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Complexo como é o tema em debate, e já abordados os aspectos históricos e conceituais, é certo igualmente que não é pacífica, nem mesmo única, a classificação do vocábulo eutanásia, obtida a partir dos ensinamentos doutrinários. Por tal razão, necessário que se percorra, ainda que não de forma exaustiva, sobre as principais diferentes espécies de classificação do termo.

Conforme artigo de autoria de Carlos Fernando Francisconi e José Roberto Goldim, extrai-se que ao longo dos tempos o vocábulo admitiu diferentes significados em 1928, Ricardo Royo-Villanova, propôs a seguinte classificação sobre Eutanásia:

Eutanásia súbita: morte repentina; Eutanásia natural: morte natural ou senil, resultante do processo natural e progressivo do envelhecimento; Eutanásia teológica: morte em estado de graça;

Eutanásia estóica: morte obtida com a exaltação das virtudes do estoicismo; Eutanásia terapêutica: faculdade dada aos médicos para propiciar uma morte suave aos enfermos incuráveis e com dor;

Eutanásia eugênica e econômica: supressão de todos os seres degenerados e inúteis (sic); Eutanásia legal: aqueles procedimentos regulamentados ou consentidos pela lei 70.

Deve-se consignar que uma das classificações citadas pela doutrina procura distinguir eutanásia natural e eutanásia provocada. No que toca à eutanásia natural, está ela relacionada à morte ocorrida sem que tenha havido

70GOLDIN, Roberto José. Tipos de Eutanásia. Disponível em http://www.ufrgs.br/bioetica/eutantip.htm. acesso em 11.jun.2009.

intervenções externas e sofrimentos. Por outro lado, a eutanásia provocada ou voluntária é concebida como aquela em que ocorre o uso, de alguma forma pela qual a conduta humana, seja por parte do próprio doente ou de outrem, ajuda a terminar com a agonia, amenizando o padecimento do doente ou abreviando seu período de vida, comissiva ou omissivamente, de maneira direta ou indireta.

Já a modalidade de eutanásia provocada se subdivide em autônoma e heterônoma. Na primeira hipótese não há intervenção de terceiros, de modo que o próprio doente dá cabo em sua vida. Já na segunda, ocorre a atuação de terceiros, como o médico ou pessoas próximas, para a eliminação da vida e do sofrimento do moribundo.

É de se observar que no caso de eutanásia provocada inexiste o interesse jurídico-penal por se tratar de suicídio, fato não punível em nosso ordenamento jurídico. Todavia, esse desinteresse penal pelo tema não é absoluto em face da legislação brasileira, pois deve-se ter em mente as hipóteses dos crimes de induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, previsto no art. 122, CP.

Nas palavras do autor Luiz Eduardo Santos Cabette:

Nesses casos pode-se falar no chamado suicídio assistido, que se aproxima da eutanásia, mas não é um sinônimo. Freire de Sá esclarece em sua obra a distinção entre essas figuras, lançando mão do escólio de Ribeiro: Na eutanásia, o médico age ou omite-se.

Dessa ação ou omissão surge, diretamente, a morte. No suicídio assistido, a morte não depende diretamente da ação de terceiro. Ela é conseqüência de uma ação do próprio paciente, que pode ter Sido orientado, auxiliado ou apenas observado por esse terceiro71.

Entende-se como outra vertente para definir-se a classificação, em razão da atitude do agente quanto ao curso vital da vítima, falando-se então em eutanásia solutiva e eutanásia resolutiva. A eutanásia solutiva também chamada de pura, lenitiva, autêntica ou genuína, explica-se em razão da ajuda prestada para a ocorrência de uma boa morte, sem que tenha ocorrido uma abreviação do ciclo natural da vida.

71 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 20.

