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Êxito técnico, sucesso prático e sabedoria prática: bases conceituais hermenêuticas para o cuidado de enfermagem à criança.

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Academic year: 2017

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ÊXI TO TÉCNI CO, SUCESSO PRÁTI CO E SABEDORI A PRÁTI CA: BASES CONCEI TUAI S

HERMENÊUTI CAS PARA O CUI DADO DE ENFERMAGEM À CRI ANÇA

Débor a Falleir os de Mello1 Regina Apar ecida Gar cia de Lim a2

Est e est udo r eflexivo buscou apr esent ar alguns t r aços dos conceit os êxit o t écnico, sucesso pr át ico e sabedor ia pr át ica par a am pliar a com pr eensão do cuidado de enfer m agem à cr iança. O cuidado em saúde é t om ado sob a per spect iv a das pr át icas r econst r ut iv as e com car át er cont ingencial, dest acando a im por t ância da conex ão ent re êxit o t écnico e sucesso prát ico e a valorização da sabedoria prát ica, advindos da herm enêut ica filosófica, n o âm bit o da filosofia pr át ica. A en fer m agem em saú de da cr ian ça pode lidar ar t icu ladam en t e com o êx it o t écnico e o sucesso prát ico e com preender a sabedoria prát ica na longit udinalidade do cuidado. A prom oção da saúde, pr ev enção de doenças, r ecuper ação e r eabilit ação da saúde da cr iança, de for m a indissociáv el, dev e est ar em consonância com realidades cont ext ualizadas e com part ilhadas ent re profissionais e fam ílias, buscando acom panhar o cr escim ent o e desenv olv im ent o infant il, pr oduzir nar r at iv as, ident ificar ex per iências, escolhas e t om adas de decisão par a a am pliação do cuidado.

DESCRI TORES: cr ian ça; cu idados de en fer m agem ; en fer m agem

TECHNI CAL ATTAI NMENT, PRACTI CAL SUCCESS AND PRACTI CAL KNOW LEDGE:

HERMENEUTI CAL BASES FOR CHI LD NURSI NG CARE

This reflect ive st udy aim ed t o present som e aspect s of t he concept s t echnical at t ainm ent , pract ical success and pract ical knowledge, wit h a view t o a broader underst anding of child nursing care. Healt h care is considered in t he per spect iv e of r econst r uct iv e pr act ices, char act er ized as cont ingencies, highlight ing t he im por t ance of t he connect ion bet w een t echnical at t ainm ent and pract ical success and t he valuat ion of pract ical know ledge, based on philosophical herm eneut ics, in t he cont ext of pract ical philosophy. Child healt h nursing can deal wit h t echnical at t ainm ent and pract ical success j oint ly, and also underst and pract ical know ledge in t he longit udinalit y of care. Healt h prom ot ion, disease prevent ion, recovery and rehabilit at ion of child healt h should be indissociably associat ed wit h cont ext ualized realit ies, shared bet ween professionals and fam ilies, aim ing t o follow t he child’s growt h and dev elopm ent , pr oduce nar r at iv es, ident ify ex per iences, choices and decision m ak ing t o br oaden healt h car e.

