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O Processo de Inclusão

No documento Monica Cristina Rovaris Machado - Univali (páginas 135-143)

4.2 ANÁLISE QUALITATIVA DE DADOS E EVIDÊNCIAS

4.2.2 O Processo de Inclusão

A diversidade de indivíduos gerada pela diversidade de características contribui para uma visão melhorada de mundo em relação a isto, pois o indivíduo pode ser diverso no seu contexto, seja ele familiar, social, econômico ou ainda em relação à coletividade. O foco hoje nas sociedades é a inclusão, pois se há necessidade de ser incluído, é porque há exclusão, seja por nascimento, cor, raça, orientação religiosa ou sexual, entre outros. Se há diversidade, ela pode ser por características físicas, mentais, sociais, sensorial, e o que pode levar à discriminação, por consequência, leva à exclusão. Nos diversos contextos, os valores humanos como igualdade, engajamento e inclusão devem ser articulados entre os setores de educação, saúde, assistência social, políticas públicas para que ocorram as oportunidades de inclusão.

No que se refere ao processo de inclusão, os envolvidos direta ou indiretamente da Associação APSA estão empenhados para que isto ocorra da melhor forma possível, seja por meio de atividades que possibilitem a inclusão dos seus associados como: atividades artísticas, culturais, sociais, econômicas ou laborais. O trabalho desenvolvido pelas pessoas descapacitadas tem a necessidade de um forte apoio de pessoas ligadas à área de psicologia, serviço social, pedagogia, gestão, direito, entre outros. O trabalho também é uma das formas utilizadas pela APSA para a inclusão, pois permite que as pessoas possam contribuir na geração de renda para si e sua família, como forma de geração de independência, autonomia e dignidade.

4.2.2.1 O discurso dos Gestores de APSA

O desafio da inclusão acontece também quando as empresas contratam os trabalhadores, pois Ramom salienta que “não queremos que contrate as pessoas porque são descapacitados [...] queremos que contratem pela sua parte de capacidade.” O gestor ainda argumenta que para que a contratação do trabalhador se concretizada, está ligado diretamente às competências nas tarefas a serem executadas. No processo de formação para a vida de um associado da APSA são elaborados itinerários formativos com base na estrutura curricular educacional espanhola.

Os materiais contam ainda com a metodologia de leitura fácil, com o objetivo de orientações gerais para a vida, ou no curso de autonomia em casa com tarefas que aprendem como cozinhar com forno e comidas simples, utilização de lavadoras de roupas, entre outras atividades. Para cada material desenvolvido há um itinerário formativo e um professor, que por meio de aulas práticas, visitas a ambientes de convivência como centro comercial, espaços culturais, há um livro texto e livro de atividades, com a participação ativa do associado. Mas mesmo com todos os esforços, “há rapazes que precisam menos para o desenvolvimento da competência e outros que estarão em formação contínua em toda a sua vida”, como afirma Ramom.

Numa perspectiva de crescimento da população com discapacidade na Espanha e no mundo, Ramom salienta que em torno de “9% de qualquer país tem alguma discapacidade [...]

e isto requer recursos sanitários, sociais, e isto ainda incrementa com a privação ambiental, gerando desacomodo social, então há discapacidade em todos os lugares, e isto é um problema.”

Afirma ainda que associações como a APSA são cada vez mais necessárias numa sociedade que pretende incluir todos, “pois todos nascem, vão à escola, para o ensino médio, ou aprende uma profissão, trabalho [...] conhece uma moça ou rapaz, namora, casa, tem filhos, compra uma casa, fica mais velho, vai para a residência, é como todo mudo, é como tem que ser.” E ainda

ressalta que “quando uma pessoa encontra um emprego, melhora sua qualidade de vida [...] não sou de resultados quantitativos e sim qualitativos, como valorar a vida desta gente [...] em sociedades avançadas isso já acontece...] tem que incluir as pessoas [...] as oportunidades tem que ser dadas a todos.” A inclusão de pessoas com discapacidade nos diversos espaços sociais contribui de maneira efetiva neste processo.

Santiago afirma que no seu trabalho na APSA, o que mais lhe satisfaz “é assegurar para 300 pessoas os ingressos aos postos de trabalho.” Além disso, APSA tem um destaque na Província de Alicante no que diz respeito “a entrega o mais rápido possível dos recursos adequados as famílias”, pois “nós não fabricamos parafusos nem carros, trabalhamos com as pessoas [...] e ver que o trabalho influencia na melhora das famílias e dos seus filhos [...] isso não tem preço.” A Associação tem um papel importante na vida dos seus associados porque atende em etapas, dependendo da idade há implicações maiores das famílias, para Ramiro “além das atividades dentro da etapa adulta, como centros de atividades dia, centros ocupacionais, residência, e já nos CEE os que chegam ao emprego tem um nível de autonomia bastante alto, requerem apoios, mas é normal.”