Nessa hipótese, o agente atua apenas na assistência física, moral, espiritual e psicológica ao moribundo, ajudando-o, com humanidade, a enfrentar o fim inevitável. Nestes casos, o agente nada faz para abreviar o curso vital; tão somente presta assistência ao enfermo, amparando-o sob diversos aspectos. Já na eutanásia resolutiva, em sentido oposto, atua-se de forma a reduzir o tempo do curso vital no suposto interesse do doente, com sua concordância livre, consciente e espontânea72.

É certo que os casos de eutanásia solutiva não apresentam maior discussão sob ponto de vista ético ou jurídico. É que o agente, nessa situação, age cumprindo um dever moral de assistência e solidariedade humana, de modo que nada pode haver de reprovável em tal conduta.

Explica Cabette: “No que tange à eutanásia resolutiva, costuma-se proceder a nova subdivisão mencionando-se a eutanásia libertadora ou terapêutica, a eutanásia eugênica ou selecionadora e a eutanásia econômica”73.

A eutanásia libertadora ou terapêutica é caracteristicamente humanitária, praticada por solidariedade, altruísmo ou compaixão para com o doente que sofre. O intento é o de liberação do sofrimento do doente, envolvendo o próprio autor emocionalmente no episódio74.

Por sua vez, a eutanásia eugênica ou selecionadora a doenças incuráveis ou contagiosas e de neonatos em degeneração, pretende perseguir o aprimoramento da espécie humana. Nessa hipótese, objetiva-se evitar a procriação de sujeitos possuidores de anomalias genéticas, doenças mentais ou com tendências criminosas ou anti-sociais, de forma a evitar que se propaguem tais males pela sociedade, em busca da chamada pureza racial75.

Ainda nessa forma de classificação, cita-se a eutanásia econômica, que objetiva a supressão de deficientes mentais, alienados ou

72 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 34.

73 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 21.

74 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 21.

75 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 21.

irreversíveis inválidos, inválidos e idosos com a finalidade de liberar a sociedade do ônus que representam pessoas economicamente inativas76.

Extraindo-se subsídios dos ensinamentos de Pessini e Berchifontaine:

[…] a eutanásia econômica, também denominada de social é uma opção da sociedade “em conseqüência do fato de se recusar a investir em casos de custos elevadíssimos no tratamento de doentes com enfermidades prolongadas. Os recursos econômicos seriam reservados aos doentes em condições de voltar sadios à vida produtiva. Entra em jogo o critério custo-benefício 77.

Cumpre observar que dentre essas três últimas modalidades expostas, somente a eutanásia libertadora ou terapêutica pode ser considerada própria e genuinamente uma espécie de eutanásia. As chamadas eutanásia eugênica ou selecionadora e eutanásia econômica ou social, somente podem ostentar e denominação de “eutanásia” de forma imprópria e até mesmo espúria, pois que inexistem nelas qualquer móvel piedoso ou humanitário, antes refletem absoluta frieza, crueldade e desumanidade, procedendo a uma terrível e impiedosa eliminação fria e cruel de seres humanos, não podendo, pois, de forma alguma, ser admitida como prática que dignifique a existência humana78.

Dando-se seqüência à exposição das classificações, deve-se atentar para aquela referente ao modo de execução, distinguindo-se assim a eutanásia ativa da eutanásia passiva. A eutanásia ativa ou por comissão é aquela praticada através de atos que ajudam o doente a morrer, buscando com isso aliviar ou eliminar seu sofrimento, subdividindo-se entre direta e indireta, de acordo com o fim colimado pelo autor. A eutanásia ativa direta é a que tem em mira principalmente a diminuição do lapso temporal de vida do enfermo por meio de “atos positivos” que o auxiliam a morrer. Já a eutanásia ativa indireta destina-se a duas finalidades:

diminuir o sofrimento do paciente e concomitantemente reduzir seu tempo de vida, sendo tal redução um efeito do fim principal, que é, na verdade, diminuir o sofrimento do doente.

76 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 21.

