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CONTRATO DE TRANSPORTE DE PESSOAS

Inicialmente, conceituar-se-á o que é transporte ou transportar.

Na lição de Stoco [2007, p. 281], transportar, do latim transportare, significa, no sentido vulgar da palavra, conduzir ou levar de um lugar para outro. Transporte exprime movimento, ou seja, a ação de conduzir ou levar coisas ou pessoas em aparelhos adequados, de um lugar para outro, seja por

meios próprios, ou através de terceiros e – por intermédio destes – mediante Contrato ou gratuitamente.

Para Lisboa [2002, p. 241], transporte é o Contrato por meio do qual uma pessoa física ou jurídica (Transportadora) se obriga a conduzir pessoas ou coisas para determinado destino, mediante o pagamento respectivo do interessado.

E sobre transporte de pessoas, Lisboa [2002, p. 242] dispõe que é aquele que decorre da condução de Passageiros, acompanhados ou não de bagagem, com bilhete expedido pelo Transportador ou terceiro por ele autorizado.

No que concerne ao Contrato de Transporte, Venosa [2007, p. 313] discorre que: É o negócio pelo qual um sujeito se obriga, mediante remuneração, a entregar coisa em outro local ou a percorrer um itinerário para uma pessoa.

Para Diniz [2006, p. 471], o Contrato de Transporte é aquele em que uma pessoa ou empresa se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um local para outro, pessoas ou coisas animadas ou inanimadas.

O Contrato de Transporte é disciplinado no Código Civil pelos artigos 730 a 756 (do art. 734 a 742 diz respeito ao transporte de pessoas, e do art. 743 a 756 trata do transporte de coisas). O artigo 730 também traz um conceito de Contrato de Transporte. Eis sua redação:

Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas.

Portanto, o Contrato de Transporte, na lição de Stoco [2007, p. 284], obriga o Transportador, desde que remunerado, a conduzir ou transportar o Passageiro de um local determinado ao seu destino.

Pode-se agora então definir o que é Contrato de Transporte de pessoas.

O Contrato de Transporte de pessoas, para Diniz [2006, p.

492], é aquele em que o Transportador se obriga a remover uma pessoa e sua bagagem de um local para outro, mediante remuneração

Diante do exposto, verifica-se que para configurar um Contrato de Transporte, necessário que se faça mediante remuneração, pois, em nossos dias, ocorre o transporte gratuito ou por mera cortesia ou amizade, modalidade esta que não se subordina às normas do Contrato de Transporte, em face do disposto no artigo 736 do Código Civil:

Art. 736. Não se subordina às normas do Contrato de Transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.

Somente deve ser considerado transporte gratuito aquele que, na lição de Venosa [2007, p. 324], seja totalmente desinteressado, sem direito algum à retribuição pecuniária.

Sobre o artigo acima citado, Diniz [2006, p. 492] ensina que, caso o Passageiro, que fora conduzido gratuitamente, vier a sofrer uma lesão, só poderá acionar o Transportador, provando sua negligência, imprudência ou imperícia, para haver uma reparação de danos.

Para Venosa [2007, p. 325], o transporte gratuito faz referência aos Contratos benéficos, e desse modo, afasta-se a Responsabilidade Objetiva destinada ao transporte oneroso. Destarte, o Transportador gratuito que venha causar que venha a causar dano à pessoa [...] deve indenizar, se a vítima provar que agiu com dolo ou culpa grave.

Atualmente, a questão é tema da súmula 145 do STJ:

No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.

Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência do STJ:

RESPONSABILIDADE CIVIL. TRANSPORTE DE SIMPLES CORTESIA (OU BENEVOLO). DOLO OU CULPA GRAVE. QUEM

OFERECE TRANSPORTE POR SIMPLES CORTESIA SOMENTE RESPONDE PELOS DANOS CAUSADOS AO PASSAGEIRO EM CASO DE DOLO OU CULPA GRAVE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (REsp 54.658/SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 12/12/1994, DJ 13/03/1995 p. 5307).