A Associação APSA tem desenvolvido parcerias com as universidades da Província de Alicante, a primeira foi idealizada por Alma quando afirma “me deixam alimentar minha loucura [...] falei para o gerente sobre a cátedra é uma cátedra que temos” realizada em parceria com a Universidade Miguel Hernandéz, com o programa de Formação e Empregabilidade para pessoas com discapacidade, sendo realizado o curso de auxiliar de loja. Ela ainda fala que

“quero deixar um legado nesta vida que é que todas as pessoas que tenham este tipo de problemática possam ser ajudadas.”

4.2.2.2 O discurso dos Gestores Parceiros

A parceria com organizações faz com que associações como APSA tenham a possibilidade de incluir seus associados de forma a ter uma vida autônoma. A gestora parceira Almerinda afirma que a participação da APSA na Universidade de Alicante (UA) por meio de convênios “humaniza muito [...] porque estamos acostumados a padrões de funcionamento e que se rompem por completo quando interagimos com as pessoas de APSA [...] rompem os esquemas, quebram-se o protocolo.” Ela ainda afirma que o trabalho desenvolvido entre a UA e entidades do terceiro setor dá um contraponto à Universidade, fazendo com que o ambiente acadêmico se aproxime mais à realidade social.

A UA como um ente público e comprometido na aplicação de políticas públicas, tem privilegiado ações de igualdade entre homens e mulheres para promover a inclusão. Um assunto que tem despertado muita atenção na UA é o assédio sexual, porque existe a proposta de incluir a comunidade acadêmica nesta sensibilização, inclusive os trabalhadores da APSA, e o desafio é o de desenhar o tema de forma apropriada, e Almerinda afirma que quem tem “autoridade e o lugar para que isto aconteça, é a Universidade”, chamando para si a responsabilidade de fazê- lo. A gestora ressalta ainda que a UA tenha um papel social importante na inclusão, pois suas ações adicionam diversidade, importante na sociedade atual, e o trabalho realizado pela APSA atende os requisitos de colocá-los em situações de inclusão, principalmente pelo “rompimento de padrões, tens que mudar muito em ti.” A gestora afirma que a nova Reitoria, tem dado atenção especial a este tipo de trabalho, incorporando-o ao mercado laboral e atendendo a política pública que remete à inclusão, por meio de empregos sociais, que são categorias sub- representadas nos espaços laborais na Espanha, neste trabalho, os associados da APSA.

Juan afirma que pessoas com discapacidade têm maior dificuldade de acesso ao trabalho, e o papel da Universidade é incluir, promovendo a independência econômica destes trabalhadores, “de fato a aposta é com APSA e com a incorporação de trabalhadores sociais.”

A principal diferença na contratação da APSA, que devido à peculiaridade da Associação, não é por meio de licitação, e sim por meio de convênio, o que contribui em muito para a inclusão nos espaços da Universidade. O gestor ressalta que o trabalho desenvolvido pela APSA nas dependências da UA acontece nos padrões de normalidade e que “nunca tive nenhuma queixa [...] nem pela qualidade do trabalho, nem pelos usuários, nem nos edifícios [...] eu entendo que o trabalho se desenvolve dentro da normalidade.” Outra organização que apóia as atividades de APSA é a Agência de Desenvolvimento Local de Alicante, que desenvolve parceria com a APSA desde os anos 2000, por meio de sócios colaboradores, com o objetivo de inserção deste coletivo no trabalho em diversos setores econômicos da Província. Como na UA, a Agência o trabalho também se desenvolve por convênio de maneira continuada. O gestor Paco afirma que a APSA “desenvolve seu trabalho de maneira especializada, com trabalhadores qualificados, em rede que para nós custa muito a realizar e de criar uma estrutura que adiciona valor a este coletivo.” Na perspectiva de uma política pública que promova a inclusão, Enrique afirma que as “Associações devem existir, e o governo e o Estado devem contribuir mais, porque nunca é o suficiente.” Um dos maiores dificultadores da inclusão das pessoas com discapacidade é a sensibilidade para a causa e a destinação de recursos públicos e privados para o fortalecimento e efetiva inclusão.