77 PESSINI, Leo; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de. Problemas Atuais de Bioética, p. 380.

Cabette citando Faria Costa, afirma que:

A determinação da chamada eutanásia indireta mais não e do que a aceitação de um comportamento, por quase todos normalmente tido como lícito, que se preenche quando a ministração de um qualquer fármaco analgésico – absolutamente imprescindível porquanto o paciente apresenta dores insuportáveis, insuportáveis para lá do razoável, provoca ou pode provocar um ligeiro encurtamento do tempo esperado de vida79.

De seu lado, a eutanásia passiva ou por omissão é aquela que se verifica por ocasião da abstenção deliberada da continuidade do tratamento que poderia prolongar a vida do enfermo, situação que então antecipa a morte80.

Ainda CABETTE mencionando Gisele Mendes de Carvalho:

Fala-se em eutanásia passiva o que é um eufemismo, porque, por exemplo, a desconexão de uma máquina – coração – pulmão de funcionamento automático ou de um respirador similar não requer menos atividade que a injeção de um veneno. A caracterização como eutanásia passiva tem a seguinte razão de ser: a enfermidade como constelação corporal, é parte da corporalidade do moribundo e se realiza sem intervenção exterior; na medida – e somente na medida em que – os outros permanecem passivos, ainda que seja desmontando ativamente os aparelhos previamente estabelecidos para tentar ajudar-lhe, se deixa a enfermidade seguir seu curso81.

Evidencia-se na doutrina uma certa confusão entre eutanásia passiva ou por omissão e a ortotanásia, pois há quem empregue tais termos como sinônimos. No entanto, esse não é melhor entendimento, pois que não há

“identidade conceitual” entre ortotanásia eutanásia passiva.

É que em sua origem etimológica, ortotanásia advém do grego orthós (norma, correta), e thánatos (morte), designando, portanto, a morte natural ou correta. Desse modo, ortotanásia é explicada pela ocorrência da morte em seu

78 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 22.

79 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 22.

80 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 23.

81 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 23-24.

tempo, sem que tenha sido abreviada como na eutanásia, ou tenha havido prolongamentos irracionais do processo de morrer, como na distanásia82.

Ortotanásia é conceituada, então, como a morte ‘correta’, alcançada através da abstenção, supressão ou limitação de todo tratamento fútil, extraordinário ou desproporcional (não se confundindo com a interrupção do tratamento proporcional, como na eutanásia passiva), ante a iminência da morte do paciente, morte esta a que não se busca (pois o que se pretende aqui é humanizar o processo de morrer sem prolongá-lo abusivamente), nem se provoca (já que se resultará da própria enfermidade da qual o sujeito padece)83.

Igualmente Cabette sustenta que:

[...] as condutas ortotanásicas diferem amplamente da eutanásia passiva, pois nesta ocorre a provocação da morte do doente terminal por meio da omissão quanto aos cuidados “paliativos ordinários e proporcionais” que evitariam seu passamento. Na lição Maria Celeste Cordeiro Leite Santos. Enquanto na eutanásia a morte decorre de um ato praticado voluntariamente pelo médico, na ortotanásia o seguimento natural da doença e seu agravamento são independentes das ações ou omissões do facultativo. Em verdade, “o fundamento principal da ortotanásia é a absoluta ineficácia de uma intervenção médica extremada para evitar a morte do paciente84. No que se refere à distanásia, é sabido que a etimologia revela que a palavra deriva do grego dis (afastamento) e thánatos (morte), consistindo, portanto “no emprego de recursos médicos com o objetivo de prolongar ao máximo possível a vida humana”. 85

Possível, portanto, conceituar distanásia como o ato de postergar o evento morte, quando iminente, através de atos médicos ou tratamentos, prolongando-se não a vida propriamente dita, mas o processo da morte inevitável.

Segundo Cabette:

82 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 25.

83 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 25.

84 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 25.

85 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 26.

