais; às ajudas, conselhos, serviços de colocação e outros serviços que assegurem a máxima promoção das suas capacidades e aptidões e que acelerem o processo da sua integração ou da sua reintegração social.

Vários programas de integração do deficiente estão disponíveis para incluí-lo dentre outros no mercado de trabalho, quanto à área da saúde parte-se do princípio de que o Estado seria o principal responsável para manter unidades de readaptação e tratamento.

86 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

574.

87 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p.

575.

O parágrafo sétimo prioriza a segurança econômica e social que o deficiente deve ter, assim como um nível de vida decente, o direito como qualquer outro cidadão de manter um emprego ou uma ocupação útil, produtiva e remunerada, e participar de organizações sociais.

O parágrafo oitavo diz respeito à consideração que deve ter o deficiente em suas necessidades particulares, quando das planificações econômicas e sociais, qualquer medida neste sentido deve ser pensada paralelamente com as necessidades do deficiente.

Seguindo, se tem no parágrafo nono o direito do deficiente de viver no seio de sua família, ou de viver em um lar que o substitua, diz que os tratamentos diferenciados só existirão caso o estado de saúde da pessoa deficiente demande esta diferenciação.

Transcorrendo a Declaração temos no parágrafo décimo:

O deficiente deve ser protegido contra qualquer exploração, qualquer regulamentação ou tratamentos discriminatórios,

abusivos ou degradantes.

Quanto à proteção do deficiente há hoje várias leis que priorizam a sua segurança, constituindo até mesmo processos criminais para quem desrespeitar estas imposições legais. Essas medidas são tomadas em face de uma sociedade que ainda não possui a devida conscientização da necessidade primaz de promover a inclusão da pessoa portadora de necessidades especiais à sociedade.

O décimo primeiro parágrafo informa que o deficiente deve beneficiar-se de assistência legal quando tal assistência revelar-se indispensável para a sua proteção ou de seus bens. No caso de doentes mentais, o deficiente deve ter sua condição especial levada em conta nos casos de incriminações judiciais.

O décimo segundo parágrafo assegura que a condição especial poderá ser informada pelas organizações de deficientes.

O décimo terceiro e último parágrafo é assim traduzido por Campinos88: “O deficiente, a sua família e a sua comunidade devem ser plenamente informados, por todos os meios apropriados, dos direitos contidos na presente Declaração”.

Infelizmente a sociedade não tem ciência dos direitos dos deficientes e, muito menos de seus deveres para com eles. Direitos estes que só visam à inclusão e a dignidade do ser humano.

3.6 DIREITO E BENEFÍCIOS DA IGUALDADE NAS CONSTITUIÇÕES DE ALGUNS