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2.1 EMPREENDEDORISMO SOCIAL (ES) - ALGUMAS DEFINIÇÕES

2.1.3 Fatores Internos

Os empreendimentos sociais apresentam os mesmos elementos estratégicos das organizações chamadas tradicionais. Pretende-se aqui, focar principalmente na missão e visão das organizações do terceiro setor, por ser um dos fatores que mais impactam nos empreendimentos. Numa definição de Ackoff (1981, p. 107), a missão de uma organização “é um propósito que integra a variedade de papéis que um sistema desempenha”, ou ainda a razão de ser da organização (Drucker, 1974; Takeski & Rezende, 2000; David, 2009), destacando de forma sistêmica este propósito, envolvendo desde os gestores, parceiros, colaboradores, beneficiários e a própria comunidade, os chamados stakeholders da organização. Hamel e Prahalad (1995) ainda salientam que, as organizações devem compreender o porquê da sua existência, que nos casos das organizações do terceiro setor é atender as necessidades emergentes numa comunidade.

No que se refere à visão organizacional, ela deve retratar um futuro desejado ou almejado pela organização, no sentido de contribuir para o alcance da missão, podendo extravasar os limites muitas vezes impostos pelo ambiente, como por exemplo, a crise econômica (Collins & Porras, 1996). Já Senge (1990) ressalta que a visão tem que promover desafios aos membros da organização, evitando-os em curto prazo, e não atrelado aos momentos do planejamento estratégico das organizações. Collins e Porras (1996) ainda ressaltam que tanto a missão quanto a visão devem estar alinhadas aos valores defendidos pelas organizações, que são essenciais e duradouros para conduzir a vantagem competitiva.

Mair e Martí (2006) ainda destacam que a missão social e central de um empreendimento contribui para a incorporação da visão empreendedora, permitindo aumentar a eficiência, eficácia e viabilidade das operações. Tanto as organizações sociais quanto as comerciais possuem propósitos organizacionais que influenciam e contribuem para o sucesso do que se pretende. O ambiente interno reflete o que a organização representa para os colaboradores, e contribui para o direcionamento dos esforços para o atingimento da missão e visão organizacional. Peredo e McLean (2006, p. 59), para quem “qualquer riqueza gerada é

apenas um meio para o fim social”, por meio da sua missão, é possível então nortear qual a direção que se pretende seguir com o intuito de atender ao que se propõe a organização (Hocayen-da-Silva, Ferreira Júnior, & Castro, 2006). Pies, Beckmann e Hielscher (2010, p.

265) informam que é por meio da missão e visão do empreendimento que se tem um propósito utilizado pelos empreendedores e stakeholders como forma de “preencher o objetivo de lucro abstrato com a vida”, fazendo com que o posicionamento do empreendimento esteja num lugar de relevância, atendendo a comunidade em suas necessidades (Baggenstoss & Donadone, 2013). No ES, o alinhamento dos valores que compõem a missão social do empreendimento, é um fator importante para a captação de recursos (Lautermann, 2013), e o alinhamento entre os valores individuais e a missão do empreendimento é o que dará suporte para a obtenção de apoio para a organização, fazendo com que contribua para que as normas e motivações sejam correspondentes ao que pretende como objetivo no empreendimento social (Albert, Dean, &

Baron, 2016).

Agafonow (2014), ainda afirma que, nas organizações sociais, os lucros obtidos por meio de produtos e serviços não são e nem devem ser um propósito em si, mas sim o meio utilizado para atingir os objetivos da missão organizacional. Konda, Starc e Rodica (2015) anunciam que por meio de suas ações, os empreendedores sociais conseguem contribuir de forma eficiente para o atingimento dos objetivos do empreendimento, e um dos desafios é compreender as motivações que proporcionam as ações necessárias para atender as diferentes comunidades (Yitshaki & Kropp, 2016). Independente dos desafios do empreendedor social, sempre haverá obstáculos a superar, problemas surgirão, a necessidade de diferentes recursos, principalmente os recursos financeiros, entretanto a sua missão é que norteará o seu caminho aos atingimentos dos objetivos (Chell, Spence, Perrini, & Harris, 2016)