A distanásia está, portanto, ligada às chamadas “obstinação terapêutica” e “futilidade médica”. Nesses casos, especialmente no atual estágio da medicina, sobressai o chamado “imperativo tecnológico”. A expressão faz alusão ao tempo verbal imperativo, o qual está ligado a uma ordem taxativa. Portanto, tem o significado seguinte: “posto que temos a possibilidade técnica de manter a vida, isso deve ser feito de forma imperativa e categórica, e em toda situação86.

Podem ser citadas outras classificações de eutanásia propostas pela doutrina: eutanásia voluntária ou consentida e eutanásia involuntária ou não-consentida. No que se refere à eutanásia voluntária, há o consentimento ou mesmo o pedido da vítima ou de seu representante legal para a prática eutanásica.

Já na eutanásia involuntária, o autor a pratica independentemente de consentimento, reservando para si a decisão sobre a morte do doente.

O já mencionado Cabette destaca que:

Singer apresenta uma diferenciação entre a eutanásia voluntária, a qual somente considera o próprio moribundo pede ou concorda diretamente com sua morte, e aquilo que ele denomina de eutanásia não – voluntária, que abrangeria o caso de pessoas que são mortas sem o seu próprio e direto consentimento ou pedido porque são incapazes de expressá-lo ou de compreender qualquer indagação ou responder a algum estímulo de forma consciente. Nesses casos as pessoas são mortas por deliberação de terceiros, seus representantes legais. Em resumo, para Singer voluntária e involuntária seriam as eutanásias em que, de alguma forma, há manifestação ou pelo menos possibilidade de manifestação da vontade do doente, enquanto que não-voluntária seria aquela em que a vontade do doente sequer chega a manifestar-se porque ele está impossibilitado para isso”87.

Também merecem destaque as classificações de eutanásia verdadeira e pseudo-eutanásia. A primeira, porque perpetrada por médico, e a segunda, porque praticada por terceiros que não sejam médicos. Igualmente, eutanásia agônica, na qual se proporciona a morte do paciente terminal inconsciente, sem sofrimento, e eutanásia lenitiva, em que se procura aliviar o sofrimento ou doença incurável.

86 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 26.

87 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 28.

Do mesmo modo, identifica-se a eutanásia estóica com aquela que se refere à morte com o fim de pôr cobro aos transtornos da vida. É que para os estóicos a morte é encarada como o fim dos tormentos terrenos e a fuga contra todas as dores e sofrimentos. Já a eutanásia etária ou morte branca, diz respeito a uma “obrigação sagrada”, existente em alguns povos antigos, do filho para com o pai doente e idoso de fazer-lhe adormecer suave e definitivamente. Ademais, eutanásia coletiva, é aquela executada com vistas a uma finalidade pública, consistindo na eliminação da vida de indivíduos deformados, física ou psicologicamente, objetivando, com isso, melhorar a raça, como antes frisado, trata-se de modalidade odiosa da eutanásia.

O já mencionado Cabette ratifica que:

Fernando Mantovani ainda vislumbra como subtipo de eutanásia coletiva a eutanásia econômica que, como já visto, relaciona-se à eliminação indolor de enfermos terminais, vegetativo, inválidos e idosos, tendo por escopo avaliar a sociedade do encargo relativo à assistência dos “economicamente indigentes”. Essa denominada

“Socil Killing” na doutrina anglo-saxônica, certamente merece a designação dada por Deusdedith Souza como “uma irmã gêmea da eutanásia eugênica88.

E continua:

Pela mesma senda, enquanto subtipos da eutanásia coletiva, Mantovani arrola a eutanásia criminal, relativa à eliminação sem sofrimento de criminosos dotados de periculosidade; a eutanásia experimental, referente ao “sacrifício de vidas humanas” em prol da pesquisa médica ou científica; a eutanásia profilática, consiste na morte de pessoas contaminadas por “doenças epidêmicas”; a eutanásia solidária, cujo objetivo é sacrificar certas pessoas em benefício da vida e/ou saúde de outras (v.g. retirar órgãos vitais de alguém para usar em transplante que salvará a vida de outrem)89. Cita-se também a eutanásia teológica, que se refere à “morte em estado de graça”, chamada por alguns de “morte por visitação de Deus”. Essa espécie está relacionada à religiosidade e baseia-se na crença de que Deus viria dar morte a certas pessoas dotadas de beatitude, conduzindo-as pessoalmente à sua

88 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 29.

