• Nenhum resultado encontrado

alimentação e estada do Passageiro durante a interrupção do transporte são de Responsabilidade do empresário Transportador.

Concernente ao Contrato de Transporte cumulativo, o Transportador deverá, relativamente ao seu percurso, responder solidariamente pelos danos pessoais que nele se derem. O Contrato de Transporte cumulativo tem previsão legal no Código Civil em seu artigo 733, já citado anteriormente.

Sobre o transporte cumulativo, Diniz [2006, p. 507] leciona no sentido de que cada Transportador se obriga a cumprir o Contrato relativamente ao respectivo percurso, e o dano advindo de atraso ou de interrupção da viagem será determinado em razão da totalidade do percurso, e não apenas em uma ou outra etapa.

Por derradeiro, Gonçalves [2007, p. 469] leciona de que compete ao Transportador concluir a viagem contratada, nos moldes do artigo 741 do Código Civil, já citado.

Se o Transportador tem direitos e obrigações no que tange ao Contrato de Transporte, o Passageiro também os tem, vejam-se a seguir.

Diante do direito de ter o Passageiro de ser conduzido incólume ao seu destino, eis julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ACIDENTE OCORRIDO NO INTERIOR DO ÔNIBUS.

RESPONSABILIDADE CONTRATUAL CONSUMERISTA.

INCOLUMIDADE DO PASSAGEIRO ATÉ O DESTINO.

VERIFICAÇÃO DO DANO.- OBRIGAÇÃO DE RESULTADO.

INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO NÃO PROVIDO. Com o embarque do Passageiro a empresa Transportadora assume a obrigação de conduzi-lo incólume até seu destino, sendo responsável por qualquer dano que porventura venha a ocorrer, configurando-se uma obrigação de resultado, ante à responsabilidade contratual consumeirista existente. (Apelação Cível nº. 2003.019540-8 de Forum Distrital do Estreito. Relator:

Carlos Prudêncio. Data: 06/03/2007).

Diniz [2006, p. 510] entende da mesma forma, dizendo que, uma vez apresentado o bilhete de passagem, o Passageiro tem o direito de exigir o transporte e não pode sofrer qualquer discriminação.

Outro direito do Passageiro é o de rescindir o Contrato antes de iniciar a viagem, recebendo o valor da passagem, desde que feita a comunicação ao Transportador em tempo de ser renegociada. Este direito é declarado pelo artigo 740 do Código Civil:

Art. 740. O Passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada.

Como bem ensina Gonçalves [2007, p. 470], o artigo 740 do Código Civil não menciona qual é esse prazo para ser dado o aviso ao Transportador.

No entanto, o Decreto nº. 2.521/98, que dispõe sobre serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de Passageiros, vem sendo também aplicado ao transporte intermunicipal, e que estabelece, em seu artigo 69, o prazo de 03 (três) horas antes da partida.

Art. 69. O usuário poderá desistir da viagem, com obrigatória devolução da importância paga, ou revalidar a passagem para outro dia e horário, desde que se manifeste com antecedência mínima de três horas em relação ao horário de partida.

Entretanto, se o Passageiro desistir da viagem depois de iniciada, Gonçalves [2007, p. 470] ressalta que o Passageiro terá direito à restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar. E quando o Passageiro não comparece ao embarque nem avisa previamente a empresa, pode ainda assim o Passageiro obter a restituição do valor pago, se provar que outra pessoa foi transportada em seu lugar. Estes direitos estão dispostos respectivamente nos

§§ 1º e 2º do artigo 740 do Código Civil:

Art. 740. [...]

§ 1º Ao Passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar.

§ 2º Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado.

Cabe também ao Passageiro o direito de ocupar o lugar mencionado no seu bilhete, ou, se o bilhete não mencionar lugar certo, ocupar qualquer um do veículo. Isso ocorre, segundo Diniz [2006, p. 510], já que o Transportador não poderá vender bilhetes em número superior ao dos lugares existentes. Mas, segundo a autora, em certos tipos de transportes coletivos, para facilitar o tráfego de pessoas, será permitido ao condutor transportar um número de pessoas superior ao dos assentos existentes.

Ao Passageiro também lhe é conferido o direito de exigir que o Transportador conclua a viagem interrompida por motivo alheio a sua vontade, mas, como bem lembra Gonçalves [2007, p. 471], deve ser em outro veículo da mesma categoria, ou de modalidade diferente se houver concordância do usuário, e responda por todas as despesas provenientes desse fato.

No decorrer do transporte, caso o Passageiro venha a sofrer dano moral ou patrimonial, Diniz [2006, p. 512] leciona que este poderá acionar o Transportador pelos danos decorrentes do transporte.

Nesse sentido, eis julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

Tratando-se de empresa dedicada ao transporte de pessoas, é conclusivo que a falta de disponibilidade de seu veículo gera efeitos patrimoniais negativos, cabendo, pois, ao causador do dano, indenizar a vítima pela renda que deixou de auferir.