4.2.2.3 O discurso dos Técnicos de APSA

Para que haja inclusão das pessoas com discapacidade, Serena afirma que é imprescindível que creia no projeto e “que mais e mais empresas e mais serviços possam integrar cada vez mais pessoas [...] e que daqui a uns dez ou 15 anos em vez da Associação ter três CEEs, possa ter seis e seguir crescendo, assumindo novos projetos.” O maior desafio na inclusão é a contratação de trabalhadores com discapacidade quando surgem novas vagas e não temos um associado com o perfil, “temos que contratar alguém, seja da ‘rua’, dos nossos centros ou da própria Associação.” A inclusão é uma realidade tão presente na APSA, que uma empresa de nome Suavinex, contratou trabalhadores com discapacidade, e hoje, passados dez anos, Serena afirma que “pessoas com deficiência produzem o mesmo que um grupo de pessoas sem a mesma, isto é uma realidade.”

Outra técnica, Anita, no que se refere à inclusão afirma que “os trabalhadores mantêm seu trabalho por si mesmo, porque cumprem suas obrigações, mantém uma higiene, cuidam do seu uniforme de trabalho, materiais e ferramentas”, pois o trabalho faz parte de suas vidas e das suas obrigações, num processo permanente de reforço. Ainda ressalta que um dos desafios do seu trabalho é fazer com que nas empresas os trabalhadores tenham um tratamento adequado, como adultos, pois como são pessoas com discapacidade, “não tem porque tratá-los como meninos, então trabalhamos isto.” Salienta que reforça comportamentos para a melhoria da qualidade de vida como tempo para lazer, tempo livre, vida social, a relação entre eles e com as outras pessoas, bem como no trabalho também.

A preocupação com a inclusão também é manifestada por Jade, que espera que uma nova geração de profissionais com boa formação e boas ideias, e que venham a trabalhar com pessoas com discapacidade, pois “ser uma boa pessoa já não é mais o suficiente para trabalhar, tem que ter um mínimo de formação especifica e experiência.” Enrique ainda afirma que dentre os desafios que encontra no seu trabalho, o maior é de coordenação da equipe, “entre eles, se coordenam, me afastei uns 20 dias e tudo funcionou bem, quanto aos trabalhos que faço [...] me ligavam e eu delegava, eles sabem muito bem o que tem de fazer, e entre eles se encaixa muito bem.” Corroborando com a fala, por meio de observação da pesquisadora no ambiente de trabalho com a coordenação de Enrique, percebeu-se que os trabalhadores de APSA desenvolvem seu trabalho de forma autônoma, tomando decisões sobre a sua realização e de acordo com as solicitações dos clientes, atingindo assim seu objetivo que é inclusão das pessoas com discapacidade nos âmbitos familiar, escolar, laboral e social.

4.2.2.4 O discurso dos Familiares

O desenvolvimento de atividades cotidianas e a sua superação também são reforçados por Nilda, que exalta os desejos de sua filha, “ela mudou muito, porque o que ela queria era trabalhar. Ela me pediu muito porque queria trabalhar [...] necessitam estar ocupados.” O desafio da inclusão é sentido pelas famílias, e o engajamento também é necessário no processo de inclusão, pois as “lutas das pessoas [...] creio que as famílias estão dispostas a brigar e lutar por eles.” Salienta que Pepita sempre quis uma vida independente, “como qualquer pessoa, ela gostaria mais, mas penso que seria positivo com o tempo”, considera-a como uma filha normal,

“se faz uma coisa boa eu digo, se faz mal também digo, sempre [...] para nós é normal como outro filho.” A autonomia também é imprescindível e defendida por Nilda, pois “sempre me disseram para que ela fosse autônoma, ela pega o ônibus sozinha, ela é autônoma de tudo desde muito pequena, eu faço o mínimo para que ela faça, ela lava o cabelo, se veste todos os dias.”

Nas rotinas domésticas, Nilda afirma que “ela faz muitas coisas [...] me ajuda na cozinha, é muito organizada e limpa, em seu quarto não tem nada espalhado, ela gosta das coisas controladas.”

Em momentos de lazer familiar relata que como gostavam de acampar pela Espanha, viagens de cruzeiros ou viagens pela Europa, “isto a motiva muitíssimo desde pequena [...] já viajamos muito [...] quer viajar sozinha, mas se para nós é difícil, imagina para ela [...] mas sempre se protege mais, não sei o porquê.” Sobre os desejos de Pepita, Nilda fala que “sempre quis trabalhar, ser independente economicamente, até viver sozinha [...] o que ela pode fazer, ela quer fazer [...] esta inquietude veio depois de grande.”