DESCRI PTORS: child; nur sing car e; nur sing

ÉXI TO TÉCNI CO, ÉXI TO PRÁCTI CO Y SABI DURÍ A PRÁCTI CA: BASES CONCEPTUALES

HERMENÉUTI CAS PARA EL CUI DADO DE ENFERMERÍ A AL NI ÑO

Est e est udio reflexivo buscó present ar algunos aspect os de los concept os éxit o t écnico, éxit o práct ico y sabiduría práct ica para am pliar la com prensión del cuidado de enferm ería al niño. El cuidado en salud es ent endido baj o la per spect iva de las pr áct icas r econst r uct ivas y con car áct er de cont ingencia, dest acando la im por t ancia de la con ex ión en t r e éx it o t écn ico y éx it o pr áct ico y la v alor ización de la sabidu r ía pr áct ica, pr ov en ien t es de la h er m en éu t ica f ilosóf ica, en el ám bit o de la f ilosof ía pr áct ica. La en f er m er ía en salu d del n iñ o pu ede lidiar ar t icu ladam en t e con el éx it o t écn ico y el éx it o pr áct ico y com pr en der la sabidu r ía pr áct ica en la ex t en sión longit udinal del cuidado. La pr om oción de la salud, pr ev ención de enfer m edades, r ecuper ación y r ehabilit ación de la salu d del n iñ o, de f or m a in disociable, deben est ar en con son an cia con r ealidades con t ex t u alizadas y com par t idas ent r e pr ofesionales y fam ilias, buscando acom pañar el cr ecim ient o y desar r ollo infant il, pr oducir nar r at iv as, ident ificar ex per iencias, elecciones y t om as de decisión par a la am pliación del cuidado.

DESCRI PTORES: niño; at ención de enfer m er ía; enfer m er ía

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I NTRODUÇÃO

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a s p r á t i ca s d e sa ú d e, a t u a l m en t e, h á expressivo desenvolvim ent o cient ífico e t ecnológico, n o en t an t o, v êm ocor r en do sér ias lim it ações par a r esponder efet iv am ent e às com plex as necessidades de saúde de indivíduos e populações( 1). As discussões

sobre hum anização da atenção à saúde, integralidade do cuidado à saúde, prom oção da saúde, assim com o o s p r i n cíp i o s d e q u a l i d a d e d e v i d a , e q u i d a d e , a u t o n o m i a e d i r e i t o s d o s u su á r i o s t ê m si d o o s elem ent os de dest aque para reflexão da organização das prát icas de saúde( 1- 4).

A enferm agem é um grupo profissional que t em r elev ant es papéis, funções e r esponsabilidades no cuidado em saúde. A essência e especificidade da profissão enferm agem é o cuidado com o ser hum ano, individualm ent e, na fam ília e na com unidade, para o desen v olv im en t o de in t er v en ções de pr om oção da sa ú d e , p r e v e n çã o d e d o e n ça s, r e cu p e r a çã o e r e a b i l i t a çã o d a sa ú d e . A e n f e r m a g e m se r esponsabiliza, por m eio do cuidado, pelo confor t o, acolhim ent o, bem - est ar e aut onom ia dos pacient es n o cu idado em si e n a coor den ação e in t er secção com out ros set ores, para o oferecim ent o da at enção à saúde( 5).

O cu i d a d o d e e n f e r m a g e m p o d e se r e n t e n d i d o co m o a t o co m u n i ca t i v o q u e r e q u e r con h ecim en t os esp ecíf icos e d e com p r een são d o co n t e x t o o n d e v i v e m , t r a b a l h a m e a d o e ce m a s p essoas. O d esen v olv im en t o d e com p et ên cias d e enfer m agem , além da aquisição de conhecim ent os teóricos e técnicos, necessita tam bém de apropriação e d esen v o l v i m en t o d e at i t u d es p ar a m el h o r ar a qualidade da relação int erpessoal e da com unicação para o cuidado( 6).

A cr i a n ça e su a f a m íl i a , h a b i t u a l m e n t e , contatam o sistem a de saúde e necessitam de diversas prát icas de saúde, qualquer que sej a sua fragilidade ou dan o, r equ er en do at en ção pr of ission al f ace ao processo saúde- doença e cuidado( 7).

Na saúde infant il, em bor a avanços venham ocorrendo no tocante à redução da m ortalidade infantil e am pliação da cobert ura dos serviços de saúde, os d esaf ios at u ais são a m elh or ia d a q u alid ad e d as i n t e r v e n çõ e s d e sa ú d e e a i n t e n si f i ca çã o d e in t er v en ções j á ex ist en t es, m as q u e, em m u it os p a íse s, n ã o e st ã o a o a l ca n ce d a m a i o r i a d a s crianças( 8). É destacado que não basta a sobrevivência

infant il, m as que é preciso oferecer condições para a

cr i a n ça v i v e r co m q u a l i d a d e , p e r m i t i n d o o desenv olv im ent o de seu pot encial e o usufr ut o de bens que a sociedade produz.