89 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 29-30.

presença. A história de São Francisco de Assis é um belo exemplo, já que inclusive foi vítima de tratamentos médicos obstinados e inúteis, sofrendo queimaduras dos ouvidos e têmporas com ferro quente em procedimentos médicos inúteis contra a moléstia que padecia.

Também sob a característica da religiosidade, fala-se na eutanásia ritualizada, que exprime, na realidade, os mais diversos ritos de morte e de amparo aos moribundos em inúmeras manifestações religiosas. Um exemplo do catolicismo é a “extrema-unção”. No oriente encontra-se a chamada pratica da Phowa, que consiste em uma série de procedimentos de meditação e amparo ao moribundo, a fim de possibilitar-lhe uma transição tranquila90.

Por outro lado, conceitua-se a mistanásia, cuja origem etimológica tem o significado de “morrer como um rato”. Representa, portanto, aquela faceta triste da sociedade moderna mundial, provocada pelo capitalismo selvagem, que conduz as parcelas miseráveis da sociedade ao abandono social, econômico, sanitário, higiênico, educacional, de saúde e segurança, que acabam morrendo pelo descaso e desrespeito aos sagrados direitos humanos91.

Segundo Pessini:

É justamente por isso que queremos examinar a eutanásia levando em consideração o resultado que provoca, a intenção ou motivação que se tem para praticar o ato, a natureza do ato e as circunstâncias.

Precisamos também distinguir o valor moral – considerando objetivamente – que se pode atribuir um ato eutanásico de culpa ética ou jurídica que se pode atribuir num determinado caso. Uma das grandes diferenças entre a mistanásia e a eutanásia é o resultado. Enquanto a mistanásia provoca a morte antes da hora de uma maneira dolorosa e miserável, a eutanásia provoca a morte antes da hora de uma maneira suave e sem dor. É justamente esse resultado que torna a eutanásia tão atraente para tantas pessoas92.

90 ALVES, Ricardo Barbosa. Eutanásia , Bioética e Vidas Sucessivas. Sorocaba: Brazilian Books, 2001. p. 35.

91 CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Eutanásia e Ortotanásia, p. 31.

92 PESSINI, Léo. Eutanásia. Por que abreviar a vida, p. 202.

É certo, por outro lado, que seja pelo aspecto da dignidade da pessoa humana, seja pelo viés religioso, o estado de consciência do paciente é considerado de vital importância à adaptação espiritual ao pós-morte.

O já mencionado afirma, citando Rinpoche:

[…] a necessidade de dissipar nossa ansiedade perante o sentimento de uma dor intensa não mitigável durante o processo da morte. No entanto, chama a atenção para o fato de que hoje uma dor dessa espécie é evitável pelo uso das mais diversas combinações de analgésicos e narcóticos. Portanto, na atualidade é possível proporcionar uma “morte serena”, sem abrir mão da consciência do doente na grande maioria dos casos, satisfazendo condições de dignidade humana temporal e espiritual93.

Portanto, diferentes sejam as classificações apontadas e reconhecidas pelos doutrinadores, a conceituação e a classificação do termo igualmente não representa tema pacífico, suscitando portanto controvérsias com a mesma força que o tema central suscita, variando sua intensidade à medida em que variam os valores morais e éticos defendidos pela sociedade local.

93 RINPOCHE, Sogyal. O Livro Tibetano do Viver e Morrer. 7. ed. Tradução de Luiz Carlos Lisboa.

São Paulo: Taleto, 1999. p. 234.