(Apelação Cível nº. 2000.017352-5 de Araranguá. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Data: 07/04/2005).

Tendo o Passageiro direitos de pleitear ressarcimento por danos causador pelo Transportador, é necessário que se saiba qual é o prazo para fazê-lo. A jurisprudência tem se manifestado no sentido de que quando o serviço é prestado de forma ineficiente, classificada como defeito na prestação do serviço, cabe o prazo previsto no artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor.

Assim se extrai da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSO CIVIL, CIVIL E CONSUMIDOR. TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PESSOAS. ACIDENTE DE TRÂNSITO.

DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. PRESCRIÇÃO.

PRAZO. ART. 27 DO CDC. NOVA INTERPRETAÇÃO, VÁLIDA A PARTIR DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO CIVIL. Com o advento do CC⁄02, não há mais espaço para discussão. O art. 734 fixa expressamente a responsabilidade objetiva do transportador pelos danos causados às pessoas por ele transportadas, o que engloba o dever de garantir a segurança do passageiro, de modo que ocorrências que afetem o bem-estar do viajante devem ser classificadas de defeito na prestação do serviço de transporte de pessoas. Como decorrência lógica, os contratos de transporte de pessoas ficam sujeitos ao prazo prescricional específico do art. 27 do CDC. Deixa de incidir, por ser genérico, o prazo prescricional do Código Civil. Recurso especial não conhecido. (REsp Nº 958.833 - RS 2007⁄0130788-1. REL.: MINISTRA NANCY ANDRIGHI. Data Julgamento: 08/02/2008).

Ao passo desses direitos, cabe ao Passageiro também alguns deveres, para que, junto com o Transportador, concluir o Contrato sem qualquer tipo de problemas.

Ao Passageiro, na lição de Gonçalves [2007, p. 471], cabe pagar o preço ajustado, seja no início ou durante a viagem se assim foi convencionado. Caso não faça o referido pagamento, poderá ter sua bagagem ou outros objetos retidos pelo Transportador, para garantir-se este do pagamento do valor da passagem, de acordo com o artigo 742 do Código Civil, aqui já citado.

Assim também entende Diniz [2006, p. 513] quando diz que é dever do Passageiro pagar a importância determinada, relativa ao percurso da viagem, de acordo com a tarifa preestabelecida.

Como bem lembra Coelho [2007, p. 400], Passageiro é a pessoa transportada. Preceitua a lei que a pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo Transportador, para e execução normal do serviço.

Esta obrigatoriedade está estabelecida no artigo 738 do Código Civil:

Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo Transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos Passageiros, danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço. O regulamento do transporte é baixado unilateralmente pelo Transportador. Aos seus termos e condições adere cada Passageiro com o simples ato de embarcar no veículo de transporte. Coelho [2007, p. 401] ressalta que esse regulamento visa a garantir a segurança e conforto de todos os Passageiros durante a viagem. Enquanto se encontram sob os cuidados do Transportador, os Passageiros devem observar as normas de conduta nele fixadas, para que não se aumente o risco de acidentes ou danos, nem o nível de desconforto.

Da mesma forma Gonçalves [2007, p. 471] ensina que, ao Passageiro não é permitido causar perturbações ou incômodo aos outros

Passageiros e não comprometer a segurança dos demais viajantes, ou prejudicá- los, de qualquer modo.

Cabe também aqui citar o parágrafo único do artigo 738 do Código Civil, o qual reza:

Art. 738. [...]

Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a ocorrência do dano.

Sobre este parágrafo único, Gonçalves [2007, p. 471]

leciona que, caso o Passageiro transgredir normas e instruções regulamentares e, em conseqüência, sofrer algum dano, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que houver concorrido para a ocorrência do dano.

Ao Passageiro também lhe é incumbido o dever de apresentar-se ao local de embarque, sendo a viagem com horário certo, antes da hora marcada para a partida, pois, segundo Diniz [2006, p. 513], caso não o faça, não terá o direito a ser reembolsado do preço do bilhete se, por não estar presente no local e no horário fixados, perder a condução, salvo se provar que outra pessoa foi transportada em seu lugar, devido a essa circunstância.

No mesmo sentido, Gonçalves [2007, p. 471] leciona que constitui dever do Passageiro comparecer ao local de partida no horário estabelecido ou avisar da desistência ou impossibilidade de realizar a viagem, com a antecedência necessária para que outra pessoa possa viajar em seu lugar.

Ao Passageiro também lhe é dado a obrigação de apresentar o bilhete de viagem quando lhe for pedido, mesmo no curso da viagem, assim dispõe Diniz [2006, p. 514].

Tendo visto os direitos e deveres do Transportador e Passageiro, encerra-se aqui o capítulo 2, o qual é fonte de estudo para verificar em quais circunstâncias cabe ao Transportador o dever de reparar danos sofridos

por Passageiros que estão sob sua Responsabilidade. O capítulo 3 tratará de estudar o tema principal deste trabalho, qual seja, a Responsabilidade Civil do Transportador de pessoas em rodovias, que vem a seguir.

Documentos relacionados