Ainda na busca de garantir as conquistas e direitos das pessoas com discapacidade ela afirma que “creio que as famílias estão dispostas a continuar com esta briga e lutar por eles.”

No que se refere às questões econômicas afirma que sua filha deseja “ter sua vida, comprar sua casa, ir viver sozinha, em casa não lhe pedimos nada do seu dinheiro, ela economiza, porque ela tem a ideia de comprar a sua casa.” Em relação à vida amorosa de Pepita, Nilda afirma que já teve namorados, “mas gostaria que ela saísse mais, mas eu creio que ela está bem sozinha [...] gosto que ela saia [...] fazer coisas também é bom para distrair-se [...] é uma moça que precisa estar ativa, para mim, assim é melhor.”

A inclusão é importante numa sociedade que pretende ter cidadãos conscientes do seu papel, como destaca Nilda, “hoje em dia é o contrário, tem que tirá-los de casa, tem que falar com as pessoas, tem que falar que tem um problema, e sempre tem alguém que pode te ajudar,

eu acredito que esconder uma pessoa com discapacidade não é nada bom.”

Sua maior preocupação é com o futuro, a necessidade de amparo que a filha precisará na velhice, como diz “se ela ficar sem trabalho, o que seria dela se não, tem este amparo [...]

creio que os políticos têm que fazer coisas para eles ficarem encobertos, pois os pais não são eternos [...] penso que associações como estas não vão nos desamparar”, ressaltando que o trabalho de APSA faz diferença na sua vida e da sua família.

4.2.2.5 O discurso dos trabalhadores com discapacidade

O trabalho é um importante instrumento de inclusão, pois iguala os diferentes. Os trabalhadores da APSA têm consciência disso, conforme afirma Paloma “APSA e os Centros Especiais de Emprego te encaminham, mas manter um trabalho está em nossas mãos.” Ignez afirma que “APSA nos ajuda, você se ajuda, você tem que se esforçar”, o que demonstra também o papel do associado com discapacidade da APSA, que tem que fazer sua parte no processo de inclusão. Izabel tem consciência do seu papel no trabalho e afirma “me dão muito apoio e que estou muito contente”. Por outro lado, Anita diz que “a empresa está muito contente com o trabalho dela, de Izabel.” Apesar do trabalhador discapacitado ser resistente às mudanças, isto não se reflete na fala de Paloma que afirma “eu estou gostando muito, desde que me mudaram de área, melhor que onde eu estava, estava sozinha [...] passava frio e calor, sempre estava me queixando, agora eu estou muito bem com meus companheiros e vamos lanchar no sol.”

A inclusão se manifesta em falas como a de Castillo, que trabalha no Castelo de Santa Barbara, ponto turístico de Alicante, “eu gosto da vista, dos caminhos que tem lá, não posso me queixar dos meus companheiros, gosto dos meus companheiros.” e corroborado Anita afirma que “ele e os seus companheiros nunca se queixam se tem frio e nem que passam calor”. Izabel também se manifesta em relação ao seu trabalho “eu também estou muito contente com todos.”

Paloma também manifesta que “eu estou bem com todos.” Entretanto nem todos estão satisfeitos com o seu trabalho, como afirma Eduardo, “eu venho como se viesse para a guerra”, demonstrando que apesar de vir para o trabalho, não está satisfeito com o que faz. Já Pepita afirma que está trabalhando em APSA, “porque não tem outra coisa [...] eu gostaria de fazer mais coisas [...] eu quero fazer coisas diferentes.”

No que se refere aos apoios na execução das atividades, Ignez ressalta que “podemos contar com os formadores, se eu tenho um problema falo com Anita ou com Serena, porque

você tem que se abrir, porque senão o rendimento do trabalho não é igual, porque tens que fazer o trabalho.” Já Paloma afirma que os formadores fazem assessoramento, se tem algum problema, os formadores são pontos de apoio, “você tem que se abrir para o seu responsável de trabalho, para ajudar a resolver os problemas [...] você se ajuda.” Os trabalhadores são preparados para realizar tarefas por repetição e apoio de formadores de trabalhos tem papel fundamental no desenvolvimento das atividades, que os orientam, reforçam procedimentos e a utilização das ferramentas necessárias para o desenvolvimento adequado do trabalho, bem como ajustes de comportamento quando necessário.

