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2.2 DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

2.2.1 H ISTÓRIA DOS T RATADOS

A história do direito dos tratados remonta a do próprio homem, quanto como sociedade, não da forma complexa e elaborada utilizado nos dias de hoje, como se verá, mas mesmo assim possuindo os alicerces basilares para o modelo utilizado atualmente. Nas palavras de Roberto Luiz Silva:

Há resquícios de normas de caráter internacional desde a antiguidade. O primeiro tratado internacional data de 3.100 a.C, celebrado por Eannatum, senhor da Cidade-Estado de Lagash, e os homens de Umma, duas cidades da Mesopotâmia, que tratava de questões de fronteiras.90

Em outro norte, Rezek diz que o primeiro registro seguro de um tratado, remonta à quase 2000 anos depois de Eannatum, a saber:

O primeiro registro seguro da celebração de um tratado, naturalmente bilateral, é o que se refere à paz entre Hutasil III, rei dos hititas, e Ramsés II, faraó egípcio da XIXª dinastia. Esse tratado, pondo fim à guerra nas terras sírias, num momento situado entre 1280 e 1272 a.C., dispôs sobre paz perpétua entre os dois reinos, aliança contra inimigos comuns, comércio, migrações e extradições.91

Nessa seara, desde os primórdios até o início do século passado, o direito dos tratados teve como base os costumes, tendo essa lenta construção consuetudinária, determinado como negociariam as partes, com que órgão, como seria o gênero de texto criado, como se afirmaria sua autenticidade, como as partes manifestariam sua concordância definitiva com o tratado, como poriam o compromisso efetivamente em vigor, quais seriam seus efeitos sobre as partes pactuantes e sobre terceiros, bem como qual sua forma de alteração,

90 SILVA, Roberto Luiz. Direito internacional público. 2002. p. 19.

91 REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. 2002. p.11.

desgaste ou extinção, sendo, tudo isso, todavia, alicerçado em certos princípios gerais, cabendo frisar o da boa fé e o já mencionado pacta sunt servanda.92

Dessarte, como supracitado, durante o correr dos séculos seguintes, os tratados foram firmados com base unicamente nos costumes, inexistindo qualquer regulamentação internacional positivada, sendo que os primeiros ensaios a esse nível vieram apenas em 24 de outubro de 1648, com o Tratado de Vestefália, visto a ruína do sistema feudal e o surgimento mais concreto do modelo estatal que conhecemos hoje.

Nessa vereda, esclarece Accioly e Nascimento e Silva:

[...] com a decadência do regime feudal no ocidente, a noção de Estado se torna mais precisa. Os povos vão tomando consciência da unidade nacional e esta permite o estabelecimento de relações continuas entre os Estados.

A assinatura do Tratado de Vestefália de 24 de outubro de 1648 pôs fim à Guerra dos Trinta Anos, que ensangüentou a Europa de 1618 a 1648. O Tratado de Vestefália marca o fim de uma era e o início de outra em matéria de política internacional, com acentuada influência sobre o direito internacional, que estava em seus primórdios.

[...] Com a paz de Vestefália, que pôs termo a Guerra dos Trinta Anos, triunfava princípio da igualdade jurídica dos Estados, estabelecia-se em bases sólidas o princípio do equilíbrio europeu, surgiam os primeiros ensaios de uma regulamentação internacional positiva.93

Assim, continua o autor, após o Tratado de Vestefália, o Direito Internacional, e concomitantemente o Direito dos Tratados, enfrentou grandes oscilações, desde fatos e circunstancias que ajudaram em sua evolução, quantos outros que lhe causaram ignóbil prejuízo, sendo um bom exemplo, a Revolução Francesa, que no fim do século XVIII, trouxe um avanço nas idéias Européias, mas sua continuidade através das Guerras Napoleónicas, arruinaram o sistema criado pelo Tratado de Vestefália, pouco acrescentando ao Direito Internacional.94

92 REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público. 2002. p. 11-12.

93 ACCIOLY, Hildebrando e; NASCIMENTO e SILVA, Geraldo Eulalio do. Manual de Direito Internacional Público. 2002. p. 10-11.

94 ACCIOLY, Hildebrando e; NASCIMENTO e SILVA, Geraldo Eulalio do. Manual de Direito Internacional Público. 2002. p. 11-12.

Em contra partida, em 1815, o Congresso de Viena, realizado para consagrar a queda de Napoleão e estabelecer uma nova ordem política na Europa, não se limitou apenas a esse contexto, mas galgou um novo avanço no direito dos tratados, estabelecendo novas normas que foram ganhando força no correr daquele século, entretanto, apenas no século XX, o Direito Internacional atingiu seu apogeu, deixando inicialmente de ser bidimensional, limitando-se a terra e o mar, para se tornar tridimensional, quando da criação das primeiras aeronaves, passando a se ocupar do espaço ultraterrestre, ou seja, da lua e dos corpos celestes, dos fundos marinhos e do subsolo dos leitos marinhos.95

Deste modo, mais e mais tratados foram firmados entre os Estados para deliberar sobre essas questões, sendo digna de respaldo a Carta de São Francisco, em 26 de junho de 1945, que criou as Nações Unidas. Todavia, apenas em 23 de maio de 1969 foi realizado um Tratado sobre Tratados.96

No Brasil, a Constituição imperial de 1824, em seu art. 102º, VIII, já apresentava previsão sobre celebração de tratados, sendo que cabia ao imperador a autoridade absoluta para negociar internacionalmente com outros Estados, sendo que suas decisões, contudo, obrigatoriamente eram submetidas ao Poder Legislativo, representado por uma assembléia geral.

Em 1891, nossa primeira Constituição republicana conservou o Poder Executivo como autoridade para negociar internacionalmente, todavia, na pessoa do Presidente da República, sendo que a obrigação de apreciação pelo Poder Legislativo foi mantida, conforme se constata em seu artigo 48:

Art. 48 - Compete privativamente ao Presidente da República:

[...] 16º) - estabelecer negociações internacionais, celebrar ajustes, convenções e tratados, sempre ad referendum do Congresso, e

95 ACCIOLY, Hildebrando e; NASCIMENTO e SILVA, Geraldo Eulalio do. Manual de Direito Internacional Público. 2002. p. 12-15.

96 ACCIOLY, Hildebrando e; NASCIMENTO e SILVA, Geraldo Eulalio do. Manual de Direito Internacional Público. 2002. p. 14-15.

aprovar os que os Estados, celebrarem na conformidade do art. 65, submetendo-os, quando cumprir, à autoridade do Congresso. 97

Nesse diapasão, o texto sobre a previsão da celebração de tratados se repetiu em todas as demais Constituições brasileiras, até a atual de 1988, estando disciplinado no artigo 84, inciso VIII, da Carta Magna.