Assim, em qualquer que seja a situação, o transportado deverá, além de comprovar o dano e a ação/omissão da agente causador, provar que o mesmo agiu com dolo ou culpa grave, para então ter direito à reparação de seus danos.

Caso o transporte, mesmo que realizado a título gratuito, vier a auferir vantagens, mesmo que indiretas, não se considera transporte gratuito, é o que determina o parágrafo único do artigo 736 do Código Civil:

Art. 736. [...]

Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas.

Alguns exemplos podem ser invocados acerca dessa circunstância. Stoco [2007, p. 436] discorre que pode ser o caso do patrão que fornece condução aos seus funcionários no trajeto do trabalho a residência e vice- versa.

Outro exemplo é trazido por Diniz [2006, p. 492], dizendo que essa modalidade de transporte ocorre quando uma agência de turismo coloca a disposição dos turistas, nos dias de estada, gratuitamente ônibus para passeio, com o intuito de ampliar seus serviços, angariando mais clientes.

Ainda sobre transporte gratuito, ressalta-se o que prevê o artigo 39 da Lei nº. 10.741/03 – Estatuto do Idoso -, que assegura a gratuidade do transporte para pessoas com idade superior a 65 (sessenta e cinco) anos.

Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, [...].

Sobre este artigo 39 do Estatuto do Idoso, Coelho [2007, p.

393], declina seus ensinamentos discorrendo que:

Igualmente não é gratuito o Contrato de Transporte por ônibus urbano e semi-urbano em que o Passageiro está dispensado por lei de qualquer pagamento em razão da idade. Mesmo havendo a gratuidade do serviço, a empresa Transportadora continua auferindo as mesmas vantagens que a motivaram a se dedicar à prestação de serviço público, não se podendo falar então de Contrato gratuito de transporte.

Acrescenta-se ainda os artigos 731 e 732 do Código Civil das normas regulamentadoras que está sujeito o Contrato de Transporte.

Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão, rege-se pelas normas regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto neste Código.

Art. 732. Aos Contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as disposições deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções internacionais.

Quanto ao artigo 731, Stoco [2007, p. 285] enfatiza que essa ressalva é absolutamente necessária, pois o transporte constitui atividade privativa do Estado, explorado por ele próprio ou através de autorização, permissão ou concessão [...].

Por outro lado, em conformidade com o artigo 732 do Código Civil, Venosa [2007, p. 314] expõe que a intenção do legislador do presente Código foi de estabelecer as regras gerais do Contrato de Transporte, que deverão ser aplicadas em derrogação aos princípios que contrariem a vasta legislação pretérita sobre transportes.

Merece também total amparo neste estudo a relação de transporte cumulativo. Sobre o tema, o Código Civil assim determina em seu artigo 733:

Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente ao

respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas.

§ 1º O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso.

§ 2º Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a responsabilidade solidária estender-se-á ao substituto.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 458-459], ocorre o transporte cumulativo quando vários transportadores realizam o transporte, por trechos, mediante um único bilhete que estabelece a unidade. Ressaltando que, para considerar-se cumulativo o transporte, é preciso que haja unidade da relação contratual a que se vinculam os diversos transportadores.

A luz do artigo 733 do Código Civil, Stoco [2007, p. 291]

leciona que significa que cada Transportador integrante do grupo é responsável pelo transporte no trecho que lhe foi confiado.

Ao passo de que já fora estabelecido o que é Contrato de Transporte de pessoas, ver-se-á quem são seus sujeitos.

2.3.1 Sujeitos do Contrato de Transporte

Os sujeitos do Contrato de Transporte são os que efetivamente relacionam-se, tanto quem oferece ou quem utiliza o serviço de transporte.

Nessa modalidade de Contrato, segundo Diniz [2006, p.

493], há dois contraentes: o Transportador, que é a pessoa que se compromete a fazer o transporte; e o Passageiro, que se propõe a ser transportado, pagando certo preço.