Dentro do contexto das organizações de ES, o importante é ir além dos ganhos econômicos, que pode ser um resultado da inovação social, é trabalhar em torno da missão social que é a responsável por promover o progresso social, trazendo aos indivíduos, benefícios claros por meio da resolução de problemas sociais identificados (Bonfanti, Battisti, &

Pasqualino, 2016; Chell, Martinez, O’Sullivan, Smith, & Esposito, 2017). Os autores ainda destacam que o alinhamento dos valores do empreendimento por meio da missão social alinhada aos seus propósitos, buscando a melhoria social e de saúde, a vida e as condições de um grupo específico, alívio da pobreza, educação para crianças, recursos para os marginalizados, empoderamento das mulheres, abrigo para os sem-teto, entre outros (Chell et al., 2017).

No que se refere ao aspecto externo ao empreendimento, quando a missão é considerada atraente pelos financiadores, tem um impacto positivo sobre o empreendimento, pois contribui para um maior engajamento por parte dos empreendedores em dar continuidade ao seu trabalho, e por outro lado, por parte dos financiadores, há uma percepção de que se está fazendo o bem (Albert et al., 2016, Paswan, Proença, & Cardoso, 2017).

Outro fator a ser levado em consideração para os empreendedores sociais é a combinação dos recursos de novas maneiras, pois contribuem para a exploração de oportunidades para criar valor social, gerar a mudança social e a satisfação das necessidades sociais, por meio da oferta de produtos e serviços, desdobrando-se em novas organizações, com objetivos correlacionados ou distintos na criação de valor.

A criação de valor social por empreendedores pode ser compensada por custos econômicos, bem como os custos sociais oriundos da geração de valor social gerados pelo empreendimento. Devido à escassez dos recursos que os empreendedores sociais muitas vezes enfrentam, os valores sociais e econômicos poderiam ter melhor rentabilidade se os recursos tivessem sido aplicados em outros empreendimentos produtivos, mas a tarefa de determinar a riqueza social é a natureza subjetiva do próprio valor social, que varia de um contexto para outro (Baker et al., 2005; Pache & Chowdhury, 2012).

O foco do empreendedor social requer a compreensão que seu foco pode mudar por muitos fatores, dependendo das necessidades sociais e econômicas dos grupos ao qual se relaciona. Esta amplitude institucional, flexibilidade e especialização não existem na mesma medida nos mercados sem fins lucrativos. Os empreendedores sociais têm menos canais para acesso às fontes irrestritas de recursos (Silva et al., 2015). Peredo e McLean (2006) consideram que nesta área da economia, os empreendedores são particularmente engenhosos e não se deixam intimidar pela escassez de recursos na prossecução da sua iniciativa social. As organizações sociais têm por essência aplicar os recursos recebidos das diversas fontes de forma distributiva, fazendo com que os objetivos sociais antecedam aos lucros, criando assim possibilidades para os menos favorecidos, fazendo com que os custos de oportunidade agreguem valor à sociedade por contribuir para a utilização aprimorada nestes contextos (Agafonow, 2014). Os empreendedores sociais, além dos desafios do empreendimento, têm que adotar uma postura audaz e trabalhar com os recursos disponíveis de forma responsável (Thakur, 2017), pois têm a capacidade de utilizar estes recursos disponibilizados de maneira criativa, gerando novas ideias, alavancando o capital de relacionamento que possuem, bem como a mobilização de recursos com objetivo de promover o progresso social, fazendo do

ganho econômico um resultado para a inovação (Martinez, O’Sullivan, Smith, & Esposito, 2017).