A at enção prim ária à saúde da criança t em e n f o q u e n o a co m p a n h a m e n t o d o cr e sci m e n t o e desen v olv im en t o infan t il, incent iv o ao aleit am en t o m at er n o , o r i en t ação d a al i m en t ação d a cr i an ça, im u n ização, pr ev en ção de aciden t es e at en ção às doen ças pr ev alen t es n a in f ân cia, con sider adas as prát icas de saúde para proporcionar boas condições de saúde na infância( 9).

O pr esent e est udo dest aca os conceit os de êx it o t écnico, sucesso pr át ico e sabedor ia pr át ica, abor dados em pesquisas r ecent es( 10- 11), j ust ificando

que t ais conceit os acarret am elem ent os im port ant es par a o ent endim ent o do cuidado em saúde, sendo int er essant e ex plor á- los no âm bit o da enfer m agem na saúde da criança.

Assim , este estudo buscou apresentar alguns t raços dos conceit os êxit o t écnico, sucesso prát ico e sabedor ia pr át ica r elev an t es par a a am pliação da com preensão do cuidado de enferm agem à criança.

A conexão ent r e êxit o t écnico e sucesso pr át ico do cuidado na saúde da criança

Par a a com pr eensão do cuidado em saúde sob perspectiva prática, vêm ganhando vitalidade dois conceit os ex t r em am ent e im por t ant es: êx it o t écnico e sucesso prát ico( 10- 11). Esses conceit os t êm origem

n a h er m en êu t ica f ilosóf ica, n o âm bit o da f ilosof ia prática, sendo discutidos para procurar respostas para repensar as prát icas de saúde cont em porâneas.

A abordagem da herm enêutica filosófica está r elacionada a um a for m a de const r uir / com pr eender o present e- passado- fut uro, t endo por base processos i n t e r p r e t a t i v o - co m p r e e n si v o s, f a v o r e ce n d o en t en d im en t o sob r e alg o, a ap r op r iação d e u m a sit uação, ou de aspect os dela, que ant es não est ava clara e que, por algum a razão, se tornou problem ática, ou sej a, que m erece ser repensada( 12). A herm enêutica

filosófica em er ge quando sur ge um a quest ão e sua aplicação se concr et izam em per gunt a, aquilo que m obiliza, que desacom oda e requer ser t em at izado, em um m ovim ent o que expresse um a dialét ica ent re pergunt a e respost a( 12).

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sín t ese de saber es, pr opor cionando condições par a r econ h ecer d if er en t es in t er esses e op osições q u e est ão p r esen t es em u m a d et er m in ad a in t er ação, criando novas possibilidades para sua ressignificação e reconst rução( 10).

Qu alq u er ação d e saú d e t em u m sen t id o in st r u m en t al e u m a base t écn ica, pr ov en ien t e da const it uição de saber es da ár ea da saúde( 11). Êx it o

t écnico diz respeit o ao sent ido inst rum ent al da ação, pressupõe o alcance de det erm inados fins, segundo cer t os m eios. O êx it o t écnico ex pr essa as r elações entre m eios e fins para o controle dos agravos à saúde de in div ídu os ou popu lações e est á cir cu n scr it o à lógica em pír ico- analít ica das ciências da v ida e da saúde( 11).