Por quanto, se expressa Venosa [2007, p. 317] no sentido de que tanto no transporte de coisas quanto no transportes de pessoas, o Transportador ou condutor é aquele que se obriga a entregar a coisa ou o Passageiro.

Sobre a capacidade das partes na relação contratual de transporte, Diniz [2006, p. 493] ressalta que ambos devem ser capazes, e os Passageiros menores deverão ser representados por seus pais.

2.3.2 Prova do Contrato de Transporte

Para ter o direito de viajar, o Passageiro adquiri um bilhete de passagem, que, segundo Diniz [2006, p. 494], poderá ser nominativo ou ao portador, e dará direito a quem se apresentar com ele de ser transportado; é, portanto, um título de legitimação, que atesta a vontade do adquirente de ser transportado de um lugar para outro, e a do Transportador de realizar o transporte.

Sobre a prova do Contrato de Transporte, Venosa [2007, p.

329] leciona que o bilhete de passagem, ou simplesmente passagem, emitido pelo Transportador ou seu mandatário, é a prova do Contrato de Transporte de pessoas.

Nesse mesmo sentido, Diniz [2006, p. 494] ensina que o bilhete de passagem constitui a prova do Contrato de Transporte, e sua falta, irregularidade ou perda não prejudica a existência e eficácia do Contrato.

Assim também entende Venosa [2007, p. 329] quando prescreve que, como o documento possui apenas finalidade probatória, sua falta, ausência ou perda não induz invalidade ou inexistência do Contrato, porque se admite prova por outros meios.

Isso ocorre porque, segundo Diniz [2006, p. 495], o bilhete é usual em certos meios de transporte, como em trens, em ônibus para viagens de longo percurso, porém, em outros é substituído pelo depósito de importância em lugares indicados, como em caixinhas metálicas, ou pelo pagamento feito diretamente ao representante do Transportador.

2.3.3 Natureza jurídica do Contrato de Transporte

Quanto à natureza jurídica, Diniz [2006, p. 472-473]

classifica o Contrato de Transporte como sendo bilateral, oneroso, comutativo, consensual.

Conforme sua classificação o Contrato de Transporte é bilateral por originar obrigações tanto para o Transportador como para o Passageiro [...]. O Transportador deverá remover a pessoa de um lugar para outro, e o Passageiro terá de pagar o preço ajustado, que é a passagem [...].

Na lição de Gonçalves [2007, p. 454] o Contrato de Transporte é bilateral porque gera obrigações recíprocas.

Tem-se também a classificação exposta por Venosa [2007, p. 315], qual seja: É negócio bilateral, consensual, oneroso, típico, de duração, comutativo e não formal. De acordo com sua classificação, é consensual porque se aperfeiçoa com o simples acordo de vontades.

A consensualidade existe, pois, segundo Diniz [2006, p.

473], visto que se aperfeiçoa pelo mútuo consentimento dos contraentes.

Quando se trata de negócio jurídico consensual, Gagliano [2007, p. 128] expõe que são todos aqueles que a ordem jurídica não exige nenhuma forma especial para a sua celebração.

Quanto a sua onerosidade, Diniz [2006, p. 472] prescreve que esta classificação lhe é essencial, pois o serviço de transporte é atividade econômica de fim lucrativo.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 454], o Contrato de Transporte é oneroso, uma vez que a obrigação do Transportador é assumida mediante remuneração a ser prestada pelo alienante.

Para Venosa [2007, p. 316] é oneroso porque as partes buscam vantagens recíprocas, o destino para o Passageiro e o preço para o Transportador.

No que concerne a classificação comutatividade, Diniz [2006, p. 472] ensina que ocorre porque as prestações da ambas as partes contraentes já estão certas, não ficando na dependência de algum evento futuro e incerto.

De igual norte prescreve Venosa [2007, p. 316] quando diz que é comutativo porque as partes conhecem as obrigações respectivas de início, não dependendo de evento futuro e incerto.

Para Gagliano [2007, p. 117], fala-se em Contrato comutativo quando as obrigações de equivalem, conhecendo os contraentes as suas respectivas prestações.