Quanto às atividades de lazer, os associados da APSA afirmam que possuem uma vida ativa. Pepita relata que aproveita a vida, faz esportes, cozinha algumas coisas. Já Paloma diz que no verão gosta de ir à praia, “gosto de balançar o esqueleto.” Ignez gosta de sair com os amigos, ir à praia e a piscina. Izabel gosta de sair, fazer yoga e tardeo2, ‘fazer farras’ com as amigas.”

No que se refere à vida pessoal, o dinheiro recebido pelo trabalho nos CEE/ APSA, contribuem para a gestão da vida pessoal dos associados, Ignez afirma que usa seu dinheiro

“com meu carro, seguro, gasolina e se me falta algo”. Já Castillo afirma que “gasto um pouco, pago água, luz, telefone, [...] se falta algo em casa, faço compras.” Izabel afirma que “eu uso um pouco, se eu preciso comprar uma roupa, senão economizo.” Murilo afirma que “tenho uma companheira e uma filha, minha família nos ajuda um pouco”, e que geralmente suas despesas são para a manutenção da família, “gasto em supermercado e na minha casa.” Paloma diz que

“meu dinheiro é para guardar, só quando preciso de algo, eu saio todo sábado, vou com meus pais para jantar, também economizo.” Eduardo diz que vive sozinho, e sua casa já está paga,

“então os seus gastos no consumo de luz, água, no final de mês economiza e também vou para a minha cidade.” Pepita diz que utiliza o seu dinheiro “gosto de ganhar minhas notas, gosto de viajar, compro roupas, vou à cabelereira [...] eu me cuido.” A relação que os associados possuem com o dinheiro que provem do seu trabalho, contribui para a sua independência e gerenciamento por meio de autonomia de sua vida cotidiana.

Quanto ao trabalho desenvolvido, percebe-se que os trabalhadores entrevistados desenvolvem atividades autônomas em seus ambientes. Ignez afirma que “eu já fiz várias coisas de limpeza, manipulados, com doces, reprografia, agora faço manipulados.” Castillo trabalha com jardinagem e realiza as atividades de manutenção: troca de lâmpadas, limpeza de

2 Sair para fazer festas com as amigas no Mercado Central de Alicante, geralmente aos sábados.

banheiros, proteção das plantas quando há vento, limpamos os passeios e as lixeiras todos os dias. Izabel realiza trabalhos de auxiliar de escritório na empresa de Construção Ecisa, na praia de San Juan de Alicante. Murilo trabalha na UA, com limpeza dos vidros, banheiros, exteriores e entrada do edifício de Ciências Sociais. Paloma também realiza atividades ligadas à limpeza.

Eduardo trabalha na reprografia do prédio de Ciências Sociais da UA, e diz que “meu trabalho é atender ao público, encadernar, atividades de reprografia.” As atividades desenvolvidas por Pepita são “limpar os banheiros, os escritórios, lavar a cozinha, os banheiros dos refeitórios, o que me mandam.”

Nas atividades laborais, os trabalhadores têm suas preferências ou não das atividades desenvolvidas. Quanto às preferências, percebeu-se que se sentem satisfeitos com as atividades desenvolvidas. Entretanto, todos relatam que algumas atividades não lhes agradam, como assinalam, Ignez diz que “não gosto de limpar os vasos sanitários”. Já Castillo não “gosta de tirar as ervas daninhas”, e o clima, que no seu local de trabalho é afetado por fortes ventos.

Murilo afirma que “eu não gosto é de limpar os banheiros das mulheres, não gosto porque fico com vergonha.” Paloma diz que “o que menos eu gosto e limpar são os vasos sanitários.”

Eduardo afirma que não gosta de atender o público da reprografia, “prefere trabalhar sozinho.”

Já Pepita afirma que não gosta muito de limpeza, mas que “faço o que me mandam.” Dentre as atividades desempenhadas fica claro a sua preparação, preferências e o que não lhes agrada no ambiente de trabalho. A limpeza dos banheiros é a mais penosa para os sujeitos, seja pelo constrangimento, pela situação em que vão encontrar o recinto ou ainda por ser uma atividade com baixo nível de autonomia. A discapacidade dos trabalhadores não os limita nas situações de convivência, pois na Espanha há um alto grau de tolerância e compreensão nos criados por políticas publicas de inclusão.

No documento Monica Cristina Rovaris Machado - Univali (páginas 135-143)