No tocante à saúde da criança, o conceito de êxit o t écnico pode ser analisado na relação ent re a ut ilização de m edidas t er apêut icas e a r edução do risco de agravos à saúde infantil com o, por exem plo: as m edidas pr ev ent iv as par a cont r ole da asm a na infância ( m eio) e a dim inuição de episódios de crises asm áticas ( fim ) ou a vacinação em crianças ( m eio) e a r edução dos índices de m or t alidade por doenças im unopreveníveis ( fim ) . Na saúde da criança, é usual a pr eocu pação com a m elh or ia de in dicador es de saúde infantil ( redução da m ortalidade infantil, redução de doenças pr ev alent es na infância, ent r e out r os) , por serem im portantes e refletirem o desenvolvim ento de um país ou r egião. Os indicador es infant is não con st it u em som en t e dados n u m ér icos par a defin ir u m a sit u ação ep id em iológ ica, r esu lt an d o em u m co n t r o l e e e x p r e ssa n d o u m ê x i t o t é cn i co , m a s guardam quest ões im port ant es das relações sociais, se n d o r e l e v a n t e s t a m b é m a s ci r cu n st â n ci a s im bricadas nas diferent es sit uações e cont ext os das fam ílias e crianças.

Cuidar da saúde das crianças e suas fam ílias p assa p elas com p et ên cias e t ar ef as t écn icas, n o en t an t o, n ão se p od e r est r in g ir à b u sca d o êx it o t écnico. Em ger al, os pr ofissionais de saúde est ão pr eocupados com boas pr át icas de saúde por m eio d a s t é cn i ca s, o u se j a , co m o a l ca n ce d e b o n s resultados técnicos. Obter bons resultados é essencial, m as é necessário ultrapassar a busca do êxito técnico, e j unt o im prim ir at it udes com preensivas no processo de cuidar, cam inhando para a const r ução de nov os e n t e n d i m e n t o s d a s si t u a çõ e s q u e a s f a m íl i a s enfrent am . I m plica dar m ais vazão a um a t ot alidade com pr eensiv a que busca dar sent ido às dem andas

lev adas por fam ílias e cr ianças aos pr ofissionais e serviços de saúde.

O conceito de êxito técnico está estreitam ente ligado ao conceit o de sucesso prát ico. Esse se volt a para o valor que a ação de saúde tem para suj eitos e p op u lações, en g lob a u m con j u n t o d e im p licações sim bólicas, relacionais e m at eriais das int ervenções e r ecom en dações de saú de n a v ida cot idian a dos suj eitos. É um conceito que expressa o que os m eios e fins das ações de saúde t êm , face aos v alor es e in t er esses qu e su j eit os e popu lações con fer em ao adoecim ent o e à at enção à saúde( 11).

Nos ex em plos da saú de da cr ian ça acim a cit ados, pode- se r eflet ir sobr e o que significa par a m ães/ f am ílias t er u m f ilh o com asm a, ou o q u e significa par a as m ães/ fam ílias a cr iança não est ar com as vacinas atualizadas, com o elas com preendem a vacinação com o prot et ora, ent re out ros aspect os. O su cesso p r át ico est á lig ad o à com p r een são d e sent idos e significados. Ganha m aior sent ido para o efet iv o cuidado em saúde conv er sar com as m ães/ fam ílias que vivenciam a situação de ter um filho com asm a, o que v ocê acha que seu filho t em , com o é isso para você, com o é o cot idiano para a aplicação das m edidas prevent ivas para o m anej o da doença, para fazer controles periódicos nos serviços de saúde e usar m edicações, com o est ão sendo as escolhas e decisões, as dificuldades para adot ar as orient ações de enferm agem no cuidado no dom icílio. Ou aquelas m ã e s/ f a m íl i a s q u e v i v e n ci a m n ã o e st a r co m a s vacinas das cr ianças at ualizadas, com o é par a elas essa sit uação, o que t em lev ado a isso, com o é o cot idiano, o que pensam sobr e as doenças que as vacinas prot egem , quais dificuldades t êm para levar as crianças para vacinar, ent re out ras quest ões.