Quanto a tipicidade, duração e não formalidade do Contrato de Transporte, Venosa [2007, p. 316] assim expõe:

Atualmente é típico após sua inclusão no vigente Código; é de o de duração pois sua execução necessita sempre de um lapso temporal para ser cumprido; é não solene, uma vez que não depende de forma prescrita para ser concluído.

Neste mesmo sentido, porém acrescentando ao Contrato de Transporte de pessoas a classificação de Contrato de adesão, Gonçalves [2007, p. 454] diz que tal Contrato é não solene, pois não depende de forma prescrita na lei, sendo válida a celebração verbal.

Sobre a classificação de Contrato de Adesão, será visto a seguir.

2.3.4 Contrato de adesão

Contrato de Adesão é aquele em que os contraentes não discutem as cláusulas. Sobre esse tipo de Contrato, Gagliano [2007, p. 121]

ensina que é de adesão porque um dos pactuantes predetermina, ou seja, impõe as cláusulas de negócio jurídico.

Rodrigues [2004, p. 44] vai mais além e assim define esta modalidade de Contrato:

Contrato de adesão é aquele em que todas as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, de modo que a outra, no geral mais fraca e na necessidade de contratar, não tem poderes para debater as condições, nem introduzir modificações no esquema proposto.

Nos Contratos de Adesão, segundo Diniz [2006, p. 97], inexistem a liberdade de convenção, uma vez que um contratantes se limita a aceitar as cláusulas e condições previamente redigidas pelo outro, aderindo a uma situação contratual já definida em todos os seus termos. Esses Contratos ficam, portanto, ao arbítrio exclusivo de uma das partes – o policitante11 -, pois o oblato12 não pode discutir ou modificar o teor do Contrato ou as suas cláusulas.

O Código de Defesa do Consumidor traz em seu artigo 54 uma definição de Contrato de Adesão.

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Com isso, Coelho [2007, p. 76] ensina que não há margem para negociação. Se o consumidor quiser contratar, resta-lhe apenas a alternativa de concordar com as condições de negócios do fornecedor.

Na lição de Gonçalves [2007, p. 453], o Contrato de Transporte é típico Contrato de Adesão, que é uma categoria de Contrato em que as partes não discutem amplamente as suas cláusulas.

11 O policitante é aquele que suscita a formação do contrato por intermédio de uma declaração unilateral de vontade que, salvo disposição em contrário, tem por característica fundamental vinculá-lo aos termos da proposta por ele feita. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4992>. Acesso em: 25 abr. 2009.

12 Oblato é considerado como a pessoa a quem é direcionada a proposta de um contrato, que será aceita ou não, dependendo da sua manifestação de vontade. A expressão é sinônimo de aceitante ou aderente, normalmente utilizada em contratos de adesão. A manifestação de aceitação do oblato é necessária ao aperfeiçoamento do contrato, mas consiste somente na aceitação ou não das cláusulas contratuais já propostas e de autoria exclusiva do policitante, Disponível em :

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Oblato>. Acesso em: 25 abr. 2009.

E continua sua lição definindo Contrato de Adesão:

No Contrato de adesão as cláusulas são previamente estipuladas por uma das partes, às quais a outra simplesmente adere. Há uma espécie de preponderância da vontade de um dos contratantes.

Há neles um regulamento, previamente redigido por um deles, e que o outro aceita ou não.

No mesmo sentido, Stoco [2007, p. 284] também declina seu entendimento de que o Contrato de Transporte constitui típico Contrato de Adesão. Portanto, o Passageiro simplesmente adere na hora da celebração do Contrato e as partes não discutem as cláusulas contratuais, como normalmente ocorrem nos demais Contratos.

Ocorrendo o Contrato de Adesão, Rodrigues [2004, p. 44]

discorre que o tomador dos serviços ou aceita tudo em bloco ou recusa tudo por inteiro.

Entretanto, para um fiel cumprimento do Contrato de Transporte, as partes devem seguir normas de condutas, que serão vistas a seguir.

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