Dentre os recursos que um empreendimento tem disponível, Thibes e Moretto Neto (2011) afirmam que podem ser os recursos financeiros, o talento por meio das pessoas, a estrutura física, sendo que podem variar de acordo com o tamanho e dos objetivos organizacionais do empreendimento. Pace, Oliveira e Alkmim (2012) relatam que os recursos podem ser os humanos, estrutural, ambiental e de processos, que são descritos como: Capital Humano, disponível ou disponibilizado para as atividades organizacionais por meios da realização das tarefas, serviços e produtos oferecidos pelo empreendimento, capaz de aprimorar os processos de inovação ou acrescentado outros; Capital Estrutural: é toda e qualquer estrutura física disponibilizada para que os colaboradores possam exercer suas atividades e atingir os objetivos organizacionais; Capital Processo: são os processos utilizados para que a organização tenha um facilitador do seu fluxo de trabalho ou tarefas a serem desempenhadas por seus colaboradores, resultando no atingimento dos objetivos e metas organizacionais, e por fim, Capital Ambiental: que envolve a rede de relacionamentos da organização, sendo eles os beneficiários, associados, doadores, governo, colaboradores, ou seja, todos que de uma forma ou de outra contribuem para o atingimento dos objetivos que se propõe o empreendimento.

Terjesen, Bosma e Stam (2015) ainda ressaltam que no Empreendedorismo Social não há um plano do tipo "one-size-firts-all", pois os empreendimentos têm diferenças entre si, seja no âmbito legal ou de regulação, bem como no acesso às estruturas, recursos financeiros, mercados ou pessoas.

Kadamawe, Knife, Haughton e Dixon (2014), salientam que a adequação aos recursos disponibilizados para as organizações sociais está ligada diretamente à capacidade de adaptação das mesmas, por meio da eficácia organizacional, ou seja, realizar com o que tem disponível.

Acs, Boardman e McNeely (2013) afirmam que geralmente as organizações sociais realizam a função distributiva por meio da redistribuição de recursos em locais menos favorecidos, primando pela gestão orientada dos recursos escassos, numa relação ganha-ganha. A utilização de recursos financeiros para manter os empreendimentos sociais também tem situação de destaque, pois através dele é possível obter resultados positivos por meio das organizações, mantendo a estrutura em funcionamento, atendendo os beneficiários, ampliando a rede de atendimento, entre outras possibilidades para os gestores e colaboradores (Mair & Marti, 2004;

Martin & Osberg, 2007; Tyszler, 2007; Thakur, 2017).

Um dos desafios dos empreendedores sociais é a mobilização em busca de recursos financeiros que podem ser obtidos na iniciativa privada, por meio de doações individuais, institutos ligados às empresas, fundações familiares ou empresariais, organizações religiosas ou ainda em fontes institucionais como governos e agências internacionais. É importante ressaltar que apesar de existirem diversas fontes de possíveis recursos, o empreendedor social deve buscar fontes diversificadas, diminuindo a instabilidade e dependência de poucas fontes de recursos (Freller, 2013). A viabilidade financeira de um empreendimento social é um ponto crucial para que se possam continuar as atividades relacionadas à sua missão social, pois este tipo de organização é vulnerável e tem um significativo risco econômico (Defourny & Nyssens, 2012; Andrade, Costa, & Faller, 2016).

Outro desafio para as organizações sociais é no que diz respeito à geração da própria renda, para que assim tenha possibilidades de manter seu (s) empreendimento(s) sem a dependência externa. Feller (2013) destaca que isso pode ser obtido por meio de editais, que geralmente fundações e o governo lançam para apoiar atividades do terceiro setor, geração de renda com apoio de ferramentas e mídias sociais como a utilizada pelo Greenpeace ou Médicos sem Fronteiras, e pelas estratégias de marketing social em sites de internet, por exemplo, que podem auxiliar em financiamento dos empreendimentos por meio da disposição de banners ou cookies, bem como ações de Crowdfunding, SMS e Click to Call, ferramentas que contribuem para unir empreendimentos e apoiadores de causas sociais.

No documento Monica Cristina Rovaris Machado - Univali (páginas 38-42)