A co n e x ã o e n t r e e sse s co n ce i t o s é d e fundam ent al im port ância para a const rução de um a t ot alidade com pr eensiv a de int er v enção em saúde, cont r ibuindo par a o cuidado em saúde. Na ár ea da saúde é pr eciso r epensar que o cuidado não dev e ser m o v i d o ex cl u si v a m en t e p el a t écn i ca , m a s é r e l e v a n t e q u e a b u sca d o ê x i t o t é cn i co e st e j a art iculada ao sucesso prát ico, com o desafio ét ico de não deixar a técnica substituir o encontro e o diálogo, buscando a qualidade do encont ro( 13).

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ca p a ci d a d e d e r esp o st a d e p r o f i ssi o n a i s, sem a ce n t r a l i d a d e d o s a sp e ct o s i n st r u m e n t a i s, m a s construindo atitudes cuidadoras que incluam o suj eito co m o d e st i n a t á r i o e p a r t íci p e . D e sse m o d o , o s p r o f i ssi o n a i s d e sa ú d e e o s su j e i t o s p o d e m est abelecer u m plan o de com pr een são, r om pen do b ar r ei r as, en t en d en d o at i t u d es e ex p er i ên ci as e com par t ilhando r ealidades.

A assistência prestada à criança nos serviços d e sa ú d e p o d e t e r i m p a ct o l i m i t a d o se n ã o se considerar que a m ãe, a fam ília, os responsáveis e cu i d a d o r e s e x e r ça m p a p e l f u n d a m e n t a l n a recuperação, m anutenção e proteção da saúde infantil no dom icílio.

O cuidado de enfer m agem à cr iança num a perspect iva int egradora im plica na indissociabilidade das ações curat ivas, prevent ivas e prom ocionais da saúde, construindo espaços de cuidado da criança no cont ex t o da fam ília. Nesse sent ido, a enfer m agem em saúde da criança pode lidar art iculadam ent e com o êxito técnico e o sucesso prático na longitudinalidade d o cu i d a d o , b u sca n d o , n o a co m p a n h a m e n t o d o cr escim en t o e desen v olv im en t o, in t er v en ções qu e est ej am preocupadas com bons indicadores de saúde ( i n ce n t i v o a o a l e i t a m e n t o m a t e r n o , v a ci n a çã o co m p l e t a , p r e v e n çã o d e a ci d e n t e s, e st ím u l o a o d esen v o l v i m en t o , en t r e o u t r o s) e p r o p o r ci o n em conhecer a dinâm ica fam iliar, t em at izar aspect os de interesse ( aquilo que m obiliza e desacom oda) , buscar produzir narrat ivas, conhecer as escolhas e t om adas d e d ecisão n o cu id ad o q u e é r ealizad o em casa, fort alecer virt udes e experiências cot idianas, int eragir e dialogar para am pliar o cuidado.

A v alor ização da sabedor ia pr át ica n o cu idado de enfer m agem à cr iança

Sabedor ia pr át ica é um conceit o or iginár io da filosofia pr át ica, n o âm bit o dos con h ecim en t os arist ot élicos sobre as racionalidades dos saberes( 12). Ex ist em t r ês d if er en t es p lan os d e r acion alid ad e: ep i st em o l ó g i co , t écn i co e p r á t i co( 1 1 - 1 2 ). O p l a n o epist em ológico é o da t eor ia e dos conhecim ent os, guar da r elações m ais im ediat as com as ciências. O plano t écnico diz respeit o às at ividades de produção de art efat os, criação de obj et os, produção de bens e in st r u m en t os, est á v olt ad o p ar a a elab or ação d e princípios sobre o saber fazer. O terceiro plano é o da sabedor ia pr át ica.

A sabedoria prát ica t em carát er cont ingent e, ou sej a, lida com a event ualidade, com a incert eza, com os acont ecim ent os e experiências hum anas, não lida com aspect os perenes, causais e universais, não é u m sa b e r q u e p r o d u z o b j e t o s, a r t e f a t o s o u inst rum ent os( 11). É um espaço em que os int eresses

hum anos são o foco. É um saber não cum ulat iv o, pode em ergir de experiências, de int eresses com uns ou div er gent es, de t ensões e de possibilidades de in t er ação. Nesse sen t id o, n ão h á m en os v er d ad e nesse saber, m as sim m enos certeza e determ inação. Trata- se de construção da busca sobre a com preensão d a v id a, d as ex p er iên cias e escolh as d ian t e d as diversas cont ingências confront adas no cot idiano( 11).

O saber prático está ligado ao poder escolher e precisar escolher e, para t ant o, precisar saber ou encont rar o bem em cada sit uação concret a( 12). Esse

sa b er t em o co n cei t o d e co n t i n g en t e co m o su a essência, t raz a ideia de encont ro com aquilo que se depara e que não se pode ant ecipar e nem deduzir por m eio do pensam ent o.

Na a t e n çã o à sa ú d e , é f u n d a m e n t a l o m ov im ent o de r econst r ução e ar t iculação ent r e os conhecim ent os t écnico- cient íficos e o senso com um , e , p a r a t a n t o , é i m p o r t a n t e a co m u n i ca çã o , a l i n g u a g e m , o d i á l o g o e n t r e o s su j e i t o s e a pr eocupação com o saber pr át ico. Par a enr iquecer as int ervenções de saúde é preciso rever o curar, o t rat ar e o cont r olar, pois esses podem se m ost rar lim it ados e cent r ados no obj et o, e cuidar da saúde vai além da const rução de um obj et o e int ervenção sobre ele( 2).

At ent ar par a a sabedor ia pr át ica, ou sej a, para os int eresses das pessoas que se cuida, im plica a r espon sabilidade por at it u des cu idador as, t en do co m o cen t r al i d ad e o d i ál o g o . Na p er sp ect i v a d a herm enêut ica gadam eriana, o sent ido de diálogo é o d e f u são d e h or izon t es, q u e é a con st it u ição d e co m p ar t i l h am en t o s, f am i l i ar i zação e ap r o p r i ação m út ua daquilo que é desconhecido no out ro( 12). Por

m eio da experiência herm enêut ica, o encont ro ent re os suj eit os é r elev ant e par a v er o out r o, per ceber que o outro pode ter razão e construir responsabilidade com par t ilhada, possibilit ando conv iv ência efet iv a e solidar iedade ent r e os hom ens( 14). Desse m odo, no

cuidado em saúde é im port ant e a busca de fusão de h o r i zo n t es en t r e o s p r o f i ssi o n ai s d e saú d e e o s suj eit os, o int eresse e a escut a at ent a pelo out ro( 11).

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n o con t ex t o da f am ília, em su as r elações com os ser v iços d e saú d e, com u n id ad e, escola e ou t r os se t o r e s so ci a i s. At e n t a r p a r a o s i n t e r e sse s e si n g u l ar i d ad es d as cr i an ças e su as f am íl i as t r az elem ent os essenciais par a a const r ução de espaços de cuidado com fusão de horizontes que se am pliam . Essa am pliação ocor r e por m eio da linguagem , na const rução do m ovim ent o da dialét ica de pergunt a e resposta que privilegia o estabelecim ento de um plano d e co m p r e e n sã o , d e e n t e n d i m e n t o so b r e o s personagens, os cenários, as t ram as, as narrat ivas, as escolhas, as experiências e a tem poralização entre passado, present e e fut uro.

O cu i d ad o d e en f er m ag em em saú d e d a cr i a n ça , n o se u p r o ce sso d e cr e sci m e n t o e desenvolvim ento e no contexto da fam ília, im plica na o r g a n i za çã o d a a ssi st ê n ci a e i n t e r v e n çõ e s n a s dim ensões biológicas, psicológicas e sociocult ur ais. Nesse cuidado, se lida com um a gam a de experiências d a s m ã e s/ f a m íl i a s n o p r o ce sso sa ú d e - d o e n ça , r ev elando a im por t ância de conhecer os v alor es e int eresses delas e conversar sobre proj et os de vida e de saúde( 15). Com preender a sabedoria prát ica, ou

se j a , a v e r d a d e p r á t i ca , r e l a t i v a a o s sa b e r e s reflexivos, às escolhas, valores e virt udes hum anas, privilegiando o diálogo ent re os suj eit os envolvidos e g er an d o en t en d i m en t o s, em q u e u m se p õ e em en t en d i m en t o co m o o u t r o , p o d e r essi g n i f i car o cuidado em saúde.

Em ger al, as int er v enções de enfer m agem e m sa ú d e d a cr i a n ça t ê m b a se n o s p e r f i s epidem iológicos da população infant il, com planos de cuidados que enfat izam a ident ificação de fat ores de r isco e sinais de doenças pr ev alent es na infância, descr ição de m edidas de con t r ole, or ien t ações de cu i d ad os d om i ci l i ar es, i d en t i f i cação d e si n ai s d e gravidade que necessit am busca de at endim ent o nos ser viços de saúde, pr ior idades par a a pr om oção da saúde, com int ervenções j unt o à criança, à fam ília e em inst it uições com o creches e escolas, ent re out ros e n f o q u e s( 1 6 ). No e n t a n t o , é i m p o r t a n t e q u e a s

int er v enções de enfer m agem em saúde da cr iança se v olt em par a a fusão com a fam ília e a cr iança, com possibilidades para apreender visões de m undo, exper iências e significados e per m it ir apr oxim ações das tom adas de decisão e dos m ecanism os utilizados no enfrent am ent o das sit uações de vida.

É i m p o r t a n t e q u e o s p r o f i ssi o n a i s d e e n f e r m a g e m m o d i f i q u e m o se u r e p e r t ó r i o d e o r i e n t a çõ e s p a r a a a m p l i a çã o d o cu i d a d o d e

e n f e r m a g e m , p r o cu r a n d o cr i a r e st r a t é g i a s d e a p r o x i m a çã o co m a r e a l i d a d e q u e a s f a m íl i a s vivenciam , avaliando quais dificuldades a m ãe/ fam ília está tendo para o efetivo cuidado da criança, evitando cobrar, conferir e prescrever.

O seguim ent o da saúde da criança deve ser logrado considerando o seu contexto social e fam iliar. Port ant o, esse seguim ent o deve ser processo am plo e co n t ín u o , t e n d o co m o e i x o n o r t e a d o r o acom panham ent o do crescim ent o e desenvolvim ent o infantil, com intervenções qualificadas e hum anizadas. Na r elação com os ser v iços de saú de, as f am ílias necessit am de or ient ação e de apoio par a r ealizar cuidados com as crianças que norm alm ente executam , m as que, em certos m om entos, percebem um lim ite, t a i s co m o e m si t u a çõ e s d e d i f i cu l d a d e s co m o aleit am ent o m at erno, infecções respirat órias agudas, doenças crônicas na infância, obst áculos ao est ím ulo do desenvolvim ent o infant il e fam iliar, ent re out ras. Nesse processo, as fam ílias experim ent am os lim it es das insuficiências na relação com o filho e a busca da suficiência vai se dar nos serviços de saúde e com os profissionais de saúde( 12). Desse m odo, a enferm agem

em saú de da cr ian ça pode ex pan dir os h or izon t es em conj unt o com as fam ílias. A fusão de horizont es n ã o é t o m a d a co m o j u n çã o , o s h o r i zo n t e s d o s pr ofission ais de saú de e aqu eles dos su j eit os qu e est ão sen d o cu i d ad o s n ão se m i st u r am , m as se am pliam .

Esse s a sp e ct o s p o d e m co n f i g u r a r o l h a r prát ico e m odo de lidar com a sabedoria prát ica em su as si n g u l ar i d ad es e p ar t i cu l ar i d ad es. Tam b ém possibilit am dim en sões do cu idado em saú de com car át er cont ingencial, ou sej a, sit uações em que a en f er m a g em e a f a m íl i a v ã o t en t a r l i d a r co m a event ualidade, a incert eza, a im previsibilidade, com o q u e p o d e su ce d e r o u n ã o , co m a sp e ct o s e a co n t e ci m e n t o s v i n cu l a d o s à s e x p e r i ê n ci a s, perm it indo t om adas de decisão sem , a pr ior i, t ant o as m ães/ f am ílias q u an t o os p r of ission ais, b u scar conhecer valores e cam inhos par a um a convivência hum ana sat isfat ória, o que pode gerar a int egração ent re saberes prát icos e saberes t écnicos.

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de não se confundirem , de se sent irem seguras, de ficarem ligadas, possibilit ando se recom porem diant e da sit uação e seguirem vivendo.

Pensar com o os profissionais est ão cuidando e in t er agin do com as m ães/ f am ílias de u m a dada com unidade im plica r epensar as r elações, as ações e os com prom issos. A perspectiva do cuidado integral à saúde da cr iança im plica r epensar as for m as de int eração com os suj eit os no processo saúde- doença e cuidado.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

As prát icas de saúde, t ant o nos serviços de saúde quant o nas fam ílias e com unidade, necessit am se r r e p e n sa d a s e r e ssi g n i f i ca d a s, p r o cu r a n d o aum ent ar o v ínculo com a população, a adesão às m edidas de proteção e prom oção à saúde, a atuação efet iva dos profissionais de saúde j unt o às fam ílias, a con st r u ção de plan os de r espon sabilização e de proj et os de saúde.

O cu id ad o d e en f er m ag em à cr ian ça t em com o eix o n or t ead or com p r een d er o p r ocesso d e cr escim ent o e desenv olv im ent o infant il, im pr im indo int er v enções de pr om oção da saúde, pr ev enção de d oen ças, r ecu p er ação e r eab ilit ação d a saú d e d e f o r m a i n d i sso ci á v e l , se n d o f u n d a m e n t a i s a s singular idades da cr iança e da fam ília e at enção à

saúde qualificada e hum anizada. No cot idiano dos serviços de saúde, é preciso se est ar at ent o e ouvir aquilo que dem anda cuidado, colocando os recursos t é cn i co s e x i st e n t e s e m p r o l d o su ce sso p r á t i co a l m e j a d o , e m co n so n â n ci a co m a s r e a l i d a d e s contextualizadas e com partilhadas entre profissionais, fam ílias e crianças.

É i m p o r t a n t e q u e o s p r o f i ssi o n a i s d e enferm agem t enham um olhar para o cot idiano, um olhar prát ico, não som ent e t écnico, para lidar com a processualidade da assistência à saúde. Esse processo não é natural, ele é com plexo e deve ser reconstruído o tem po todo, sendo enriquecedora a integração entre êx it o t écnico e sucesso pr át ico e a v alor ização da sabedoria prát ica. Est ar at ent o aos saberes prát icos perm it e cam inhar para o sucesso prát ico.

No present e est udo, buscou- se aproxim ação a t ais con ceit os, com u m a sín t ese de seu s t r aços const it ut ivos, t om ando com o foco a enferm agem na saúde da criança. Os conceit os aqui dest acados não a p r e se n t a m a p l i ca b i l i d a d e i m e d i a t a e d i m e n sã o pragm át ica, m as são pert inent es enquant o pano de fundo t eórico, oferecendo possibilidades de abst ração e m aior ent endim ent o de quest ões sobre o cuidado em saú d e. Cab e r essalt ar q u e ou t r os esp aços d e d i scu ssã o e d e p e sq u i sa s p o d e r ã o co n f i g u r a r a densidade desses conceit os em difer ent es ár eas da saúde e ex pandir as r eflex ões em suas dim ensões epist em ológicas, filosóficas e prát icas.

REFERÊNCI AS

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(7)

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